Plinio Corrêa de Oliveira

 

Bandeiras e estandartes

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia de 21 de maio de 1976

  Bookmark and Share

 

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


Comentários a trechos do livro “Dom Sebastião, rei de Portugal”, de Antero de Figueiredo, onde o escritor português dá uma espécie de teoria sobre as bandeiras e os estandartes.

 

Um bonito trecho de Antero de Figueiredo que é um extrato do livro  “Dom Sebastião, rei de Portugal”. Entra alguma coisa a respeito de Portugal, em geral uma espécie de visão das bandeiras e dos estandartes, em que há alguma coisa de bonito.

A matéria é essa:

“Terminada a Missa, o Arcebispo D. Jorge de Almeida, mitrado e revestido de capa de asperges, entre os Bispos de Porto e de Coimbra, diante do estandarte o benze e asperge, pronunciando latinas palavras, lidas ao ritual.”

Não sei se os srs. percebem... o Antero de Figueiredo tem uma linguagem bonita. Um outro qualquer diria: "Benze e asperge em latim." Seco... sem graça...  Todo mundo que é. [Mas ele escreve]: “Pronunciando latinas palavras, lidas ao ritual”. Notem o cantante e como valoriza o fato das palavras latinas estarem postas aí. É dessas coisas um pouco enigmáticas da literatura. A gente não adivinha bem porque as vezes uma inversão de ordem de uma palavra, de uma frase, realça de repente, tanto, uma nota que se quer pôr em relevo. Mas é próprio ao literato verdadeiro entender isso.

Então, "pronunciando latinas palavras", ao menos para o ouvido brasileiro e português, tem qualquer coisa de cantante. "E lidas ao ritual", parece que ainda torna mais preciosas, tiradas de um ritual antigo – como, aliás, eram. [Palavras] que estão cada uma no ritual, como uma relíquia no relicário. O talento do Antero de Figueiredo está muito em criar impressões dessas, como os srs. vão ver daqui a pouco.

“E faz com os bispos, cruzes ao ar.”

Um qualquer, rasteiro, diria: "Dá bênçãos". Mas ele... “os bispos fazendo cruzes ao ar”, a gente tem a impressão de que há um diálogo com Deus, uma relação com o Céu, “fazer cruzes ao ar...”. E o português falado em Portugal tem, neste sentido, qualquer coisa de mais cantante do que o português falado no Brasil. O Antero de Figueiredo era português.

“A bandeira tendida aos braços pundonorosos de Luís de Menezes...”

Não sei porque “braços pundonorosos”. Pundonor é ponto de honra. Talvez “point d'honneur” degenerou em pundonor. Talvez seja braços exímios no defender pontos de honra. Aí seria um belo elogio do braço do cavaleiro. Aquele que defende seu ponto de honra com garbo, com galhardia.

“...está posta ao alto.”

Um qualquer diria: "Está içado o estandarte".

Daqui a pouco nós veremos como é que um homem tem esse espírito e não tem o espírito de colocar a coisa rasteira, na linguagem comum. Como é que se é assim.

“Todos a veem agora. Os corações estremecem. De damasco carmesim, franjado de prata, tem de um lado a imagem de Jesus na Cruz, de outro as cinco quinas reais, azuis, nos besantes de prata ─ as cinco chagas do Redentor.”

Não sei se querem que eu indique o bonito da coisa, ou... sobretudo eu receio que para o ouvido dos meus castelhanos isso não tenha esse bonito... Enfim, lá vai:

"Todos a veem agora", entra de um jeito que insinua um pouco a surpresa que se tem quando, de repente, o estandarte está içado. Não sei porque é que nesse momento, nesse contexto, isso dá essa pequena sensação de novidade, mas dá.

Ele continua, a frase bem banal, que até decepciona a gente: “os corações estremecem”. Comunzinho, banalzinho, composição de menina de colégio, para descrever que a professora aniversariante entrou na sala de aula: "todos os corações das meninas estremecem". Choca-me esse “corações estremecem” dentro de um contexto tão original e tão brilhante. Enfim...

Agora, a construção seguinte da frase é muito bonita:

“De damasco carmesim, franjado de prata...”

Ele não diz que o estandarte era de damasco carmesim. Ele já esfrega no rosto do leitor o damasco carmesim. Tem aquela aparição e o contraste é muito bonito: carmesim com prata fica muito bonito. Para mim, é uma das mais bonitas combinações de cores, que é o vermelho e branco. É simplicíssima, mas acho prodigiosamente bonita. Carmesim com prata dá mais ou menos isso.

“...tem de um lado a imagem de Jesus na Cruz, de outro, as cinco quinas reais, azuis aos besantes de prata...”

A frase já está longa, ele põe um travessão e acrescenta:

“...- as cinco chagas do Redentor.”

É muito bonito, porque quando a frase já está longa e a gente acha que ele deveria ter terminado, ele põe uma coisa que voa, e que suspende a frase que já estava caindo: "as cinco chagas do Redentor" que impõe um certo modo de ler. Se a gente vai ler... Mas para quem tem um pouquinho de prática de leitura, termina: “as cinco chagas do Redentor”. Aquilo que estava caindo, pesadão, voa. São os artifícios do... Não é um literato maravilhoso; não exageremos nada, mas é maravilhoso fazer literatura boa, e aqui está um dos artifícios dele. É bem feito.

“É uma asa santa, é uma estrela divina.”

É muito bonito comparar o estandarte que voa, a uma asa; supondo, do outro lado, a outra asa invisível, que não existe, que a gente pode imaginar como quiser. É muito bem pensado, muito bem achado.

Agora vem uma espécie de teoria das bandeiras, e que ao menos no meu modo de sentir, ela é inteiramente verdadeira quando a bandeira tem o formato de um estandarte.

“As bandeiras são corpos, as bandeiras são almas.”

Não sei se os srs. vendo como ele vai se tornando audaz. Diz uma realidade de uma certa elevação, mas muito comum:

“As bandeiras são símbolos.”

E, no espírito, vem a ideia seguinte: É verdade, elas corporificam algo. Ele diz: "As bandeiras são corpos". Ele pega aquele movimento do espírito. Mas ele corrige: "As bandeiras são almas". O jogo, mexendo na cabeça de quem lê, está muito bem construído. Tudo isto, pelo menos, ao meu ver.

“As bandeiras vivem nas serras e no mar...”

Não sei se notam aqui a ideia de que as bandeiras na planície não encontram seu lugar; a bandeira está numa coisa meio alheia à vida terrena, que o lugar próprio para elas é o alto de uma montanha, ou o pleno mar. É o caso de perguntar – e eu direi daqui há pouco se os srs. me lembrarem  –  se nosso estandarte é para a serra ou para o mar. Mas olhem um pouco para o nosso estandarte e pensem um pouco nessa frase: "As bandeiras são símbolos, as bandeiras são corpos, as bandeiras são almas". Nosso estandarte não tem alguma coisa disso? No seu modo de voar, de vez em quando, do vento balançá-lo de um lado para outro?

“As bandeiras vivem nas serras e no mar...”

Há umas serras que são especiais, especialmente as nossas, e uns mares que são especialmente os nossos.

“...nos outeiros e nos campos, nas praças e nas ruas. Seres de ar livre.”

Esta expressão é magnífica: o estandarte é um ser de ar livre; ele não é feito para dentro de uma casa; é uma expressão muito bem apanhada.

“O vento fala com elas e elas falam com o vento.”

Se isso não é verdade para nosso estandarte, então nada é verdade. Elas falam com o vento. E...

“Seres de sacrário...”

Vejam a transição interessante: seres de ar livre, seres de sacrário; não fica bem a nosso estandarte como está suspenso na capela do Êremo do Amparo de Nossa Senhora? Aquela série de estandartes da TFP junto ao sacrário, na imobilidade do sacrário, onde só o que se move é a lâmpada acesa junto ao Santíssimo, que cresce, que diminui, no altar? No silêncio, durante a noite, imóvel o nosso leão, perpetuamente tentando o seu assalto, e perpetuamente amedrontando a quem quer chegar perto com intuitos hostis? É a imobilidade, que é outro aspecto da suma mobilidade do vento. A imobilidade sacral e a mobilidade do vento que, por sua vez, tem qualquer coisa de sacral. É o contato com as coisas do Céu, e as grandes lutas da Causa etc.

“Seres de sacrário, as almas nelas se recolhem.”

Há um recolhimento da alma, dentro da bandeira, como se fosse um sacrário. Não é isso nosso estandarte? Não se faz recolhimento vendo nosso estandarte? Por exemplo, no Torreão da Bênção, na Sede do Reino de Maria?

“Sua fala é de clamar para as multidões e de reza para os devotos.”

Vejam que linda alternativa.

“A bandeira é um ser civil e religioso.”

Sobretudo o estandarte da TFP. Dir-se-ia que o bom Antero de Figueiredo previu o estandarte da TFP.

“E sua roupa, ao mesmo tempo militar e talar, serve à religião ora batalhando, ora rezando.”

É uma linda concepção! Podia quase se pôr isso aos pés de um estandarte nosso, em algum lugar, para ser lido. Com uma pequena adaptação de texto, poderia se colocar isso.

Aí estão as considerações feitas sobre as bandeiras, os estandartes, e uma teoria do estandarte, uma teoria da bandeira. Com isso está terminado o Santo do Dia.

(Aparte: inaudível)

Nosso estandarte tem qualquer coisa que foi intencional na elaboração dele. Mas o nosso estandarte grande tem qualquer coisa de meio descomunalmente alto. Normalmente não se fazem estandartes daquela altura. Ele é meio descomunal. Várias vezes vendo nosso estandarte grande em campanhas, vendo o estandarte grande no Torreão da Bênção, me ocorre isso: Ele não é feio de tão grande, mas ele é grande numa medida que as coisas não costumam ser.

E, muito alto, muito longo, para dar um pouco a ideia de que ele não está implantado na terra, mas que o fuste dele está em algum lugar, e que ele está meio longe; que é um estandarte muito maior do que ele que a gente está vendo no lugar onde ele está. Um pouco que ele não tem medida comum com nada que o cerca, e que ele se desengaja daquilo que está em torno dele. Ele como que flutua acima do que o cerca, numa atmosfera ideal meio serra, meio mar.

Foi assim que eu tive a intenção de que fosse o tamanho de nosso estandarte grande. E por isso ainda, eu quis que colocassem no alto a flor de lis. Talvez agora eu descrevendo aqui, os senhores tenham bem a sensação de que aquela flor de lis já não está bem na Terra; já está em meio a uma outra altura, a uma outra medida, a uma outra dimensão, que era para dar a entender que a Causa da TFP é uma coisa que sobe ao alto, ou vem do alto, mas que tira a pessoa da vulgaridade comum.

Então, é muito bonito a gente considerar esse estandarte implantado num centro de muito movimento, com o comércio e indústria, a meu ver mares e mares de população de um lado para outro, com o estandarte pelo meio, como se estivesse no meio das ondas, ou como se ele, pela sua altura estivesse numa serrania. E os povos embaixo, às vezes indignados, revoltos, ou aplaudindo, ou indiferentes; aquela multidão que passa, que passa, e aquele estandarte alto, esguio, esguio, no alto uma flor de lis que já é mais celeste do que terrestre, toda de ouro. Este foi o intuito que eu tive, dando a nosso estandarte essa medida.

Aí os senhores têm um pouquinho sobre a configuração dos estandartes etc., e, sobretudo, como tudo na TFP é calculado, medido, pesado. Nada é feito assim... (superficial e irrefletidamente) Se os senhores pudessem saber o trabalho que deu para encontrar o formato dessa capa, nem os senhores podem calcular! Dr. Eduardo, que especialmente trabalhou comigo nisso, e Dr. Luizinho, podem bem se lembrar. Tudo foi feito com cuidado.


Bookmark and Share