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Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

 

A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo

no pensamento de

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

 

 

© 2008 - Todos os direitos desta edição pertencem ao

INSTITUTO PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Dezembro de 2008

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Textos ilustrativos

 

Parte II — Capítulo 5

 

A procura do absoluto

 

1. É preciso ter espírito metafísico e espírito sobrenatural

Plinio Corrêa de Oliveira: A procura do absoluto é especialmente relacionada com o Primeiro Mandamento (amar a Deus sobre todas as coisas).

As circunstâncias de nosso tempo tornam necessário que se insista sobre dois pressupostos do amor de Deus: 1. Em vez de preocupar-se exclusiva ou predominante com a vida terrena, é necessário sentir a incapacidade radical da vida terrena de satisfazer os anseios da alma; 2. Portanto, é preciso ter outros anseios; e, por causa disso, é preciso ter o que chamamos espírito metafísico e espírito sobrenatural.

Esses dois espíritos se voltam para o que não é palpável nem sensível; e devem estar sempre presentes na vida quotidiana.

O espírito metafísico* é aquela excelência do espírito humano pela qual a inteligência, não se contentando com as razões imediatas das coisas, procura uma explicação mais alta e transcendente. Com o mero uso da razão — sem recursos sobrenaturais, portanto — busca construir uma idéia de qual seja essa explicação de todas as explicações, esse bem de todos os bens. Ele constrói esse edifício com o que chamaríamos os dados naturais da religião.

* Metafísico, em seu sentido etimológico, é o que está além do físico.

Se a pessoa tem esse espírito metafísico, considerando o Universo através da razão pode deduzir a existência de Deus, sua unidade, sua eternidade, sua perfeição, sua justiça— portanto, o Deus que castiga, o Deus que premeia, o Deus que ama os homens, o Deus que os governa.

Assim sendo, um dos primeiros pressupostos do amor de Deus é ser incontentável com as coisas dessa vida, e só querer o infinito.

Diverso é o espírito sobrenatural. Se Deus existe, Ele é, necessariamente, de uma essência e de uma natureza superior à nossa. De onde a facilidade de admitirmos que Ele nos falou e que nos comunicou suas verdades e sua graça. Que nos deu uma Revelação e uma Igreja, que nos introduziu numa ordem sobrenatural.

Tudo quanto, puramente na ordem natural, tínhamos pensado é superado pelo que a Revelação nos ensina de modo fabuloso. Por conseguinte, temos um anseio maior que o simplesmente metafísico, que é o anseio do sobrenatural. Temos facilidade em admitir a Revelação, não com superficialidade, com parvoíce, mas com uma agilidade de espírito por onde compreendemos facilmente que a Fé é a verdade. Não nos custa admitir a Revelação e amar as verdades reveladas. Somos dóceis para a graça e queremos o sobrenatural. 

Este espírito sobrenatural e este espírito metafísico se resumem em uma expressão: espírito sacral. O espírito sacral tem um aspecto metafísico natural, e um aspecto sobrenatural que diz respeito à revelação e à graça.*

* Reunião de 27 de novembro de 1972.

 

2. Quanto mais uma coisa é densa de ser, tanto menos é alcançada pelos sentidos

Plinio Corrêa de Oliveira: Alguns, para os quais um universo assim comece a se abrir, podem reagir como quem diz: «Mas, meu Deus, isto explicita algo em mim, para o que eu tinha uma tendência enorme. Estou como quem descobrisse a casa paterna. Será bem assim?»

Outros, com um olhar esmaecido, parado, quieto, parecem dizer o seguinte:

«Admito que isto talvez seja verdade. Mas, para mim pelo menos, é uma verdade que está tão longe do que ouço, do que vejo, do que eu estou habituado a considerar — está tão longe, Dr. Plinio — que o senhor mais me desanima do que anima; como me pendurar nisto? Eu não vejo! Estou no palpável, estou no real. O que o senhor quer? Sou um homem positivo! Não sou um poeta como o senhor…»

Eu digo: Não! Isto não é poesia, mas é ser homem positivo! Nada mais positivo do que o impalpável, o aparentemente irreal: Quanto mais uma coisa é densa de ser, tanto menos é atingida pelos sentidos.

Então esbarramos numa espécie de positivismo prático,* que é um pavoroso erro: o de achar que o palpável existe mais do que a alma humana existe, porque o palpável eu pego, e não pego a alma humana.

* Positivismo: sistema filosófico e religioso elaborado por Augusto Comte. Nega a validade das especulações metafísicas, e sustenta que os dados experimentais dos sentidos são o único objeto e o supremo critério do conhecimento humano.

É um defeito de alma muito generalizado em todo o mundo; é um mal do século! É uma espécie de positivismo prático: O que os sentidos não alcançam, não existe.*

* Reunião de 27 de dezembro de 1972.

 

3. A verdadeira solução dos problemas está nos aspectos metafísicos e sobrenaturais

Plinio Corrêa de Oliveira: As estatísticas e pesquisas concretas devem ser usadas, analisadas e utilizadas. Mas a verdadeira solução dos problemas está muito além. Muito mais do que nelas, a verdadeira solução se encontra no estudo de uma ordem metafísica e dos aspectos metafísicos da ordem atual. E dos aspectos da realidade celeste, invisível, que supera e envolve a presente ordem de todos os lados, e que são os santos, os anjos de Deus no Céu, e o próprio Deus Nosso Senhor.

A partir do momento em que se afirma que a vida é algo a ser vivido em intensidade; que ela não é duração, não é deleite, mas tem um sentido que vai além da duração de viver 150 anos; e supera o deleite de ter vida agradável, então se compreende que há algo que transcende a vida e para o que a vida deve ser vivida. É algo mais forte, mais cheio de suco; algo que é a substância da vida e que a pessoa joga num só lance. Porque este valor que a vida tem e que não é deleite nem duração, é — queira-se ou não se queira — um significado que transcende o concreto, e apela para algo de metafísico.*

* Reunião de 29 de dezembro de 1972.

 

4. A Catedral de Colônia corresponde de tal modo aos anelos profundos de tantos homens que ela ficou para todo o sempre

Catedral de Colônia à noitePlinio Corrêa de Oliveira: Sempre que vejo a fachada da Catedral de Colônia, percebo no mais fundo de minha alma o encontro de duas impressões aparentemente contraditórias. De um lado, é uma realidade tão bela que, se eu não a conhecesse, não seria capaz de sonhá-la. Mas, de outro lado, algo diz em meu interior: essa catedral deveria mesmo existir! [...] O inimaginável e o sonhado se encontram nessa contradição. Contradição aparente, pois algo no mais fundo de nós mesmos deseja coisas que não somos capazes de imaginar. [...]

É um modo de ser que dali se evola, e para o qual sinto que nasci. É algo muito maior do que eu, muito anterior a mim. Algo que vem de séculos nos quais eu era nada. Vem da mentalidade católica de homens que me antecederam e que também tinham, no fundo da alma, esse mesmo desejo do inimaginável. E eles até conceberam o que eu não concebi e fizeram o que eu não fiz. Mas é um desejo tão alto, tão universal, tão correspondente aos anelos profundos de tantos e tantos homens, que o monumento ficou para todo o sempre: a Catedral de Colônia!*

* O Inimaginável e o Sonhado, Catolicismo, nº 543, março de 1996.

 

5. A procura do absoluto é algo como uma excursão geográfica na qual ver-se-iam sucessivas belezas de Deus

Plinio Corrêa de Oliveira: Na Terra há lugares mais bonitos e menos bonitos; por isso, dizemos que certas regiões são paradisíacas, e outras, infernais.

Por exemplo, a lindíssima gruta de Capri, onde a luz é toda azulada, é uma gota de Paraíso celeste caído na terra — para me exprimir desta maneira.

Com alguns grandes panoramas na Terra também acontece isso.

Mas há depois lugares horrendos, pântanos, grutas pavorosas, focos de miasmas. Isto tudo fica na última ponta de uma escala que teria como extremidade contrária o Paraíso Terrestre. É uma reta cujos extremos são o Paraíso Celeste e o Inferno.

No universo há uma espécie de hierarquia de lugares que correspondem a apetências sempre mais altas do homem. Através de uma longa excursão geográfica, que iria dos abismos do mar aos da terra, ver-se-iam sucessivamente belezas de Deus.

A procura do absoluto é algo como essa excursão geográfica. Mas, para sermos completos, seria preciso incluir aspectos que nos falam de Deus de outra forma. Cada vez que alguém percorre um local onde nunca esteve outro homem, tem certa sensação de sagrado. É algo que se desenvolveu sozinho na presença de Deus, sem que nenhum homem lá estivesse e o conspurcasse. Tem-se a impressão de que Deus está muito perto. Quase se toca em Deus vendo aquele local.

Vi descrições do Pólo Sul. Geleiras enormes, que de repente produzem estrondos, ruídos singulares, depois passa um pingüim... Há milhares e milhares de anos que aquilo existe daquela maneira.

Não é possível que aquilo não tenha sido feito por uma inteligência e para uma inteligência! [...] É um panorama feito para o homem, mas também para o próprio Deus, porque Ele ama a si próprio infinitamente e também encontra sua glória na consideração das coisas que Lhe são semelhantes.

Assim, o homem chegaria ao ponto de imaginar o Paraíso celeste. Mas mesmo este não contentaria o homem, se ele não contemplasse Deus face a face. O Paraíso dos Paraísos, aquilo de que o resto não é senão reflexo, é a contemplação de Deus face a face.

* Reunião de 19 de fevereiro de 1973.

Para se cogitar nessas coisas, é preciso perder o vício de estar pensando em si mesmo a todo propósito. O que mais nos impede de refletir nessas coisas é o hábito de pensar muito em si. Nesse caso, cai tudo.*

* Reunião de 23 de março de 1973.

 

6. As más vivências levam à procura de absolutos falsos

Plinio Corrêa de Oliveira: Entre o «quero» e o decidido «não quero», há uma região. Existe um estado de alma próprio a objeções que não são explicitadas inteiramente, mas que, no fundo, são objeções.

Suponhamos por exemplo um monge, num convento, onde se façam cortejos. Uma objeção pseudo-racional seria, por exemplo, a pretensa falta de suporte na regra monacal. A objeção vivencial seria diferente. Ele pensa: «Uma fila num colégio primário também seria assim. Um corredorzinho de entrada, mãos postas, jeito de menininho bonzinho que está pedindo para não ser castigado; a fila que vai para a frente direitinho».

Assim, ele tem a vivência de que está num grupo escolar, com prejuízo para sua vocação de monge, sem nenhum fundamento racional. Depois, essa impressão pode esmaecer um pouco e a pessoa percebe que era uma visão muito unilateral.

A vivência se apresenta com uma ênfase que não permite discussão, de tão evidente. Mas não está fundada na razão. Sem nenhum trincamento nos princípios, pode haver uma dificuldade extraordinária para ajustar determinados modos de ser aos princípios.

Outro exemplo: Uma pessoa tem pela frente um dever árduo. A vivência exagera as dificuldades. Ela sente um peso imenso, melancolias enormes. Depois, de repente, passam. É como uma espécie de garoa que tolda todo o horizonte, e que produz a sensação de que nunca mais fará bom tempo... Mas é só decorrer um pouco de tempo que aquela impressão se torna uma como que miragem, uma espécie de conto de fadas. Assim passam as vivências.

Nada mais difícil do que responder bem a uma objeção vivencial. Porque, ou a resposta é vivencial como a objeção, ou não adianta de nada. É preciso adaptar bem o raciocínio para dar uma resposta verdadeiramente útil.

Imaginem um binóculo em que as lentes mudassem continuamente, de maneira que a pessoa ora vê longe demais, ora excessivamente perto; ora vê só um pormenor e com uma clareza exagerada mas não vê o resto; ora, pelo contrário, vê o quadro todo, porém não vê bem aquele ponto. As vivências são assim.

Que fazer? É preciso ganhar distância em relação ao que se está sentindo e saber duvidar. E compreender que as proporções são exageradas.

As vivências são enganosas, e é preciso não dar trela a elas.*

* Conversa em 6 de março de 1973.

 

7. Dizer «o maravilhoso não existe» é um modo de dizer: «Deus não existe!»

Plinio Corrêa de Oliveira: Se Nosso Senhor morresse e não ressuscitasse, tenho a impressão de que se faria um vazio na psique dos homens que estiveram em torno desse drama tão profundo. Eles seriam tentados a pensar: «O maravilhoso não existe; o maravilhoso é uma mentira».

É um modo de dizer que Deus não existe. É um modo de dar por provado que Deus não existe e que tudo é raso, barato, ordinário, vulgar; e alegrar-se com isso.

Ora, é exatamente o que acontece no mundo contemporâneo. Há uma repulsa completa a tudo quanto é extraordinário, a tudo quanto é maravilhoso, a tudo quanto é virtuoso, reto, nobre ou belo a qualquer título.*

* Conversa sem data especificada.