Plinio Corrêa de Oliveira

 

O LIVRO DA CONFIANÇA:
ponte admirável e abençoada
para atravessar não sei quantos abismos!

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 13 de maio de 1989, sábado

  Bookmark and Share

 

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


Dos vários livros que eu li nessa época passada, e tão longínqua de minha vida, faltam-me comentar dois. Um, O Livro da Confiança e a Conjuração anticristã (de Mons. Delassus). Para se compreender bem o primeiro dos livros, era preciso proceder de um modo, por assim dizer, inverso àquele que a Providência houve por bem usar comigo a propósito dele mesmo. Quer dizer, eu comecei a lê-lo e a sentir determinadas coisas no interior de minha alma, em virtude da relação daquilo que nele havia com as circunstâncias por que estava passando, e depois, para acabar de compreendê-lo, fazer toda uma construção – meio de leituras, meio de conclusões tiradas por mim delas – e ver como era essa a doutrina católica a respeito do assunto.

Na realidade, para tratar do mesmo assunto com os senhores, mais vale a pena seguir uma ordem inversa e mais fácil. Eu subi pelo mais escarpado do caminho. Mas, depois, aprendi que havia um modo mais fácil de subir. Eu pretendo sugerir aos senhores que me acompanhem neste modo.

* Distinção dos conceitos de previdência e providência. Providência de Deus

 

Para se compreender bem O Livro da Confiança, deve-se ter em vista o seguinte:

Há duas espécies de posições de Deus em relação aos homens criados por Ele. Alguns homens entram naquilo que se chama a providência geral. E outros naquilo que se chama a providência especial.

A providência de Deus é aquela suprema perfeição – a Sabedoria – com que Ele conduz as coisas, sabendo o que vai acontecer.

Então, nós podemos fazer uma distinção entre a previdência e a providência. Na linguagem comum, se pode dizer que um homem prevê alguma coisa, como, por exemplo, um comerciante que vê antecipadamente o inverno chegar a São Paulo. Conjectura que se vai acentuar muito mais o frio. Pressupõe, em conseqüência, disso que o número de resfriados se multiplicará mais. E, calcula, com isso, que a demanda de [remédios] antigripais vai aumentar muito, também. Já que ele é um bom negociante, compra, de antemão, uma porção de remédios que sabe, vão ser vendidos mais caros a varejo. Assim, faz um bom negócio comprando agora, por atacado, esses remédios.

Ele é previdente quando prognostica o agravamento do frio no inverno, e é providente quando investe na compra do necessário para realizar o plano dele. Eis a distinção entre a previdência e a providência.

Com respeito a Deus, não há propriamente previdência, porque Ele não prevê as coisas. Para Deus, o presente, o passado e futuro são um mesmo ato. Ele vê tudo ao mesmo tempo.

Porém, é providente. Pois, em vista de como as coisas são, Ele as conduz, dispõe e arranja de acordo com o plano que tem a respeito de cada criatura.

* Providência extraordinária de Deus em relação aos homens

A grande maioria das pessoas Deus toca ou conduz de acordo com a providência geral. Quer dizer, dá ao mundo uma organização, faz com que as coisas sejam de um determinado modo, que satisfaz as necessidades comuns das pessoas. Para a pessoa comum, Ele dá uma vida normal ou comum, concedendo-lhe recursos ordinários e intelecto suficiente para os utilizar, a fim de prover às suas necessidades. Então, tudo caminha por si: e a providência geral de Deus.

Contudo, para outras pessoas não. Para estas Deus tem uma vocação especial, conduzindo-as de um modo peculiar. Visto que é um chamamento especial, que sai dos trilhos comuns, Ele também lhe dá um cuidado próprio, que não é o ordinário.

* A providência especial da vocação dos chamados a serem membros da TFP

A pessoa que está sob uma providência especial, creio eu (mas submeto à doutrina da Santa Igreja o que eu digo), tem habitualmente uma noção, pelo menos confusa, dos desígnios de Deus a respeito dela. Por exemplo, os senhores estão colocados neste regime. Por quê?  Porque os senhores foram chamados e destinados por Deus a um gênero de vida e a uma missão na Terra, que não é a do comum dos homens. Razão pela qual também Deus usa para com os senhores de uma bondade, atenção e medidas especiais, na previsão das dificuldades extraordinárias pelas quais vão passar.

Nesse sentido, julgo eu, cada um dos senhores, desde pequeno, de vez em quando, deve ter sentido confusamente que sua vida não era a do comum dos homens. Havia qualquer coisa diferente, que fazia com que não colassem com o comum das pessoas. Poderiam querê-las bem e gostar muito... Mas não amoldavam inteiramente, existia qualquer coisa que era maior, que transbordava, que dirigia para outro rumo, que era diferente... Devem, com certeza, ter sentido isso.

E, naquelas horas, em que toda a criança passa só, pensando... meditando, era impossível que não tenham sentido uns impulsos internos na alma, um desejo de fazer alguma coisa de grande, elevado, nobre... de ter um ideal, sem, todavia, saber o que seria. Entretanto, dizendo-se a si mesmo baixinho: "É curioso, mas eu não gostaria de levar a vida que eu vejo o comum das pessoas levar... Eu gostaria de... não sei... de fazer algo, de ter algo, de mexer em algo... Eu sou um líquido que não cabe dentro do copo... Algo de mim transborda do copo em que estou. Eu destino-me a outra coisa!"

A título de curiosidade, eu faço uma pergunta indiscreta (os que quiserem não precisam responder):

Há alguém que esteja à vontade de dizer que se sentia, assim, desde pequeno?  Se há, levante o braço. Não sei se a pergunta ficou clara? Se alguém sentia isso desde pequeno e queira dizer, levante o braço. Eu vejo uma certa indecisão, uma certa timidez... Mas, um bom número de pessoas levanta o braço assentindo nessa posição.

O que é isso? É o começo de uma vocação! É um chamado, indefinido, de Deus para algo, que a pessoa ainda não discernia o que era. Na própria Escritura há o caso do Profeta Samuel, a quem Deus chama várias vezes. Mas ele pensava que era Heli, o pontífice do Templo... E numa terceira ocasião: "Samuel! Samuel!" chamou, parando diante dele. Samuel retrucou: "Fala, Senhor, que o teu servo escuta". Assim também esses impulsos primeiros nos chamam, sem sabermos bem de quem vêm...

* Problema vocacional para Dr. Plinio, antes de ler O Livro da Confiança: a tentação da mediocridade

Praticamente, o problema que eu tinha nessa ocasião era vocacional, que se exprimia da seguinte maneira:

Desde pequeno eu sentia um chamamento para algo de maior... Sentia-o, muito acentuadamente, sem saber defini-lo. Era-me claro que devia ter uma vida muito diferente dos outros. Percebia bem que eu transbordava do meu copo e que coisas enormes estavam no meu caminho. Coisas luminosas, magníficas, importando em sacrifícios para os quais me devia preparar, mas também a vitórias que me encheriam de alegria.

Acompanhado disso, uma espécie de horror de não se confirmar isso comigo... e parecer-me que cabia inteiro dentro do tipo do padrão de vida de qualquer homem de minhas condições, no meu tempo. Eu sentia uma espécie de asfixia com esse pensamento.

Assim, a minha luta contra a Revolução, o choque com ela, a idéia Contra-Revolução foram correspondendo a esses movimentos de alma, explicando-me. Se bem que tudo isso me fizesse sofrer muito [a luta contra a Revolução], por outro lado trazia-me muita alegria a dimensão de alma e de vida a perspectiva de todos esses acontecimentos [grandiosos].

* A minha alegria intensa quando vi o Congresso da Mocidade Católica: descobrira o meu caminho para Jerusalém!

Foi um destampamento, uma coisa magnífica, o dia abençoado em que passei pela Praça do Patriarca e encontrei o aviso da realização do Congresso da Mocidade Católica. Foi um brado! E, deste modo, uma porção de coisas que eu julgava inviáveis, de repente se me apresentavam aos borbotões.

Imaginem um rapaz que chega mais ou menos aos seus dezenove ou vinte anos... porém já muito maduro e sofrido para a idade, querendo uma coisa que não consegue, que não realiza. E, por aí, tem a impressão que todo o futuro desejado está comprimido e agarrado pelas mãos. Não vai! De súbito, passa por um lugar, vê algo e – fiutttttt! – aquela janela se abre! Podem calcular bem a alegria de alma que isso dá. Daí em diante, sucessivas alegrias com o movimento mariano, fundação da Liga Eleitoral Católica... Depois, a minha eleição para deputado... tudo indo num vôo, num vôo, num vôo... e eu dizendo, com delícias para a minha alma: "A via está encontrada. Daqui para a frente é batalhar duro, não há dúvida! Mas, a via está encontrada!"

Seria um pouco como um cruzado que vai à Cruzada, na alegria de sua alma, mas não encontra o caminho. Erra por uma porção de lugares, sem chegar a entender qual seja o sulco que deve seguir para encaminhar-se como deve [para Jerusalém]. Em determinado momento, ele avista uma estrada, e exclama: "É por lá que eu chego até o mar! Mar onde estão as naus que me vão levar para a Terra Santa!" É uma alegria, e lá vai ele! Isso deu-se comigo. E pensei: "Daqui para a frente, é ir para a minha Jerusalém! É a minha batalha contra a Revolução. Agora é só viver! É só lutar!"

* A tristeza do esboroamento e da ilusão, depois desse acontecimento. Tornar-me um “advogadete”...

Ora, os acontecimentos, a partir de um determinado momento – como eu já contei aos senhores e não vou repetir toda a história inteira –, e depois desse movimento ascensional, quando eu tinha, então, vinte e cinco ou vinte e seis anos, tudo o que parecia fazer daqui uma estrada dava em zero. Dava no contrário, e para me tornar impossível o que eu queria, fazendo-me voltar ao ponto de partida. Os senhores podem compreender o tormento de tudo isso.

"Então é só isso? Tudo foi ilusão? Então, a minha vida vai ser a de um “advogadete” qualquer que vai ao Fórum, toma nota para fazer umas argumentações do cliente, porque este brigou com outro... Fazer a defesa dos direitos do cliente..."

* Primeiro cliente de advocacia que tive

Eu lembro-me da falta de graça do primeiro cliente de advocacia que eu tive. Eram dois franceses. Não há emigração francesa para o Brasil. Há franceses que vêm para cá, mas muito poucos... Não há massas!

Seu nome: M. Balerdi. Pelo nome deve ser um francês do sul. Ele tinha inventado uma fórmula de sorvete chamada "flan", ou, quando punha um ovo a mais no sorvete, "superflan". Vendia seus sorvetes junto a feiras de diversões, circos ou coisas assim. Parece que fazia algum dinheiro com o sorvete. Um outro pegou-lhe a fórmula, percebendo como fazia o sorvete, e começou a fabricar um idêntico.

M. Balerdi queria fazer um processo contra o outro. Este último negava que fizesse qualquer imitação... e que não era marca "flan". Nessa caceteação, eu advogar para provar que o sorvete "flan" não era de um, mas de outro... Mas, meu Deus do Céu!... Era uma coisa que não era suportável. Que negócio é esse?... E, assim, quantos negócios de advocacia sem graça nenhuma... Será que vou chegar ao fim de minha vida – até aos oitenta, noventa anos! – advogando causas sobre "flan" ou "superflan"?

* Eu nasci para outra coisa!

Causas de terras. Meu pai e meu avô advogaram muito com causas de terras. Podem fazer a idéia a caceteação: "Chega ou não chega até tal ponto a terra de Fulano?" Então, vai lá medir; depois provar que chega mesmo ou não chega nada... Deixe que se arranjem com suas terras... Eu não nasci para tratar delas! Toda a minha alma se volta para outra coisa. Ainda que eu faça dinheiro nisso, e é duvidoso, eu não nasci para fazer assim dinheiro. Eu nasci para outra coisa. Era tudo em série...

Esse esboroamento, já contei aos senhores, comecei a percebê-lo do meio para o fim, no tempo em que ainda era deputado. Consistiu no desmoronar do patrimônio de minha família, o empobrecer e mais necessidade de trabalhar para viver, coisa que eu não queria. Queria voar, fazer apostolado e não trabalhar para viver.

Eu via bem que as pessoas que cabiam bem dentro de seus copos, achavam uma beleza trabalhar para viver. Eu pensava: "Mas, esse aí é um tonto ou um louco!" Mas ficava quieto. O bonito é não se ter preocupação econômica e trabalhar para fazer coisas maiores. Essa é que é vida!

Então, desmoronamento de minha família, com o querido e doce encargo da manutenção de minha mãe, e a minha pessoal.

* Mas o desmoronamento começava...

Outra coisa, eu notava que nos meios católicos não se criava uma hostilidade contra mim, mas nos mais altos escalões se fazia um vazio em torno de mim. Eu percebia perfeitamente que me isolavam e que queriam o contrário do que eu desejava. Eu queria lutar e dedicar-me por eles, querendo que entrassem na luta comigo. Eu via que não queriam a luta. Pelo contrário, queriam ficar dentro de uma época histórica como era aquela, que não convidava ao excepcional, numa vida comum. Queriam caber na vidinha de todo o dia e não na batalha, na cruzada e na luta heróica que eu queria empreender. Luta com aventuras, por certo. Mas era vida!

Notava ainda que tinha tido até aquela ocasião uma saúde de ferro, que, graças a Deus, com pequenos inconvenientes, gripes e resfriados, obrigando-me a tratar com os senhores neste abafamento, de um modo ou de outro, continua... Apareceram alguns inconvenientes, que depois a Providência fez cessar.

Já falei aos Srs. dos tormentos das nevralgias que me atacaram então. Às duas ou três horas da manhã, acordar e ficar sentado com uma dor como se fosse um prego, aqui [na fronte, do lado esquerdo], uma dor parada... e as horas passando. Ouvia os relógios do hotel e da igreja darem horas... Eu, sentado, meditando nessas coisas e agüentando o prego aqui. Então, ao sentir-me exausto, eu dormia com o peso da opressão que me preocupava.

* Havia consagrado como escravo de Maria, mas tudo parecia dizer o contrário!

Depois, ainda mais, perceber a crise interna do progressismo, e tudo mais que ia minando o caminho que eu tinha diante de mim. Aí, o terror e a asfixia da ilusão: "Aquilo não foi senão um engano, um sonho, que se completaram com fatos maravilhosos. Mas, é um bluff! Resigne-se à vontade de Deus, que quer que você sofra esse bluff. Depois, agüente a sua vida como der, porque Deus quer assim. Ele tem ou não tem o direito de querer? Quem traça seu futuro: é Deus, ou você? E se as coisas acontecem de outro modo e você não tem culpa, eu pergunto: tem ou não obrigação de aceitar, de se curvar e de ficar satisfeito?"

Eu era escravo de Maria... Tinha que aceitar o meu futuro como ele se abria diante dos meus passos. Portanto, havia que ter resignação. Havia que comprimir, dentro de minha alma, esses vôos, esses desejos, essas elevações como coisas inaceitáveis, que não exprimiam a vontade de Deus. E se fosse vontade de Deus tinha que voltar para dentro de meu copo ou ir até para um copo menor do que aquele em que tinha nascido.

* Quando chegam as provações é que há uma vocação bem amada de Deus!

Os senhores não podem calcular o abafamento de alma, meu desnorteamento, que essa situação me trazia.

Eu pergunto, mas não façam gentileza no caso: aqueles que julgam que eu expliquei com clareza a situação, levantem o braço.

Por que estou explicando assim? Porque pode acontecer com os senhores alguma coisa dessas. Deus dá uma vocação muito grande, e depois aparecem dificuldades. O aparecer essas dificuldades, não quer dizer que não se tenha vocação. É o contrário: é uma vocação bem amada de Deus, ao longo da qual ele provê – esta é a providência – coisas que não se queria, coisas com que não se contava, que fazem parecer que Deus nos abandonou... Mas, há também um movimento interno de alma que nos diz: Não! E vamos para a frente.

* Influência do livro História de uma Alma

Aqui, por cima deste se punha um outro problema. Se não canso demais os senhores... Punha-se por cima deste um outro problema.

Eu tinha lido no livro História de uma Alma, de Santa Teresinha do Menino Jesus, que me tinha impressionado profundamente com sua narração. Tinha partido da idéia de que não se pode fazer para a Igreja Católica uma coisa mais útil do que ser uma vítima expiatória do amor misericordioso de Deus.

Assim se explica: os homens pecam e é preciso que outros homens ajudem a Deus a expiar, a pagar por seus pecados; de maneira tal que com nosso sofrimento Deus perdoe a outros e conquiste outras almas, dando-lhes graças muito grandes, porque nós sofremos.

Então, por exemplo, se para um dos senhores esta reunião estiver especialmente tediosa, cacete, sonífera, pode ser que Nossa Senhora esteja querendo que agüentem o sono, que agüentem a caceteação por uma alma que ela sabe qual é... Poderá ser da longínqua Birmânia, da Tailândia... ou um esquimó, ou um alto político, ou um alto intelectual, ou um alto personagem eclesiástico, que precisa fazer uma coisa grande pela Causa de Deus, mas não é bastante forte. Então, fica-se doente e morre-se... desaparecendo da memória dos homens. Só, só, só... Deus se lembrará de nós no Céu. “Só” Deus? Deus é tudo!

Mas, Santa Teresinha queria morrer assim: vítima expiatória pelas almas dos outros. Foi atendida. Já contei aqui a história de Santa Teresinha. Muito moça, teve um ataque de tuberculose. Durante a noite, sentiu que estava expectorando sangue, coisa característica da tuberculose... e ficou tão alegre com a idéia de que ia morrer que, por espírito de sofrimento, não quis acender a luz para ver se era sangue ou não. Dormiu em paz. De manhã, a primeira coisa que fez foi ver se era sangue. Se fosse, queria dizer que o holocausto tinha sido aceito, e que não demoraria a ir para o Céu.

Depois, começou o holocausto no duro: provações, aridezes, incompreensão com uma superiora, desdém de todas as irmãs etc. Até o último momento da vida, tudo foi tormento. Deus parecia que a tinha abandonado. No derradeiro instante de vida, levantou-se – uma pessoa tuberculosa fica extremamente fraca, sem forças para nada –, pôs-se em pé, e num êxtase de alegria disse: "Ó meu Deus!" E caiu morta. Um aroma de violeta começou a encher todo o convento. Era a humildade dela.

Eu punha-me então esse problema: quem sabe se Deus não quer que você seja uma vítima expiatória? Ignorado por todos. Vai ser um homem comum. Tem possibilidades, recursos, talvez tenha até talentos para ser um homem incomum e prestar grandes serviços à Causa, mas condenado a ser um qualquer... Perceber a trajetória de um outro, que vai seguindo um caminho luminoso... Caminho que ele segue, porque você é a vítima que está carregando a cruz dele. Não será que você é mais útil à Igreja e à Contra-Revolução afundando assim, do que percorrendo ou fazendo a galopada heróica da Cruzada que você quer fazer?

Então, o que devo esperar de Deus para a minha vida? Será esta vida assim ou a vida que eu desejava?

* O que Deus quererá de mim?

Como toda a minha tendência ia para não ser a vítima expiatória, mas para ser o homem que ia para o campo de batalha para lutar, eu achava que eu faria um sacrifício especialmente grande aceitando ser o contrário do que eu queria. Eu serviria melhor a Igreja na minha aniquilação do que na minha realização pessoal. Então, eu tinha que aceitar e voltar para o meu próprio copo... e inclinar-me à dura realidade dos fatos. O que Deus queria de mim?  É uma pergunta que se compreende.

* A peça de teatro L'Annonce fait à Marie. Sua influência na vida de Dr. Plinio

Não nesta ocasião, mas depois, eu assisti a uma peça de teatro de Claudel. Era um diplomata francês que foi embaixador da França no Japão. O nome da peça era L'Annonce fait à Marie (Anunciação feita a Nossa Senhora). Era considerada uma peça de teatro católica, que se devia ir ver. Era uma história muito curiosa. Eu vou demorar um pouco com isso, mas... comprimindo bem ela dá... Não contei ainda essa história aqui?

A peça de teatro começa com a cena no interior de uma casa de uma pequena família de trabalhadores manuais da Idade média. Não me lembro bem dos pormenores... Estava o pai, homem que já ia caminhando para a velhice; uma mãe, quase da idade do marido, e duas filhas. Há muitos anos que assisti a essa peça. Uma das filhas não sei o que fazia. A outra, chamada Violaine, era a protagonista. Era moça. A mãe representava o velho bom senso. Era uma espécie de Sancho Pança.

* A conversa matutina na casa dos camponeses

Perguntava ela ao seu marido, que estava visivelmente preo-cupado, ao mesmo tempo que servia a refeição matutina à sua família, numa linguagem bruta de uma camponesa:

"Com que você está preocupado assim?  As nossas terras estão produzindo bem. O que plantamos pegou bem... Todos estamos fortes, com saúde e contentes. Olhe aqui, quantas coisas há na mesa para você comer! Eu olho e você está assim... pensando... No que você está pensando, homem?! Fique alegre! você não se alegra com suas filhas, com sua esposa?  O que você quer mais?" E o homem assim...

A dada altura, depois da mulher o ter interpelado muito, o homem levanta-se, e diz:

"Mulher! Você será tão cega que, embora rezando, não percebe o tormento que está sofrendo a Santa Igreja de Deus?!" A mulher dá uma resposta deste gênero: "Não percebo. Mas o Sr. Vigário está muito contente. Por que não hei de estar eu?!"

– "Oh!... o Vigário... – eram atores muito bons –, oh... o Vigário... Pobre Vigário que não vê senão a paróquia dele."

– "E você o que quer ver além da paróquia dele?  Depois desta paróquia, há tal lugarejo, tal outro e tal outro..." E continua ele:

– "E depois, mulher, o mundo acaba? "

– "Não é para nós. Outros que pensem nisso!"

– "Dia e noite não penso noutra coisa... Coisa, mulher, que você não compreende..." E a mulher ronrona, com um pãozão na mão...

* A proclamação de dor do camponês

Então, ele inteiramente levantado, e falando de frente para o público, mas, de fato, ainda discutindo com a mulher – com uma má cara, queixão para a frente, representando a resmungança; ele, a fé e o ideal:

– "Ó mulher, você não percebe como está a Santa Igreja de Deus. Não vê que os maometanos estão atacando?  E que de todos os lados as nações católicas estão sofrendo investidas? Você não vê que, no meio dessa tragédia que chega ao auge, o Sacro Império Romano-Alemão está abalado? " A mulher faz sinal de que ele está louco.

– "Oh, oh... o Sacro Império... Nós estamos na França! O que tem isso?"

– "Você não vê que há no momento quatro homens que disputam o papado e que cada um pretende ser o Papa – houve mesmo uma circunstância em que se deu isso –, e que a Igreja parece um grande tronco glorioso partido de alto a baixo." Ela:

– "Ah, ah, ah... (gargalhada) É você que vai consertar isso?  É você que vai resolver isso? "

Há diálogos assim... Há diálogos assim!

Ele diz:

– "Para mim nada tem conserto, nada tem alegria enquanto não vir a Cristandade recomposta. Mulher, eu vou dizer-te uma coisa, que você não vai crer: `Velho como eu estou, meus braços ainda têm força, que você bem vê na hora da lavoura. Estes braços não vão mais plantar, não vão mais colher... (A mulher está assim atônita diante dele)... Estes braços vão pegar uma espada! Eu vou levar a minha velhice até o campo de batalha da Cruzada. Se eu morrer, tanto melhor: terei oferecido a minha vida para que os quatro Papas se fundam num só; para que o Santo Império floresça; para que as ordens religiosas se expandam; os maometanos sejam empurrados para longe... Eu sofrerei e morrerei, mas vencerei a favor da Santa Madre Igreja!"

A proclamação é, mais ou menos, em linhas gerais, esta.

* Reação de Violaine

A Violaine ouve o pai exclamar estas coisas. Já tinha anseios parecidos com os do pai. Vê-se, pela peça de teatro, que nunca tinham falado sobre isso. Mas que ela se sentia profundamente interpretada nas palavras do pai. Então, ela também quer oferecer alguma coisa a Deus, ser uma vítima expiatória para a vitória da Igreja e para a da França, nação bem amada de Deus. A França invadida pelos ingleses, que iam ser protestantes, futuramente, embora ela ainda não soubesse. Era preciso expulsar de lá os inimigos. Por tudo isso, ela precisava oferecer-se em holocausto.

* O leproso que pede esmola

Nisto, ouve-se a sineta da porta tocar. Ela vai à porta – aliás, aqui entra uma coisa que é censurável; Paul Claudel tinha trechos lindíssimos, mas alguns muito censuráveis –, abre a porta. Era um rapagão, forte, mas com traje singular... e pede-lhe esmola.

Ela vai e pega um pão e mais qualquer coisa que lhe dá. E pergunta quem ele é. Responde:

– "Vós não sabeis quem eu sou. Não toqueis em mim!"

– "Mas, por quê? "

– "Porque eu sou da raça infeliz dos homens em quem ninguém toca, porque tem horror. Eu causo horror. Eu trago comigo uma doença que, se lhes disser qual é o nome, vós fugireis de mim com horror. Batereis com a porta no meu rosto, porque todo o mundo foge de mim. Sobre mim pesa uma maldição. Sou um pobre leproso..."

Ela tem pena, em vez de lhe bater com a porta na cara, conversa, procurando consolá-lo... De fato, dominando seu horror por ele. Assim, mantém a conversa...

Em certo momento, o leproso diz:

– "Eu tenho que me ir embora. E vou para a solidão das estradas, moço ainda... Abandonado, obrigado em consciência a dizer que sou um leproso... E, no momento em que eu faço ao meu próximo este ato de amor de dizer que sou um leproso, ele me retribui fugindo de mim."

É verdade e é natural. É direito!

Agora, vem o lado errado:

Ele diz:

– "Tende pena de mim, e dizei-me uma palavra de amizade. Dizei-me uma palavra que possa levar pelas estradas afora, e na qual verei que houve uma criatura no mundo a quem não causei horror..." Ela oscila... E ele remata: "Dai-me um ósculo!"

É péssimo! É péssimo! Ela vai, vence o horror que lhe tem e oscula-o. Depois entra em casa. Ele vai-se embora.

Dias depois, ela percebe as manchas da lepra. O sujeito a contagiou. Ela compreendeu que o futuro que a espera era o do leprosário. Tinha que entrar no destino terrível de uma leprosa.

* O destino dos leprosos

Qual era esse destino?

Na Idade Média, a lepra era muito mais contagiosa que em nossos dias. Já foram inventados sistemas de limpeza, hoje em dia, de isolamento etc., por onde esta doença se pode evitar, curar e reduzir até seu contágio. Quando ela é insipiente, é curável. Naquele tempo era absolutamente incurável.

Quando uma pessoa era declarada leprosa, tinha obrigação, em consciência, de procurar o vigário e denunciar-se. Não havia própriamente médico, mas os homens experientes do lugar chegavam à conclusão de que alguém estava leproso, a pessoa atingida era obrigada a deitar-se num caixão de defunto. Era levada pela família para a igreja, onde era rezado o Ofício de Defuntos sobre ela acordada. Tudo era para indicar que estava separada do convívio humano. Se não me engano eram leprosos, ainda pouco adiantados na moléstia, que pegavam no caixão, sem tampa naturalmente, que o levavam para o leprosário. Aqui, começava outra vida da pessoa...

Era uma coisa dramática, no mais alto grau, como os senhores bem podem imaginar.

* Noite de Natal no leprosário

Supõe-se pela narração que ela passou por isso. Aparece um leprosário. É noite fria... Noite de Natal! Umas barraquinhas pequenas onde moram os leprosos. Uma luz violácea no Céu... Eles todos com frio, aconchegando-se a fogueirinhas e conversando entre si alto. De onde em onde, ouviam-se risos de desespero. Era gente desesperada, esfrangalhada, sofrendo... Uma coisa pavorosa.

Ela, ali no meio... com um pano, um jeito assim... Afundada naquele mar de horror.

Não sei se os senhores se conseguem imaginar postos numa situação assim... Dá para alimentar um pesadelo durante a noite.

* As notícias de Santa Joana d'Arc

Ouve-se mais nitidamente uma conversa de um grupo de leprosos. Diziam que o rei da França está ganhando muitas batalhas, que apareceu uma virgem, vinda de Domrémy, na Lorena, guerreira invencível... Estava expulsando os ingleses da França. Era essa a vontade de Deus. Ela se entusiasmando com isso. E a grande nova era a sagração do rei, aqui perto, em Reims. O cortejo dela vai passar por perto, com todos os cavaleiros e exército... Vai assistir à coroação do rei em Reims. Vai ser uma festa muito linda... É pouco mais ou menos assim... Vê-se um leproso já sem braços, que os levanta... "Ah, ah, ah... Isso não é para nós. Isso é para eles que são vivos. Ah, ah, ah..." Umas cenas de desespero horríveis... Era noite de Natal, não era para se ser assim. Quando... ao longe ouve-se um toque. Era Santa Joana d'Arc que vai passando...

Por uma iluminação de Deus, [Violaine] compreende que Santa Joana d'Arc está vencendo os ingleses e tendo a glória de ir assistir à coroação do rei, como personagem máximo – o rei está sendo coroado! – porque ela conquistou tantas terras de França para o seu rei, que tem sentido ele coroar-se. Não era um fantasma de rei, mas sim verdadeiro! De fato, a grande festejada ali era Santa Joana d' Arc. [Violaine] compreende que está comprando tudo isso com a lepra dela.

* Moral da peça aplicada à vida de Dr. Plinio

Agora, este lado é muito bonito. Até empolgante. É uma forma de heroísmo de estrangular, de tirar o ar. Mas Nosso Senhor Jesus Cristo não sofreu mais por nós? Ele não nos convida para isso?

* Vocação de vítima expiatória?

Essa doença que causa isso [as nevralgias], não é, de repente, um câncer ou uma outra coisa qualquer que te leva cedo da vida, para que um outro ganhe a batalha que você ansiava tanto ganhar?  Agora, eu quero ver como é seu amor de Deus.

Você estava muito contente de ser alguém. Você terá a mesma coragem de ser ninguém? Você aceita isso? Até que ponto você é um homem sério? Se for sério, você aceitará isso. Se você não aceitar, quer apenas representar um papel e mais nada. Então, não vale nada. Você não ama a Deus! Merece ser esquecido por Ele sobre a face da Terra.

E, meus filhos, não coisas assim, mas também difíceis de agüentar e surpresas na vocação, por onde terão a impressão de que erraram no caminho, que as vias de Deus talvez sejam outras, e daí para fora, é possível que os senhores encontrem... Não se espantem! Quando Ele nos leva por um caminho, faz-nos ter a impressão de que nossa estrada está errada, mas é o sinal de que nos quer levar por lá. O "rio chinês" é isso! Os senhores conhecem bem essa metáfora. Não preciso de a explicar aqui.

Por outro lado, a idéia de me oferecer assim, era uma coisa que... Eu fiz o oferecimento. Mas, eu achava que alguma coisa não colava, não era bem assim...

* Numa feira de livros da igreja do Sagrado Coração de Jesus, encontro O Livro da Confiança

Estava nessa situação, quando na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, que se situava perto do hotel onde eu morava, eu vejo realizar-se uma feira de livros. O Vigário que era muito atencioso comigo, dava-me Comunhão à hora a que chegasse. Muito gentil... aproxima-se de mim, e diz-me:

– "Dr. Plínio, estamos fazendo uma feira de livros. Se o senhor a quiser visitar, muito bem. O lucro da feira se destina..." Era para uma obra boa qualquer. Equivalia a dizer: o senhor dê-nos um dinheirinho a ganhar. Eu pensei: Bem, não há remédio; eu vou entrar e comprar alguma coisa. Encontrei alguns livros, assim, pelo meio. Comprei. Chamou-me atenção especial um livro, cujo título era O Livro da Confiança. Não sei por que comprei-o.

* O efeito das primeira palavras do livro: "Voz de Cristo, voz misteriosa da graça..."

Os senhores que conhecem o livro, não podem imaginar o efeito que me causou no espírito, quando o abri – não me lembro se logo no momento ou se chegando ao hotel – e li as suas primeiras palavras: um efeito apaziguante magnífico em minha alma!

"Voz de Cristo, voz misteriosa da graça, que ressoais no silêncio dos corações, vós murmurais no fundo das nossas consciências palavras de doçura e de paz." Haaaa...! Haaa...! E depois vai continuando, vai expondo em termos mais ou menos gerais a seguinte doutrina:

* Doutrina do Livro da Confiança

Deus pode fazer uma pessoa caminhar pelas vias mais duras e mais imprevistas, mas se se atender à voz de Cristo em nós – “voz misteriosa da graça” – murmurará em nossas almas palavras de doçura e de paz. Se não me engano é isso. Aquilo que nos arrebenta e que nos trinca, afinal, na grande maioria dos casos pelo menos não é o caminho que devemos seguir. Haverá um movimento interno em nossas almas que nos dará confiança de que será de outra maneira e que nos conduzirá para onde os nossos primeiros anelos nos levavam.

Esse livro produziu em mim um efeito maravilhoso, porque, em última análise, dava exatamente essa idéia de que estando eu colocado sob uma providência especial, e pedindo eu a Deus Nosso Senhor, acrescentando para mim, sobretudo e sempre, invocando a intercessão d'Aquela que tudo pode – Nossa Senhora – eu serei atendido. E, afinal, por aqueles vais-e-vens, de um jeito ou de outro, aquilo que eu desejo se realizará.

* Eu fui chamado mais para ser do caminho de Godofredo de Bouillon

Eu não sou chamado para o caminho de Santa Teresinha. Eu sou mais bem chamado para o caminho de Godofredo de Bouillon. Vamos para a frente, por cima de paus e de pedras, por montes, coles e colinas... Vá o caminho por onde for, e dê nos descaminhos aparentes que houver, eu preciso confiar, confiar, confiar... "Voz de Cristo, voz misteriosa da graça que ressoais no silêncio de nossos corações, vós murmurais palavras de doçura e de paz." Doçura e paz traz-me isto. Eu vou rezar, pedir; rezar, pedir...

* Mas você não estará enganado?

Daí vinha-me uma pergunta: "Mas, você não estará enganado? Será que se você ficar quieto e for heróico, não pedindo nada a Nossa Senhora, realizará mais do que pedindo? Pedindo, Ela dá. Mas, dá às vezes o que Ela não queria dar. Não peça nada e deixe tudo acontecer."

Eu não soube resolver o problema. E pensei, então, da seguinte maneira: "Pedirei, mas com a condição que faça a vontade d'Ela e não a minha, caso queira. Se a vontade que há em mim é também a d'Ela, faça-se! Eu peço, peço, peço! Encontrei o equilíbrio no meio de um torvelinho medonho.

* Começa o torvelinho...

A partir daí começa, cada vez mais, o torvelinho ir indo, ir indo, ir indo abaixo... até chegar o momento sinistro da Rua Martim Francisco, andar térreo, em que chegamos à derrocada final de todas as nossas ilusões, de todos os nossos desejos, de tudo o mais... Acabou!

Como será? "Voz de Cristo, voz misteriosa da graça que ressoais no silêncio de nossos corações palavras de doçura e de paz."

* O Livro da Confiança foi a ponte admirável por onde passei por cima de muitos abismos

Assim, eu sentia-me como se uma voz interior me dissesse: "É isso. Vá para a frente!" O Livro da Confiança foi a ponte admirável e abençoada, que me ajudou a passar por não sei quantos abismos e quantos abismos... até encontrar alguma coisa que significava que realmente estava no caminho [certo] e estava indo para a frente.

Com o favor de Nossa Senhora, um dos indícios disso é este querido auditório tão cheio de gente. Gente que não tinha sequer nascido naquele tempo. Eu procurava em torno de mim os que viriam, mas os caminhos estavam vazios e secos... Eu não sabia que das mais variadas partes do Brasil e do mundo, estavam nascendo e iam começar a nascer, dali a uns anos, aqueles cujos caminhos se encontrariam com os meus, pelas nações afora, para fazer a Contra-Revolução.

Ao lado do livro de São Luiz Grignion de Montfort [Tratado da Verdadeira Devoção a Nossa Senhora], do livro de Dom Chautard Alma de todo o apostolado, este livro [Livro da Confiança] foi-me de um possante auxílio.

Isto é o que eu teria que dizer.


Bookmark and Share