Plinio Corrêa de Oliveira

 

Moisés e a travessia do Mar Vermelho: confiança...!

 

 

 

 

 

 

Almoço no Êremo São Bento, 15 de julho de 1987, quarta-feira

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


[Leitura do Êxodos 12-37 a 16-12]

 

“Ora, quando o Faraó deixou partir o povo, Deus não o conduziu pelo caminho do país dos filisteus, que é mais vizinho, julgando que talvez ele se arrependesse, se visse levantarem guerra contra ele, e retrocedesse para o Egito”.

Os senhores estão vendo aí a fraqueza deles.

“Mas fê-los dar uma volta pelo caminho do deserto, que está junto ao Mar Vermelho. E os filhos de Israel saíram armados do Egito”.

Os senhores estão vendo? É sempre a história... A pouca fidelidade aumenta o itinerário!

Nós muitas vezes dizemos “por que não vem a Bagarre?” Eu fico com vontade de dizer: “Meu filho, você se sente inteiramente pronto para que venha a Bagarre? Será mesmo?” – Se ele disser: “Estou pronto!” – Eu digo: Então não está! Está provado!... Vamos para frente.

 

“O Senhor ia adiante deles, para lhes mostrar os caminhos, de dia em uma coluna de nuvens, e de noite em uma coluna de fogo”.

* A Terra Prometida, prefigura do Reino de Maria e as regras da fidelidade e da conduta de Deus com os que Ele escolhe para grandes missões

Vejam como Deus age. Isso é importante, para nós analisarmos depois a conduta deles, e compreendermos também os problemas da fidelidade. É onde chega a escolha do Êxodos como leitura para nós. Porque há uma analogia entre nós, caminhando neste reino do demônio à procura do Reino de Maria, e os judeus caminhando por aquele deserto à procura da terra prometida. O Reino de Maria é a Terra Prometida por excelência. São Luís Grignion descreve tão bem essa Terra Prometida.

Acontece que a fidelidade tem suas regras próprias. E há fraquezas próprias do homem, no caminho da fidelidade. E a nós importa altamente conhecer isso, para nós sermos fiéis e andarmos direito.

Notem o seguinte da parte de Deus, a conduta de Deus, vamos analisar só durante o trajeto, para ficar mais fácil. Ele não parece, mas Ele dá sinais claros. Mas claros assim: Ele não aparece. Ele causa essas colunas e essas colunas vão andando. Nós dizemos o seguinte: Essas colunas são tão claras, tão claramente um sinal, que tanto fazia Ele aparecer pessoalmente...  É onde eu, que não li nenhum intérprete disso, portanto comentando a olho nu, comentário que possivelmente esteja errado. Eu concedo [isso] de bom grado. Eu digo que não está claro isso. Porque não se sabe se essas colunas não tinham algum pequeno véu de ambigüidade, com ar de algum fenômeno de causa natural.

Quer dizer, eles tendo recebido todas as advertências que receberam, era natural que tendo visto o que foi feito no Egito, aquelas maravilhas todas, era natural que admitissem que aquilo eram colunas provocadas por Deus, que era Deus que estava ali. Mas é possível que, para provar a Fé deles, Deus ao mesmo tempo que lhes dava esse sinal, lhes dava um sinal um pouco ambíguo. E daí a incerteza deles, como veremos. Deus aos fiéis dá sinais claros sim. Mas claros para quem quer ver.

Se não me engano, [Joseph] de Maistre diz o seguinte: que há na Fé bastante luz, para quem quiser ver, veja. Mas bastante trevas, para que quem não quiser ver, não veja. A Fé católica é isso. Se Deus quisesse, Ele apareceria agora em todo o Seu esplendor, e estava resolvido o caso. Mas Ele quer nos provar!

“E nunca se retirou de diante do povo a coluna de nuvem durante o dia, nem a coluna de fogo durante a noite”.

* Os símbolos da bondade de Deus e o endurecimento do coração do Faraó

Aí são símbolos da bondade de Deus. À noite, a coluna é de fogo, para eles verem, e de dia a coluna é preta, para eles verem também. Porque naquele sol "éclatant", fazer uma coluna de luz não acrescentava nada. Tudo bem regulado, bem adequado.

“E o Senhor falou a Moisés dizendo: "Dize aos filhos de Israel que retrocedam, e vão acampar junto do mar. Porque o Faraó há de dizer acerca dos filhos de Israel: "Eles estão cercados no país, estão encerrados no deserto”.

Ora, esta era uma razão para eles não aceitarem. Porque de fato eles estavam cercados, e o Mar Vermelho constituía para eles um espaço intransponível, era quase convidar o Faraó a ir ao encalço deles.

Agora, mandar trânsfugas acamparem junto a um espaço intransponível, era quase convidar o Faraó para ir ao encalço deles... Os Srs. estão vendo Deus provando a eles. A gente diria: Não, mas não era prova nenhuma porque Deus vai abrir o Mar para eles. – Mas eles não sabiam disso...!

“E Eu endurecerei o coração do Faraó, e ele virá em vosso alcance. E Eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército”.

Quer dizer que Ele vai vencer. Quer dizer isso. Mas como? E depois, se de repente não vencer? Faraó, o maior potentado da terra...

Os srs. apliquem um símile...

“Entretanto foi anunciado ao rei dos egípcios que o povo tinha fugido. Então mudou-se o coração de Faraó e de seus servos a respeito do povo, e disseram: Que quisemos nós fazer, deixando partir Israel, para que ele nos não servisse?”

Os israelitas eram escravos dos egípcios. A fuga dos escravos era fuga de um tesouro. Então vai atrás do tesouro. Os senhores veem a maldade dos egípcios. Porque eles viram que Deus queria que os judeus saíssem. Tanto é que eles quiseram que os judeus saíssem. Mas logo que o perigo ficou longe: "Que loucura deixar sair esses escravos! Vamos pegar!"

“O faraó pois, mandou pôr os cavalos ao seu carro, e tomou consigo todo o seu povo. E tomou seiscentos carros escolhidos, com homens de guerra sobre cada um deles”.

Como isso é pouco em relação às forças de hoje, não é?! Seiscentos carros. Deveriam ser provavelmente seiscentas bigas, levando mil e duzentos homens.

“E o Faraó foi ao alcance dos filhos de Israel. Como os egípcios seguissem os vestígios dos israelitas que iam adiante, alcançaram-nos quando estavam acampados junto do mar”.

* A blasfêmia como resposta ao carinho de Deus

“Vestígios” deviam ser provavelmente no próprio chão do deserto. Depois coisas que eles deixavam, objetos que não precisavam. Eu ia dizer por distração "lataria"...

“E os filhos de Israel quando os viram tiveram grande medo e disseram a Moisés: Não havia talvez sepultura no Egito, e por isso nos tiraste de lá para morrermos no deserto?”

É muito fácil [criticá-los], é muito fácil...! Vamos ver as coisas até o fim como é que é. São os problemas da fidelidade... A pessoa é fiel, é fiel, e de repente tem a impressão de que Deus não foi fiel... E então peca, peca, mas blasfema mesmo! Então tenhamos cuidado! Na "Bagarre", quantas vezes não acontecerão coisas dessas conosco?...

“Por que quiseste fazer isto, tirar-nos do Egito?”

Olha lá, interpelando a Deus.

“Não é isto que te dizíamos no Egito: Retira-te de nós, a fim de que sirvamos os egípcios?”

Vejam até que ponto chega, hein?! Retira-te de nós, para nós nos transformarmos em escravos dos egípcios de novo...

“... porque é muito melhor servi-los do que morrer no deserto”.

Quer dizer, para eles proteção de Deus não existe.

“Moisés disse ao povo: Não temais; estai firmes e considerai as maravilhas que o Senhor fará hoje”.

Ele não disse o seguinte: "Considerai as maravilhas que Deus fez". Ele podia dizer, mas conhecendo a dureza de alma daquele pessoal, ele disse o contrário: "Deus fará hoje", como quem diz: Olhem, isso vai continuar, essa série de maravilhas! Então vamos ver.

“... porque os egípcios que agora vedes, nunca jamais os tornareis a ver”.

O que equivale a dizer que não desaparecerá o povo, mas que aqueles egípcios que estavam ali iriam morrer.

“O Senhor combaterá por vós, e vós estareis em silêncio”.

Quer dizer, Deus nem pedia a colaboração deles...

“O Senhor disse a Moisés: Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu, levanta a tua vara e estende a tua mão sobre o mar, e divide-o para que os filhos de Israel caminhem em seco pelo meio do mar”.

Qual foi o clamor que Moisés elevou a Deus? Tudo leva a crer que não foi blasfêmia. Foram gritos de aflição: "Meu Deus, como vai ser?" Ele não acreditava nas promessas de Deus? Ele podia dizer: "Olha esse povo ruim assim... Deus prometeu, mas agora Ele está liberado!  E então pediu perdão a Deus pelo povo pecador. É uma coisa que eu reputo provável.

“E os egípcios saberão que eu sou o Senhor, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e nos seus cavaleiros”.

* "Se quereis salvar-vos, fugi para dentro do incompreensível!"

Vejam bem a inteligência – é claro! Não podia deixar de ser... - dos planos de Deus. Parecia uma imprudência fazer os judeus acamparem junto ao mar. Era ali que estava a maravilha do plano de Deus e o modo de deglutir os egípcios. Os judeus fugiriam por dentro daquele corredor aberto no meio das águas, e os egípcios iriam atrás e as águas voltavam sobre eles. Então, era para que essa maravilha se realizasse, era preciso acampar perigosamente junto ao mar. Mas, é claro que eles, que não sabiam que esse era o desígnio de Deus – dividir as águas, – nem lhes passou pela cabeça, eles não entendiam.

Quantas vezes Deus quer dividir as águas para deglutir os adversários e depois se vê...

(Aparte: E dizia que no castigo do faraó, Deus seria glorificado).

E foi isso que aconteceu!

“E o Anjo de Deus, que caminhava na frente do acampamento de Israel, levantou-se e foi para detrás deles.”

Para proteger a retaguarda.

“... E com o Anjo, ao mesmo tempo a coluna de nuvens foi deixando a frente. E parou atrás deles, entre o acampamento dos egípcios e o acampamento de Israel. E essa nuvem era tenebrosa do lado dos egípcios e tornava clara a noite do lado dos israelitas”.

Não está claro dito aí é se os israelitas percebiam que a nuvem era bifacial e tinha para os egípcios outro aspecto.... [risos]

Quer dizer, nós temos que nos habituar a coisas dessas, educar os nossos nervos para o inverossímil! Não tem conversa. 

“... de sorte que uns e outros não puderam aproximar-se durante o tempo da noite”.

Deus não queria que houvesse batalha. Então fez assim.

“E tendo Moisés estendido a mão sobre o mar, o Senhor, soprando toda a noite um vento forte e ardente, o retirou e secou, e a água dividiu-se”.

Nós podemos imaginar a majestade do gesto e Moisés estendendo a mão. E os judeus vendo que um vento, como diz aí, "forte e ardente" – deve ser daqueles ventos abrasadores do deserto – começa a soprar, soprar, soprar... E eles percebiam que as águas iam diminuindo. Mas eles não podiam imaginar que fosse a ponto de abrir e de se dividir. Em certo momento, as águas estavam divididas e Deus disse: "Entrai por aí!"

Eles deviam achar do outro mundo entrar naquele corredor de água! Eles deviam estar pensando: Eu não compreendo o que está acontecendo. Deus disse: "Se quereis salvar-vos, fugi para dentro do incompreensível!"

Um indivíduo que tem o instinto de conservação muito desenvolvido – o que é bem frequente, hein... [risos] bem frequente!

*  A grandiosa cena da passagem do mar vermelho a pé enxuto e as retiradas estratégicas

“E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar enxuto, porque a água estava como um muro, à direita e à esquerda deles. E os egípcios, que os perseguiam, entraram atrás deles pelo meio do mar, e toda a cavalaria de Faraó e seus carros e cavaleiros. E eis que o Senhor destruiu o seu exército e transtornou as rodas dos carros, e eles eram levados para o fundo do mar. Disseram pois os egípcios: Fujamos, pois, de Israel, porque o Senhor combate por eles contra nós”.

Sim, aí aprenderam. Já tinham visto uma penca de fatos...

“E o Senhor: disse a Moisés: estende a tua mão sobre o mar, para que as águas se voltem sobre os egípcios. E Moisés, tendo estendido a mão sobre o mar, este voltou ao lugar habitual. E as águas voltaram e cobriram os carros e o cavaleiros de todo o exército de Faraó, os quais, em seguimento dos israelitas, tinham entrado no mar. E não escapou um só deles.

“Mas os filhos de Israel passaram pelo meio do mar enxuto. E o Senhor, naquele dia, livrou Israel das mãos dos egípcios”.

Há uma coisa que não está dita aqui e que eu queria saber. O hábito de fugir em ocasiões de apuro, a serviço de Nossa Senhora, suscita esta pergunta: quando os egípcios fugiram e foram submergidos, o que aconteceu com os judeus? Eles já estavam do lado de lá, e então assistiram isso com calma, ou eles estavam ainda meio dentro do mar e foi impedido que o mar chegasse até eles?

Neste caso, eles devem ter tido um susto medonho, vendo que o mar estava se fechando de novo. Isto não está explicado aí. Deve ter sido para eles uma prova pavorosa: "Olha o mar, está cobrindo!" Moisés: "Mas olhem, matou o Faraó!" - "Que me importa? Vou morrer também eu, logo EU vou morrer!..."

Mas essa fuga foi durante a noite, então?

(Aparte: durante a noite)

Uhhhh! Imaginem os egípcios durante a noite, naquele aguaceiro, hein. Nem podiam se ver, nem se comunicar, nem nada. Era afundar, morrer e ir para o inferno! Que coisa tremenda!...

Mas os judeus já teriam passado? Não vejo elementos para trazer em foco. Mas seria preciso saber qual é a largura, e a largura é variável um pouco variável com certeza conforme o ponto a partir do qual se calcule o ponto de chegada. Deviam saber a largura e aí calcular a que horas se chegava do lado de lá. Se eles assistiram as águas voltarem já no seco, ou dentro do próprio leito do mar.

* O cântico de Moisés, poderá ser o da inauguração do Reino de Maria

“E os israelitas viram os egípcios mortos sobre a praia do mar, e o grande poder que o Senhor tinha mostrado contra eles. E o povo temeu o Senhor e creu no Senhor e em Moisés”.

Está muito bonita a frase, não é? Mas na primeira ocasião vão duvidar de novo!

Não parece com alguns de nós, que tendo provas, e de repente [dizem]: Huuum, mas dessa agora a gente não escapa...

É assim...!

“Então, cantou Moisés e os filhos de Israel esse cântico ao Senhor, dizendo: Cantemos ao Senhor, porque fez brilhar a Sua glória. O Senhor é como um guerreiro, onipotente é o Seu nome!...”

Que bonito! "O Senhor é como um guerreiro, onipotente é o Seu nome!"

“A tua destra, Senhor, destruiu o inimigo. E na grandeza de tua glória, aniquilaste os teus adversários. Enviaste a tua ira, que os devorou como palha”.

Quem sabe se nós vamos cantar isso, na aurora do Reino de Maria? E talvez, colocando um significado marial a muitas dessas estrofes!

“E ao sopro do teu furor, se amontoaram as águas, parou a onda a sua corrente, os abismos se amontoaram no meio do mar”.

Não sei se os senhores percebem a beleza dessa metáfora: "Os abismos se amontoaram", montes para baixo, montes de cabeça para baixo. Uma bonita coisa é pedir a Nossa Senhora que os abismos se amontoem no caminho da Revolução gnóstica e igualitária.

* As águas amargas da ingratidão e as carmelitas de Mogi das Cruzes

“Quem dentre os fortes é semelhante a Ti, Senhor? Quem é semelhante a Ti, magnífico em santidade, terrível e louvável, operando prodígios? (...) Foste, por tua misericórdia, o guia do povo que resgataste. E o conduziste à tua fortaleza para a Santa morada”.  

Isto se poderá dizer os que continuarem verdadeiramente católicos e passaram para o lado de lá da “Bagarre”.

“Quem dentre os fortes é semelhante a ti, Senhor? O Senhor reinará eternamente, e além da eternidade”.

Esta frase aí, um "ploc-ploc" poderia qualificar de exagerada: por que Deus “reinará eternamente e além da eternidade”? Ora, não há nada além da eternidade. Então, o que é que quer dizer isso? É uma coisa acomodada, naturalmente, à imaginação do homem. Quer dizer: além de tudo quanto se possa imaginar sobre a eternidade, Ele ainda reinará!

“Os judeus caminharam três dias pelo deserto, sem encontrar água. E chegaram a Mara, mas não podiam beber as águas porque eram amargas”.

Notar o seguinte: acabou uma provação, começa outra. É a rota da fidelidade!...

Dom Mayer contava de uma freira que havia aqui – creio que no Convento da Luz – ou uma carmelita, Certa vez, algumas carmelitas de São Paulo, ou de Itu, foram designadas para ir compor o Carmelo em Mogi. Então, arranjaram vários automóveis, eles foram de automóvel. E elas não conheciam ainda autoestradas, porque eram velhas e tinham entrado para o convento antes de haver autoestradas em São Paulo. Então viram autoestrada no caminho. E então uma das irmãs escreveu para outra: "A autoestrada é um caminho maravilhoso, delicioso! Parece até o caminho do inferno..."

“Por isso, se pôs àquele lugar um nome conveniente chamando-o Mara, isto é, amargura”.

Saíram do deserto para beber água e a água era a água da amargura...

“E o povo murmurou contra Moisés...”

Foi só haver outra ocasião, que eles voltaram a murmurar contra Moisés...

Bom, aqui nós, é muito fácil [exclamar] ohhh!! [Mas] Na hora, como é?

“Que havemos de beber? Ele, porém, clamou ao Senhor, O qual lhe mostrou um pau. E tendo-o lançado nas águas, elas se tornaram doces”.

Então, mais uma vez: por que é que Deus os levou para junto da água amarga? Para praticar um milagre a favor deles. Mas à primeira vista, não: foi falta de pena. "Sofreram tanto, e ainda agora encontrar água amarga?" Eles deviam pensar de outra maneira: Deus já fez tais maravilhas! Prepara para mim mais alguma?

* Suportar as demoras de Deus: condição para atravessar a Bagarre!

“E toda a multidão dos filhos de Israel foi para o deserto de Sim. (...) Aí murmurou contra Moisés e Aarão no deserto, dizendo: Antes fôssemos mortos na terra do Egito, pela mão do senhor, quando estávamos sentados junto às panelas das carnes e comíamos pão com fartura. Por que nos trouxeste para este deserto? Para matar de fome toda essa multidão?”

Blasfêmia, portanto.

“E o Senhor disse a Moisés: Eis que vou fazer chover para vós pães do céu”.

É bonito que, depois dessa ingratidão, vem uma previsão, uma profecia da Sagrada Eucaristia. É uma coisa extraordinária!

(Aparte: Posso fazer uma pergunta?)

Pode!

(Aparte: A que princípio obedece o fato que Deus age só depois que o povo reclama?)

Não é propriamente isso, que Deus só age depois que o povo reclama. Eles só contam a história da reclamação, e, portanto, a história de Deus. Porque não se sabe, entre Deus e o povo, que outras coisas se passaram no intervalo entre uma reclamação e outra. E isso é o histórico das infidelidades de Israel e das respostas de Deus.

* Na prefigura da Sagrada Eucaristia uma lição de confiança na Providência

“Saia o povo e colha o que basta para cada dia, a fim de que Eu o ponha à prova, para ver se anda ou não na Minha lei”.

Por quê? Porque a tendência do povo era guardar para o dia seguinte, pelo menos. Deus não queria. Tinham que esperar no dia seguinte outra chuva de maná. Mas um maná que era, já de uma vez, a previsão da Eucaristia.

“E Moisés e Aarão disseram a todos os filhos de Israel: Esta tarde reconhecereis que o Senhor é quem vos tirou da terra do Egito. Nós, porém, o que somos para que murmureis contra nós?”

Conosco, por que vocês murmuram? Vocês não veem que nós não somos nada, e que tudo é com Deus?!

“E Moisés disse: O Senhor vos dará nesta tarde carne para comer, e pela manhã pães com fartura, porque ouviu a vossa murmuração contra Ele. ... Quando Aarão ainda falava à toda a multidão dos filhos de Israel, olharam para o deserto e eis que a glória do Senhor apareceu no meio da nuvem. E o Senhor falou a Moisés dizendo: "Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel. Dize-lhes pois: à tarde comereis carnes e pela manhã sereis saciados de pães. E sabereis que Eu sou o Senhor vosso Deus”.

Para ficar provado para o povo que não era uma invenção nem de Aarão nem de Moisés, Ele mesmo Se manifestou e de um modo curioso: Ele não fez cair o pão logo, Ele deixou haver um intervalo, durante o qual os judeus ficaram na dúvida: "Cai ou não cai?..." E depois, o resto seria ainda no dia seguinte. Ele poderia ter feito cair tudo logo de uma vez. Não! Precisa suportar as demoras de Deus, porque é a condição para atravessar o deserto. Ouvi bem, senhores!

Seria mais interessante nós fazermos mais uma pergunta que é a seguinte: diante da promessa permanente da “Bagarre”, que parece fugir de nós à medida que nós andamos – é isso! – qual é a nossa atitude? E quais foram as sucessivas atitudes dos sucessivos segmentos do Grupo à vista da “Bagarre”? O Grupo poderia ser comparado a um bambu. Porque assim como o bambu na sua continuidade tem aqueles nós, que constituem épocas da história do bambu, assim também a TFP tem suas eras: a TFP tem a era da primeira Pará, da Martim andar térreo, tem depois a era da Rua Vieira de Carvalho, a da Rua Pará... As sedes marcam mais ou menos as eras do Grupo até à Maranhão. Chegando à [Rua] Maranhão, os fatos de tal maneira se acumulam e se tornam cheios de torvelinhos etc., que as sedes não marcam mais nada. Nós, aliás, demoramos mais na Maranhão – muito mais – do que em qualquer sede anterior.

Então aparece outro problema: como dividir a nossa vida pós-Maranhão? E como ao longo de todo esse tempo foi aparecendo a promessa da “Bagarre” e foi aparecendo as decepções da “Bagarre” e como se foram renovando mais além as mesmas esperanças: como é essa história?

Podíamos tratar disso amanhã.

...houve “rezongos” [resmungos em espanhol]. E há duas formas de “rezongo”: o “rezongo-rezongante” e o “rezongo não regonzante”... Bem, vamos andando.


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