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       Plinio Corrêa de Oliveira 
 EM DEFESA DA AÇÃO CATÓLICA  | 
      
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       O presente texto é transcrição da edição fac-símile comemorativa dos quarenta anos de lançamento do livro, editada em Março de 1983 pela Artpress Papéis e Artes Gráficas Ltda - Rua Garibali, 404 - São Paulo - SP - Brasil  | 
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      APÊNDICE
      
      
       AÇÃO CATÓLICA
      
      Origem e desenvolvimento de uma definição 
       (A 
      definição clássica da A.C. e seu natural e maravilhoso desenvolvimento 
      inspiraram a S. E. o Cardeal Piazza da Comissão Cardinalícia para a A.C. 
      Italiana o artigo esclarecedor e substancioso que nunca será demasiado 
      relembrar.) 
      
       
      
      I – A DEFINIÇÃO DE PIO XI 
      O providencial movimento de Ação Católica, que 
      veio assumindo aspectos e formas cada vez mais adaptadas às exigências dos 
      tempos, deve, sem dúvida, sua condição atual, tanto teórica como prática, 
      ao gênio pastoral do pranteado Sumo Pontífice Pio XI. Se não coube a ele o 
      merecimento de ter encontrado o nome nem o de ter iniciado o atual 
      movimento dos leigos organizados, o qual surgiu, como é sabido, durante o 
      Pontificado de Pio IX e continuou a desenvolver-se durante o governo dos 
      seus sucessores Leão XIII, Pio X e Bento XV, todavia ninguém pode 
      contestar a Pio XI o insigne merecimento de ter dado à Ação Católica uma 
      definição clara e precisa, sobre a qual foi possível construir um edifício 
      sólido, capaz de desafiar os séculos. 
      Escolhido para governar a Igreja depois de 
      importantes experiências – que revelaram no movimento leigo de Ação 
      Católica, a par de prerrogativas e benemerências consideráveis, também 
      deficiências, como soe acontecer em todas as coisas humanas – Pio XI bem 
      compreendeu, na sua sagaz e profunda intuição, que para salvar esse 
      movimento de extravios e para assegurar-lhe a vitalidade, era mister 
      enquadrá-lo na vida orgânica da Igreja. Na sua primeira encíclica UBI 
      ARCANO, que contém em gérmen todo o seu prodigioso Pontificado, e que foi 
      publicada depois de longas meditações, encontramos as linhas basilares da 
      definição, que pouco depois, em memoráveis discursos, assim formulou:
      colaboração dos leigos no 
      apostolado hierárquico. Esta definição, como o Papa mesmo deu a 
      entender, tem sua origem no texto paulino, o qual, devido justamente à sua 
      genial interpretação, ficou célebre:
      
      adjuva illas quae mecum laboraverunt in Evangelio (Fil, 4, 3). 
      E, realmente, como a evangelização 
      in evangelio constitui a 
      substância do apostolado, que Cristo confiou aos Apóstolos e a seus 
      sucessores, isto é, a Hierarquia divinamente constituída na Igreja, assim 
      também, a colaboração prestada a esta obra pelos leigos
      
      quae mecum laboraverunt 
      constitui a substância da Ação Católica. É impossível não ver a 
      profundidade e exatidão dogmáticas desta definição. 
      
      II – COLABORAÇÃO OU PARTICIPAÇÃO 
      Com uma variante que, bem compreendida, não 
      muda em nada o conceito, Pio XI gostava de substituir muitas vezes a 
      palavra “colaboração” pela de “participação”, com o fim de salientar mais 
      a união que a Ação Católica deve ter com a vida e atividade da Igreja. 
      Podemos crer que esta variante lhe foi sugerida pela maravilhosa passagem, 
      que se encontra em S. Pedro, e que foi citada e aplicada pelo Papa já na 
      sua primeira encíclica: “Dizei aos vossos fiéis leigos que, quando unidos 
      aos seus Bispos participam nas obras de apostolado e nas de redenção 
      individual e social; então mais do que nunca são eles o
      
      genus electum, o 
      regale sacerdotium, a
      
      gens sancta, o povo de Deus, 
      que S. Pedro exalta” (I. Pt. 2, 9). Nesta estupenda aplicação é evidente 
      que não se trata de uma participação formal no sacerdócio e no apostolado, 
      mas sim duma participação na atividade sacerdotal e apostólica, a única 
      possível a simples cristãos; mas também esta participação, por ser 
      sobrenatural na sua substância e sublime nos seus fins, eleva grandemente 
      a pessoa leiga, fazendo-a participar da auréola e dos frutos do 
      apostolado. 
      
      III – NA PRIMEIRA ENCÍCLICA DE PIO XII 
      É-nos grato colocar desde já a primeira 
      encíclica de Pio XI ao lado da primeira recentíssima do reinante 
      Pontífice, Pio XII, “Summi Pontificatus”, a qual dedica à A. Católica uma 
      página muito animadora e cheia de paternal complacência. Nela recorre a já 
      clássica definição dos leigos formados na Ação Católica para a profunda 
      consciência da sua nobre missão. Quais sejam concretamente esses leigos e 
      qual a sua missão, declara-o o Pontífice numa esplêndida definição 
      descritiva: “Uma fervorosa falange de homens e de mulheres, de jovens e 
      donzelas, os quais, obedecendo à voz do Sumo Pontífice e às diretrizes de 
      seus bispos, se consagram com todo o ardor de suas almas às obras do 
      apostolado, a fim de reconduzir a Cristo as massas populares que dele se 
      afastaram”. 
      O Santo Padre Pio XII prefere evidentemente a 
      palavra colaboração, que é de mais fácil compreensão e menos exposta a 
      errôneas amplificações; mas ele admite também e confirma a profunda 
      interpretação do seu Antecessor quando escreve: “Este trabalho apostólico, 
      realizado segundo o espírito da Igreja, consagra o leigo quase ministro de 
      Cristo, no sentido que lhe dá santo Agostinho”. E o Pontífice refere 
      justamente o texto agostiniano, que parece ser uma feliz antecipação e 
      presságio duma atividade, que hoje tem um nome, uma doutrina e uma 
      realidade consoladoras. 
      Pio XI afirmou que não sem especial inspiração 
      de Deus definira a Ação Católica, como uma participação ou colaboração dos 
      leigos no apostolado hierárquico da Igreja. Este testemunho é de tanta 
      autoridade e tão solene, que não admite dúvida alguma. Aliás, sabemos que 
      o Papa goza, mesmo fora do campo da sua infalibilidade, de uma assistência 
      especial de Deus no governo da Igreja, ao qual está tão intimamente 
      vinculada a Ação Católica. De resto, os fatos vieram a confirmar 
      plenamente a realidade dessa especial inspiração de Deus. 
      
      IV – FRUTOS PRECIOSOS DA DEFINIÇÃO 
      Com efeito, do terreno sólido e profundo da 
      definição papal surgiu copiosa e escolhida literatura dogmática, para a 
      qual o próprio Pontífice subministrou os mais perspicazes e geniais 
      elementos básicos. Na Sagrada Escritura se descobriram belíssimos textos 
      capazes de iluminar os vários aspectos do movimento de apostolado leigo; 
      sua necessidade e obrigatoriedade; sua admirável excelência, suas origens 
      traçadas no Evangelho, nas Epístolas dos Apóstolos e na Tradição cristã; 
      seus objetivos e suas características; enfim uma florescência de passagens 
      escriturísticas, que encontram na Ação Católica sua aplicação legitima e, 
      às vezes, tão natural, que parecem escritas justamente para ela. A 
      Teologia, por sua vez, estudando e confrontando esse movimento com os 
      vários dogmas, trouxe à luz e fez salientar harmonias estupendas e 
      insuspeitas. 
      O conceito de apostolado hierárquico abriu o 
      caminho ao estudo comparativo da Ação Católica, enquanto relacionada com a 
      constituição divina e a vida orgânica da Igreja: ao passo que o conceito 
      de colaboração serviu de guia para relembrar a grande lei da solidariedade 
      cristã, a qual importa comunhão de interesses e reciprocidade de ação, 
      para o bem de todos e de cada um em particular. 
      Daí se passou para a doutrina do Corpo 
      Místico, ensinada por S. Paulo, e às verdades conexas de comum 
      incorporação em Cristo, da vida sobrenatural em Cristo, da consequente 
      obrigação de cooperar para o advento do Reino de Cristo. Nos dois 
      sacramentos do Batismo, que realiza a incorporação e da Confirmação, que 
      expressamente impõe a colaboração, subministrando juntamente com o título 
      as indispensáveis energias, se viram não somente as fontes daquele 
      sacerdócio régio, para cuja participação são chamados todos os leigos, mas 
      também as características do seu apostolado. 
      
      V – HIERARQUIA E LAICATO 
      Assim é que, forçosamente, foi aprofundado o 
      estudo das relações entre a Hierarquia e o Laicato, e encontrados os meios 
      de colaboração correspondentes às necessidades dos tempos. De sorte que a 
      Ação Católica foi solidamente construída sobre a doutrina. 
      A Ação Católica é, por natureza e definição, 
      atividade de leigos organizados para o serviço da Igreja; portanto, não 
      autônoma e independente. A colaboração importa necessariamente entre os 
      colaboradores unidade de fins e concórdia nas práticas realizações; no 
      nosso caso ela exige, além disto, subordinação à Hierarquia eclesiástica. 
      Os leigos não podem, sem mais nem menos, entrar no campo apostólico, seja 
      por causa da dignidade sacerdotal (que não possuem), seja por causa da 
      natureza do apostolado, que por missão divina é reservado ao sacerdócio 
      hierárquico. 
      É, portanto, da competência da Hierarquia 
      determinar os objetivos concretos e as condições dessa colaboração, 
      conforme as necessidades e possibilidades gerais ou especiais dos diversos 
      lugares; sendo que a tarefa especifica da Ação Católica, é a de estudar no 
      ambiente leigo as várias iniciativas de trabalho e de atuá-las, sempre que 
      tenham para isto o selo da aprovação da competente autoridade 
      eclesiástica. Só assim é que a colaboração pode ser frutuosa e ter a 
      garantia do bom êxito. 
      Partindo deste princípio e com este espírito, 
      foram as massas de fiéis convidadas ao trabalho apostólico; e é mister 
      dizer que eles compreenderam a honra que se lhes oferecia com o chamamento 
      para empresas tão sublimes e responderam com generosidade e prontidão 
      verdadeiramente admiráveis. 
      Este sucesso foi certamente o melhor laudo da 
      definição de Pio XI, a qual, achegando a Ação Católica à atividade da 
      Igreja, enobreceu o trabalho dos leigos, elevando-os a atividade quase 
      sacerdotal. Foi isto precisamente que compreenderam os fiéis, iluminados 
      pelos Assistentes eclesiásticos, que a Hierarquia nomeou e lhes mandou 
      quais enviados do Senhor, para representá-la junto às várias Associações. 
      E os ótimos leigos da Ação Católica não só não encontraram interceptada, 
      pela assistência dos sacerdotes, a sua própria atividade, mas tiraram dela 
      imenso estímulo e proveito, tanto para a sua formação espiritual quanto 
      para a segurança do trabalho apostólico. Não foi por nada que Pio XI com 
      seu estilo novo e conciso aplicou à Ação Católica com relação aos 
      Assistentes eclesiásticos, a significativa frase: “in manibus tuis sortes 
      meae”. 
      
      VI – ESTREITAMENTO DA UNIÃO ENTRE O 
      SACERDÓCIO E LAICATO 
      Apraz-me ainda observar que um dos mais 
      preciosos frutos desta condição programática, a assistência espiritual do 
      Clero, foi precisamente o de ter unido mais intimamente o laicato católico 
      ao sacerdócio e sobretudo aos Pastores da Igreja, alimentando nos corações 
      um devotamento comovedor e um apego sempre mais vivo ao Sumo Pontífice, 
      Vigário de Cristo e chefe visível da Igreja Universal, aos Bispos, 
      colocados pelo Espírito Santo a governar as Igrejas particulares, e aos 
      párocos, colocados pelos Bispos à frente de uma porção da sua grei, 
      àqueles, enfim, que constituem no sentido lato, a Hierarquia Eclesiástica, 
      desde o vértice até a base. 
      É natural que somos nós os primeiros a nos 
      alegrar com esses sucessos. Aliás, não há Bispo que não tenha tocado com 
      as mãos a obra edificante e verdadeiramente providencial da Ação Católica, 
      tanto na conduta de seus sócios – todos encaminhados para um profundo 
      conhecimento e prática fervorosa da vida cristã, como também nos ubertosos 
      frutos da atividade apostólica – destinada a debelar o mal e a movimentar 
      o bem espiritual das famílias e da sociedade. E de fato, em certas 
      paróquias onde a Ação Católica prestou seu auxílio ao ministério dos 
      sacerdotes, ajudando-os a amanhar, semear e recolher, houve verdadeiras 
      transformações. As unânimes atestações dos Bispos, párocos e sobretudo dos 
      Augustos Sumos Pontífices, constituem, sem dúvida, uma magnífica apologia 
      da Ação Católica. 
      Ninguém ignora o que pensava da Ação Católica 
      o inolvidável Pio XI, que a ela se referia em todos os discursos, em todos 
      os documentos, mesmo solenes, com sempre novas reflexões sobre o 
      pensamento central da sua definição, com sugestões da mais palpitante 
      atualidade, com apelos e exortações calorosas e comovedoras. 
      
      VII – NA HORA PRESENTE 
      A recente encíclica “Summi Pontificatus” deu a 
      conhecer ao mundo, do modo mais eloquente, também o que pensa da Ação 
      Católica o atual Pontífice Pio XII. Nesta encíclica atesta o Papa que, no 
      meio das amarguras e preocupações da hora presente, encontra precisamente 
      na Ação Católica, que já penetrou em todo o mundo, íntima consolação e 
      alegria celestial, pelas quais dirige diariamente a Deus seu humilde e 
      profundo agradecimento; afirma outrossim que da Ação Católica emanam 
      fontes de graças e reservas de forças, que, nos tempos que correm, seria 
      difícil apreciá-las suficientemente; diz ainda que a oração da Igreja 
      dirigida ao Senhor da messe para que este envie operários à sua vinha, foi 
      ouvida na forma correspondente às necessidades da hora presente, suprindo 
      e completando felizmente as energias, muitas vezes impedidas ou 
      insuficientes, do apostolado sacerdotal; finalmente conclui com estas 
      estupendas palavras: “Em todas as classes, em todas as categorias, em 
      todos os grupos, essa colaboração do laicato com o sacerdócio revela 
      preciosas energias, às quais foi confiada uma missão tão sublime e 
      consoladora, que maior não as poderiam almejar corações nobres e fiéis”. 
      Realmente, em Pio XII repercutem a voz, as palpitações paternais e os 
      elevados pensamentos do pranteado Grande Pontífice da Ação Católica. 
      
      VIII – A COMISSÃO CARDINALÍCIA NA ITÁLIA 
      À luz das augustas expressões da encíclica 
      “Summi Pontificatus”, que para alguns terão sido, talvez, uma revelação, 
      se podem agora melhor apreciar as providências tomadas por Pio XII, logo 
      depois da sua eleição, inspiradas evidentemente, pela estima e afeto para 
      com a Ação Católica. Refiro-me à instituição e nomeação da Comissão 
      Cardinalícia, para a alta direção da Ação Católica Italiana. 
      Em vista do acúmulo e amplitude do trabalho 
      que pesa sobre seu supremo e universal ministério, e dado sobretudo o 
      grande desenvolvimento da Ação Católica na Itália, em vez de reservar-se 
      pessoalmente a alta direção, como por razões óbvias o fizera seu venerando 
      Antecessor, Pio XII decidiu entregar esse honroso cargo à mencionada 
      Comissão, seguindo assim uma norma tradicional no governo da Igreja e 
      aplicando à Itália o que já se praticava em outros países. É isto uma 
      prova inequívoca do seu alto e paternal interesse, parecendo até indicar 
      com isto uma certa orientação, que devia levar a seus últimos 
      desenvolvimentos a definição de que acabamos de falar. Para formar a 
      Comissão Cardinalícia chamou Bispos residenciais, isto é, tais que se 
      acham atualmente no exercício do apostolado hierárquico o que parece 
      indicar que se deve acentuar ainda mais a necessidade da dependência da 
      Ação Católica da Sagrada Hierarquia. 
      
      IX – OS ASSISTENTES ECLESIÁSTICOS 
      Aliás não faltam precedentes. Assim é certo 
      que, pela força natural das coisas, a atividade dos Assistentes 
      Eclesiásticos no seio das Associações foi aos poucos assumindo maior 
      importância. Consta que, em não poucas dioceses, considera-se oportuno dar 
      a presidência da Junta Diocesana a um sacerdote, como intérprete e mais 
      seguro executor das normas episcopais. Nem ficou esquecido o triste 
      episódio de 1931, que trouxe, como conseqüência, os mútuos entendimentos 
      entre a Santa Sé e o Governo Italiano, que bem se poderiam chamar 
      supletórios da Concordata no que diz respeito à Ação Católica. Nessas 
      convenções lemos a premissa que todos conhecem: “A Ação Católica Italiana 
      é essencialmente diocesana e depende diretamente dos Bispos, os quais 
      elegem seus dirigentes eclesiásticos e leigos. É claro, diretamente, mas 
      não exclusivamente dos Bispos, os quais em seu próprio ministério 
      ordinário estão subordinados à suprema autoridade do Vigário de Cristo. 
      Nessa mesma ocasião se relembrou o célebre adágio do Padre da Igreja: 
      “Nihil sine episcopo”, ao qual se poderia acrescentar, com as devidas 
      proporções e limitações, este outro: “Nihil sine parocho”. O primeiro ato 
      de Pio XII orienta decididamente a Ação Católica neste sentido. 
      Para a Comissão Cardinalícia poder cumprir o 
      mandato recebido do Sumo Pontífice precisava de um órgão central que 
      recebesse e transmitisse suas diretrizes; para isso surgiu o Oficio 
      Central de Ação Católica, presidido naturalmente pelo Secretário da dita 
      Comissão. Desta forma se conseguiu, sob a alta direção da Comissão uma 
      direção central, à qual deviam corresponder, nas dioceses e nas paróquias, 
      as direções diocesana e paroquial, respectivamente. Instituíram-se, 
      portanto, os Ofícios diocesanos e os Ofícios paroquiais, enquadrados nos 
      graus hierárquicos, isto é, no bispo, divinamente investido da autoridade 
      ordinária, e no pároco, 
      cui paroecia collata est in titulum 
      cum cura animarum sub Ordinarii loci auctoritate exercenda (Can. 
      451, parágrafo 1). Não podia o apostolado dos leigos ser mais solidamente 
      enquadrado na vida e na organização da Igreja. 
      
      X – CONTINUIDADE SUBSTANCIAL DA AÇÃO 
      CATÓLICA 
      Apesar de tudo isto não houve nenhuma mudança 
      substancial nos fins e na estrutura da Ação Católica, cuja organização 
      interna e Estatutos ficaram intatos, excetuadas umas pequenas modificações 
      que a Comissão poderá introduzir. Por isso continuará funcionando como 
      antes, em suas várias graduações, naturalmente debaixo da direção da 
      competente e correspondente autoridade eclesiástica. Somente as Juntas, 
      que tinham apenas as funções de vigilância, e de coordenação, foram 
      absorvidas pelos Ofícios, cuja incumbência é mais ampla e cujas decisões 
      são mais eficazes, por isso que provêm da autoridade jurisdicional. 
      É óbvio que como as Associações devem 
      manter-se no âmbito da ação propriamente dita, isto é, da execução dos 
      planos de trabalho aprovados pelos Ofícios, assim também estes não podem e 
      não devem sair das funções diretivas, pondo-se no lugar das presidências 
      ou dos Conselhos das diversas Associações, com as quais, todavia, ficam 
      vinculados por meio da Consulta, órgão complementar que presta aos Ofícios 
      grandes serviços, comunicando-lhes os frutos dos estudos e das 
      experiências feitas no campo do apostolado. 
      Os comunicados da Comissão Cardinalícia e do 
      Secretário Geral já determinaram, em suas linhas mestras, a competência e 
      as relações dos novos órgãos diretivos, o que será mais detalhadamente 
      fixado nos Estatutos. Basta no momento, ter indicado o espírito orientador 
      destas inovações, destinadas a promover maior união das organizações com a 
      Hierarquia, o que será de grande proveito para a Ação Católica, e ter 
      salientado a subordinação cultural hierárquica dos diversos Ofícios, os 
      quais devem conhecer e perceber os limites das suas atribuições. 
      Se os Bispos estão obrigados a observar e a 
      fazer observar, em suas próprias dioceses, os estatutos e normas gerais da 
      Comissão Cardinalícia, a qual age em nome, e quase que representando o 
      Santo Padre, com maior razão estará obrigado a isto o pároco, 
      relativamente ao seu Bispo, do qual recebe o mandato para o momento de 
      poder agir, no caso, a seu bel prazer. Por nada não existe um Ofício 
      superior, o qual, quando necessário, saberá aplicar prontamente o remédio. 
      Reservando-nos para outro artigo umas 
      considerações sobre as vantagens procuradas e previstas nas novas 
      disposições, não queremos todavia concluir sem primeiro levantar o 
      pensamento a Deus, a fim de agradecer-Lhe de todo o coração por ter 
      inspirado a Pio XI uma definição, da qual tanto tem recebido a Igreja no 
      decurso do seu glorioso Pontificado, como também por ter inspirado a Pio 
      XII a idéia de consolidar a essa mesma definição da maneira mais 
      autorizada e eloqüente, encaminhando a Ação Católica Italiana para novas 
      metas e conquistas, com os auspícios desse novo Pontificado, cheio de 
      gratas e seguras promessas. 
      
      Adeodato G. Card. Piazza 
      
      Patriarca de Veneza 
      
      Membro da Comissão Cardinalícia 
      
       
      
      II 
      CARTA APOSTÓLICA
      
       
      
      de 25 de agosto de 1910 
      
       
      Nosso encargo apostólico nos impõe o dever de 
      vigiar sobre a pureza da fé e a integridade da disciplina católica, de 
      preservar os fiéis dos perigos do erro e do mal, sobretudo quando o erro e 
      o mal lhes são apresentados numa linguagem atraente, que, encobrindo o 
      vago das ideias e o equívoco das expressões sob o ardor do sentimento e a 
      sonoridade das palavras, podem inflamar os corações por causas sedutoras 
      mas funestas. Tais foram, outrora, as doutrinas dos pretensos filósofos do 
      século XVIII, as da Revolução e as do Liberalismo, tantas vezes 
      condenadas: tais são ainda hoje as teorias do “Sillon”, que, sob 
      aparências brilhantes e generosas, muitas vezes carecem de clareza, de 
      lógica e de verdade, e, por este aspecto, não exprimem o gênio católico e 
      francês. 
      
      Ao “Sillon” não faltavam 
      relevantes qualidades 
      Durante muito tempo hesitamos, veneráveis 
      Irmãos, em dizer pública e solenemente Nosso pensamento sobre o “Sillon”. 
      Foi necessário que vossas preocupações se viessem somar às Nossas para que 
      Nos decidíssemos a fazê-lo. Porque Nós amamos a valente juventude alistada 
      sob a bandeira do “Sillon”, e nós a julgamos digna, por muitos aspectos, 
      de elogio e de admiração. Nós amamos seus chefes, em que Nos é grato 
      reconhecer almas elevadas, superiores às paixões vulgares e animadas do 
      mais nobre entusiasmo pelo bem. Vós já os vistes, Veneráveis Irmãos, 
      penetrados de um sentimento muito vivo da fraternidade humana, ir ao 
      encontro daqueles que trabalham e sofrem para os levantar, animados no seu 
      devotamento pelo amor a Jesus Cristo e pela prática exemplar da religião. 
      Foi nos dias seguintes à memorável Encíclica 
      de Nosso predecessor, de feliz memória, Leão XIII, sobre a condição dos 
      operários. A Igreja, pela boca de seu Chefe supremo, havia derramado sobre 
      os humildes e os pequenos todas as ternuras de seu coração materno, e 
      parecia convocar por seus anhelos campeões sempre mais numerosos da 
      restauração da ordem e da justiça na desordem de nossa sociedade. Os 
      fundadores do “Sillon” não vinham, no momento oportuno, colocar a seu 
      serviço esquadrões jovens e crentes para a realização de seus desejos e de 
      suas esperanças? E, de fato, o “Sillon” levantou, por entre as classes 
      operárias, o estandarte de Jesus Cristo, o sinal da salvação para os 
      indivíduos e as nações, alimentando sua atividade social nas fontes da 
      graça, impondo o respeito da religião nos ambientes menos favoráveis, 
      habituando os ignorantes e os ímpios a ouvir falar de Deus, e, muitas 
      vezes, nas conferências contraditórias, em face de um auditório hostil, 
      levantando-se, espicaçados por uma questão ou por um sarcasmo, para 
      proclamar alta e orgulhosamente a sua fé. Eram os bons tempos do “Sillon”; 
      era o seu lado bom, que explica os encorajamentos e as aprovações que não 
      lhe regatearam o episcopado e a Santa Sé, enquanto este fervor religioso 
      pôde encobrir o verdadeiro caráter do movimento sillonista. 
      
      Mas era ainda maior a 
      gravidade de seus defeitos 
      Porque, é necessário dizê-lo, Veneráveis 
      Irmãos, nossas esperanças, em grande parte, foram ludibriadas. Houve um 
      dia em que o “Sillon” começou a manifestar, para olhares clarividentes, 
      tendências inquietantes. O “Sillon” se desorientava. Podia ser de outra 
      forma? Seus fundadores, jovens, entusiastas e cheios de confiança em si 
      mesmos, não estavam suficientemente armados de ciência histórica, de sã 
      filosofia e de forte teologia para afrontar, sem perigo, os difíceis 
      problemas sociais, para os quais tinham sido arrastados por sua atividade 
      e por seu coração, e para se premunir, no terreno da doutrina e da 
      obediência, contra as infiltrações liberais e protestantes. 
      
      Que forçaram o Papa a 
      condená-lo 
      Os conselhos não lhes faltaram, e, após os 
      conselhos, vieram as admoestações. Mas nós tivemos a dor de ver que tanto 
      uns como as outras deslizavam sobre suas almas fugitivas, e ficavam sem 
      resultado. As coisas vieram assim a tal ponto que Nós trairíamos Nosso 
      dever, se, por mais tempo, guardássemos silêncio. Nós devemos a verdade a 
      nossos caros filhos do “Sillon” que um ardor generoso arrebatou para um 
      caminho tão falso quanto perigoso. Nós a devemos a um grande número de 
      seminaristas e de padres que o “Sillon” subtraiu, senão à autoridade, pelo 
      menos à direção e à influência de seu Bispos. Nós a devemos, enfim, à 
      Igreja, onde o “Sillon” semeia a divisão, e cujos interesses compromete. 
      
      O “Sillon” procura 
      furtar-se à Autoridade da Igreja 
      Em primeiro lugar, convém censurar severamente 
      a pretensão do “Sillon” de escapar à direção da Autoridade Eclesiástica. 
      Os chefes do “Sillon”, com efeito, alegam que eles se movem num terreno 
      que não é o da Igreja; que eles só têm em vista interesses de ordem 
      temporal e não de ordem espiritual; que o sillonista é simplesmente um 
      católico dedicado à causa das classes trabalhadoras, às obras 
      democráticas, e que haure nas práticas de sua fé a energia de seu 
      devotamento; que, nem mais nem menos que os artífices, os trabalhadores, 
      os economistas e os políticos católicos, ele se acha submetido às regras 
      de moral comuns a todos, sem estar subordinado, nem mais nem menos do que 
      aqueles, de uma forma especial, à autoridade eclesiástica. 
      A resposta a estes subterfúgios não é senão 
      demasiado fácil. A quem se fará crer, com efeito, que os sillonistas 
      católicos, que os padres e os seminaristas alistados em suas fileiras só 
      têm em vista, em sua atividade social, o interesse temporal das classes 
      trabalhadoras? Sustentar tal coisa, pensamos, seria fazer-lhes injúria. A 
      verdade é que os chefes do “Sillon” se proclamam idealistas irredutíveis, 
      que pretendem reerguer as classes operárias reerguendo, antes de mais 
      nada, a consciência humana; que têm uma doutrina social e princípios 
      filosóficos e religiosos para reconstruir a sociedade sobre um novo plano; 
      têm uma concepção especial sobre a dignidade humana, sobre a liberdade, 
      sobre a justiça e a fraternidade, e que, para justificar seus sonhos 
      sociais apelam para o Evangelho, interpretado à sua maneira, e, o que é 
      ainda mais grave, para um Cristo desfigurado e diminuído. Além disso, 
      estas idéias eles as ensinam em seus círculos de estudo, eles as inculcam 
      a seus companheiros, eles as fazem penetrar em suas obras. Eles são pois, 
      verdadeiramente, professores de moral social, cívica e religiosa, e, 
      quaisquer que sejam as modificações que eles possam introduzir na 
      organização do movimento sillonista, Nós temos o direito de dizer que a 
      finalidade do “Sillon”, seu caráter, sua ação pertencem ao domínio moral, 
      que é o domínio próprio da Igreja, e que, em consequência, os sillonistas 
      se iludem quando crêem mover-se num terreno em cujos confins expiram os 
      direitos do poder doutrinário e diretivo da Autoridade Eclesiástica. 
      Se suas doutrinas fossem isentas de erro, já 
      teria sido uma falta muito grave à disciplina católica o subtrair-se 
      obstinadamente à direção daquelas que receberam do céu a missão de guiar 
      os indivíduos e as sociedades no reto caminho da verdade e do bem. Mas o 
      mal é mais profundo, já o dissemos: o “Sillon”, arrastado por um mal 
      compreendido amor dos fracos, descambou para o erro. 
      
      São errôneas as tendências 
      igualitárias do “Sillon” 
      Com efeito, o “Sillon” se propõe o 
      reerguimento e a regeneração das classes operárias. Ora, sobre esta 
      matéria os princípios da doutrina católica são fixos, e a história da 
      civilização cristã aí está para atestar sua fecundidade benfazeja. Nosso 
      predecessor, de feliz memória, recordou-os em páginas magistrais, que os 
      católicos ocupados em questões sociais devem estudar e ter sempre sob os 
      olhos. Ele ensinou, de um modo especial, que a democracia cristã deve 
      “manter a diversidade das classes, que é seguramente o próprio da cidade 
      bem constituída, é querer para a sociedade humana a forma e o caráter que 
      Deus, seu autor, lhe imprimiu.” Ele fulminou “uma certa democracia que vai 
      até aquele grau de perversidade de atribuir, na sociedade, a soberania ao 
      povo e de pretender a supressão e o nivelamento das classes”. Ao mesmo 
      tempo, Leão XIII impunha aos católicos um programa de ação, o único 
      programa capaz de recolocar e de manter a sociedade sobre suas bases 
      cristãs seculares. Ora, que fizeram os chefes do “Sillon”? Não somente 
      adotaram um programa e um ensinamento diferentes dos de Leão XIII (o que 
      já seria singularmente audacioso da parte de leigos, que se colocam assim, 
      em concorrência com o Soberano Pontífice, como diretores da atividade 
      social na Igreja); mas rejeitaram abertamente o programa traçado por Leão 
      XIII, e adotaram um outro, que Lhe é diametralmente oposto; além disso, 
      rejeitam a doutrina relembrada por Leão XIII sobre os princípios 
      essenciais da sociedade, colocam a autoridade no povo ou quase a suprimem, 
      e tomam, como ideal a realizar, o nivelamento das classes. Eles caminham 
      pois, ao revés da doutrina católica, para um ideal condenado. 
      Nós bem sabemos que eles se gabam de reerguer 
      a dignidade humana e a condição demasiado desprezada das classes 
      trabalhadoras, de tornar justas e perfeitas as leis do trabalho e as 
      relações entre o capital e os assalariados, enfim, de fazer reinar sobre a 
      terra uma justiça melhor, e mais caridade, e, por movimentos sociais 
      profundos e fecundos, de promover na humanidade um progresso inesperado. 
      E, certamente, Nós não condenamos estes esforços, que seriam excelentes a 
      todos os respeitos, se os sillonistas não esquecessem que o progresso de 
      um ser consiste em fortificar suas faculdades naturais por novas energias 
      e a facilitar o jogo de sua atividade no quadro e de acordo com as leis de 
      sua constituição; e que, pelo contrário, ferindo seus órgãos essenciais, 
      quebrando o quadro de suas atividades, impele-se o ser não para o 
      progresso, mas para a morte. Entretanto, é isto que eles querem fazer com 
      a sociedade humana; seu sonho consiste em trocar as bases naturais e 
      tradicionais desta e prometer uma cidade futura edificada sobre outros 
      princípios, que eles ousam declarar mais fecundos, mais benfazejos do que 
      os princípios sobre os quais repousa a atual cidade cristã. 
      Não, Veneráveis Irmãos – e é preciso lembra-lo 
      energicamente nestes tempos de anarquia social e intelectual, em que todos 
      se erigem em doutores e legisladores – a cidade não será construída de 
      outra forma senão aquela pela qual Deus a construiu; a sociedade não será 
      edificada se a Igreja não lhe lançar as bases e não dirigir os trabalhos; 
      não, a civilização não mais está para ser inventada nem a cidade nova para 
      ser construída nas nuvens. Ela existiu, ela existe; é a civilização 
      cristã, é a cidade católica. Trata-se apenas de instaurá-la e restaurá-la 
      sem cessar sobre seus fundamentos naturais e divinos contra os ataques 
      sempre renascentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade; “omnia 
      instaurare in Christo”. 
      E para que não se Nos acuse de julgar muito 
      sumariamente e com rigor não justificado as teorias sociais do “Sillon”, 
      queremos rememorar-lhe os pontos essenciais. 
      
      Exposição das doutrinas 
      subversivas e revolucionárias do “Sillon” 
      O “Sillon” tem a nobre preocupação da 
      dignidade humana. Mas, esta dignidade é compreendida ao modo de certos 
      filósofos, de que a Igreja está longe de ter de se regozijar. O 
      primeiro elemento desta dignidade é a liberdade, entendida neste sentido, 
      que, salvo em matéria de religião, cada homem é autônomo. Deste princípio 
      fundamental, tira as seguintes conclusões: Hoje em dia, o povo está sob 
      tutela, debaixo de uma autoridade que lhe é distinta, e da qual se deve 
      libertar: emancipação política. Ele está sob a dependência de patrões que, 
      detendo seus instrumentos de trabalho, o exploram, o oprimem e o rebaixam; 
      ele deve sacudir seu jugo: 
      emancipação econômica. Enfim, ele é dominado por uma casta chamada 
      dirigente, a qual o desenvolvimento intelectual assegura uma 
      preponderância indevida na direção dos negócios; ele deve subtrair-se à 
      sua dominação: emancipação intelectual. O nivelamento das condições, deste tríplice 
      ponto de vista, estabelecerá entre os homens a igualdade, e esta igualdade 
      é a verdadeira justiça humana. Uma organização política e social fundada 
      sobre esta dupla base, liberdade e igualdade (às quais logo virá 
      acrescentar-se a fraternidade), eis o que eles chamam Democracia. 
      No entanto, a liberdade e a igualdade não 
      constituem senão o lado, por assim dizer, negativo. O que faz própria e 
      positivamente a Democracia, é a participação maior possível de cada um no 
      governo da coisa pública. E isto compreende um tríplice elemento, 
      político, econômico e moral. 
      Em primeiro lugar, em política, o “Sillon” não 
      abole a autoridade; pelo contrário, ele a considera necessária; mas ele a 
      quer partilhar, ou para melhor dizer, ele a quer multiplicar de tal modo 
      que cada cidadão se tornará uma espécie de rei. A autoridade, é certo, 
      emana de Deus, mas ela reside primordialmente no povo, e daí deriva por 
      via de eleição ou, melhor ainda, de seleção, sem por isto deixar o povo e 
      se tornar independente dele; ela será exterior, mas somente na aparência; 
      na realidade, ela será interior, porque será uma autoridade consentida. 
      Guardadas as proporções, acontecerá o mesmo na 
      ordem econômica. Subtraído a uma classe particular, o patronato será 
      multiplicado de tal modo que cada operário se tornará uma espécie de 
      patrão. A forma invocada para realizar este ideal econômico não é, 
      afirma-se, a do socialismo, é um sistema de cooperativas suficientemente 
      multiplicadas para provocar uma concorrência fecunda e para salvaguardar a 
      independência dos operários, que não ficariam adscritos a nenhuma delas. 
      Eis agora o elemento capital, o elemento 
      moral. Como a autoridade, já se viu, é muito reduzida, é necessária uma 
      outra força para completá-la, e para opor uma reação permanente ao egoísmo 
      individual. Este novo princípio, esta força, é o amor do interesse 
      profissional e do interesse público, quer dizer, da finalidade mesma da 
      profissão e da sociedade. Imaginai uma sociedade onde, na alma de cada um, 
      com o amor inato do bem individual e do bem familiar, reinasse o amor do 
      bem profissional e do bem público, onde, na consciência de cada um, estes 
      amores se subordinassem de tal modo, que o bem superior primasse sempre o 
      bem inferior; uma tal sociedade não poderia quase dispensar a autoridade e 
      não ofereceria o ideal da dignidade humana, cada cidadão tendo uma alma de 
      rei, cada operário uma alma de patrão? Arrancado à estreiteza de seus 
      interesses privados e elevado até os interesses de sua profissão e, mais 
      alto, até os da nação inteira e, mais alto ainda, até os da humanidade 
      (porque o horizonte do “Sillon” não se detém nas fronteiras da pátria, mas 
      se estende a todos os homens até os confins do mundo), o coração humano 
      alargado pelo amor do bem comum, abraçaria todos os companheiros da mesma 
      profissão todos os compatriotas, todos os homens. E eis aí a grandeza e a 
      nobreza humana ideal, realizada pela célebre trilogia: Liberdade, 
      Igualdade, Fraternidade. 
      Ora, estes três elementos, político, econômico 
      e moral, estão subordinados um a outro, e é o elemento moral, como 
      dissemos, que é o principal. Com efeito, nenhuma democracia política é 
      viável se não tem profundos pontos de contato com a democracia econômica. 
      Por sua vez, nem uma nem outra são possíveis se não se radicam num estado 
      de espírito em que a consciência se acha investida de responsabilidades e 
      de energias morais proporcionadas. Mas, supondo este estado de espírito, 
      assim feito de responsabilidade consciente e de forças morais, a 
      democracia econômica daí decorrerá naturalmente por tradução em atos, 
      desta consciência e destas energias; e, igualmente, e pela mesma via, do 
      regime corporativo sairá a democracia política; e a democracia política e 
      a econômica, esta trazendo aquela, se acharão fixadas na própria 
      consciência do povo sobre bases inabaláveis. 
      Tal é, em resumo, a teoria, poder-se-ia dizer 
      o sonho do “Sillon”, e é para isto que tende seu ensinamento e aquilo que 
      ele chama a educação democrática do povo, quer dizer, a levar ao máximo a 
      consciência e a responsabilidade cívicas de cada qual, donde decorrerá a 
      democracia econômica e política, e o reino da justiça, da liberdade e da 
      fraternidade. 
      Esta rápida exposição, Veneráveis Irmãos, já 
      vos mostra claramente quanto tínhamos razão em dizer que o “Sillon” opõe 
      doutrina a doutrina, que edifica sua cidade sobre uma teoria contrária à 
      verdade católica e que falseia as noções essenciais e fundamentais que 
      regulam as relações sociais em toda sociedade humana. Esta oposição 
      aparecerá com maior clareza ainda nas seguintes considerações. 
      
      Refutação 
      O “Sillon” coloca a autoridade pública 
      primordialmente no povo, do qual deriva em seguida aos governantes, de tal 
      modo entretanto, que ela continua a residir nele. Ora, Leão XIII condenou 
      formalmente esta doutrina em sua Encíclica “Diuturnum Illud”, sobre o 
      Principado Político, onde diz: “Grande número de modernos seguindo as 
      pegadas daqueles que, no século passado, se deram o nome de filósofos, 
      declaram que todo o poder vem do povo; que em conseqüência aqueles que 
      exercem o poder na sociedade não a exercem como sua própria autoridade, 
      mas como uma autoridade a eles delegada pelo povo e sob a condição de 
      poder ser revogada pela vontade do povo, de quem eles a têm. Inteiramente 
      contrário é o pensamento dos católicos, que fazem derivar de Deus o 
      direito de comandar, como de seu princípio natural e necessário.” Sem 
      dúvida, o “Sillon” faz descer de Deus esta autoridade, que coloca em 
      primeiro lugar no povo, mas de tal forma que “ela sobe de baixo para ir ao 
      alto, enquanto na organização da Igreja, o poder desce do alto para ir até 
      em baixo” (Marc Sangnier, discurso de Rouen, 1907). Mas, além de ser 
      anormal que a delegação suba, pois é própria à sua natureza descer, Leão 
      XIII refutou de antemão esta tentativa de conciliação entre a doutrina 
      católica e o erro do filosofismo. Porque ele prossegue: “É necessário 
      observá-lo aqui: aqueles que presidem ao governo da coisa pública podem 
      bem, em certos casos, ser eleitos pela vontade e o julgamento da multidão, 
      sem repugnância nem oposição com a doutrina católica. Mas, se esta escolha 
      designa o governante, não lhe confere a autoridade de governar, não lhe 
      delega o poder, apenas designa a pessoa que dele será investido.” 
      De resto, se o povo continua a ser o detentor 
      do poder, que vem a ser da autoridade? Uma sombra, um mito; não há mais 
      leis propriamente dita, não há mais obediência. O “Sillon” o reconheceu; 
      desde que, com efeito, ele reclama, em nome da dignidade humana, a 
      tríplice emancipação política, econômica e intelectual, a cidade futura, 
      para a qual trabalha, não mais terá mestres nem servidores; os cidadãos aí 
      serão todos livres, todos camaradas, todos reis. Uma ordem, um preceito, 
      seria um atentado à liberdade; a subordinação a uma qualquer superioridade 
      seria uma diminuição do homem, a obediência, uma degradação. É assim, 
      Veneráveis Irmãos, que a doutrina tradicional da Igreja nos representa as 
      relações sociais, mesmo na cidade mais perfeita possível? Não é verdade 
      que toda sociedade de criaturas dependentes e desiguais por natureza tem 
      necessidade de uma autoridade que dirija sua atividade para o bem comum, e 
      que imponha a sua lei? E, se na sociedade, se encontram seres perversos (e 
      sempre os haverá), a autoridade não deverá ser tanto mais forte quanto o 
      egoísmo dos maus for mais ameaçador? Além disso, pode-se dizer, com uma 
      aparência de razão sequer, que haja incompatibilidade entre a autoridade e 
      a liberdade, sem que se cometa um erro grosseiro sobre o conceito da 
      liberdade? Pode-se ensinar que a obediência é contrária à dignidade 
      humana, e que o ideal seria substituí-la pela “autoridade consentida”? Não 
      será verdade que o apóstolo S. Paulo tinha em vista a sociedade humana, em 
      todas as suas etapas possíveis, quando prescrevia aos fiéis a submissão a 
      toda autoridade? Será verdade que a obediência aos homens, enquanto 
      representantes legítimos de Deus, quer dizer afinal de contas a obediência 
      a Deus, abaixa o homem e o avilta abaixo de si mesmo? Será que o estado 
      religioso, fundado sobre a obediência, é contrário ao ideal da natureza 
      humana? Será que os santos, que foram os mais obedientes dos homens, foram 
      escravos e degenerados? Enfim, poder-se-ia imaginar um estado social em 
      que Jesus Cristo, de novo sobre a terra, não mais desse o exemplo de 
      obediência, e não mais dissesse: Dai a César o que é de César, e a Deus o 
      que é de Deus? 
      O “Sillon”, que ensina semelhantes doutrinas, 
      e as põe em prática em sua vida interna, semeia portanto entre a vossa 
      juventude católica noções erradas e funestas sobre a autoridade, a 
      liberdade e a obediência. Outra coisa não acontece quanto à justiça e à 
      igualdade. Ele trabalha, como afirma, para realizar uma era de igualdade, 
      que, por isto mesmo, seria uma era de melhor justiça. Assim, para ele, 
      toda desigualdade de condição é uma injustiça ou, pelo menos, uma justiça 
      menor! Princípio soberanamente contrário à natureza das coisas, gerador de 
      inveja e de injustiça, subversivo de toda a ordem social. Assim, só a 
      democracia inaugurará o reino da perfeita justiça! Não é isto uma injúria 
      às outras formas de governo, que são rebaixadas, por este modo, à 
      categoria de governos impotentes, apenas toleráveis! 
      De resto, o “Sillon”, ainda sobre este ponto, 
      vai de encontro ao ensinamento de Leão XIII. Ele poderia ter lido na 
      Encíclica já citada sobre o Principado Político, que, “salvaguardada a 
      justiça, aos povos não é interdito escolherem o governo que melhor 
      responda a seu caráter ou às instituições e costumes que receberam dos 
      antepassados”, e a Encíclica faz alusão à tríplice forma de governo bem 
      conhecida, supondo portanto que a justiça é compatível com cada uma delas. 
      E a Encíclica sobre a condição dos operários não afirma claramente a 
      possibilidade de restaurar-se a justiça nas organizações atuais da 
      sociedade, pois que indica os meios para isso? Ora, sem dúvida alguma, 
      Leão XIII queria falar não de uma justiça qualquer, mas da justiça 
      perfeita. Ensinando, pois, que a justiça é compatível com as três formas 
      de governo em questão, ensinava que, sob este aspecto, a Democracia não 
      goza de um privilégio especial. Os “sillonistas”, que pretendem o 
      contrário, ou recusam ouvir a Igreja ou têm da justiça e da igualdade um 
      conceito que não é católico. 
      O mesmo acontece com a noção da fraternidade, 
      cuja base eles colocam no amor dos interesses comuns, ou, além de todas as 
      filosofias e de todas as religiões, na simples noção de humanidade, 
      englobando assim no mesmo amor e numa igual tolerância todos os homens com 
      todas as suas misérias, tanto as intelectuais e morais como as físicas e 
      temporais. Ora, a doutrina católica nos ensina que o primeiro dever da 
      caridade não está na tolerância das convicções errôneas, por sinceras que 
      sejam, nem na indiferença teórica e prática pelo erro ou o vício, em que 
      vemos mergulhados nossos irmãos, mas no zelo pela sua restauração 
      intelectual e moral, não menos que por seu bem estar material. Esta mesma 
      doutrina católica nos ensina também que a fonte do amor do próximo se acha 
      no amor de Deus, pai comum e fim comum de toda a família humana, e no amor 
      de Jesus Cristo, do qual nós somos membros a tal ponto que consolar um 
      infeliz é fazer o bem ao próprio Jesus Cristo. Qualquer outro amor é 
      ilusão ou sentimento estéril e passageiro. Certamente, a experiência 
      humana aí está, nas sociedades pagãs ou leigas de todos os tempos, para 
      provar que, em certos momentos, a consideração dos interesses comuns ou da 
      semelhança de natureza pesa muito pouco diante das paixões e das 
      concupiscências do coração. Não, Veneráveis Irmãos, não existe verdadeira 
      fraternidade fora da caridade cristã, que, pelo amor de Deus e de seu 
      Filho Jesus Cristo nosso Salvador abrange todos os homens, para os 
      consolar a todos, e para os conduzir todos à mesma fé e à mesma felicidade 
      do céu. Separando a fraternidade da caridade cristã assim entendida, a 
      democracia, longe de ser um progresso, constituiria um desastroso recuo 
      para a civilização. Porque, se se chegar, e Nós o desejamos de toda a 
      nossa alma, a maior soma possível de bem estar para a sociedade e para 
      cada um de seus membros pela fraternidade, ou, como se diz ainda, pela 
      solidariedade universal, é necessária a união dos espíritos na verdade, a 
      união das vontades na moral, a união dos corações no amor de Deus e de seu 
      Filho Jesus Cristo. Ora, esta união só poderá ser realizada pela caridade 
      católica, que é a única, por conseqüência, que pode conduzir os povos no 
      caminho do progresso, para o ideal da civilização. 
      Enfim, na base de todas as falsificações das 
      noções sociais fundamentais, o “Sillon” coloca uma falsa ideia da 
      dignidade humana. Segundo ele, o homem só será verdadeiramente homem, 
      digno deste nome, no dia em que adquirir uma consciência esclarecida, 
      forte, independente, autônoma, podendo dispensar os mestres, só obedecendo 
      a si própria, e capaz de assumir e desempenhar, sem falhar, as mais graves 
      responsabilidades. Eis algumas destas grandes palavras com as quais se 
      exalta o sentimento do orgulho humano; tal como um sonho, que arrasta o 
      homem, sem luz, sem guia e sem auxílio, pelo caminho da ilusão, em que, 
      esperando o grande dia da plena consciência, será devorado pelo erro e 
      pelas paixões. E este grande dia, quando virá? A menos que se mude a 
      natureza humana (o que não está no poder do “Sillon”), virá alguma vez? 
      Será que os santos, que levaram ao apogeu a dignidade humana, tiveram esta 
      dignidade? E os humildes da terra, que não podem subir tão alto e que se 
      contentam com traçar modestamente seu sulco (tracer 
      modestemen son sillon) na classe social que lhes designou a 
      Providência, cumprindo energicamente seus deveres na humildade, na 
      obediência e na paciência cristãs, não seriam dignos do nome de homens, 
      eles aos quais o Senhor há de tirar um dia de sua condição obscura para os 
      colocar no céu, entre os príncipes de seu povo? 
      Suspendemos aqui nossas reflexões sobre os 
      erros do “Sillon”. Não pretendemos esgotar o assunto, eis que ainda 
      poderíamos chamar vossa atenção sobre outros pontos igualmente falsos e 
      perigosos, por exemplo, sobre a maneira de compreender o poder coercitivo 
      da Igreja. Importa, contudo, observar agora a influência destes erros 
      sobre a conduta prática do “Sillon” e sobre a sua ação social. 
      
      A estrutura igualitária da 
      organização do “Sillon” 
      As doutrinas do “Sillon” não ficam apenas nos 
      domínios da abstração filosófica. Elas são ensinadas à juventude católica, 
      e, bem mais do que isso, procura-se vivê-las. O “Sillon” se considera como 
      o núcleo da cidade futura; ele a reflete, pois, tão fielmente quanto 
      possível. Com efeito, não existe hierarquia no “Sillon”. A elite que o 
      dirige proveio da massa por seleção, quer dizer, impondo-se por sua 
      autoridade moral e por suas virtudes. Nele se entra livremente, como 
      livremente dele se sai. Os estudos aí se fazem sem mestre, quando muito 
      com um conselheiro. Os círculos de estudo são verdadeiras cooperativas 
      intelectuais, onde cada um é ao mesmo tempo aluno e mestre. A camaradagem 
      mais absoluta reina entre os membros, e põe em total contato suas almas: 
      daí, a alma comum do “Sillon”. Definiram-na “uma amizade”. Mesmo o padre, 
      quando lá entra, abaixa a eminente dignidade de seu sacerdócio e, pela 
      mais estranha inversão de papéis, se faz aluno, se põe no mesmo nível de 
      seus jovens amigos e não é mais do que um camarada. 
      
      O espírito anárquico que 
      incute 
      Nestes hábitos democráticos, e nas doutrinas 
      sobre a cidade ideal que os inspiram, vós reconhecereis, Veneráveis 
      Irmãos, a causa secreta das faltas disciplinares que, tantas vezes, 
      tivestes de recriminar no “Sillon”. Não é de espantar que vós não tenhais 
      encontrado nos chefes e nos seus companheiros assim formados, fossem 
      seminaristas ou padres, o respeito, a docilidade e a obediência que são 
      devidos às vossas pessoas e à vossa autoridade; que tenhais experimentado 
      da parte deles uma surda oposição, e que tenhais tido o pesar de os ver 
      subtrair-se totalmente, ou, quando a isto forçados pela obediência, 
      entregar-se com desgosto às obras não sillonistas. Vós sois o passado, 
      eles são os pioneiros da civilização futura. Vós representais a 
      hierarquia, as desigualdades sociais, a autoridade e a obediência: 
      instituições envelhecidas, ante as quais suas almas, embevecidas por um 
      outro ideal, não mais se podem dobrar. Temos sobre este estado de espírito 
      o testemunho de fatos dolorosos, capazes de arrancar lágrimas, e Nós não 
      podemos, apesar de nossa longanimidade, reprimir um justo sentimento de 
      indignação. Pois que! Há quem inspire à vossa juventude católica a 
      desconfiança para com a Igreja sua mãe; ensina-se-lhe que, decorridos 19 
      séculos, ela ainda não conseguiu no mundo constituir a sociedade sobre 
      suas verdadeiras bases; que ela não compreendeu as noções sociais da 
      autoridade, da liberdade, da igualdade, da fraternidade e da dignidade 
      humana; que os grandes bispos e os grandes monarcas, que criaram e tão 
      gloriosamente governaram a França, não souberam dar ao seu povo nem a 
      verdadeira justiça, nem a verdadeira felicidade, porque eles não tinham o 
      ideal do “Sillon”! 
      O sopro da Revolução passou por aí, e podemos 
      concluir que, se as doutrinas sociais do “Sillon” são erradas, seu 
      espírito é perigoso e sua educação funesta. 
      
      O “Sillon” é de uma 
      intolerância odiosa 
      Mas então, que devemos pensar de sua ação na 
      Igreja, ele, cujo catolicismo é tão pontiagudo que, por mais um pouco, 
      quem não abraçasse a sua causa seria a seus olhos um inimigo interior do 
      catolicismo, e nada teria compreendido do Evangelho e de Jesus Cristo? 
      Julgamos conveniente insistir sobre esta questão, porque foi precisamente 
      seu ardor católico que valeu ao “Sillon”, mesmo neste últimos tempos, 
      preciosos encorajamentos e ilustres sufrágios. Pois bem! Perante as 
      palavras e os fatos, somos obrigados a dizer que, em sua ação como em sua 
      doutrina, o “Sillon” não é agradável à Igreja. 
      Em primeiro lugar, seu catolicismo só se 
      acomoda com a forma democrática de governo, que julga ser a mais favorável 
      à Igreja, e como que se confundindo com ela; portanto, enfeuda sua 
      religião a um partido político. Não precisamos demonstrar que o advento da 
      democracia universal não tem importância para a ação da Igreja no mundo; 
      já temos lembrado que a Igreja sempre deixou às nações o cuidado de se dar 
      o governo que elas consideram mais vantajoso para seus interesses. O que 
      Nós queremos afirmar ainda uma vez após nosso predecessor, é que há erro e 
      perigo em enfeudar, por princípio, o catolicismo a uma forma de governo; 
      erro e perigo que são tanto maiores quando se sintetiza a religião com um 
      gênero de democracia cujas doutrinas são erradas. Ora, é o caso do “Sillon”, 
      o qual, de fato, em favor de uma forma política especial, comprometendo a 
      Igreja, divide os católicos, arranca a juventude e mesmo padres e 
      seminaristas à ação simplesmente católica, e desperdiça, em pura perda, as 
      forças vivas de uma parte da nação. 
      
      Exceto quando se trata dos 
      princípios da Igreja 
      E reparai, Veneráveis Irmãos, numa estranha 
      contradição. É precisamente porque a religião deve dominar todos os 
      partidos, é invocando este princípio que o “Sillon” se abstém de defender 
      a Igreja atacada. Certamente não foi a Igreja que desceu à arena política; 
      arrastaram-na para aí, e para a mutilar, e para a despojar. O dever de 
      todo católico não consiste, então, em usar das armas políticas, que ele 
      tem à mão, para defendê-la, e também para forçar a política a ficar em seu 
      domínio e a não se ocupar da Igreja para lhe dar o que é devido? Pois bem! 
      Em face da Igreja assim violentada, muitas vezes se tem a dor de ver os 
      sillonistas cruzar os braços, a não ser que eles achem vantajoso 
      defendê-la; vê-se-os ditar ou sustentar um programa que em nenhum lugar 
      nem no menor grau revela o espírito católico. O que não impede que estes 
      mesmos homens, em plena luta política, sob o golpe de uma provocação, 
      façam pública ostentação de sua fé. Isto que quer dizer senão que há dois 
      homens no sillonista: o individuo que é católico; o sillonista, homem de 
      ação, que é neutro. 
      
      Um dos graves erros do 
      “Sillon” é o interconfessionalismo 
      Houve um tempo em que o “Sillon”, como tal, 
      era formalmente católico. Em matéria de força moral, ele só conhecia uma, 
      a força católica, e ia proclamando que a democracia havia de ser católica, 
      ou não seria democracia. Em dado momento, entretanto, ele mudou de 
      parecer. Deixou a cada um sua religião ou sua filosofia. Ele próprio 
      deixou de se qualificar de “católico”, e a fórmula “A democracia há de ser 
      católica” substituiu-a por esta outra “A democracia não há de ser 
      anti-católica”, tanto quanto, aliás, anti-judáica ou anti-budista. Foi a 
      época do “maior Sillon”. Todos os operários de todas as religiões e de 
      todas as seitas foram convocados para a construção da cidade futura. Outra 
      coisa não se lhes pediu a não ser que abraçassem o mesmo ideal social, que 
      respeitassem todas as crenças e que trouxessem um certo mínimo de forças 
      morais. Certamente, proclamava-se, “os chefes do “Sillon” põem sua fé 
      religiosa acima de tudo. Mas podem recusar aos outros o direito de haurir 
      sua energia moral, lá onde podem? Em troca, eles querem que os outros 
      respeitem seu direito, deles, de hauri-la na fé católica. Eles pedem, 
      pois, a todos aqueles que querem transformar a sociedade presente no 
      sentido da democracia, que não se repilam mutuamente por causa de 
      convicções filosóficas ou religiosas que os possam separar, mas que 
      marchem de mãos dadas, não renunciando a suas convicções, mas 
      experimentando fazer, sobre o terreno das realidades práticas, a prova da 
      excelência de suas convicções pessoais. Talvez que neste terreno de 
      emulação entre almas ligadas a diferentes convicções religiosas ou 
      filosóficas a união se possa realizar” (Marc Sangnier, Discurso de Rouen, 
      1.907). E ao mesmo tempo se declarou (de que modo isto se poderia 
      realizar?) que o pequeno “Sillon” católico seria a alma do grande “Sillon” 
      cosmopolita. 
      Recentemente, desapareceu o nome do “maior 
      Sillon” e houve a intervenção de uma nova organização, que em nada 
      modificou, bem pelo contrário, o espírito e o fundo das coisas “para pôr 
      ordem no trabalho, e organizar as diversas forças de atividade. O “Sillon” 
      continua sempre a ser uma alma, um espírito, que se misturará aos grupos e 
      inspirará sua atividade.” E a todos os novos agrupamentos, tornados 
      autônomos na aparência: católicos, protestantes, livre-pensadores, se pede 
      que se ponham a trabalhar. “Os camaradas católicos se esforçarão entre si 
      próprios, numa organização especial, por se instruir e se educar. Os 
      democratas protestantes e livre-pensadores farão o mesmo de seu lado. 
      Todos, católicos, protestantes e livre-pensadores terão em mira armar a 
      juventude não para uma luta fratricida, mas para uma generosa emulação no 
      terreno das virtudes sociais e cívicas” (Marc Sangnier, Paris, Maio de 
      1910). 
      Estas declarações e esta nova organização da 
      ação sillonista provocam bem graves reflexões. 
      Eis uma associação interconfessional, fundada 
      por católicos, para trabalhar na reforma da civilização, obra 
      eminentemente religiosa, porque não há civilização verdadeira sem 
      civilização moral, e não há verdadeira civilização moral sem a verdadeira 
      religião: é uma verdade demonstrada, é um fato histórico. E os novos 
      sillonistas não poderão pretextar que eles só trabalharão “no terreno das 
      realidades práticas” onde a diversidade das crenças não importa. Seu chefe 
      tão bem percebe esta influência das convicções do espírito sobre o 
      resultado da ação, que ele os convida, qualquer que seja a religião a que 
      pertençam, a “fazer no terreno das realidades práticas a prova da 
      excelência de suas convicções pessoais”. E com razão, porque as 
      realizações práticas revestem o caráter das convicções religiosas, como os 
      membros de um corpo, até às últimas extremidades, recebem sua forma do 
      princípio vital que o anima. 
      Isto posto, que se deve pensar da 
      promiscuidade em que se acharão agrupados os jovens católicos com 
      heterodoxos e incrédulos de toda a espécie, numa obra desta natureza? Esta 
      não será mil vezes mais perigosa para eles do que uma associação neutra? 
      Que se deve pensar deste apelo a todos os heterodoxos e a todos os 
      incrédulos para virem provar a excelência de suas convicções sobre o 
      terreno social, numa espécie de concurso apologético, como se este 
      concurso já não durasse há 19 séculos, em condições menos perigosas para a 
      fé dos fiéis e sempre favorável à Igreja Católica? Que se deve pensar 
      deste respeito por todos os erros e de estranho convite, feito por um 
      católico a todos os dissidentes, a fortificarem suas convicções pelo 
      estudo e delas fazer as fontes sempre mais abundantes de novas forças? Que 
      se deve pensar de uma associação em que todas as religiões, e mesmo o 
      livre-pensamento, podem manifestar-se altamente à vontade? Porque os 
      sillonistas que, nas conferências públicas e em outras ocasiões proclamam 
      altivamente sua fé individual, não pretendem certamente fechar a boca aos 
      outros e impedir que o protestante afirme seu protestantismo e o cético, 
      seu ceticismo. Que pensar, enfim, de um católico que, ao entrar em seu 
      círculo de estudos, deixa na porta seu catolicismo, para não assustar seus 
      camaradas que, “sonhando com uma ação social desinteressada, têm 
      repugnância de a fazer servir ao triunfo de interesses, facções, ou mesmo 
      de convicções, quaisquer que sejam”? Tal é a profissão de fé da nova 
      Comissão Democrática de Ação Social, que herdou a maior tarefa da antiga 
      organização, e que, afirma “desfazendo o equívoco em torno do “maior 
      Sillon”, tanto nos meios reacionários como nos meios anti-clericais”, está 
      aberta a todos os homens respeitadores das forças morais e religiosas e 
      convencidos de que nenhuma emancipação social verdadeira será possível sem 
      o fermento de um generoso idealismo”. 
      Ah, sim! O equívoco está desfeito; a ação 
      social do “Sillon” não é mais católica; o sillonista, como tal, não 
      trabalha para uma facção, e “a Igreja, ele o diz, não deveria, por nenhum 
      título, ser beneficiária das simpatias que sua ação possa suscitar”. 
      Insinuação estranha, em verdade! Teme-se que a Igreja se aproveite, com 
      objetivo egoísta e interesseiro, da ação social do “Sillon”, como se tudo 
      o que aproveita à Igreja não aproveitasse à humanidade! Estranha inversão 
      de idéias; a Igreja é que seria beneficiária da ação social, como se os 
      maiores economistas já não houvessem reconhecido e demonstrado que a ação 
      social é que, para ser real e fecunda, deve beneficiar-se da Igreja. 
      Porém, mais estranhas ainda, ao mesmo tempo inquietantes e acabrunhadoras, 
      são a audácia e a ligeireza de espírito de homens que se dizem católicos, 
      e que sonham refundir a sociedade em tais condições, e estabelecer sobre a 
      terra, por cima da Igreja Católica, “o reino da justiça e do amor”, com 
      operários vindos de toda a parte, de todas as religiões ou sem religião, 
      com ou sem crenças, contanto que se esqueçam do que os divide: suas 
      convicções religiosas e filosóficas, e ponham em comum aquilo que os une: 
      um generoso idealismo e forças morais adquiridas “onde possam”. Quando se 
      pensa em tudo o que foi preciso de forças, de ciência, de virtudes 
      sobrenaturais para estabelecer a cidade cristã, e nos sofrimentos de 
      milhões de mártires, e nas luzes dos Padres e dos Doutores da Igreja, e no 
      devotamento de todos os heróis da caridade, e numa poderosa Hierarquia 
      nascida no céu, e nas torrentes de graça divina, e tudo isto edificado, 
      travado, compenetrado pela Vida e pelo Espírito de Jesus Cristo, a 
      Sabedoria de Deus, o Verbo feito homem; quando se pensa, dizíamos, em tudo 
      isto, fica-se atemorizado ao ver novos apóstolos se encarniçarem por fazer 
      melhor, através da comunhão num vago idealismo e em virtudes cívicas. Que 
      é que eles querem produzir? Que é que sairá desta colaboração? Uma 
      construção puramente verbal e quimérica, em que se verá coruscar 
      promiscuamente, e numa confusão sedutora, as palavras liberdade, justiça, 
      fraternidade e amor, igualdade e exaltação humana, e tudo baseado numa 
      dignidade humana mal compreendida. Será uma agitação tumultuosa, estéril 
      para o fim proposto, e que aproveitará aos agitadores de massas, menos 
      utopistas. Sim, na realidade, pode-se dizer que o “Sillon” escolta o 
      socialismo, o olhar fixo numa quimera. 
      Tememos que ainda haja pior. O resultado desta 
      promiscuidade em trabalho, o beneficiário desta ação social cosmopolita só 
      poderá ser uma democracia, que não será nem católica, nem protestante, nem 
      judaica; uma religião (porque o sillonismo, os chefes o afirmaram, é uma 
      religião) mais universal do que a Igreja Católica, reunindo todos os 
      homens tornados enfim irmãos e camaradas no “reino de Deus”. – “Não se 
      trabalha para a Igreja, trabalha-se pela humanidade.” 
      
      E por isto o “Sillon” 
      deixou de ser católico 
      E agora, penetrado da mais viva tristeza, Nós 
      nos perguntamos, Veneráveis Irmãos, onde foi parar o catolicismo do “Sillon”. 
      Ah! Ele, que dava outrora tão belas esperanças, esta torrente límpida e 
      impetuosa foi captada em sua marcha pelos inimigos modernos da Igreja, e 
      agora já não é mais do que um miserável afluente do grande movimento de 
      apostasia organizada, em todos os países, para o estabelecimento de uma 
      Igreja universal que não terá nem dogmas, nem hierarquia, nem regra para o 
      espírito, nem freio para as paixões, e que, sob pretexto de liberdade e de 
      dignidade humana, restauraria no mundo, se pudesse triunfar, o reino legal 
      da fraude e da violência, e a opressão dos fracos, daqueles que sofrem e 
      que trabalham. 
      
      O “Sillon” e as tramas dos 
      inimigos da Igreja 
      Nós conhecemos demasiado bem os sombrios 
      laboratórios, em que se elaboram estas doutrinas deletérias, que não 
      deveriam seduzir espíritos clarividentes. Os chefes do “Sillon” não 
      souberam evitá-las: a exaltação de seus sentimentos, a cega bondade de seu 
      coração, seu misticismo filosófico misturado com um tanto de iluminismo os 
      impeliram para um novo Evangelho, no qual julgaram ver o verdadeiro 
      Evangelho do Salvador, a tal ponto que ousam tratar Nosso Senhor Jesus 
      Cristo com uma familiaridade soberanamente desrespeitosa, e que, sendo o 
      seu ideal aparentado com o da Revolução, não temem fazer entre o Evangelho 
      e a Revolução aproximações blasfematórias, que não têm a escusa de haverem 
      escapado a alguma improvisação tumultuosa. 
      
      O “Sillon” dá uma ideia 
      desfigurada do Divino Redentor 
      Queremos chamar vossa atenção, Veneráveis 
      Irmãos, sobre esta deformação do Evangelho e do caráter sagrado de Nosso 
      Senhor Jesus Cristo, Deus e Homem, praticada no “Sillon” e algures. Desde 
      que se aborda a questão social, está na moda, em certos meios, afastar 
      primeiro a divindade de Jesus Cristo, e depois só falar de sua soberana 
      mansidão, de sua compaixão por todas as misérias humanas, de suas 
      instantes exortações ao amor do próximo e à fraternidade. Certamente, 
      Jesus nos amou com um amor imenso, infinito, e veio à terra sofrer e 
      morrer a fim de que, reunidos em redor dele na justiça e no amor, animados 
      dos mesmos sentimentos de mútua caridade, todos os homens vivam na paz e 
      na felicidade. Mas para a realização desta felicidade temporal e eterna 
      ele impôs, com autoridade soberana, a condição de se fazer parte de seu 
      rebanho, de se aceitar sua doutrina, de se praticar a virtude e de se 
      deixar ensinar e guiar por Pedro e seus sucessores. Pois se Jesus foi bom 
      para os transviados e os pecadores, ele não respeitou suas convicções 
      errôneas, por sinceras que parecessem; ele os amou a todos para os 
      instruir, converter e salvar. Se ele chamou junto de si, para os consolar, 
      os aflitos e os sofredores, não foi para lhes pregar o anseio de uma 
      igualdade quimérica. Se levantou os humildes, não foi para lhes inspirar o 
      sentimento de uma dignidade independente e rebelde à obediência. Se seu 
      coração transbordava de mansidão pelas almas de boa vontade, ele soube 
      igualmente armar-se de uma santa indignação contra os profanadores da casa 
      de Deus, contra os miseráveis que escandalizam os pequenos, contra as 
      autoridades que acabrunham o povo sob a carga de pesados fardos, sem 
      aliviá-la sequer com o dedo. Ele foi tão forte quão doce; repreendeu, 
      ameaçou, castigou, sabendo, e nos ensinando, que, muitas vezes, o temor é 
      o começo da sabedoria, e que, algumas vezes, convém cortar um membro para 
      salvar o corpo. Enfim, ele não anunciou para a sociedade futura o reino de 
      uma felicidade ideal, de onde o sofrimento fosse banido; mas, por lições e 
      exemplos, traçou o caminho da felicidade possível na terra e da felicidade 
      perfeita no céu: a estrada real da cruz. Estes são ensinamentos que seria 
      errado aplicar somente à vida individual em vista da salvação eterna; são 
      ensinamentos eminentemente sociais, e nos mostram em Nosso Senhor Jesus 
      Cristo outra coisa que não um humanitarismo sem consistência e sem 
      autoridade. 
      
      Exortação ao Episcopado 
      No que se refere a vós, Veneráveis Irmãos, 
      continuai ativamente a obra do Salvador dos homens pela imitação de sua 
      doçura e de sua força. Inclinai-vos para todas as misérias; que nenhuma 
      dor escape à vossa solicitude pastoral; que nenhum gemido vos encontre 
      indiferentes. Mas também, pregai ousadamente seus deveres aos grandes e 
      aos pequenos; a vós compete formar a consciência do povo e dos poderes 
      públicos. A questão social estará bem perto de ser resolvida quando uns e 
      outros, menos exigentes a respeito de seus direitos recíprocos, cumprirem 
      mais exatamente seus deveres. 
      Além disso, como no conflito dos interesses, e 
      principalmente na luta com as forças desonestas, a virtude de um homem, e 
      mesmo sua santidade, não é sempre suficiente para lhe assegurar o pão 
      quotidiano, e como as engrenagens sociais deveriam estar organizadas de 
      tal forma que, por seu jogo natural, paralisassem os esforços dos maus e 
      tornassem acessível a toda boa vontade sua parte legítima de felicidade 
      temporal, Nós desejamos vivamente que tomeis uma parte ativa na 
      organização da sociedade, para este fim. E, para isto, enquanto vossos 
      padres se entregarão com ardor ao trabalho da santificação das almas, da 
      defesa da Igreja, e às obras de caridade propriamente ditas, escolhereis 
      alguns dentre eles, ativos e de espírito ponderado, munidos dos graus de 
      doutor em filosofia e teologia, e possuindo perfeitamente a história da 
      civilização antiga e moderna, e os aplicareis aos estudos menos elevados e 
      mais práticos da ciência social, para, no tempo oportuno, colocá-los à 
      testa de vossas obras de ação católica. Contudo, que estes padres não se 
      deixem transviar no dédalo das opiniões contemporâneas, pela miragem de 
      uma falsa democracia; que eles não emprestem à retórica dos piores 
      inimigos da Igreja e do povo uma linguagem enfática, cheia de promessas 
      tão sonoras quanto irrealizáveis. Que eles estejam persuadidos que a 
      questão social e a ciência social não nasceram ontem; que, de todos os 
      tempos, a Igreja e o Estado, em feliz acordo, suscitaram para isto 
      organizações fecundas; que a Igreja, que jamais traiu a felicidade do povo 
      em alianças comprometedoras, não precisa livrar-se do passado bastando-lhe 
      retomar, com o auxílio de verdadeiros operários da restauração social, os 
      organismos quebrados pela Revolução, adaptando-os, com o mesmo espírito 
      cristão que os inspirou, ao novo ambiente criado pela evolução material da 
      sociedade contemporânea; porque os verdadeiros amigos do povo não são nem 
      revolucionários, nem inovadores, mas tradicionalistas. 
      
      Os membros do “Sillon” 
      devem submeter-se 
      A esta obra eminentemente digna de vosso zelo 
      pastoral, Nós desejamos que, longe de a embaraçar, a juventude do “Sillon”, 
      purificada de seus erros, traga, na ordem e na submissão convenientes, um 
      concurso leal e eficaz. 
      Voltando-nos, pois, para os chefes do “Sillon”, 
      com a confiança de um pai que fala a seus filhos, Nós lhes pedimos para o 
      seu bem, para o bem da Igreja e da França, vos cedam o lugar. Nós medimos, 
      certamente, a extensão do sacrifício que Nós lhes solicitamos, mas Nós os 
      sabemos assaz generosos para o realizar, e, antecipadamente, em nome de 
      Nosso Senhor Jesus Cristo, de quem somos o indigno representante, Nós os 
      abençoamos. Quanto aos membros do “Sillon”, queremos que se agrupem por 
      dioceses para trabalhar, sob a direção de seus bispos respectivos, pela 
      regeneração cristã e católica do povo, ao mesmo tempo que pela melhoria de 
      sua sorte. Estes grupos diocesanos serão, por ora, independentes uns dos 
      outros; e, a fim de tornar bem claro que romperam com os erros do passado, 
      tomarão o nome de “Sillons” católicos, e cada um de seus membros 
      acrescentará a seu título de sillonista o mesmo qualificativo de católico. 
      Não será preciso dizer que todo sillonista católico ficará livre, aliás, 
      de guardar suas preferências políticas, depuradas de tudo o que não esteja 
      inteiramente conforme, nesta matéria, com a doutrina da Igreja. E assim, 
      Veneráveis Irmãos, se houver grupos que se recusem a submeter-se a estas 
      condições, devereis considerá-los por isso mesmo como se se recusassem a 
      submeter-se à vossa direção; e, então, dever-se-á examinar se eles se 
      confinam na política ou na economia pura, ou se perseveram nos antigos 
      erros. No primeiro caso, está claro que já não vos devereis ocupar mais 
      deles do que do comum dos fiéis; no segundo, devereis agir em 
      conseqüência, com prudência mas com firmeza. Os padres deverão manter-se 
      totalmente alheios aos grupos dissidentes e se contentarão com prestar o 
      socorro do santo ministério individualmente a seus membros, 
      aplicando-lhes, no tribunal da Penitência, as regras comuns de moral 
      relativamente à doutrina e à conduta. Quanto aos grupos católicos, os 
      padres e os seminaristas, sempre favorecendo-os e os secundando, 
      abster-se-ão de se inscreverem como membros, porque é conveniente que a 
      milícia sacerdotal fique acima das associações leigas, mesmo as mais úteis 
      e animadas do melhor espírito. 
      Tais são as medidas práticas pelas quais 
      julgamos necessário sancionar esta Carta sobre o “Sillon” e os sillonistas. 
      Que o Senhor haja por bem, nós o rogamos do funda da alma, fazer com que 
      estes homens e estes jovens compreendam as graves razões que a ditaram, e 
      lhes dê a docilidade de coração, com a coragem de provar, em face da 
      Igreja, a sinceridade de seu fervor católico; e a vós, Veneráveis Irmãos, 
      que vos inspire para com eles, pois que eles são doravante vossos, os 
      sentimentos de uma afeição toda paternal. 
      É com esta esperança, e para obter estes 
      resultados tão desejáveis, que Nós vos concedemos, de todo coração, assim 
      como a vosso clero e a vosso povo, a Bênção Apostólica. 
      Dado em Roma, junto a S. Pedro, em 25 de 
      Agosto de 1910, oitavo ano de Nosso Pontificado. PIO X, PAPA [1] NOTAS [1] N.B. - As notas à margem [os subtítulos] da Carta Apostólica não pertencem ao texto oficial. 
 
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