Plinio Corrêa de Oliveira

 

Meditação sobre os mistérios dolorosos

do Rosário

A batalha da perseverança

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 31 de março de 1984, sábado

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.



 

 

Meus caros, não foi feita uma proclamação, mas foi feita uma muito boa introdução que teve entre outras qualidades uma muito boa, que aliás não falta às proclamações, teve muita vida. Assim, as coisas que têm muita vida não gostam de espera, nem de demora, elas entram direto no fato. Depois de tanta vida não vale a pena fazer demoras, vamos entrar diretamente nos mistérios dolorosos do Rosário.

Mistérios dolorosos por quê?

O Rosário, no seu conjunto, nos faz meditar a respeito dos principais fatos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. E esses fatos são distribuídos no Rosário em três grupos; o grupo dos fatos gozosos, o grupo dos fatos dolorosos e o grupo dos fatos gloriosos. Os gozosos são aqueles que deram, no sentido nobre da palavra, razão para um gáudio, para alegria, neste sentido, para um gozo das almas santíssimas, dos Corações Sacratíssimos de Nosso Senhor e Nossa Senhora.

Nós podemos ver isto bem, pensando, calculando a alegria o gáudio de Nossa Senhora e de Nosso Senhor por ocasião da Anunciação. Os senhores dirão: mas dEle também? Pois é claro! Quando Ela disse que aceitava de ser esposa, disse “faça-se em mim segundo a tua palavra” – imediatamente o Divino Espírito Santo desposou-se com Ela e nasceu Nosso Senhor Jesus Cristo, começou a formar-se nas entranhas d’Ela, propriamente, ainda não nasceu.

Os senhores podem imaginar a alegria d’Ela nessa união com o Divino Espírito Santo? As maiores alegrias que houve na História não foram dos homens que organizaram grandes festas, nem dos que tiveram grandes triunfos. As maiores alegrias que houve na História foram as dos grandes místicos. Aqueles que levando uma vida espiritual intensa, perfeitíssima, agradaram de tal maneira a Deus, a Nossa Senhora que se revelaram a eles e com quem eles puderem ter um contato direto.

Os senhores deveriam ler e lerão, com certeza quando forem mais velhos, por exemplo a vida da Senta Teresa de Jesus. Os castelos da Alma em que ela descreve as várias moradas místicas pelas quais a alma dela passou; gáudios, alegrias inenarráveis que nenhuma pessoa nunca teve. César na sua maior glória, Salomão na sua maior glória, sei lá... Carlos Magno, Carlos Magno, Carlos Magno o venerável no esplendor de sua glória, tão mais respeitável que a de César ou de todos os outros, está bem, nunca tiveram uma alegria comparável ao momento em que a graça falou, diretamente, a Santa Teresa, por exemplo, a São João da Cruz, a outros místicos e eles tiveram esse contato com Deus.

Nossa Senhora no momento em que se tornou esposa do Divino Espírito Santo, os senhores podem imaginar a forma de união que teve com Ele? E a alegria que deve ter tido com isso? Mais ainda, as núpcias castas de Nossa Senhora com o Divino Espírito Santo são indissolúveis: Ela não ficou, passageiramente, esposa do Divino Espírito Santo. Ela é esposa dEle no Céu e por toda a eternidade! Mas, nesse momento, a alegria d’Ela conhecendo que das suas entranhas puríssimas Deus se serviu para encarnar o Verbo e a alegria e a união com o Verbo que Ela teve quando Ele se tornou filho d’Ela? A satisfação quando Nosso Senhor Jesus Cristo se tornou Filho d’Ela, esse gáudio por todo o sempre?  Aumentando a vinculação d’Ela com o Padre Eterno de quem Ela é Filha Diletíssima. Tudo isso é uma série de gáudios, uma séria de gozos, de deleites extraordinários.

Aí é também a Visitação em que Ela vai visitar sua prima Santa Isabel, em que Ela é saudada por Santa Isabel e Ela canta o Magnificat, que é o maior canto de alegria e de vitória que uma pessoa cantou em tida a História! Magnificat anima Doninum et exultavit spiritus meus in Deo salutare meo ... Minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exultou em Deus meu Salvador. Exultação.

As alegrias de Natal... Nós podemos notar um pouco do que são essas alegrias pensando nos nossos natais. A emoção que todos nós sentimos quando nos aproximamos de um Presépio, quando na noite de Natal osculamos os pés da imagem do Menino Jesus. O que seria o que Ela sentiu no Natal por excelência, que foi a Natividade de Nosso Senhor? Não se pode calcular. A alegria dEle vindo ao mundo, começando essa missão enorme que ele recebeu. Os senhores podem calcular a enorme alegria de Nosso Senhor Jesus Cristo ao nascer?

A apresentação no Templo: Como Ele, com alegria, se comunicou pela primeira vez aos homens, às pessoas do Templo de tal maneira que o Profeta Simeão cantou a glória d’Ele e profetizou tudo quanto Ele seria. E ele, pequeno, na aparência sem entender, entendendo tudo e inspirando aquele cântico.

O encontro de Nossa Senhora e de São José com o Menino Jesus no Templo: O Menino Jesus há de ter tido tristeza de expor sua Mãe e seu pai adotivo a uma tal provação: Ele sumir, eles procurarem e não O encontrar. Mas quando Ele que falava com os doutores e que resplandecia pelo seu talento e pela sua instrução de todas as coisas das Escrituras, viu de longe a eles que entravam... Para o Menino Jesus deixou de haver tudo, Ele só viu Nossa Senhora que entrava. A alegria de consolá-la, de pôr termo ao sofrimento d’Ela e de São José. Que alegria!

[São os] mistérios Gozosos.

* * * 

Passamos dos primeiros para os terceiros ... Muito mais do que a simples alegria a glória! O que é a glória? Nosso Senhor nasceu, desde o primeiro instante Ele foi rei da eterna glória. Mas por que razão esses mistérios são chamados gloriosos?

A Ressurreição é o primeiro mistério. Os senhores podem imaginar a alma santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo que tinha descido ao Limbo para libertar todas as almas dos justos que estavam à espera lá para ir para o Céu. Nosso Senhor Jesus Cristo desce ao Limbo, mas desce precedido de legiões e legiões de anjos que enchem aquela sombria morada de um espera longa, enchem aquela morada de alegria e de consolação. Todos estão numa esperança, entrevem que vai haver alguma coisa... de repente, a alma dEle entra!

Adão e Eva, pais remotos de Nosso Senhor Jesus Cristo, vendo nEle o Homem que vai resgatar o pecado que eles cometeram; o descendente, o Homem-Deus que vai resgatar o pecado que eles cometeram. Ver São José ali que esperava na resignação, mas com tantas saudades, tanta vontade de ver o Nosso Senhor... e anunciar a todos que estavam libertos!

Passam-se três dias e chega o momento glorioso em que essa alma penetra nas profundidades da pedra onde jazia o Corpo Santíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo entregue às garras inexoráveis da morte, todo enfaixado. E no Sudário de Turim encontraram sinais de que nos olhos dEle tinham sido postos em cada olho uma moeda, porque naquele tempo os judeus enterravam as pessoas pondo uma moeda em cada olho, talvez para indicar que estava vedado e que não podia ver mais nada. Num dos lados do Santo Sudário tem os vestígios dessa moeda. Ali... aqueles olhos magníficos, aquele Corpo Santíssimo imobilizado por ataduras, coberto dos ungüentos com que se cobriam aqueles que tinham deixado de ser do número dos vivos. Deitado ali na pedra fria, no escuro...

De repente, aquilo se enche de anjos, começa a estremecer, porque Nosso Senhor entrou... As ataduras caem, um perfume muito melhor do que dos ungüentos se faz sentir, Ele todo resplandece da glória dos ressurrectos e de cada chaga, de cada lugar ferido é um sol que nasce! Ele se ergue e vai de encontro à pedra que fechava, sem solução possível aquele lugar. Os anjos jogam a pedra no chão, Ele aparece e os guardas caem desmaiados. Ela sai fulgurante, vai ao Cenáculo encontrar Nossa Senhora.

A glória de ressuscitar! Lázaro foi ressuscitado... mas Ele ressuscitou Lázaro. Ele se ressuscitou a si próprio! Glória, Glória, Glória!

Como se não bastante: a ascensão ao céu. Há uma distinção entre ascensão e assunção. A ascensão é daquele que sobe pelo seu próprio poder: a assunção é a dAquela que foi levada para Céu, pelo poder dos anjos. Nosso Senhor teve uma ascensão, Ele não precisava de Anjos para O levarem. O Homem-Deus numa só pessoa com a natureza humana e a natureza divina que sobe ao Céu diretamente. Ele sobe até ao Tabor com todos os que o acompanhavam, com Nossa Senhora, bem no píncaro do Tabor ele começa e se destacar.

A gente pode imaginar a cena; Ele falando, todos encantadíssimos; falando cada vez mais; o encantamento de todos crescendo, até tinham-se esquecido, talvez que era a hora da despedida, só pensavam em continuar a ouvi-lo. Em certo momento Ele se destaca um pouco do chão; depois, mais um pouco; mas eles cada vez mais enlevados, ainda olhem mais; em certo, momento, Ele sobe... em certo momento se dão conta, Ele está desaparecendo.

Mas o céu todo está feérico de sombras e de luzes, a natureza está dulcíssima, os pássaros cantam, as flores de abrem, as nuvens estão resplandecentes, o azul do Céu parece uma só safira imensa; um encantamento geral. Mas Ele sobe, sobe, sobe, sobe... Na Terra ficam só os homens, mas a glória d’Ele cobre tudo, tudo, tudo de maneira que quando já não se consegue mais vê-lo e ninguém o vê, os homens caem em si... Acabou... Acabou? ... Não. Uma outra glória começa: está ali Nossa Senhora, que reza recolhida, extasiada. Ela que levava em si continuamente o Santíssimo Sacramento, recolhida extasiada. Ele está no Céu, está no peito de Maria!

Olham para Ela e, de repente, começam a perceber que Ela era muito mais parecida com Ele do que eles imaginavam. E que começa a presença simbólica representativa d’Ele, ali mesmo, por meio d’Ela. Ela começa a atender, começa a contar ... Uma tal consolação para uma tal separação que quando Ela desce, a glória a cobre a Ela a todos estão cheios de reverência. A acompanham num encantamento sem fim que só terminará no quarto mistério glorioso.

Temos agora, o terceiro mistério glorioso. Nossa Senhora com eles reza no Cenáculo. A Igreja é pequenina, é novinha, é fraca, caminha indecisa entre tantos escolhos e perigos. De repente, o Espírito Santo desce e deixa baixar uma chama sobre a cabeça venerável da Rainha do Céu e da Terra. Essa chama se divida em doze e paira sobre os apóstolos. Todos transportados pelo Espírito Santo saem outros homens que começam a pregar, a ensinar. Os judeus não ousam fazer nada, nem falar nada, eles parecem ébrios do Espírito Santo de tal maneira eles estão entusiasmados. A glória resplandece, resplandece... Com a vinda do Espírito Santo a obra está completa. Nossa Senhora está na hora de ir para o Céu.

Chega a vez da Assunção d’Ela. Pode-se ou deve-se crer, piedosamente, que Nossa Senhora foi consultada: se Ela não quisesse morrer, Deus a dispensava da morte. Mas, sem embargo, Ela quis morrer. Em certo momento um sono ligeiríssimo se transformou em morte. Mas mais virginal do que nunca, conservando ainda todo o esplendor da juventude, dentro da respeitabilidade da ancianidade, numa soma das idades magnífica, Ela jazia ali como um lírio que se colheu e se colocou sobre um altar!

Assim estava Ela na sepultura. Os senhores conhecem o fato de que em certo momento Ela ressuscitou e também começou a subir aos Céus. Pode-se imaginar que os anjos entraram cantando e formaram uma verdadeira glorificação em torno d’Ela. No alto provavelmente do Tabor também. E que todos estavam ali em volta e a viram subir, subir e a mesma coisa se deu. Oh!... oh!... oh!...

Quando Ela deixou os homens, que outra consolação restava? Acabou tudo, eles perceberam que São Pedro estava entre eles. Quer dizer, eles sabiam, eles perceberam melhor, talvez, a grandeza de São Pedro estar entre eles, o papado estar entre eles. Nosso Senhor subira ao Céu, deixara Nossa Senhora; Nossa Senhora subira ao Céu e punha em evidência São Pedro, que Nosso Senhor  deixara na Terra já como papa.

A atenção deles se concentrou especialmente aí. Que consolação! Cristo não está; a Mãe de Cristo não está; o Vigário de Cristo está, até à consumação dos séculos. A glorificação ou uma especial glorificação do papado se deu neste momento.

Mas isto é na Terra. No Céu, os Anjos foram levando a alma e o corpo santíssimo de Nossa Senhora e Nossa Senhora penetrou no Céu. O Céu, a morada eterna da alegria, da glória, da felicidade insondável e sem alteração. Entretanto, essa felicidade aumentou quando Nossa Senhora entrou no Céu, Ela e Medianeira de todas as graças. Todo o mundo começou a pedir graças a Ela.

Ela sobe é colocada junto à Santíssima Trindade, aos pés do trono da Santíssima Trindade onde Ela é coroada pelas três pessoas da Santíssima Trindade. Coroada pelo Padre Eterno como sua Filha Diletíssima; coroada por Nosso Senhor Jesus Cristo como Sua Mãe Admirabilíssima; coroada pelo Espírito Santos como Sua Esposa Perfeitíssima

Quinto Mistério do Rosário a glória de Nossa Senhora no céu.

Dois píncaros altos: um cheio de suavidade, cheio de doçura, cheio de discreta resplandecência dos prazeres de alma íntimos, serenos e que eu seria quase tentado a dizer, para alma, confortáveis. Outro píncaro, o das grandes e régias glórias.

Entre os dois píncaros um vale profundo... é o vale da dor! No fundo desse vale, no que ele tem de mais cheio de trevas, de sangue e mais negro, se ergue uma montanha, geograficamente um monte, geograficamente pequeno, mas o mais alto monte da Terra: o Calvário. Nesse Calvário, uma Cruz. Aos pés da Cruz, Nossa Senhora de pé, heróica e que chora. Cravado nessa Cruz, com dores inenarráveis, com sofrimentos maiores do que todos os homens poderiam imaginar, o Homem-Deus que expira: “Eli, Eli, lamma sabacthani”! Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?

E depois consummatum est. Entrega o seu espírito, Nossa Senhora chora ainda mais. As santas mulheres ao pé da Cruz em convulsões de tristeza, se assim se pudesse dizer, de uma santa e ordenada tristeza que as partia ao meio. O Apóstolo virgem, São João Evangelista dado há pouco a Nossa Senhora como filho, sente aquela punhalada no fundo de sua alma, pensa em socorrer Nossa Senhora, mas quem ousa consolar Aquela que viu morrer um Filho como Aquele?

A dor, a dor, a dor ... nos mistérios dolorosos.

Quais são esses Mistérios Dolorosos sobre os quais os senhores pediram que eu falasse esta noite?

Agonia de Nosso Senhor Jesus Cristo no Horto as Oliveiras;

A flagelação dEle;

A coroação dEle, de espinhos;

Nosso Senhor carregando a cruz dEle ao Calvário;

Nosso Senhor Jesus Cristo é crucificado e morto.

São os cincos Mistérios, os cinco fatos, os cinco episódios da Paixão dEle que os senhores me pediram para tratar hoje à noite.

Não sei bem o que lhes agradará mais: se é tomar só um desses Mistérios, a Agonia, por exemplo, e fazer o nosso Santo do Dia sobre ele; ou tratar um pouco de cada? Me parecia preferível tomar um e depois, noutra ocasião, a gente trata de outros Mistérios. Tratar um o abordá-lo agora... e pegar logo o primeiro que, sob certo ponto de vistam contém todos os outros.

A Agonia, que se diz assim, em latim: oratio in horto Domini Nostri Jesu Christi. Oração no Horto. Qual Horto? O Horto das Oliveiras. A oração no Horto das Oliveiras de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas se chama Agonia, porque em grego a palavra agonia vem do grego, quer dizer luta. É a luta no Horto, de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que luta? Qual foi a luta que Nosso Senhor Jesus Cristo teve lá? O que é que aconteceu com Ele lá? Por que Ele suou Sangue?

A Igreja que tem todos os tatos e que sabe fazer as coisas com todas as perfeições possíveis, excogitáveis por nós homens nesta terra, a Igreja tem no primeiro dos dias decisivos da Semana Santa, na Quinta-feira Santa, ela comemora a ceia de Nosso Senhor no Cenáculo com a instituição da Sagrada Eucaristia. Os senhores conhecem o episódio, eu não me vou atardar nele. Judas que sai e entra na noite e vai vender a Nosso Senhor Jesus Cristo. Os Apóstolos que se portam com certa tibieza durante esse episódio e no momento em que Nosso Senhor Jesus Cristo faz maravilhas como de instituir e Sagrada Eucaristia, na ceia, e lavando os pés dos Apóstolos, quando Ele consagrou o Pão e distribui a todos, consagrou o Vinho a distribuiu a todos, Nosso Senhor Jesus Cristo sai com eles pela noite e saiu cantando. Saem todos cantando um hino Pascal e vão para o Horto das Oliveiras para rezar.

Esta festa da Igreja é uma festa, a da quinta-feira santa, mas é uma festa impregnada de tristeza. Os parâmetros são festivos, mas uma porção de pormenores indicam uma grande tristeza que começa a baixar sobre a Igreja. Logo depois, na Sexta-feira Santa a Igreja está comemorando a Paixão. Terminada a missa, as Sagradas Espécies são levadas para uma espécie de tabernáculo de madeira, que é colocado no alto do que se chama o Monumento quer dizer, um conjunto floral com escadarias etc. e é o chamado Sepulcro. Ele fica ali até no Sábado, conforme a liturgia, ele fica ali. Quer dizer, adora-se a Nosso Senhor realmente presente ali, mas colocado no tabernáculo que lembra a sepultura. As sombras da morte começam a cercá-lo. Por quê?

Porque é o retrato da alma d’Ele. Ele sai triste pelo que aconteceu; alegre porque a obra d’Ele se consumou na constituição da Igreja; mas triste porque Ele vê que o ambiente não foi o que Ele queria. Alegre ainda, porque Ele deu à sua Mãe a primeira comunhão e que entrando no peito sacratíssimo d’Ela nunca mais sairá nesta vida terrena.

Mas de outro lado, Ele sai triste e vai andando pela noite e Nossa Senhora separa-se d’Ele. Ela só O encontrará no caminho, já todo ensangüentado. Ela fica padecendo de lado, padecendo o que? Nós podemos imaginar que Ele vai sozinho para a realização da missão d’Ele. Ele chega no Horto de Oliveiras, os Apóstolos tinham de tudo isso uma noção mais ou menos, Ela chega no Horto das Oliveiras e diz aos Apóstolos que quer rezar e por isso fica só. E os Apóstolos se reúnem mais longe. Aí começa a Oratio in Horto e a Agonia, a luta.

Por quê? Por que a luta? Porque Ele sabia que Judas o estava vendendo; Ele sabia que os judeus e os esbirros dos romanos viriam para prendê-lo: Ele sabia que a Paixão d’Ele ia começar naquela hora. Ele conhecia todos os aspectos morais e depois todos os aspectos físicos da Paixão d’Ele. Ele media ponto por ponto todas as ingratidões, todas as maldades, todas as injúrias, todas as friezas, todas as perversidades que fariam contra Ele ao longo daquele caminho. Ele media as dores que sua Mãe teria com tudo isso. Ele tinha compaixão das santas mulheres que sofreriam tanto com isso. Ele sofria, porque também lhe foi dado ver todos os atos de virtude dos homens na Terra, mas também todos os pecados de todos os homens e como os homens abusariam de tudo quanto Ele ia fazer, a tal ponto que se apropria Ele de um gemido que está na Escritura: “Quae utilitas sanguine meo?” Que utilidade há no meu sangue? Diante da quantidade enorme de pessoas que pecam, de pessoas que ultrajem, que O calcam nos pés. Por que sofrer por esta gente? Quantos se perderão? E o seu olhar profético desvenda no Inferno toda esta gente ardendo por uma eternidade inteira porque não quis Amá-lo. Por quê? Por quê? Por quê?

A dor de tudo isto cresce tanto que também lhe é dado ver, paralelamente todo o Seu Corpo Sagrado que sofrerá. Ele se prevê desfigurado de todas as maneiras possíveis por aquela maldade que O agredirá. Ele vê tudo isto e sua Alma que vê tudo isso é levada a fazer a aceitação daquilo. Quer dizer: Sim, Eu conheço tudo, foi-me dado prever tudo e medir tudo, isto eu quero! Eu quero e Eu opto por isto: Farei! Eu que redimir o gênero humano. Apesar de tudo, quero redimi-lo e se é o preço dessa Redenção que Eu sofra tudo isto, Eu quero sofrer!

Mas Nosso Senhor Jesus Cristo era perfeitíssimo em tudo: na sua natureza humana também. Na sua natureza divina Ele não era só perfeito, Ele era a perfeição. Mas na sua natureza humana Ele era perfeitíssimo e como tal todos os instintos que o homem tem, n’Ele eram retíssimos, perfeitíssimos, fortíssimos! Porque Ele era fortíssimo. O instinto de conservação... era fortíssimo... E portanto, o medo começa a tomar conta d’Ele: o corpo tem pânico; a  alma que percebe que deve sofrer tem medo. Ele tinha uma alma humana e essa alma humana tem medo.

Então, à medida que isto tudo se vai desenrolando nos seus olhos, na visão profética mais grandiosa e mais sinistra que houve na História, Ele começa a se impressionar, e diz a Escritura: Coepit, tadere et pavere et metus esse. Ele começou a ter uma espécie de monotonia, de pavor e de ficar triste com o que ia acontecer. A maré montante dessa tristeza foi subindo dentro dele.

A sua deliberação era firme: Ele fará a vontade do Padre Eterno de qualquer forma. Nisso, ele nunca vacilou. Mas, como tudo isso? Como é? E de seus lábios santíssimos brotou como uma flor esta oração de uma doçura insondável: “Meu Pai – Ele chama de Meu Pai quem o convida para um tão terrível resgate – meu Pai, meu Pai, se for possível afaste-se de mim este cálice, quer dizer, esta dor; mas se não for possível, faça-se em mim a Tua vontade.

Quer dizer, é claro... se for possível aonde? Deus não é Onipotente? Em que mistérios de Deus radica-se isto? Ela que na sua natureza Divina era Deus, Ele sabia perfeitamente o porquê podia ser impossível. Mas a Sua alma humana não conhecia isto. Então, Ele pergunta; se for possível afaste-se de mim este cálice, uma faça-se a Tua vontade e não a Minha! Quer dizer, os senhores, estão vendo o horror diante do que vinha levou-O a esta súplica. Mas, como quem diz; está bem, se não for possível faça-se a Tua vontade, diz o seguinte: mesmo esta enormidade de sofrimento que eu não vejo como enfrentar, Eu enfrento se Tu o quiseres! E apareceu um anjo e lhe deu de beber um cálice que tinha algo que o consolou, quer dizer, lhe deu forças. Consolar é isto! Lhe deu forças de alma e de corpo tão extraordinárias que Ele que suara sangue diante do que vinha... Ela se recompôs inteiramente... e estava pronto para o sacrifício.

Os senhores notem a natureza dessa consolação. Um varão, o Homem-Deus, que sofreu tanto que os médicos explicam o suor de sangue inteiramente. Em certas tensões nervosas muito fortes, as capilaridades arrebentam e o sangue passa para a pele. Naturalmente, se a pessoa está revestida de uma túnica, impregnam a túnica. Revela, portanto, um estado de aflição extrema, mas extrema, ele já começou a verter sangue, o sangue redentor. Ele deu já o primeiro tributo para essa coisa tremenda que é a Redenção. Ele recebe uma consolação, levanta-se, vai de encontro... vai ao lugar aonde o vão prender, ele é preso, altaneiro, de pé! De tal maneira que quando lhe perguntam se ele é Jesus de Nazaré, ele diz: “Ego Sum” Sou Eu! Com tanta grandeza e tanta força que todos caem com o rosto no chão. Consolação dada por Deus.

Mas neste momento em que Ele enfrenta os romanos, ele carrega uma dor a mais. Três vezes Ele foi procurar os Apóstolos para ter uma consolação naquela dor extrema, os Apóstolos dormiam e não quiseram consolá-lo. Ele se queixou: vós não podeis estar acordados uma hora comigo, que sofro tanto? Algo de extremamente parecido com um “ensabugamento” [tibieza, falta de generosidade espiritual, n.d.c.] pavoroso... com um “tirolesismo” [desinteresse, egoísmo enorme, n.d.c.] tremendo! A indiferença, a tibieza, estavam ali dormindo naquela hora em que todos os santos da Igreja até ao fim do mundo vão contemplar, ou contemplarão, com uma veneração sem nome a hora da Agonia – eles dormiam. Não importa, estão com sono. Elas nem querem entender bem aquilo. Não querem participar daquela tristeza porque não agüentam. Nem sequer rezam para ter forças para agüentar aquela tristeza. Nada, nada, nada. Eles dormem de novo. Ele fica só, só, naquela luta. Naquela luta em que Ele luta só para dominar o que? O justíssimo terror que sobe dentro dEle, Ele domina o seu próprio terror.

Notem que nEle nada era desordenado, hein! Nada era imperfeito. Esse terror era perfeitíssimo.  Mas também a reação era perfeitíssima, Ele domina! E como um guerreiro que ganhou uma batalha, ela vai de encontro aos acontecimentos da vida. Vêm os romanos, vêm os judeus, vêm Judas, o asqueroso, do hálito fétido, do beijo traidor, do olhar hesitante, sujo...

Os senhores devem pedir que lhes mostrem durante a semana fotografias do quadro pintado por Ghiotto, de Judas osculando a Nosso Senhor.

Em tudo isso que vêm Ele está de pé como um guerreiro que venceu a primeira parte de sua batalha. A parte da batalha que, se a gente não vencer, não consegue vencer nenhuma das outras. Ele era Homem-Deus. Não se pode pôr a hipótese que Ele não ganhasse essa batalha. Mas se, por absurdo, Ele não ganhasse; se Ele tivesse dito: Eu não quero me entregar, não haveria Paixão, não haveria Redenção. A vida dEle estava fracassada. Dependia era dEle saber lutar contra si mesmo, dentro de sua perfeição... lutar contra si mesmo. O resto veio depois.

Meus caros, que comentário fazer a isto? Que comentário?

A primeira batalha que nós travamos em nossa vida, é a primeira até à morte, e até o momento em que nós expirarmos, em que nossa alma se separar de nosso corpo, nós estamos travando essa batalha. A Igreja nos ensina que essa batalha não pára jamais: é a batalha do homem contra si mesmo. Mas que diferença entre a batalha de Nosso Senhor Jesus Cristo e a nossa. Dentro dEle era uma batalha de perfeições. Dentro de nós, quanto pecado, quanta sujeira, quanta imperfeição, quanta raiz profunda de pecado, quanta abominação que se levanta em nós como um formigueiro constante querendo tomar conta de nossa alma. É preciso lutar! Lutar! Lutar! Lutar!...

Como é que eu ouso dizer que essa batalha é a primeira se ela se prolonga até ao último instante da vida? Ela é primeira, porque é prévia; ela está na raiz de todas as outras batalhas que vamos travar. É porque nós estamos batalhando contra nós é que nós estamos aqui. É porque estamos batalhando contra nós que vamos dormir santa e castamente esta noite, sob o olhar de Nossa Senhora e de nosso Anjo de Guarda.

A primeira batalha de tudo é a batalha de todo o momento em que cada um está se vencendo e está perseverando. Não só está perseverando, mas está melhorando, está se santificando. Esta é a primeira batalha!

Como é que se trava essa batalha?

Não basta eu dizer: esta é a primeira batalha... Como é que se trava esta batalha? Os senhores veem o ensinamento claro: é nunca fugir de olhar o sofrimento que vem. Quando um homem tem diante de si um sofrimento e procura não olhar esse sofrimento, esse homem está com meia batalha perdida. Porque se ele não vai olhá-lo agora, ele não vai enfrentá-lo amanhã.

Os senhores imaginem uma guerra moderna. O soldado sai da trincheira e vai de fuzil em punho atacar a trincheira do adversário. Imaginem um soldado que avança, mas sem coragem de olhar para o inimigo, porque ele vendo o inimigo perde a coragem. Isso é um soldado que daqui a pouco está fugindo...  está se jogando no chão para se fingir de morto... está fazendo qualquer porcaria. Ele só terá coragem de ir para a frente, se ele tiver coragem de olhar para a frente. É evidente! Eu não preciso demonstrar. Todos somos homens, todos sentimos isso em nós. É assim!

E por causa disso, em nossa vida, nós nunca devemos fechar os olhos para as provações que vêm. Quando elas vêm, por duras que sejam, vale a pena prevê-las inteiras: isto vai trazer tal resultado, tal resultado, tal resultado... eu vou sofrer com isto, com aquilo, com aquilo... minha Mãe Santíssima, Mãe de Deus e nossa, se isto é assim, eu quero sofrer! Para fazer a Vossa vontade. Quero sofrer, é isto!

Por exemplo, vós me dizeis: ó graça de Deus, no íntimo da alma, que eu devo cumprir os Dez Mandamentos e que, por exemplo, devo também ser casto. Eu meço a batalha que a castidade representa e não fecho os olhos; é isso mesmo! E digo: eu quero! Pode ser que alguém tenha medo. Pode ser que alguém tenha um susto diante do tamanho da batalha. Não feche os olhos, como Nosso Senhor não fechou. Ele viu tudo e quis tudo! Ele teve medo. Se a palavra medo cabe no caso dEle. Ele teve a angústia, Ele teve a agonia do que ia acontecer... É verdade... Mas o que é que Ele fez?

Duas coisas: ofereceu o que deveria aceitar. Pediu humildemente diminuir, no que fosse possível, este sofrimento que vêm, mas faça-se a Vossa vontade! Nisso, implicitamente, Ele pediu forças. E as forças vieram. Ele que se levanta como um gigante! Como um sol! E se é sumamente aflitivo a gente pensar em Nosso Senhor sozinho e gemendo... e pensar, coisa terrível, que nessa noite de sofrimento, eu estou falando dos Apóstolos – eu, Plinio – estou falando dos Apóstolos que não tiveram coragem de velar com Ele, mas eu não me devo esquecer que eu estive presente no pensamento dEle, porque desfilou diante dEle homem por homem.

Portanto, também cada um dos senhores. Ele teve presente: este, aquele, aquele, aquele... Todos os outros Ele teve presente e que os meus defeitos O fizeram sofrer... Coisa terrível! Não me devo esquecer disso... Foi o que se deu, Miserere mei Deus, secundum magnam misericordiam tuam... Meu Deus tende compaixão de mim pela vossa grande misericórdia. Essa compaixão eu peço tendo em vista o que eu fiz sofrer a Nosso Senhor naquela noite. Eu tornei a tristeza dele mais triste; eu tornei a Agonia dele mais difícil; eu pesei Nele, quanto eu quisera que tudo ajudasse a carregar aquele fardo, eu fui um peso para Ele. Ó Mãe de Misericórdia, obtende-me o perdão!

Eu devo tomar isso em consideração, devo ver de frente o meu sofrimento, e devo pedir perdão. Eu fiz sofrer a Ele. Eu mereço sofrer o que vou sofrer. Eu sou uma vítima culpada. Ele, a vítima inocente. E esse Inocente sofreu por mim. De tal maneira que se Ele tivesse que sofrer aquilo tudo só por um de nós, Ele sofreria. Eu devo tomar como se Ele tivesse sofrido só por Mim. Cada um dos senhores deve tomar como se tivesse sofrido só por si.

Mas... como Ele orou, como Ele resolveu recorrer ao Padre Eterno com um amor extraordinário, uma submissão extraordinária e aceitou o que deveria vir, como tudo isto se deu, foi-lhe dada força que o homem não tem na sua natureza.

Se os senhores se sentirem fracos diante da perspectiva da batalha, não se surpreendam, porque essa batalha é mais forte do que qualquer homem. Todo e qualquer homem. Não se excetua um homem dessa regra geral que eu estou enunciando. Todos os homens para essa batalha são fracos. E quando os senhores se sentirem fracos não se assustem. Peçam forças, porque Nossa Senhora quer isto; que nós reconheçamos que não somos nada, mas que pela intercessão dEla conseguiremos tudo. Tenhamos coragem e vamos para a frente!

Eu falei da batalha da castidade. É uma grande batalha! Outra batalha, batalha-chave para vencer em matéria da castidade, é a batalha do amor-próprio, do orgulho, da vaidade, da susceptibilidade. Um pelutrica cheio de amor-próprio; não se pode dizer isto, não se pode falar nada, fica sentido, fica com raiva, chora, fica deprimido... Estes não guardam a castidade! Os puros são humildes e os humildes são puros.

Quando os senhores veem alguém que não consegue guardar a castidade, aconselhem, digam a ele: meu caro, você é orgulhoso; se você se humilhasse, você seria puro. Comece por se sujeitar a humilhações; comece a se sujeitar a repreensões, repreensões públicas, repreensões merecidas, repreensões imerecidas, sujeite-se a tudo isso; fique humilde e você verá a impureza sair de dentro de você como uma gosma imunda da qual você não está conseguindo se tornar livre.

É uma outra batalha para enfrentar, terrível batalha, quão terrível, feita da vitória sobre mil mesquinharias. Mas quando se pede isto a Nossa Senhora e se obtém, acontece conosco, afinal, dia mais dia menos, acontece que nós nos levantamos como Nosso Senhor Jesus Cristo se levantou e vamos de encontro ao perigo. E se o perigo nos pergunta; és tu a quem eu procuro, nós dizemos: ego sum!

Os senhores dirão: Doutor Plinio, o inimigo não vai cair de face em terra por isto. Olhe os mártires: os mártires disseram “ego sum” e o mundo não caiu em terra diante deles; os imperadores romanos davam risada; a corte de palhaços e de bandidos que o cercavam riam também, a arena inteira se divertia e eles eram devorados pelas feras. Que história é essa de cair diante deles?

É claro que eles morreram sem ver o mundo cair com a face no chão diante deles, mas o Império Romano caiu com a face no chão diante da Cruz e disso não se esqueçam os senhores.

Quer dizer, séculos depois, veio. Nós podemos ter duras batalhas, pode acontecer o que acontecer, não discutamos. Uma coisa é positiva: que ao cabo de algum tempo, o inimigo cairá e quando cair, nosso suor, nosso sangue, nossas lágrimas terão concorrido para a vitória. Ego sum!

*   *   *

Com isto, meus caros, encerra-se naturalmente, e já muito tardiamente – 1:10h – encerra-se a meditação de um mistério do Rosário. É preciso dizer dos Mistérios dolorosos, aquele que pessoalmente a mim (compreendo que com os outros seja de uma maneira diferente) mais toca. Toda a vida mais tocou. Esta batalha que continha na sua raiz todas as outras e que era a batalha de quem vê o perigo de frente, decide e vai para a frente, geme, soluça, reza e vence! No nosso caso pelas orações de Maria sem a qual ninguém consegue nada.

Sirvam essas palavras para dar aos senhores o feitio do batalhador. Entendam bem: nenhum homem é verdadeiro batalhador se ele não se venceu a si próprio. O homem que não se venceu a si próprio, é um comediante. Ele pode ganhar uma guerra, mas ele é um homem que perdeu a batalha de sua vida. A batalha da vida de um homem é contra si próprio. O inimigo é o inimigo interno; é o pecado original que deixou a sua marca em nós; é o fruto dos nossos pecados; é o demônio que nos assedia de todos os modos e que quer nos arrastar. A isso tudo, nós devemos responder, redargüir com energia. A batalha de nossa vida é esta.

Eu contei, há algum tempo atrás aqui, talvez os senhores se lembrem, que se conta que aqueles frades do monte São Bernardo, na Suíça, que é um monte muito alto onde eles têm uma hospedaria para as pessoas que se extraviam no meio da neve e têm uns cães que vão procurar as pessoas, etc. Eles com uma vida austeríssima... quando algum frade morria lá, quando entrava em agonia, eles o punham deitado no chão e faziam uma roda e começavam a rezar em torno daquele, e de vez em quando um perguntava: “Irmão, perseveras?“ Quer dizer, a batalha é tal que no último instante ainda, o demônio pode tentar.

Portanto, os senhores não vão na seguinte onda: eu consegui vencer uma batalha, sinto estabilidade; não preciso rezar pela hora da minha morte.

Na Ave-Maria está: “rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte”. A graça da perseverança na hora da morte é uma graça que nós devemos pedir especialmente. Na hora da morte se desligam os contatos com a terra. Pela ciência de hoje, parece (eu tenho disso uma noção vaga, não posso garantir o que eu estou dizendo) mas parece que mesmo depois da pessoa ter dado o último suspiro, de fato a alma não se desligou do corpo. Em muitos casos, pelo menos, ela continua. O corpo está em estado como que cadavérico, mas a alma ainda está ali. Já não tem contato com ninguém fora. Não tem mais consolação de ninguém. Não sabe sequer se as orações da Igreja estão socorrendo naquele passo e ela luta sozinha, diante das portas da morte que custam para se abrir.

Quanto perigo! Quanta tentação! Quanto escrúpulo! Quanto desespero! Os senhores já imaginaram... eu nem quero contar aos senhores quanta coisa pode haver de maneira a não criar para os senhores problemas nesta hora... nem quero! Mas eu passarei por isso. Os senhores todos passarão.

Os srs. dirão: é... mas nós tão depois do senhor...! É verdade! Mas essa porta, esta porta, esta porta vai ser a mesma para todos.

E nessas condições, meus caros, rezemos com particular devoção esta parte final das Ave-Marias de hoje: “agora e na hora de nossa morte. Amem.”

Uma muito boa prática piedosa é a seguinte: nós fazermos orações pelos agonizantes. Agonia... especialmente por essas almas que estão sem socorro, que não sabem mais que alívio vão ter. Uma oração feita aqui, agora por nós, pode libertar uma alma que está sendo tentada por um demônio em Madagascar... ou no Polo Norte... ou no Polo Sul... ou na casa vizinha, aqui. Eu lá sei se do lado direito ou esquerdo, ou em frente, não tem ninguém agonizando esta hora! Essa oração pode fazer bem a ele. Pode até ser determinante da salvação dele.

Os senhores pensaram a glória de Deus e de Nossa Senhora se pela minha oração eu facilito essa salvação? Os senhores se lembram da palavra da Escritura que eu tenho repetido aos senhores: o irmão que salva seu irmão, salva a sua própria alma e brilhará no Céu como um sol por toda a eternidade!

Quando chegar a nossa vez de entrarmos em agonia, essas almas que se salvaram, quanto rezarão por nós! Não se esqueçam disso.

Mais ainda! Quando, pela ajuda de Nossa Senhora, entrarmos no Céu, elas presumivelmente vão constituir um cortejo de gente que vem ao nosso encontro. Nós diremos: “mas irmãos meus, eu não sei quem sois. - Também nós não sabíamos, mas tal decisão assim, na hora da morte que nos salvou, vossas orações o obtiveram”. Que alegria! Que alegria! Que Alegria!...

Está terminado o Santo do Dia...

Meus caros, agora três Ave-Marias pelos agonizantes. Pedindo ao mesmo tempo que deem a alguns dos srs.  –  não é necessário que seja a todos, seria o ideal se fosse a todos – o hábito de rezarem de vez em quando pelos agonizantes. E sobretudo quando quiserem uma graça espiritual muito grande, peçam aos agonizantes e peçam ao Anjo da guarda dos agonizantes que ajude os srs.

Vamos começar por rezar um Memorare (Lembrai-vos) pelos agonizantes que neste momento estiverem a pique de entregar a alma a Deus.

Memorare...


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