Plinio Corrêa de Oliveira

 

São José Cafasso:

alta ideia de como é a ordem celeste, da qual a terra deveria ser um reflexo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Reunião, 14 de junho de 1968  Bookmark and Share

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

(1811-1860)

Tenho a impressão de que é um temperamento tão pronto a tomar fogo, e um fogo que de tal maneira se aliou a um amor concebido pela inteligência e a um ato de vontade, que penetrou e conquistou os olhos dele completamente. E que embora o resto da expressão, da fisionomia dele seja muito expressiva, ele é quase que só olhos.

Depois de ver este homem, é possível a gente conversar sobre o nariz, a boca, a orelha ou qualquer outra coisa? É só olhos. A sensação que se tem não é daquele “casamento” entre o espírito e o corpo, que São João Batista de la Salle dá, mas é o contrário: é um espírito que arde tanto que consome o corpo, que quase não se dá conta que tem corpo. Podemos imaginar São João Batista de la Salle deitado numa cama e descansando como um Anjo na paz do Senhor; este aqui sentado, ajoelhado, de pé, deitado, fazendo qualquer coisa é o mesmo, e com os olhos fechados “olha” do mesmo jeito.

Quer dizer, é simplesmente um colosso! Um colosso do quê? É exatamente seriedade. A seriedade que se exprime mais do que no negrume dos olhos, mas em algo de profundamente investigador; de profundamente interrogativo e analítico. Mas analítico como quem já analisa vencendo e dominando. Possui os critérios da análise, possui os instrumentos da análise, e sabe que não vale a pena analisar coisinha.

É um olhar que não presta atenção em bagatela. Se passando por uma rua ele cruza com dois cachorros que estão correndo um atrás do outro, ou ele não vê, ou vê naquilo um símbolo de algo, porque se não for para ver coisa profunda e transcendente ele não vê nada. É uma coisa admirável este fogo e esta chama. Mas o olhar ao mesmo tempo é profundamente ligado a um ato de vontade.

        Toda esta sua análise, tudo isto se chama firmeza! Não é apenas penetração de inteligência, mas é firmeza. Não se chama apenas firmeza, mas está aí o “agredi” de São Tomás de Aquino. A gente vê que se lhe dessem uma Cruzada - ele que nunca foi cruzado, que tratou de obras de caridade etc. etc. - se lhe dessem uma Cruzada para comandar, teria aquela eloquência para convocar ou para pregar, quer dizer, ele teria aquela eloquência de fogo que levantaria as massas.

Os Srs. notem, provavelmente percebem, há um fundo de tristeza nesse olhar. Uma tristeza muito pacífica, neste sentido de que ele está muito em paz. Uma tristeza que pergunta no fundo: “Vocês também? Até vocês? E foram até lá, e fizeram até aquilo, e pecaram até de tal modo?! Chegou a isto? Então é bem assim? Então pode ser que as coisas sejam essas?” E no fundo o seguinte: “Eu já sabia que para a maldade humana e para os seus múltiplos efeitos não tem fundo, e por mais que meu olhar perscrute, não há fundo, porque isto é um abismo que o olhar humano não chega a tocar até o fundo. Que horror!”

É um homem profundamente ciente de que nesta vida não se encontra nem alegria, nem deleite, nem nada, na ilusão de que o mundo seja bom, e de que a única realidade verdadeira é considerar o mundo como nada, e portanto necessária a existência do Céu, porque, se o mundo é o que é, o existir é uma farsa, uma pagodeira e uma comédia. Ora, é absurdo que o existir seja isso, ou então há um Céu.

E aqui os Srs. estão vendo o resto, o fundo desta alma como é que se põe: é um contraste, uma alta idéia das coisas como deveriam ser, uma alta ideia dos modelos ideais como eles deveriam ver; uma alta ideia de como é a ordem celeste, da qual a terra deveria ser um reflexo. E daí a lucidez dessa análise, a firmeza dessa fidelidade, a energia desse repúdio, e o fogo desta alma! É toda uma meditação.

Quem é que quereria ser responsável por chegar a este ouvido e, num momento qualquer, lhe dar um conselho imundo e deteriorar esta alma, induzir este homem em pecado? Que remorso teria alguém que tivesse praticado isto! A gente compreende, sem nem de longe justificar, mas eu digo que a gente pode imaginar qual tenha sido o desespero de Judas, porque seria a sensação de vender mais uma vez Nosso Senhor perverter esta alma.

Aí os Srs. compreendem a contrário senso como ela é bela. E se deveria dar tanta aflição deteriorá-la, quanta alegria em concorrer para santificá-la! Quanta alegria em que ela seja assim, embora a gente não tenha concorrido para que ela fosse assim! Quer dizer, quanta sede desta alma! O que é que é sede aqui? É o desejo ardente de que ela seja como é, de que ela pertença a Deus por ser como é, em sendo como é. O desejo de que, pela veneração, pelo enlevo, pela ternura, a gente... algo disto condescenda em baixar até a alma de cada um de nós. Aqui está a sede de almas.


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