Plinio Corrêa de Oliveira

 

Análise da “Salve Rainha”:

lógica raciocinada desse verdadeiro exemplo de oração e piedade

contra-revolucionária

 

 

 

Santo do Dia, 21 de maio de 1965

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

O Santo do Dia será hoje dado mais rapidamente, devido ao adiantado da hora. Lembro que hoje é dia do bem-aventurado Crispim de Viterbo, Confessor, ao qual já nos referimos ontem; amanhã é festa de Santa Joana, Virgem, filha de D. Afonso V de Portugal. Professou na Ordem de São Domingos, século XV. Inocêncio XII permitiu rezar seu Ofício em Portugal e nas igrejas dominicanas.

Continua a novena de Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos e começa a novena de Nossa Senhora Rainha.

Imagem de Nossa Senhora sob a invocação de Mãe da divina graça, na igreja de São Bernardino (século XVI), Bergamo, Itália (foto Roberto Bertogna)

Considerávamos ontem a "Salve Rainha" e víamos a invocação “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia”. Devemos considerar agora as três invocações sucessivas: “Vida, doçura e esperança nossa”.

Que relação essas três invocações têm com as duas anteriores? Elas são a aplicação das duas invocações anteriores. Em que sentido se diz que Nossa Senhora é nossa vida? Isso não é uma coisa que está no ar, mas é algo que tem um sentido profundo. Alguém diz que algo é “nossa vida”, quando se não o tivesse, não seria vida. Por exemplo, uma mãe poderá afirmar a propósito de seu filho: “meu filho é minha vida. Quer dizer, sofro tanto por outros lados, tenho tantos aborrecimentos e contrariedades, que aquilo que torna minha vida respirável é meu filho”. Ou então, pode-se dizer que a vocação que cada um recebe é nossa vida. Isto porque se não fosse nossa vocação a vida para nós seria algo tão infeliz, tão miserável, tão sem sentido, com uns prazeres tão frustros e tão sem eira nem beira, que não seria vida.

Nesse sentido Nossa Senhora é verdadeiramente nossa vida. Se não houvesse Nossa Senhora, não teríamos nenhuma razão para esperar na misericórdia divina; se não houvesse Nossa Senhora, não teríamos nada que justificasse nenhuma esperança nossa, que justificasse nenhuma esperança do Céu, que justificasse qualquer alegria na Terra.

Tudo aquilo que torna nossa vida vivível é o conjunto de esperanças que a intercessão de Nossa Senhora nos autoriza a ter. E é por isso que Ela é nossa vida. Nós vivemos por Ela, sem A qual cairíamos desanimados.  Nossa Senhora é nossa vida.

Vida, doçura”. O que é a doçura de alguém? É exatamente o que torna algo doce, que sem aquilo não seria doce. Nossa Senhora é doçura porque é inteiramente doce, inteiramente afável, inteiramente agradável e condescendente com aqueles que A invocam. E é porque Ela é assim, que existe doçura em nossa vida. Todas as outras coisas de nossa existência não seriam doces se não fosse Ela. Ela obtém a graça para nós e para os outros. Ela é que consegue, portanto, a virtude. E esta é o que há de doce na vida. A vida seria a coisa mais amarga e sinistra do mundo, se não fosse a doçura da virtude. E, das virtudes, aquelas especialmente que têm um traço particular de doçura. Nossa Senhora é, portanto, nossa doçura.

Um cético do século passado, Anatole France, dizia que nada explica o trágico absurdo em que vivemos. Ou seja, o contrário do doce: é um absurdo e um absurdo trágico! Mas esse “absurdo trágico” - que assim seria se Nossa Senhora não fosse uma aliança entre o Céu e a Terra - não o é por causa dEla. Ela é a doçura que dá bom gosto a essa coisa que seria amaríssima, que é a vida humana. Compreendemos, então, em que sentido Ela é doçura.

Esperança nossa” é a outra exclamação. “Vós que sois nossa esperança”. Notem bem: Vós não sois uma esperança nossa; Vós sois a esperança nossa. É a única razão de nossa esperança, mas é toda nossa esperança! E nossa esperança é tal que, por causa de Vós, nossa vida se torna doce, nossa vida é vida... porque Vós sois a esperança nossa. Nossa Senhora é a grande esperança. Porque ela é Rainha e Mãe de Misericórdia no sentido que falei.

Vemos, então, que o começo da “Salve Rainha”, que são afirmações ou exclamações em que o fiel se dirige a Nossa Senhora, são muito bem calculadas e têm todas elas um sentido profundo, preciso e admirável.

Então, compreendemos a primeira parte: “Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa salve”. Terminou a saudação.

Começa depois a parte da petição: “A Vós bradamos, degradados filhos de Eva, a Vós suspiramos, gemendo e chorando nesse vale de lágrimas”, etc., etc. A saudação inicial, que é próprio quando nos dirigimos a alguém começarmos por fazer uma saudação, muito inteligentemente lembra à Nossa Senhora por que razão é que vamos pedir o resto. Mas damos a nós mesmos também essas razões, para nos animar, nos dar fervor e confiança em nossa oração.

Vejam os senhores como a “Salve Rainha” é bem elaborada! Apesar de que muita gente titubeie sem nem sequer imaginar que existe uma construção tão racional, tão lúcida, tão perfeita!

A seguir: “a Vós bradamos, degredados, filhos de Eva, a Vós suspiramos, gemendo e chorando nesse vale de lágrimas”. Aqui já é uma transição que mostra qual é a posição do pecador diante dEla.

Depois, a terceira parte, que é o raciocínio: “Eia, pois, advogada nossa, vossos olhos misericordiosos a nós volvei”. É um raciocínio acompanhado de uma súplica. Nós Vos fazemos esse pedido, por causa disso.

São três partes muito bem calculadas: a glória dEla, nossa necessidade; depois, vem nosso pedido.

Vemos como isso tudo é admiravelmente bem pensado, e que conteúdo de pensamento tem. Não é uma emoção, mas um pequeno tratado de teologia marial, com uma beleza literária muito grande - é verdade - mas cuja beleza resulta do fundo e que se trata, exatamente, de analisar.

E para que? Quando se tem em mente a “Salve Rainha” nos termos em que estou dizendo, pode-se estar na aridez espiritual, sem vontade de rezar, pode-se estar seja de que jeito for, aquilo é algo que se segura com a mão, porque se compreende que, pela teologia católica, Nossa Senhora é assim! E embora se esteja com aridez, Ela nem por isso deixa de ser misericordiosa; embora se esteja tentado, Ela nem por isso deixa de ser o que a “Salve Rainha” dEla diz. E se tem uma base firme para, mesmo nos momentos mais difíceis da vida, dirigir-se a Ela e ser atendido. Esse é o sentido do analisar-se racionalmente uma oração.

Quanta gente reza a “Salve Rainha”! Mas, quanta gente se põe sequer essa pergunta: essa oração pode ser dividida em partes? Quais são as partes lógicas dessa oração? Isso é uma espécie de catarata de palavras, ou isso tem propósitos, divisões e sequências?

Os senhores percebem, através dessa análise, como é verdadeira a piedade católica! É uma piedade feita e raciocinada com espírito de fé, que dá certezas que proporcionam verdadeiramente meios de viver! É assim a verdadeira piedade contra-revolucionária, ao contrário dessa “heresia branca” fofa que existe por aí.

Salve Rainha - I

Salve Rainha - III

Salve Rainha - IV


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