Plinio Corrêa de Oliveira

 

Os acontecimentos previstos em Fátima, misericórdia e confiança

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 31 de agosto de 1985, sábado

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

“Bagarre” é uma palavra francesa que indica uma situação de confusão, devida a uma disputa ou a uma rixa. Na linguagem corrente das TFPs e entidades co-irmãs e autônomas, ela é utilizada como metáfora para se referir ao castigo que espera a humanidade se esta não se converter, conforme advertiu Nossa Senhora em Fátima. Castigo este prévio à realização da gloriosa promessa da Mãe de Deus na Cova da Iria, em 1917: "Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará"!

A “Bagarre” vai ser, como Nossa Senhora prediz em Fátima, um castigo. Mas um castigo que nós sabemos que vai ser ao mesmo tempo uma regeneração. Quer dizer, Nossa Senhora na sua grande misericórdia, entretanto, suponho eu, fará o mesmo que fez Deus por ocasião do Dilúvio.

Os senhores sabem que São Pedro (I Pt. III, 19 a 21) diz isso: no Dilúvio se converteram, antes de morrer, muitas pessoas que se condenariam se não fosse ele. À medida que elas viram as águas subir, elas foram subindo para as montanhas. Mas chegou o momento em que a mais alta árvore não se via mais. Então, eles foram vendo o perigo chegar perto, chegar perto, chegar perto; e foram tendo medo e se arrependeram. Se arrependeram, não foi poupado o castigo, eles foram castigados. Mas com o castigo eles morreram arrependidos. E morrendo arrependidos foram para o céu. Não foram imediatamente para o céu, porque Nosso Senhor não tinha morrido ainda, e não tinha ressuscitado dos mortos; não tinha subido aos céus. Enquanto Nosso Senhor não subisse aos céus, nenhum homem podia ir para o céu. Ficava no limbo. Mas essas almas foram para o limpo, e quando Nosso Senhor depois de morto desceu ao limbo, encontrou os que tinham morrido no Dilúvio, por exemplo, e que eram os bons, estavam arrependidos. E quando ele subiu ao céu, Ele levou para a glória d’Ele também essas almas.

Então, então, nós devemos admitir que muitas almas, das que vão ser castigadas, vão ser perdoadas (depois que elas pedirem perdão), e com isso possam salvar-se. E por esta forma nós teremos então que muitos dos castigados se salvarão. Outros se perderão.

Bom, mas haverá depois os que continuam na terra. E os que continuam na terra têm que atravessar a “Bagarre” inteira. Pois se eles têm que continuar a viver depois da “Bagarre”, têm que atravessar a “Bagarre” inteira. Para estes, que significado tem a “Bagarre”? Para os que forem mortos e mandados para baixo, para o inferno, que significado tem a “Bagarre”? Para os que forem para o Céu ou para o Purgatório, que significado tem a “Bagarre”? Para os que ficarem na terra, que significado terá a “Bagarre”?

A “Bagarre” pune o quê? A “Bagarre” pune fundamentalmente o pecado de Revolução. Os outros pecados que a pessoa tenha cometido, muito facilmente serão corolários, serão variantes, serão consequências do pecado de Revolução. A punição é contra o pecado de Revolução!

O pecado de Revolução é um pecado imenso e que deforma a alma em todos seus aspectos. Resultado: o castigo tem que fazer sofrer o homem em todos os seus aspectos também. Porque onde pecado é imenso, o castigo tem que ser imenso. Onde todos os aspectos da alma foram deformados, todos os aspectos da alma têm que sofrer.

Os senhores me dirão: mas o corpo? Eu digo: também.

O homem, por causa do pecado de Revolução, procura gozar a vida imoderadamente no corpo: prazeres ilícitos, sexualidade debandada, comodidade excessiva, intemperança, o gosto de torcer com os nervos sem nenhuma razão de ser... é um vício, um verdadeiro vício. Então, se por exemplo, uma pessoa tem o vício de torcer, durante a “Bagarre” vai suportar o castigo dessa torcida, para poder chegar ao Reino de Maria. E para poder chegar ao Reino de Maria senhor de si, calmo, no melhor sentido da palavra, forte. Ele precisa absolutamente, para esses efeitos, pagar o pecado que cometeu.

Então, as formas de sofrimento na “Bagarre” quais vão ser? Sofrimentos de alma, sofrimentos de corpo. Então, o heroísmo vai ter que ser um heroísmo de alma e um heroísmo que afeta o corpo também.

Todas as formas de sofrimento de corpo poderão atingir um homem, e o homem tem que aguentar. Todas as formas de sofrimento de alma pode ser que atinjam um homem. O homem tem que enfrentar. Mas se ele tiver força para isso, compreender que ele merece; agradecer a Deus que lhe está mandando o castigo; entender que com isso está conquistando ao céu e, muito provavelmente também, ainda uma longa vida na terra. Se isto for assim, ele tem ânimo e tem esta forma de coragem: sabendo que vai sofrer, caminhar rumo ao sofrimento. Não tem conversa! É preciso que eu expie, que venha a mim, que venha sobre os meus ombros a Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Eu não vou ter medo. Para isto Deus me ajudará, a rogos de Maria. E, portanto, eu vou e faço!

Uma das formas da coragem na “Bagarre” vai ser evidentemente a coragem de batalhar. Evidentemente, a coragem militar. É uma linda forma de coragem. Mas não é necessariamente a mais gloriosa forma de coragem.

Eu conto aos senhores um fato da História da Idade Média, muito bonita. Do grande rei São Luiz, rei de França, primo-irmão do rei São Fernando de Castela.

Ele estava caminhando para a Terra Santa, para fazer a Cruzada, ele era cruzado, e foi preso pelos egípcios maometanos. E preso em condições muito desagradáveis, não humilhantes para ele, mas muito penosas. Bem, ele de tal maneira teve tranquilidade, coragem, piedade; manifestou na prisão uma tão bela alma, que os próprios reis maometanos vinham visitá-lo para lhe pedir conselhos. E quando tinham brigas entre si, o que acontecia com muita frequência, vinham falar com ele para ver se conseguiam evitar a guerra. De maneira tal que eles, depois, de tanta admiração por S. Luiz, concederam-lhe condições um pouco mais favoráveis para o seu resgate. E S. Luiz deixou o Egito todo embalsamado com a nomeada dele.

Ele foi um grande guerreiro, muito combativo. De avançar de lança em punho, de espada em punho contra o adversário e de meter em fuga os maometanos. Ele foi um grande guerreiro! Mas o que era maior: meter em fuga um adversário ou pôr um adversário de joelhos diante de si?                        

A “Bagarre” vai ser dura!  Não se compreende que Nossa Senhora tenha aparecido no Céu, tenha mandado uma mensagem a todos os homens com o conteúdo que os senhores conhecem e que o castigo que Ela enuncie seja um castigo de nada. Ela anuncia um grande pecado e depois Ela dá um castiguinho à toa, que Ela prenuncia com dezenas, mais de 50 anos, mais de meio século, muito mais de meio século depois de Ela anunciar ainda a “Bagarre” não veio... Quer dizer, as grandes tempestades levam tempo para se armar. Esta é uma tempestade que está levando muito tempo para armar. Quando ela chover, nós devemos dar graças a Deus se ela chover só água... e não for fogo!

Então, qual é o píncaro do heroísmo? É ter a alma pronta para todas as formas de heroísmo.

A Espanha querida, a Espanha gloriosa lutou 900 anos para pôr fora os mouros. E teve tempo e teve jeito de praticar todas as formas de heroísmo. Assim, pode ser que passe por outras... O que é que eu quero para os meus queridos castelhanos? É que estejam à altura disso.

Como é que se consegue isto?

Sobretudo - não é a única coisa, mas é a principal - sabendo ajoelhar e dizer: “Salve Regina, Mater Misericordiae...” Sem isso, nada funciona. Com a intercessão d’Ela tudo se arranja!

Está respondida à pergunta tão agradavelmente feita pelos meus filhos espanhóis.

Chega a vez da língua lusa!...

(Pergunta: Dr. Plinio, qual será o grau e o tipo de confiança que nós deveremos ter durante a “Bagarre”?)

A pergunta é muito explicável, porque depois que a gente mostra a uma pessoa que tem que escalar do lado de fora um prédio para fazer uma boa obra em cima, é natural que aquele a quem se mostra isso, pergunte onde está a escada.

É a pergunta ao mesmo tempo da coragem e do bom senso, duas virtudes que devem andar muito juntas. Porque bom senso sem coragem dá em covardia. E coragem sem bom senso dá em loucura.

Eu compreendo o espírito realizador, o espírito prático dos meus filhos portugueses. Eu falo que é preciso ser corajoso, corajoso, está bem. Como chegar até essa coragem?

A confiança, exatamente, é um elemento fundamental dessa coragem. Quem não tem muita confiança não consegue nada. Quem tem muita confiança pode conseguir muito, pode até conseguir tudo.

Qual é o papel da confiança nesse conjunto de coragem?

Eu falei há pouco, e até analisei a fisionomia deles quando eu falava de ter o espírito pronto para todas as formas de coragem. Eu olhei para ver como é que reagiam. Então, eu compreendo muito bem que venha a pergunta: “mas tanta coragem, tanto jeito de coragem... Dr. Plinio, o senhor tem consciência de que eu sou um enjolras? Se, de repente, soltasse aqui um leão, o senhor acha que eu iria puxar o leão pelo bigode? Ou que eu ia sair correndo, Dr. Plinio? Como é essa coragem que o senhor está imaginando aqui agora por cima de nós assim, hein? Num Sábado à noite, como é isso aí, Dr. Plinio?”

A minha resposta é muito simples: a confiança dá ao homem o quê? Para que o homem tenha coragem é preciso que ele tenha força. Quando é uma coragem de alma que é preciso ter, ele precisa de ter uma coragem de alma. Quando é uma coragem de corpo, ele precisa de ter uma coragem de alma e de corpo. Porque quando é atacada a alma, o corpo pode não sofrer nada. Por exemplo, um homem que tenha receio de receber uma caçoada, o corpo não sofre nada, a caçoada apenas atinge a alma. Mas quando um homem tem que enfrentar um perigo físico, a alma tem medo. Não é o corpo que tem medo, é a alma que tem medo. Tem medo pelo corpo, porque a alma e o corpo formam um só ser. Mas é a alma que sente o medo. E é a alma que tem de tomar a deliberação. É natural, é compreensível.

Agora, para uma pessoa se resolver a ter coragem é preciso que ela compreenda bem a razão que tem para fazer aquele ato arriscado; que ela compreenda bem o prêmio que ela terá para fazer aquele ato arriscado, o castigo que ela terá se não fizer esse ato arriscado. E tenha a certeza, ao menos uma grande probabilidade, que por meio daquele ato ela conseguirá o que quer.

Eu vou dar um exemplo. Vamos dizer... – Deus nos livre! – uma revolução comunista em Portugal. Não esteve tão longe, hein... a tal “revolução dos cravos” (em 1975) ainda... bem! Enfim, enfim, deixemos.

Vamos imaginar que os comunistas tomem conta da Torre de Belém. E que no alto da Torre de Belém esteja o estandarte vermelho com a foice e o martelo. Quatro, cinco, oito, dez “enjolras” de Lisboa, do Porto, estão olhando e percebem que em certo momento a guarda comunista está muito pequena, e que eles até se puseram a dormir... que se embriagaram com vodca, a bebida russa, como os srs. sabem. Então, resolvem entrar passo a passo na Torre de Belém, arrancar a bandeira comunista, levar embora e pendurar o estandarte da TFP: maneira de dar a entender a Portugal inteiro que há portugueses que querem resistir!

Mas isto envolve risco porque a ronda chega a qualquer hora e se pegar os “enjolras” lá dentro da Torre, imediatamente os pegam e matam. É um risco de vida. Mas os “enjoras” que arrisquem isto, precisam estar dispostos a arriscar a vida. Correr risco por quê? Fazer Portugal inteiro ter um frêmito de entusiasmo: ainda há católicos portugueses em Portugal! Isto é abalar o comunismo no próprio Portugal. Então a finalidade compensa.

De outro lado, se morrerem assim, morrem mártires. Porque morreram a serviço da Santa Igreja Católica! Então, se chegar a guarda e der uns tiros neles, eles morrem e vão direto para o Céu. Não passam pelo Purgatório.

Então, o homem fica atraído. Pensar: “eu quase não sei o que devo desejar mais: se os comunistas me peguem ou não me peguem. Se eu morrer, Portugal terá um mártir a mais. Se eu não morrer, o estandarte da TFP brilhará no alto da Torre de Belém! O que dá mais glória a Nossa Senhora: é o estandarte no alto da Torre ou um mártir a mais a tingir com seu sangue as terras de Dom Nuno Álvares Pereira? Fica-se até na dúvida...” Mas não se pode ficar fazendo filosofia dentro da Torre.

E eu estou imaginando que os “enjolras” estão perto do patamar supremo da Torre. Eles chegam lá e percebem, de repente, a porta que dá acesso ao último patamar supremo, a porta está trancada!... E é uma porta de carvalho da Idade Média; não há jeito de abrir.

De outro lado, eles sentem a graça na alma deles fazendo o que o vento faz com uma bandeira!... dizendo: Meu filho, meta o ombro! Meta o ombro ainda que acorde os russos que estão aqui, corra o risco de acordá-los! Meta o ombro e vá!

Ele terá coragem de fazer se ele perceber que a tarefa é possível. Mas se ele perceber que a tarefa é impossível, ele não vai fazer, porque aí a coragem passa a ser estupidez...! Aí não tem outra coisa a fazer senão rezar um “Credo”, rezar uma “Salve Rainha”... e depois pensar: vamos deixar um bilhete escrito aqui para esses animais quando acordarem, verem que coragem não nos faltou.

Mas aí um mais esperto diz: Não... porque nós vamos voltar! E se nós deixarmos o bilhete, eles vão reforçar a guarda. Eu quero que mais uma vez eles estejam dormindo... Não vamos deixar bilhete nenhum. Vamos passo ante passo sair... e não sossegar mais enquanto nós não tenhamos de fato levado isto a termo.

Então, uma noite, voltam com a machadinha e um serrote. O risco redobrou. O serrote e a machadinha acordam os dorminhocos e daí como será? Razão para serrar mais depressa!

Descem depois, levam a bandeira comunista embora e descem com toda pressa. Um tem automóvel, entram todos no automóvel e vão para casa, vão para a sede.

Foi preciso (para fazer tudo isto), foi preciso ter coragem para enfrentar o risco, foi preciso compreender bem a alta vantagem disto, compreender bem toda a possibilidade que havia nisso, embora compreendesse também toda a dificuldade... Confiar em Nossa Senhora! Nossa Senhora não vai permitir que nós tenhamos um acesso de pânico de repente. Nossa Senhora vai nos ajudar. De maneira que se um desses bêbados, miseráveis, de repente está no organismo dele se preparando, não sei, por exemplo, uma nevralgia medonha e ele vai acordar... Nossa Senhora vai adiar essa nevralgia. E ele vai só sentir quando nós tivermos fora. E aí ele vai perceber que a porta está aberta e que foi serrada. E ele vai perceber que chegou a vez dele ser castigado. Nossa Senhora fará acontecer maravilhas para se executar o plano maravilhoso que a graça dada por Ela nos dispensou.

Nisto tudo, foi preciso ter coragem de enfrentar o risco. Foi preciso compreender bem a alta vantagem disto; compreender bem toda a possibilidade que havia nisto, embora compreendesse também a dificuldade. Confiar em Nossa Senhora.

Nossa Senhora não vai permitir que nós tenhamos um acesso de pânico de repente. Nossa Senhora vai nos ajudar. De maneira que se um desses bêbados, miseráveis, de repente está no organismo dele se preparando, não sei, por exemplo, uma nevralgia medonha e ele vai acordar... Nossa Senhora vai adiar essa nevralgia. E ele vai só sentir quando nós tivermos fora. E aí ele vai perceber que a porta está aberta e que foi serrada. E ele vai perceber que chegou a vez dele ser castigado. Nossa Senhora fará acontecer maravilhas para se executar o plano maravilhoso que a graça dada por Ela nos dispensou.

Aqui está a descrição do papel da confiança. Se desde o início, quando se concebe o plano, a gente mede os perigos, a gente tem o risco de se assustar e não fazer nada. Se a gente não mede os perigos, corre o risco de fazer besteira.

Como é que a gente pode então agir? Medir o perigo, mas antes de executar o plano dizer: “Mater mea, Fiducia mea!” Minha Mãe, Minha Confiança! Eu sei que o meu temperamento pode me pregar surpresas... Eu sei que eu tenho acessos de fraqueza, mas Vós sois minha força, minha Mãe! Em Vós eu esperei e não serei confundido eternamente, pam!

Está respondido aos meus diletíssimos lusos!

(Pergunta: Qual deve ser a nossa pureza e castidade durante a luta na “Bagarre”?)

Das várias coragens que o homem precisa ter, uma das maiores, ou a maior, é a coragem de resolver ser puro. Eu acredito mais na coragem de um homem puro que nunca manuseou uma espada ou um revólver, do que na coragem de um homem impuro, mas que é um campeão de tiro. Porque é preciso ter uma varonilidade, uma seriedade, uma força de vontade para se ser puro, que é tal que eu não acredito, praticamente... Vamos dizer assim, eu acho que talvez haja pelo universo todo um ou outro homem que consiga ser puro por razões simplesmente culturais, filosóficas etc. Se é que há...

Mas eu acho que a pureza é um milagre frequente, mas é um milagre. E quando o homem resolve ser puro, ele resolve dar esse salto por cima do abismo, porque ele percebe em si que ele não tem força para ser puro e que a pureza lhe virá, exatamente, da graça de Nossa Senhora.

Aí ele terá a coragem de nunca consentir num mau olhar. Nunca consentir num mau pensamento; nunca consentir numa má amizade; nunca consentir em nada que de longe possa tisnar a sua pureza. Este homem assim tem a alma de um herói!

Eu creio que nas lutas da “Bagarre”, os castos é que as vencerão. Que estes são os verdadeiros heróis. E “O Estado de São Paulo” e aquele Pedriali não sabiam tudo quanto diziam quando deram àquele livro o título “Guerreiros da Virgem”. Só é plenamente guerreiro quem é guerreiro da Virgem. Ou seja, o herói puro e casto que é herói por amor da Virgem Puríssima. Virgem antes, durante e depois do parto.

Eu só imagino as falanges dos meus filhos da TFP ganhando as grandes batalhas da “Bagarre”, eu só os imagino assim se os anjos puderem olhar para eles e dizer: “Chegou a hora dos homens puros entrarem em ação.”

Em geral, eu estou considerando que Nossa Senhora fala em guerras nas revelações d’Ela (em Fátima). Portanto, eu estou considerando a possibilidade de guerras, na “Bagarre”, nas quais tomem parte, do lado bom, os meus queridos “enjolras”. Habitualmente quem vai para a guerra se confessa. E se confessa porque precisa de estar com a alma em condições de comparecer diante do juízo de Deus. É uma coisa muito santa e muito direita, muito boa. Mas, na realidade, há guerras tão santas que ainda que o homem esteja em estado de graça e não precise de se confessar, vale à pena ele ir se confessar, para alma receber os últimos toques da pureza antes de ir combater nas grandes batalhas dos puros contra os impuros, dos castos contra os conspurcados. Essas batalhas são tais que a gente compreende que o homem antes de começar a batalha queira se confessar, para que o último toque de pureza, o último toque de integridade em sua alma na união com Deus e Nossa Senhora seja dado antes de ele entrar na luta. 

Eu acho que para que venha à terra o Reino de Nossa Senhora... Ela define esse reino: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”. Ela é Rainha, onde Ela triunfou Ela está reinando. Mas Ela faz referência ao Coração Imaculado d’Ela, sem mancha. Ela é Imaculada porque Ela é concebida sem pecado original, e porque Ela era Virgem etc., etc. O verdadeiro seria que, num sentido compatível com nossa [condição], que nós sejamos os soldados da Imaculada. E, portanto, o quanto caiba em nós, sejamos os guerreiros imaculados do estandarte imaculado ao serviço da Virgem Imaculada.

Eu tenho a certeza que só de dizer isto dá aos senhores uma outra idéia da “Bagarre”. Pois se o mundo deve ser punido em grande parte pela sua impureza, é ou não é verdade que são os puros que devem vencer?

Então, meu filho, meu conterrâneo, está descrito tudo. E julgo ter respondido à sua pergunta.

(Pergunta: Sr. Dr. Plinio, no Santo do dia de ontem à noite o senhor disse que a essência dos desvios de Yalta está no horror ao sofrimento. Como nós, durante a “Bagarre”, devemos amar o sofrimento e sermos os guerreiros sofredores da Virgem?)

Antes de vir para cá, eu fiz meia hora de repouso, porque entre três reuniões - eu tive uma Reunião de Recortes à tarde, tive uma reunião em casa, enquanto jantava e agora tenho uma terceira reunião - era legítimo que a gente queira descansar um pouco... Eu estava lendo uma revista francesa de leitura ligeira, com fatos diversos, chamada “Point de Vue”. Eu estava olhando: todas as pessoas que se fazem fotografar nessa revista, fazem-se fotografar com o ar de pessoas felizes. Todas, todo o mundo. E me lembrei que... eu tenho visto inúmeras fotografias de norte-americanos, claro, em todas as situações e em todas as circunstâncias, e que talvez não haja povo no mundo que tenha mais desejo de parecer feliz do que o povo norte-americano. Eles sempre se fotografam, as senhoras riiindo, os homens ha-ha! E todas as atitudes com que eles querem passar para a fotografia, [são das] que fazem a gente passar para a História! Sempre que se tira uma fotografia, fica pelo menos para a história da família. Eles querem dar a impressão de que foram felizes. Isto levanta uma questão: este povo, o mais rico da terra, é um povo feliz?

Os outros povos da terra acreditam que sim, porque como são menos ricos (e eles têm a ilusão de que o dinheiro dá a felicidade), eles então têm a ilusão de que o povo mais feliz do mundo é o povo norte-americano.

Na realidade, na realidade, eu tive a ocasião de folhear e até vou ver se consigo (porque emprestei para membros do Grupo que se encantaram tanto que não sei se vai ser muito fácil conseguir...). Me deram fotografias, o Sr. Jean Goyard, da TFP francesa me deu fotografias de uma cidade que se chama Rottenburg (ou Rotemburgo). Uma cidade medieval tal e qual. Encantadora.

Nesta cidade nós não temos nada do que faz a alegria moderna de viver. Não há anúncios luminosos, não há lojas com vitrines espetaculares, não há metro, a gente não vê fios de telefone. As casas modestas, porque não era uma grande cidade. Era quase uma aldeia. Mas tão bem arranjadinhas, tão sérias, tão bonitinhas, tão atraentes que a gente se perguntaria: Rotternburg que população tem? Se tiver (eu estou calculando mais ou menos) uns dois mil habitantes, tem muito!

São Paulo é a terceira cidade em população do mundo. Tem 13 milhões de habitantes.

Onde havia mais felicidade: na pequena Rottenburg ou na imensa São Paulo? A felicidade no que é que está?

Tem lá uma fotografia de um guarda noturno da cidade de Rotternburg, mas vestido à là medieval. Porque os guardas noturnos ainda fazem guarda durante a noite vestidos à là medieval. É um homem sério, mas tranquilo. Vestido todo de preto com um chapéu preto (com certeza para não chamar a atenção durante a noite a algum terrível ladrão de galinhas que haja em Rottenburg, e ele poder pegar, alguma coisa desse gênero). Uma seriedade, uma dignidade daquele homem, que se diria que é de um magistrado dos tempos contemporâneos. Bem, mas esse homem, vê-se que vive continuando uma tradição que vem do tempo em que havia ainda fé, em que havia confiança no Céu.

E quando eu vi esse guarda noturno, eu me lembrei de uma cançãozinha alemã que eu aprendi em pequeno. E que era assim, de hora em hora, o guarda noturno de um quarteirão percorria, e quando ele percorria o lugar, ele ia cantando, para os homens das casas saberem que o guarda estava perto, e então poderiam chamá-lo para alguma necessidade. Eu vi uma canção que um deles tocava, quando o sino da paroquiazinha batia paam, paam, etc.... Ele cantava:

Hort, herren

Unlasstauchschlagen

Unser Uhr hat zwolfgeschlagen

ZwolfAposteln in der Welt

O Mensch! WieistdeinHergbestellt!

É uma beleza: “Senhores, ouvi, e permiti que eu vos diga: o Nosso relógio (um só na cidade, pequenininho) bateu 12 horas (meia-noite). 12 Apóstolos para o mundo inteiro. Oh, homem, como Deus teve desvelo pelo teu coração!”

A ideia da proteção de Deus, dos Apóstolos... A ideia de que a torre da Igreja dá as badaladas e o Santíssimo está ali dentro e que a paz de Deus reina no Reino de Deus. Esta é a felicidade. Mas esta felicidade o homem moderno não a tem. Quando ele é pobre, ele diz que ele é infeliz, porque ele é pobre. Quando ele é rico, ele acha, no fundo, que ele ficou infeliz porque ele é rico. Mas ele não tem essa felicidade. Por quê? Porque essa felicidade não existe no coração do homem que não sabe sofrer.

Por paradoxal que seja, a verdade é que os homens que sabem sofrer têm a paz na alma. E quando o homem tem a paz na alma, aí é que ele tem felicidade. E o homem que é sincero consigo, ele sente uma necessidade – se ele não sofre – de sofrer por alguma coisa, para limpar a sua própria alma da imundície de sua psique incapaz de sofrer. A falta de sofrimento torna o homem sujo de alma. E assim como nós quando passamos um dia, dois ou cinco sem tomar banho, já não aguentamos e ficamos loucos, assim também as nossas almas pedem dor para poder ter limpeza.

Os senhores sentirão isso durante a “Bagarre”: os sofrimentos virão. Mas os senhores vão sentir, ao mesmo tempo, na dor dos sofrimentos, os senhores vão sentir uma pacificação, uma ordenação. É que os senhores não vão mais sofrer o cerco de um mundo que lhes mente que não sofre e que encontra na falta de sofrimento a felicidade. É mentira! Eles sofrem mais do que nós que levamos uma vida sofrida, eles sofrem mais.

E eu vou lhes dar uma prova disso: nós estamos no fim de um Santo do Dia, de uma reunião de Sábado. Nós estamos no fim, a reunião está acabando... Durante mais ou menos... Nossa Senhora, 1:05 já! hein?... Bem, durante esse tempo, os senhores cantaram, nós batemos palmas; os meus espanhóis tocaram violão, bateram com as mãos etc. Nós demos risada, nós estávamos satisfeitos. Em volta, está cheio de prédios de apartamento. De gente que está, ou conversando ou ouvindo televisão ou dormindo. A todos eles, de um modo ou de outro, a nossa barulheira chegou. Na sua grande maioria, infelizmente é gente que não vive segundo Deus. Eu tenho certeza de que até os que estão conversando ou se distraindo pensaram isso: “Como é? Eles levam uma vida tão sacrificada. Olha como eles estão alegres... Essa alegria nós não temos!”.

E é uma coisa natural, porque é a alegria do homem casto, a alegria da alma virginal, é a alegria da alma que pelo menos se arrependeu dos seus pecados e vive em castidade; é a alegria do homem que sofre! A castidade é sofrida! E o mérito dela está nisso. Se assim vai ser com o sofrimento desde já, como vai ser com o sofrimento na “Bagarre”? Nós vamos passar dias lutando; vamos passar dias na incerteza; dias em uma certa angústia, atenuada apenas pelos esplendores da confiança. Mas, quando chegar a noite, nós nos deitamos com a ideia: “Na folhinha da “Bagarre”, uma folha foi embora. O Reino de Maria vai chegando mais perto! O que Nossa Senhora quer de mim? Que eu a contemple no Céu, desde já? Ou Ela quer que eu contemple a vitória d’Ela na Terra? Não sei. Desde que os meus olhos possam deitar-se nos d’Ela, o que mais eu posso querer? E se a cruz é a condição, bem-aventurada a cruz!”

Ouvi contar (parece que é uma piedosa coisa que se conta) que Nosso Senhor Jesus Cristo, quando lhe entregaram a Cruz para ele a carregar, Ele já estava com o corpo lanhado de dor. Tinha passado pela flagelação, pela coroação de espinhos etc. Estava, portanto, com todas as suas resistências muito depauperadas. Bem, deram a Cruz para Ele começar a carregar naquela ocasião e levá-la ao alto do Monte Calvário para morrer lá. Quando a Cruz veio lhe ter nos braços, Ele A osculou, verteu lágrimas de emoção e mais uma vez A osculou! Era a Cruz pela qual Ele pagaria os pecados do gênero humano. Ele abria as portas do Céu para nós. A sua missão de Redentor se realizaria. Ele quis esse sofrimento, Ele amou.

É por isso que em todas as nossas sedes, eu quero ter uma Cruz como os senhores a veem no São Bento, as veem no Praesto Sum, a veem no Eremo de Elias, veem em Jasna Gora etc. É a Cruz preta, de madeira seca e nua. Mais nada! Porque às vezes o sofrimento nos vem assim... Nós temos horas tremendas, em que nós temos a impressão que estamos isolados, e que nem Deus está olhando para nós. Não sentimos a proteção de Deus. Parece que estamos completamente sem ajuda. É esta hora que nós devemos oscular o nosso isolamento. Oscular o nosso abandono e dizer:

“Eu amo a Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. E amo por causa disso esta cruz que é esta crucifixão para mim, que é a dor com aparência do abandono. Um dia eu compreenderei, na luz dEle eu verei a luz!


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