Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nova et Vetera
 
Uma progênie de monstros

 

 

 

 

 

 

Legionário, 20 de janeiro de 1946, N. 702, pag. 5

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Pormenor da "pupitre" utilizada para as conferências na Sala do Reino de Maria, na então Sede do Conselho Nacional da TFP brasileira, atualmente sede do INSTITUTO Plinio Corrêa de Oliveira (Rua Maranhão, no bairro de Higienópolis, na capital paulista)

Já demonstramos como as heresias, negando ou viciando o dogma da Encarnação do Verbo, terminam em geral no panteísmo, com repercussões no campo social, representadas pela prática do socialismo e do comunismo.

E se os precursores da pseudo-reforma protestante, se Wiclef e João Huss não escapam da regra porque também incorrem no panteísmo ao afirmarem que “toda natureza é Deus e todo ser é Deus”, se esses dois heresiarcas também incorrem nos mesmos erros contra a propriedade e contra a autoridade, como provam os desatinos dos wiclefistas na Inglaterra e dos lolardos na Boêmia, esses erros atingiram proporções assustadores com Lutero.

A heresia protestante não podia escapar dessa perturbação, dessa confusão nas relações do homem com o seu Criador, do finito com o infinito, da absorção maior ou menor de Deus no homem ou do homem em Deus, no naturalismo ou no panteísmo.

No protestantismo, porém, não temos apenas uma heresia bem definida, mas um conjunto de heresias. Mais do que isso, além de atacar vários pontos doutrinários, a heresia protestante vai contra a própria autoridade a que o Salvador confiou a distribuição dos frutos da Redenção e o depósito da Verdade. E em sua própria denominação de protestantes, de quem protesta contra a Igreja de Cristo, vemos, mais que nos gritos de rebeldia que os precederam, a repetição do “Non serviam” de Lúcifer. E sobre as origens secretas da pseudo-reforma, convém lembrar que eram amigos íntimos de Lutero quase todos os signatários da Carde Colônia, o mais antigo documento maçônico que existe.

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O livre exame introduzido pelo protestantismo no mundo corresponde ao aniquilamento da virtude pela inutilidade das obras, e ao aniquilamento da verdade revelada pela doutrina da exclusiva competência da razão humana em interpretá-la. Sob o nome de livre exame e de liberdade de pensamento que tanto tem embriagado o mundo, o que vemos na realidade é a tirania, a dupla tirania das paixões e dos erros, a servidão da vontade e da inteligência.

E não fossem as consequências imediatas do protestantismo no campo social, tal como a guerra dos camponeses anabatistas que procuraram realizar praticamente o comunismo baseados no livre exame dos Evangelhos, e nem por isso nos faltariam razoes para responsabilizar a pseudo-reforma pelo surto de socialismo e de comunismo que domina o mundo moderno.

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Por sua doutrina da justificação, Lutero provoca a ruptura das relações de cooperação na obra da salvação entre Deus e o homem, fundada na mediação do Homem-Deus. Praticamente suprime um dos termos dessa relação, do finito, absorvendo-o no Infinito. Suprimindo, por outro lado, o princípio básico da fé, ao negar a ordem sobrenatural revelada, de que é guardiã a Igreja, para transferi-lo para o livre exame, Lutero colocou o mundo na rampa que o levaria forçosamente ao naturalismo, ao materialismo, ao caos de que o Cristianismo o tirara. E a esse caos na ordem espiritual devia necessariamente se seguir o caos temporal.

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Da esquerda para direita: Immanuel Kant (1724-1804), Johann Gottlieb Fichte (1762-1814), Friedrich Schelling (1775-1854)

         

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), Friedrich Engels (1820-1895) e Karl Marx (1818-1883)

É de todos conhecida a passagem do protestantismo ao deísmo, do deísmo ao filosofismo, do filosofismo à Revolução liberal, da revolução liberal ao totalitarismo socialista de nossos dias.

Tal como na enumeração da genealogia do Salvador, que de Abrão descende Isaac, de Isaac descende Jacó, etc., do mesmo modo podemos traçar essa execranda genealogia dos descendentes, em linha direta, de Lutero até Karl Marx. Ninguém pode em sã consciência negar as origens protestantes do panteísmo moderno, que tem a Kant por pai. E Kant gerou a Fichte, Fichte gerou a Schelling, Schelling gerou a Hegel, Hegel gerou a Engels, que foi o mais íntimo colaborador de Karl Marx. Juntos lançaram o manifesto comunista de 1848; juntos fundaram a primeira internacional, juntos colaboraram no Capital, que é o Talmud da revolução proletária.

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Eis-nos em plena época de cesarismo socialista e totalitário. Eis-nos diante de tempos sombrios que fazem Pio XI indagar se a aflição universal por que passamos não será o presságio da vinda do Filho da Iniquidade, profetizado para os últimos dias da humanidade. “Povos inteiros se acham no perigo de recair em pior barbárie do que a em que ainda se encontrava a maior parte do mundo, ao aparecer o Redentor”. O estado da humanidade, nesta grande apostasia, volta a ser pior que o anterior à sua conversão, no dizer de São Pedro.

E ao lado desse totalitarismo político, condenado por Pio XI, ao lado do nazismo pagão e do comunismo materialista, vemos em plena guerra Pio XII condenar o totalitarismo religioso, ou seja, a acentuação unilateral e demasiada do aspecto coletivo, comunitário da vida de religião, fundamentada num “cristo-misticismo-panteístico” de fundo protestante.

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Nesta santa quadra do Natal, relembremos estas verdades austeras. Recordemos a visão que teve a Serva de Deus Catarina Emmerick de Nosso Senhor no Horto das Oliveiras, ao ver passar pelo seu espírito os pecados dos homens através dos séculos: “A mesa da união no Santíssimo Sacramento, sua mais sublime obra de amor, na qual quis ficar eternamente com os homens, tornara-se, pela malícia dos falsos doutores, fonte de reparação. No lugar mais conveniente e salutar para a união de muitos, na Mesa sagrada, onde o próprio Deus vivo é o alimento das almas, deviam os seus filhos separar-se dos infiéis e hereges, para não se tornarem réus de pecado alheio. (...)

“Por fim vi todos que estavam separados da Igreja, embrutecidos ou enfurecidos, em descrença, superstição, heresia, orgulho e falsa filosofia mundana, unidos em grandes exércitos, atacando e devastando a Igreja e, no meio deles, a serpente, instigando e os estrangulando. Ai! Era como se Jesus Se visse e sentisse despedaçado em inúmeras fibras das mais delicadas. O Senhor viu e sentiu nessas angústias toda a árvore venenosa do cisma, com todos os respectivos ramos e frutos, que continuam a dividir-se até o fim do mundo, quando o trigo será recolhido ao celeiro e a palha será lançada ao fogo”.

Esperemos e confiemos.

E assim como o dogma da Virgem Mãe guarda e protege, através dos séculos, o dogma do Homem-Deus, seja penhor de nossa perseverança no Caminho, na Verdade e na Vida essa mesma Virgem que esmagará a cabeça da serpente. 

 

Estátua de Sáo Luis Maria, Basílica de São Pedro, no Vaticano

Lembremo-nos que os Apóstolos dos últimos tempos, fiéis servidores da Rainha dos céus, na visão profética do Bem-aventurado Grignion de Montfort, “serão nuvens tonitruantes que esvoaçarão pelos ares ao menor sopro do Espírito Santo e que, sem se apegarem a coisa alguma, sem se pasmarem nem preocuparem de nada, derramarão a chuva da palavra de Deus e da vida eterna; trovejarão contra o pecado,  bradarão contra o mundo, fustigarão o demônio e seus partidários e traspassarão de lado a lado para a vida ou para a morte, com o gládio de dois gumes da palavra de Deus, a todos aqueles a quem forem enviados da parte do Altíssimo”.


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