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Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

 

A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo

no pensamento de

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

 

 

© 2008 - Todos os direitos desta edição pertencem ao

INSTITUTO PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Dezembro de 2008

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Textos ilustrativos

 

Parte II — Capítulo 1

 

A contemplação sacral, antídoto contra o laicismo

 

1. Dois livros nos levam ao conhecimento de Deus: o livro da criatura e o livro da Escritura

São Boaventura: O Primeiro Princípio [Deus] se torna conhecido por nós pela Escritura e pela criatura; pelo livro da criatura manifesta-se como princípio eficiente, e pelo livro da Escritura como princípio reparador.*

* Brevilóquio, II, V, 2.

 

2. O homem pode chegar ao conhecimento do Criador pela grandeza e formosura da criatura

Livro da Sabedoria: Pela grandeza e formosura da criatura pode-se visivelmente chegar ao conhecimento do seu Criador.*

* Cap. 13, vers. 5.

 

3. Quem fecha os olhos à perfeição das criaturas não quer passar das trevas à luz

São Boaventura: As perfeições invisíveis de Deus, desde a criação do mundo, se vêem visivelmente através do conhecimento que as criaturas dele nos dão. De maneira que são indesculpáveis (Rom. 1, 20) os que não querem considerar essas coisas e recusam, com isso, reconhecer, bendizer e amar a Deus na criação, porque estes não querem passar das trevas à admirável luz de Deus.*

* Itinerário da Mente a Deus, II, 13.

 

4. A criatura deve ser considerada como signo que eleva nossa mente até Deus

São Boaventura: As coisas visíveis podem ser consideradas de dois modos: ou como coisa absoluta, ou como signos e sinais conducentes a outras coisas. No primeiro modo, assim amadas e consideradas, retardam o intelecto e o afeto; do segundo modo, ajudam, e assim é na aparência visível, porque aqui a criatura é considerada como signo que faz vir à mente outra coisa.*

* I sent. d. 16a, 1q 2 ad 3, I, 281 b 282 a.

 

5. A visão das criaturas produz um gozo que deve nos conduzir à busca de Deus

São Boaventura: Este mundo sensível, chamado macrocosmo (isto é, grande mundo), penetra em nossa alma, denominada microcosmo (ou seja, pequeno mundo), pela porta dos cinco sentidos, de três maneiras: pela percepção das coisas sensíveis, pelo prazer que a alma experimenta nessa percepção e pelo juízo que destas coisas ela faz. […]

Só em Deus está a verdadeira felicidade, e todos os gozos que causa a visão das criaturas nos conduzem à busca desta verdadeira felicidade.*

* Itinerário da Mente a Deus, II, 2 e 8.

 

6. Ao inefável só pode corresponder o silêncio

Edgard de Bruyne: A beleza é o Invisível tornando-se visível, o incompreensível tornando-se inteligível, o não conhecível se manifestando, o que ultrapassa toda forma que aparece numa figura determinada e específica. Tudo isso se faz de um modo inefável. Inexprimível é a beleza de uma sinfonia: como explicar e explicitar a unidade em que se combinam sons dessemelhantes? [...] Sobretudo inefável é a beleza de Deus. [...] Não deve espantar se o gozo do belo seja inexprimível. [...] Ao inefável só pode corresponder o silêncio: a homenagem suprema que podemos prestar à beleza é nos calarmos quando ela aparece.

Eis-nos no limiar da mística. [...] Contudo, eis-nos ainda no limiar da metafísica.*

* L’Esthétique du Moyen Âge, Éditions de l´Institut Supérieur de Philosophie, Louvain, 1947, pp. 91-92.

 

7. Meditação e contemplação

São Francisco de Sales: A meditação considera minuciosamente, um a um, os objetos mais próprios a comover-nos, mas a contemplação lança uma vista simples e concentrada no objeto que ama; a consideração, assim concentrada, produz um movimento mais vivo e forte.

Pode-se apreciar a beleza de uma rica coroa por duas formas: ou analisando, um por um, todos os florões e pedras preciosas de que é composta, ou então, depois de examinar deste modo cada uma das peças, observando com um simples olhar o efeito brilhante do conjunto.

A primeira forma assemelha-se à meditação, pela qual consideramos, por exemplo, os efeitos da misericórdia divina para nos excitarmos ao seu amor; a segunda é semelhante à contemplação, pela qual, numa única operação atenta do espírito, vemos toda a variedade dos mesmos efeitos, formando uma única beleza, como se inúmeras parcelas de luz irradiassem de um único foco luminoso.*

* Tratado do Amor de Deus, VI, V.

 

8. O cristão admira a ordem divina no mundo e faz tudo para vê-la reconhecida e afirmada

Pio XII: O cristão primeiramente admira a ordem divina no mundo, ama essa ordem e faz tudo para vê-la reconhecida e afirmada.

Será pois necessariamente defensor estrênuo dela contra as forças e tendências opostas, quer se escondam no homem — as más inclinações, — quer provenham de fora — Satanás e as suas obras. Não era de outro modo que São Paulo contemplava o cristão no mundo, quando lhe indicava os adversários, e o exortava a revestir a armadura de Deus, para resistir às insídias do demônio, cingindo os flancos com a verdade e revestindo a couraça da justiça (cfr. Ef 6, 11 e 14).

A vocação ao cristianismo não é, portanto, simples convite de Deus para complacência estética na contemplação da sua ordem admirável, mas chamada obrigatória a uma ação incessante, austera, e aberta a todas as direções e aspectos da vida.

Esta ação compreende primeiramente a observância plena da lei moral, qualquer que seja o seu objeto, pequeno ou grande, secreto ou público, de abstenção ou de ato positivo. A vida moral não pertence só à esfera interior, mas os seus efeitos influem também na harmonia do mundo. O homem nunca está tão só, tão individual e segregado em si próprio — mesmo no ato mais singular — que as suas determinações e ações não repercutam no mundo circunstante. Executor da divina sinfonia, cada homem não pode considerar a própria atuação como negócio exclusivamente seu, que só a ele diz respeito. [...]

Alguns há até que insinuam, como sabedoria cristã, a volta à chamada modéstia de aspirações do tempo das catacumbas. Ao contrário, seria prudente voltar, não a essa pretensa modéstia, mas à inspirada sabedoria do Apóstolo Paulo. Escrevendo às comunidades de Corinto, com ousadia digna da sua grande alma, mas bem fundada no pleno domínio de Deus, assim abria todos os caminhos à ação dos cristãos: «Todas as coisas são vossas, quer o mundo, quer a vida, quer a morte, quer as coisas presentes, quer as futuras: porque tudo é vosso. Vós sois de Cristo: e Cristo de Deus» (1 Cor 3, 22). O cristão, que não ousasse tomar para si essa plenitude de liberdade, negaria implicitamente ao próprio Cristo a prerrogativa daquele «poder, com que pode sujeitar a si todas as coisas» (Filip 3, 21). Deveria até considerar vergonha que os inimigos de Deus vençam o cristão na ardente atividade e no espírito empreendedor, mesmo à custa de sacrifícios.*

* Alocução de Natal de 1957.

 

9. Efeito do laicismo é a extinção do senso cristão da vida

Plinio Corrêa de Oliveira: Em carta dirigida ao Eminentíssimo Cardeal Arcebispo D. Carlos Carmelo de Vasconcellos Mota, Arcebispo de São Paulo, a propósito do Dia Nacional de Ação de Graças, em 1956, o Exmo. Mons. Ângelo Dell’Acqua, Substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé, dizia que «em conseqüência do agnosticismo religioso dos Estados», ficou «amortecido ou quase perdido na sociedade moderna o sentir da Igreja».

Ele, portanto, afirma que o mundo contemporâneo, por efeito do laicismo, perdeu quase completamente o senso cristão da vida.

Chamo a atenção para estas últimas palavras. Como são freqüentes em torno de nós as pessoas que supõem que têm verdadeiro espírito católico, porque recebem uma ou outra vez os sacramentos e praticam alguns atos de piedade! Entretanto, seus modos de pensar, de sentir e de agir são marcados por um espírito oposto ao da Igreja. Até mesmo entre as pessoas piedosas dá-se — em escala menor embora — o mesmo fato.

Nessas condições, há razão para sentirmos uma verdadeira desconfiança até de nós mesmos. E devemos, com suma diligência e grande temor, nos dedicar à tarefa de distinguir em nossa época aquilo que há de bem e de mal. Obriga-nos a tal o santo receio de renunciar a qualquer coisa daquele depósito de tradições católicas, que recebemos de nossos maiores, e que devemos transmitir aos pósteros não só intacto, mas até acrescido.*

* Conferência em 15 de maio de 1959.