Plinio Corrêa de Oliveira

 

Idade Média: bonito rascunho do que será

o Reino de Maria

 

 

 

 

17 de novembro de 1985

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

Encerramento do Simpósio na sede Amparo de Nossa Senhora, 17 de novembro de 1985, Domingo

 

Meus caros jovens! Eu ouvi com muito gosto, com muito encanto, a proclamação aqui feita, na qual se mesclava com a pronúncia brasileira a pronúncia portuguesa... com tanta harmonia, com tanto agrado para os meus ouvidos.

Eu fiquei informado, pelo que me foi dito aqui, do que foram estes dias passados na fazenda do “Morro Alto de Nossa Senhora”, e os senhores me pedem que eu faça uma descrição de como será o Reino de Maria.

Como é que nós podemos descrever o futuro? Descrever o passado, vá lá... A gente vai aos documentos antigos e estuda como foi e descreve. Descrever o presente, dir-se-ia que é mais fácil, porque está debaixo dos olhos. Mas, às vezes, é mais difícil.  Porque o passado, uma vez que os homens morrem e saem da cena histórica, todas as coisas escondidas aparecem: os biombos saem, as máscaras caem... e a gente fica vendo muita coisa como era e não aparecia no tempo em que a gente estava vivo.

Mas, descrever o futuro, quem o poderá descrever? Entretanto, eu acho que vossa pergunta é muito natural. Uma vez que nós vos convidamos para uma longa navegação, [na qual] vamos encontrar, do outro lado desse oceano de tempo, vamos encontrar do outro lado o Reino de Maria, é natural que quem vá começar a navegação, pergunte: mas, afinal como vai ser a terra que vou encontrar do lado de lá?

A essa pergunta se dá uma resposta, ao mesmo tempo muito clara e ao mesmo tempo muito obscura. E há algum mérito em que a resposta seja clara, como há outro mérito em que ela seja obscura.

Os senhores imaginem os navegantes que vieram com Colombo para descobrir a América ou então os navegantes que vieram ter aqui com Pedro Alvares Cabral para descobrir o Brasil. Segundo consta oficialmente na História, eles não sabiam que iam descobrir uma terra nova aqui. Os portugueses de Pedro Alvares Cabral encontraram o Brasil – diz a História – por acaso. Não se sabia o que é que eles vinham encontrar aqui. Encontraram, entre outras coisas, um português... que ninguém sabe como é que veio parar no Brasil: o famoso João Ramalho. Fora disso, eles não encontraram nada.

Eles não sabiam para onde vinham e tinham um mérito especial em não saber para onde vinham, porque partir para uma ventura, partir para aquilo que ninguém conhece; encontrar o que ninguém imagina, tem ou não tem uma sedução especial?

Os senhores imaginem alguém que toma um avião aqui, no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (é o aeroporto internacional de São Paulo), e, antes de embarcar, folheia um desses prospectos de viagem que as companhias de aviação distribuem. Conta toda a viagem como vai ser até os últimos pormenores: hotel em que se hospedará; monumentos dos lugares em que chega; lugares de diversão; panoramas etc. O sujeito mete-o no bolso e está com a viagem no bolso. Essa viagem é heroica? Não! Essa viagem é turística. O nhonhô embarcou com todas as garantias de chegar de volta. Ele embarcou, sabendo bem no que gastava o dinheiro dele. Se não gastasse naquilo, ele ficaria indignado. Ele foi seguro. Isso não tem heroísmo!

A gente não saber para onde vai mas dar um pulo dentro do desconhecido... é outra coisa! É impossível que os senhores não achem bela a condição de um paraquedista que se joga do alto. Sobe, sobe e sobe... e joga-se no alto! O vazio é sempre um desconhecido. A gente sabe como pula, não sabe como chega... É belo, tem poesia, tem encanto!

De outro lado, os senhores imaginem uma alma com um gosto superior. Ela pergunta para portugueses que já estiveram no Brasil: o que tem lá?

E os portugueses descrevem a vegetação exuberante, os panoramas imensos, a bicharada das selvas, as onças, as pumas, as serpentes, as araras, os papagaios... Descrevem os índios, descrevem tudo... E esses que estão do lado de lá ficam atraídos para ver aquilo que alguns já conhecem. Eles também resolvem embarcar. É uma outra forma bonita; correm um certo risco, vão encontrar muita coisa que não imaginam, junto com coisas que viram e que os entusiasmaram, os encantaram. Então, eles querem encontrar aquilo; é bonito, porque mostra o gosto artístico, mostra a inteligência.

No primeiro modo de viajar no desconhecido, não mostra inteligência, mostra coragem. Coragem é mais belo do que inteligência. Eu prefiro um herói burro a um poltrão inteligente. Mas - é claro! - que se puder ser um herói inteligente, é melhor.

Então, se compreende a forma especial de beleza que há em navegar rumo ao que é semidesconhecido e semiconhecido, que é mais ou menos uma coisa assim como era com os portugueses que na segunda, na terceira ou na quarta leva vieram ter no Brasil.

Uma arara, que coisa preciosa! Devem ter descrito a eles as araras como sendo joias ambulantes; devem ter falado para eles dos nossos beija-flores como sendo estrelas cintilantes, que vão de flor em flor, colhendo um mel magnífico; devem ter falado a respeito de nossas borboletas azuis e prateadas como tendo as asas mais belas do que os mantos dos mais suntuosos reis da Europa. Alguns corajosos quiseram ver. E vindo, gostaram tanto que ficaram sempre. Assim foi que o Brasil começou a se povoar. Era gente que tinha valor.

Agora, os senhores vão fazer a viagem para o Reino de Maria - aliás, essa viagem, o mundo inteiro vai fazer. Porque Maria, quando Ela quiser, vem e reina! Os homens não podem opor a isso nenhuma resistência. Ela já é Rainha no Céu. É baixar e dar as ordens. Está acabado!

No que é que se pode dizer que os senhores vão viajar até o Reino de Maria?

Os senhores vão remar para que a nossa nau – para que o mundo de hoje – chegue um pouco mais perto, um pouco mais cedo. Mas Ela é que vem a nós! Portanto, os senhores vão fazer força na linha de uma coisa que vai acontecer. Mas que acontece mais belamente, mais lindamente, se nós fizermos força também.

Imaginem que a rainha vai à casa de um dos senhores. Uma rainha, a rainha da Inglaterra, chega a São Paulo e avisa: Eu vou à rua tal, número tanto, quero visitar aquela família.

Pasmo, surpresa! Mas como?! Por quê? A que horas?

De longe, de longe, no dia da vinda dela, na véspera já, ninguém dorme na casa. Está limpando a casa, está florindo a casa, está arranjado a casa, está fazendo tudo para dar movimento à casa. E na hora dela chegar, ninguém fica sentado dentro do salão para esperar. Todo o mundo está do lado de fora, na rua, esperando ela chegar. Assim que apareça, de longe, o automóvel dela, já estão fazendo acenos de respeito.

Assim, nós queremos saudar, nós queremos esperar e ir de encontro da Nossa Rainha que vem! E se aparece, por infelicidade, algum cachorro bravo no caminho que pode desdourar a chegada da Rainha, a gente tem um porrete na mão e mete... porque não pode tolerar que [algo] aconteça que não seja respeitoso e carinhoso em relação à Rainha que nos vem visitar.

Os senhores estão sendo convidados para dar esse passo rumo ao futuro: irmos de encontro à Rainha que vem, com flores numa das mãos - e as flores são as contas do Rosário - e com um “porrete” na outra mão. E o “porrete” é a argumentação da TFP, que tem uma resposta para tudo e quando responde o adversário se cala.

Para esse efeito, os senhores estão sendo convidados: vão de encontro à Rainha.

A Rainha vem! Mas que coisa bonita ir de encontro à Rainha! Que coisa heroica, se é noite, se todo o mundo dorme, se alguns pecam, se tantos pecam... Se ninguém quer esperar a Rainha, mas só uma família está de luz acesa e festa pronta, e espera a Rainha! Que coisa magnífica, nesse mundo de pecado, em que tudo é noite; em que ninguém quer a Rainha que vem; ninguém está desejando o Reino de Maria.  E nós, a nossa TFP é a casa festiva, a casa iluminada, de dentro da qual se prepara a gala para a vinda da Rainha. E [já estamos] do lado de fora de “porrete” na mão e rezando a Nossa Senhora, cantando louvores a Ela que vem de longe, vem do alto das nuvens e vem baixando. Ó Rainha, vinde, tomai conta do vosso Reino! Que beleza! 

Como será o reino dessa Rainha? Eu compreendo que os senhores perguntem. Como é que eu posso responder?

Eu encontro um modo de dar uma resposta ao mesmo tempo breve (os senhores devem estar desejosos de descansar, de chegar às suas casas para repousar...) mas que diga alguma coisa.

Então, eu vou dizer duas coisas consecutivas que não tem nada que ver uma com a outra.

Quando eu era pequeno, me intrigava uma coisa muito banal. No jardim de casa, havia o jardim propriamente dito e, depois, o quintal onde havia horta, galinheiro e outras coisas assim. E o jardim era separado do quintal por uma grade de madeira. E para que quem estivesse no jardim não visse o quintal - porque jardim é ornado, dá flores; o quintal é prosaico, dá legumes, dá galinhas... nele se seca a roupa molhada etc. Então, para tapar [a vista], havia uma grade bem alta com umas duas ou três trepadeiras com rosinhas bem pequenininhas. Quando chegava a época do ano em que as rosas florescem ficava muito bonito: era uma parede de rosas.

Depois, no jardim, propriamente, havia flores. E onde há flores, não pode faltar a rainha das flores que é a rosa. Havia rosas também.

Perguntava-me, às vezes, por que Deus fez umas rosinhas pequenas – tão pequenininhas – e, depois, outras grandes. Algumas eram rosas enormes, nobres, bonitas, com umas pétalas que se desenvolviam, com um perfume penetrante, com um colorido definido. Essas rosinhas lá do fundo eram todas cor-de-rosinha, com uma cor que ficava entre o vermelho e o branco; e não me lembro de ter notado nela cheiro nenhum...

Pensava: estas rosinhas aqui, para que isso aqui? Não podia Deus ter feito umas trepadeiras com umas rosas enormes? Maiores do que estas, bonitas. Essas rosinhas assim, não valem nada! Depois, eu pensava: Deus sabe o que faz! Um dia eu descobrirei a utilidade destas rosinhas.

Cheguei à idade em que estou e é a primeira vez, em minha vida, que eu descubro que, para mim, essas rosinhas têm uma utilidade... Eu vou dizer daqui a pouco qual é. Agora, vamos parar e ver um pouquinho como adivinhar como será o Reino de Maria.

O que quer dizer o Reino de Maria? A coisa mais simples e mais elevada que pode haver na terra.

Os senhores, com certeza, além de conhecer as suas próprias casas, conhecem casas de outras famílias, pois já estiveram dentro e viram. Devem ter notado que cada casa está para a outra como se fosse um pequeno país. Tudo de uma casa para outra é diferente. Embora, se trate de casas construídas com a mesma planta - casas em série - quando se entra numa casa, os móveis são de um jeito, as flores estão arranjadas de um certo jeito, os quadros têm um certo jeito, e até o cheiro que vem da cozinha tem um certo cheiro.

A gente passa para a casa da gente, é tudo diferente. Por que é? É porque as donas das casas são diferentes. A dona da casa é a rainha da casa. E cada uma, na sua casa, faz a própria vontade. O marido passa o dia fora, trabalhando. Quem é que arranja a casa? É a dona! Ela arranja a casa de acordo com o jeito dela. Algumas senhoras gostam muito de harmonia: então as cores são delicadas, leves, afáveis. Outras senhoras gostam muito de vivacidade: e as coisas são assim um pouco mais agitadas. Depende muito de cada jeito... a senhora dá a fisionomia à casa. A rainha dá a fisionomia ao reino. E assim como uma senhora dá a fisionomia à casa, assim também a mentalidade da rainha é a mentalidade do reino.

Houve algum reino de Maria na História? Houve um esboço, houve um rascunho - mas que lindo rascunho! - houve um rascunho do Reino de Maria na Terra, esse rascunho chamou-se Idade Média!

Os senhores talvez tenham ouvido falar mal da Idade Média nas suas aulas de História. Há professores que atacam a Idade Média. Estes são os carroções atrasados e de roda quebrada da História. Os grandes historiadores de nossos dias absolutamente não estão de acordo com isso. Todos estão de acordo em reconhecer que a Idade Média foi uma era fecunda, de grande progresso etc. Teve defeitos, porque onde está o homem está o defeito. Mas as regras fundamentais da Idade Média, os princípios fundamentais, estes princípios foram admiráveis. E é deles que resultou que a Idade Média fosse o que ela foi.

Quais foram esses princípios? O homem medieval (não cada homem, mas todos tomados num bloco) os homens medievais eram católicos, apostólicos, romanos. E por causa disso, eles tinham o intuito sério de servir a Nosso Senhor Jesus Cristo e a Nossa Senhora, e de obedecer à lei de Cristo. E porque eles queriam obedecer a lei de Cristo, floresceu a mais bela página da História das civilizações no mundo. Esta página foi a Idade Média.

Como se explica isso?

Santo Agostinho tem um trecho famoso (que, aliás, vai servir para nosso cartão de boas festas) em que ele dá a explicação disso.

Santo Agostinho foi muito anterior à Idade Média. Santo Agostinho foi do tempo que, a bem dizer, não tinha ainda havido uma civilização cristã, em que todos fossem católicos. Ele escreveu [vide no final, o texto original e a citação de Santo Agostinho]:

Imaginai um reino onde o rei fosse católico, sério, cumprisse os mandamentos, e todo o povo fosse católico sério, cumprisse os Mandamentos; onde os generais fossem verdadeiros católicos, e todo o exército fosse verdadeiramente católico também; os professores e os alunos; os pais e os filhos; os esposos e as esposas... todo o mundo fosse verdadeiramente católico. Se nós imaginarmos isso, nós teremos uma ordem em tudo que é uma verdadeira maravilha. Nós temos paz.

O que é que quer dizer paz?

Paz há nas sepulturas. Durante o dia, quando entram os vivos no cemitério, é preciso haver uma fiscalização. À noite não é preciso, há paz no cemitério. Porque todo o mundo está trancado e dormindo o sono eterno. Há paz. Então, paz é isso? Não, aquilo é a tranquilidade da morte. Não é a tranquilidade da vida. A tranquilidade da desordem: os corpos estão apodrecendo dentro da sepultura, os vermes estão comendo, os corpos estão sendo reduzidos a poeira. Coisa trágica!

O que é a paz? É a tranquilidade da ordem! Quando há ordem, e essa ordem dá origem à tranquilidade, isto se chama paz. Onde todos são católicos verdadeiros, há paz. E se são católicos e não há paz, é porque não obedecem a lei de Cristo. Se obedecessem a lei de Cristo, haveria paz.

Alguém dirá: mas eu vejo casais, onde o marido e mulher brigam como cão com gato, e ambos são católicos. Está bem. Mas de que marca e de que qualidade? Católicos marca barbante, que não obedecem... Isso não vale nada! Imaginem um casal, em que o marido e a mulher são verdadeiramente católicos, não se fala de divórcio. Não se fala de adultério. Não se fala de briga. Há ordem! E esta ordem gera algo chamada paz!

Que paz? Os Papas têm definido: a paz de Cristo no Reino de Cristo! No Reino de Cristo obedeciam aos Mandamentos, obedeciam ao Evangelho. Cristo era Rei! Porque aonde a vontade d´Ele se faz, Ele é Rei! Gerava a ordem de Cristo! Quer dizer, uma ordem onde tudo se faz como Cristo quer. Isto gera a paz de Cristo.

Então, dizia Santo Agostinho: imaginai um país assim, e ele dará os melhores e mais belos frutos.

Isto foi o que se deu na Idade Média. A Idade Média teve que lutar: a Europa foi atacada no sul pelos maometanos; no norte pelos germanos e escandinavos; foi atacada de todos os lados. Vinham tribos e hordas da Ásia para invadir a Europa. A Europa cristã resistiu na ponta da espada de Carlos Magno e de Cid campeador e de tantos heróis até ao século XV. A Europa resistiu magnificamente! Daí nasceu a civilização cristã.

Os senhores devem ter visto, com certeza, slides com projeção de catedrais medievais, de castelos medievais. Devem ter ouvido músicas medievais, devem ter visto fotos de iluminuras medievais. Os senhores já ouviram muita coisa a respeito da Idade Média. Este foi o Reino de Cristo, foi o Reino de Maria. Porque onde Cristo é Rei, Maria é Rainha! Onde Maria é Rainha, Nosso Senhor Jesus Cristo é Rei!

Então, os senhores me dirão: Virá então uma cópia da Idade Média? Eu digo: Não!

Aqui vem as rosinhas e as rosonas... Quem viu uma rosinha, pode ter idéia de como seria uma rosa grande. Embora, nada substitua o ver a rosa grande. Quer dizer, quem viu uma rosinha, quem viu muitas trepadeiras com muitas rosinhas, mas nunca viu uma roseira com rosas grandes, pode ter uma certa idéia de como [será] uma rosa grande. Mas vendo, a idéia é muito mais completa. Outra coisa é ver!

Assim também a Idade Média foi a rosinha. Por mais estupenda que ela tenha sido, ela, entretanto foi a rosinha.  A rosa grande Nossa Senhora reserva para o terceiro milênio da história da Cristandade.

A rosa grande Ela reserva para quando Ela – segundo a promessa de Fátima – voltar ao mundo e triunfar. Ela não prometeu que Ela mesma voltaria ao mundo. Ela disse que triunfaria. Ela pode triunfar por meio de seus Anjos, qualquer coisa. Mas de algum modo Ela volta. Quer dizer, a ação d´Ela volta ao mundo e triunfa. Então, nós teremos, nesta ocasião com o triunfo d´Ela, muito mais do que era antes. As rosinhas continuarão na recordação das lindas coisas da Idade Média.

Mas qual vai ser a grandeza do reino d´Ela? Qual vai ser a maravilha? Como vão ser os santos desse tempo? Como vai ser a Igreja nesse tempo? Como vão ser os Estados nesse tempo? Só terá idéia quem ver.

Então nós estamos no estado de quem já um pouco conhece para onde vai: temos a Idade Média, temos recordações de como ela [foi]. Temos razão para querer voltar àquilo e muito mais ainda. Um pouco para nós é o desconhecido: é o encanto de uma coisa que a gente não imagina.

Quando vier o triunfo de Nossa Senhora e nós virmos desabrochar a civilização d´Ela de um modo maravilhoso, nós diremos a Ela: “Minha Mãe, eu pensei que a rosinha se ampliasse, mas não tanto assim!” E nós teremos quase, quase, quase a impressão de que esta grande rosa será uma flor do paraíso!

Isto era, meus caros, o que lhes queria dizer como incitamento a que com mais decisão do que nunca, prossigamos nesta navegação que começamos, ou que nós comecemos essa navegação na qual nós ainda não entramos.

Há aventura nisso? Há! E qual é? Nós vamos enfrentar o adversário mais poderoso da Terra.

Os senhores tomem aqueles grandes conquistadores do passado: César, Augusto, Alexandre, Tarmelão... e outros ainda... Maomé... Maomé, o maldito! Os senhores considerem a todos estes, indiferentemente, e os Srs. não encontrarão poder tão grande quanto o que tem hoje em dia a Rússia soviética. Ela tem mais tropas, mais ouro, mais influência, mais poder do que todos esses potentados do passado. Nós com que recursos a enfrentamos?

Enfrentamos só com isto: o Rosário na mão, argumentação na outra, e é o porrete! Há cinquenta anos que se joga, se atira contra a TFP esse poder imenso. E depois de cada investida - quando às vezes parece que a TFP vai sumir definitivamente debaixo das ondas do ataque - depois de cada investida, quando vem de novo a bonança, a gente vai ver, a TFP está como uma rosa que cresceu de tamanho!

Ela foi rosinha, ela foi menos do que isso, ela foi semente de rosa! Ela hoje é uma rosa cujas pétalas se estendem por dezesseis países da Terra. E tomando em consideração que numa cidade das Filipinas que tem o pitoresco nome (parece com nome de indígena brasileiro) Hilo-Hilo está havendo um comecinho de uma coisa que talvez dê em grupo da TFP. Tomando isso em consideração, já podemos dizer que a TFP existe em todos os continentes da Terra!

Quando chegar a hora da rainha vencer, Ela já terá filhos em todos os continentes da Terra, em todos os países da América, em bom número de países da Europa. Num país da África – África do Sul - e em uma cidadezinha das Filipinas: Hilo-Hilo. Na Austrália - a Oceania é um outro continente - em Sidney. E assim por diante, a rosa cresceu!

E então, meus caros, diante disso tenhamos ânimo. Vamos para frente, a Rainha nos protege! Com isto está encerrado...

(Fatinho!)

Fatinho, Fernando!...

(Sr Fernando: Talvez o senhor pudesse contar quando, em pequeno, o senhor começou a fazer essa navegação...)

Eu tenho mais uma reunião me esperando. Hoje à noite antes de dormir, ainda tenho três reuniões! Não, duas reuniões. Eu preciso correr, porque do contrário, não dá tempo para todas. Então, eu vou contar um pouco resumidamente.

O choque que eu tive quando eu era pequeno e comecei a lutar - eu percebi que existia a Revolução na Terra. Eu era de um ambiente muito conservador, muito antigo. Ambiente católico. Quase todos os componentes desse ambiente eram católicos sem muito fervor. Mais ou menos católicos. Os homens, todos mais ou menos ateus. Em todo caso, nenhum praticava. As senhoras todas se diziam católicas. Mas eram católicas... mais ou menos. Mas a nota dominante no ambiente, ainda era a nota da tradição católica. Junto com os costumes conservadores, era um ambiente onde todo o mundo era muito educado, muito cerimonioso, muito sério. As coisas se passavam assim muito...

Eu tinha uns primos que estudavam no que era o melhor colégio - e um colégio ao qual eu devo muito - dos Padres jesuítas daquele tempo, que ainda existe hoje, Colégio São Luís. Eu tinha primos, quase de minha idade, um pouco mais velhos, que estudavam lá.

Eles me disseram um dia:

- Você precisa obter de sua mãe licença para entrar no Colégio São Luís conosco...

Eu perguntei:

- Mas, por quê? O que é que tem lá?

Eles disseram-me:

- Não, é muito divertido. Muito agradável...

- Mas o que tem lá para ser agradável?

- Muitos meninos...

Hum... pode ser agradável e pode não ser... Por aí, eu não vou... É preciso ir devagar com isso... Não nos vamos apressar em nada. Então, perguntei:

- Tem boa comida lá?

- Magnífica!

- Tem árvores frutíferas?

- Tem!

- Tem cerejeiras?

- Tem!

- E a gente, durante o recreio, pode subir e ficar comendo cerejas o tempo inteiro?

- Pode sim, eu mesmo já comi, disse um. (era um mentiroso que era um horror!...)

Eu lembro que até cheguei a perguntar se a árvore era muito alta, porque eu tinha um pouco de medo e muita preguiça de subir numa uma árvore alta.

- Então, como é essa árvore...?

- Não, não é tão alta assim...

Tudo era como eu queria.

- Mas no dia em que eu aparecer lá pela primeira vez, vocês me ajudam para conhecer os outros meninos?

- Pois é claro que ajudamos!

À noite [em casa eu peço]:

- Mamãe, papai, eu estou querendo entrar no Colégio São Luís”...

- Mas, por quê?

- “Não... lá os estudos são muito bons...” E não dei a resposta exata. Havia uma série de razões para que os motivos culinários que eu tinha não fossem bem vistos pela autoridade paterna.

Então, eles acharam que já estava mesmo na época. E o meu pai foi me inscrever no Colégio São Luís. Eu fui com ele, de olhos arregalados, olhando para tudo! Era férias e eu não pude ver o recreio com as cerejeiras, porque fui recebido numa saleta pelo Padre reitor, com o meu pai. Eles conversaram umas coisas que eu não entendi. Achei, aliás, bem pau. Mas, achei o reitor, um nobre francês, Padre Du Dreneuf, muito interessante. Mas nem me atrevi a pedir licença para ir comer cerejas no pátio. Eu percebi que chegando a casa, Dona Lucília não aprovaria meu jogo... E pensei: as cerejas ficam para quando, começarem as aulas.

Quando chegou o primeiro dia de aulas, primeira surpresa: meus primos não passaram por minha casa me pegar. Eu fui para a aula sozinho com uma governante alemã que tinha em casa.

Bom, chego lá... entro... não estavam na porta meus primos me esperando. Entro no recreio - eles chamavam ao menino novo que entrava no Colégio de “bicho” – bicho novo - e me olhavam assim ... [como a um “bicho novo”...]

Eu vejo os meus primos na folia, brincando no meio dos outros. Passaram perto de mim, tentei cumprimentá-los [e nem deram atenção]. E uma bagunça, uma coisa medonha! O ambiente todo me causou muita estranheza.

Depois, eu percebi que as maneiras eram brutais. Percebi que eles diziam palavrões, que diziam coisas do outro mundo. A atmosfera era o oposto daquilo que eu achava que devia ser. Mas eu já estava matriculado... as portas do passado inocente estavam fechadas atrás de mim. Eu entrara numa nova vida e as cerejas não existiam...

A comida era péssima, o ensino muito bom! Mas era preciso suar para passar de ano. E eu comecei a estudar de fato. Em casa, chegava e estudava. No Colégio uma luta, uma luta, uma luta para eu não me deixar tragar pelo ambiente, porque a alternativa era esta: ou eu capitulo e me afundo com o ambiente, ou eu resisto e é o ridículo em cima de mim. Começara a minha luta, a luta da Revolução com a Contra-Revolução!

Meus caros, nós vamos dar por encerrada a reunião e está acabada.

Então, vamos rezar. Salve Regina, Mater Misericordiae...

Nota - Atenhamo-nos à imagem de uma sociedade em que todos os membros fossem bons católicos, traçada por Santo Agostinho: imaginemos "um exército constituído de soldados como os forma a doutrina de Jesus Cristo, governadores, maridos, esposos, pais, filhos, mestres, servos, reis, juízes, contribuintes, cobradores de impostos como os quer a doutrina cristã! E ousem (os pagãos) ainda dizer que essa doutrina é oposta aos interesses do Estado! Pelo contrário, cumpre-lhes reconhecer sem hesitação que ela é uma grande salvaguarda para o Estado, quando fielmente observada" (Epíst. CXXXVIII al. 5 ad Marcellinum, cap. II, n. 15).


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