Plinio Corrêa de Oliveira

 

Conferência para o setor feminino dos Correspondentes Esclarecedores

da TFP brasileira

Perguntas e respostas

 

 

 

 

 

 

Auditório São Miguel, 1° de maio de 1989

Bookmark and Share   

 

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio, não tendo sido revista pelo autor.

Se  Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Dr. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

Foto: Missa celebrada a 13 de dezembro de 2008, por ocasião do centenário de nascimento de Plinio Corrêa de Oliveira. Os estandartes e capas ostentados pelos presentes são símbolos das associações estrangeiras a que se filiam. Tais estandartes das associações do exterior ostentavam a inscrição Tradição Família Propriedade em alemão, espanhol, francês, inglês, italiano e polonês (cfr. "Catolicismo", janeiro de 2009)
 

O primeiro grupo de perguntas diz respeito ao papel da mulher na Igreja e na sociedade.

Antes de ter lido as perguntas e responder-lhes que, por excesso de ocupação, deixei para lê-las aqui, precisava fazer sentir às senhoras que este assunto do papel da mulher na Igreja e na Sociedade é muito atual. Em consequência do fato de que há uma pressão muito grande de fundo progressistas – e, portanto de fundo comunista – de atirar o elemento feminino contra o elemento masculino, dentro da Igreja, procurando inverter a ordem profunda que a doutrina católica em todos os tempos estabeleceu, no que diz respeito às relações entre o homem e a mulher.

Deus determinou que, no lar, sua cabeça fosse o homem, o esposo. Porém, numa posição tão digna e tão elevada, que quando se tratava de casais, rei e rainha, esta tinha seu trono ao lado do rei, assim também a esposa, a mãe de família tem seu trono, no modesto mas esplendoroso reino, que é uma família bem organizada, ao lado do esposo. Mas, o trono central é do esposo.

De outro lado, também, dentro da Igreja, Nosso Senhor estabeleceu que a máxima função na Igreja é daquele que oferece o Santo Sacrifício da Missa. A Missa é a renovação incruenta do Santo Sacrifício do Calvário. Quer dizer, cada vez que um sacerdote celebra a Missa, no momento em que ele pronuncia as palavras da Consagração opera-se um milagre estupendo: o pão se transubstancia no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como o vinho também se transubstancia no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas, neste momento da transubstanciação, Nosso Senhor oferece de novo à Santíssima Trindade o sacrifício da Cruz que ele ofereceu na Terra.

Não oferece de modo cruento, não verte mais Sangue. Não é também de um modo doloroso, não sofre mais. Mas oferece a Deus aquilo que, outrora, ofereceu. Renova o Seu oferecimento, que é como a renovação da Morte d'Ele na Cruz por nós. É o ato mais augusto da Religião Católica. E para as senhoras terem idéia de quanto essa ato é augusto, basta considerar o seguinte: o Padre quando fala, não é ele que fala; no momento da transubstanciação ele empresta a laringe dele a Nosso Senhor, sendo o próprio Cristo Nosso Senhor que fala.

Aquelas palavras do Canon "Hoc est enim Corpus Meum", e depois mais adiante "Hic est enim Calix Sanguinis Mei" é o próprio Jesus Cristo que as diz, de tal maneira é augusto o Sacrifício apresentado na Santa Missa.

Nosso Senhor estabeleceu que esse Sacrifício, esse papel sumo na Igreja Católica, de oferecer tal Sacrifício seria dos Padres. Não seria dos leigos e, portanto, não também das leigas.

O acesso ao sacerdócio é só para quem é chamado. Esse acesso é destinado por Nosso Senhor aos homens. Ele não sagrou sacerdotisas. Só sagrou sacerdotes. Os Bispos, que depois ficaram com o poder de sagrar sacerdotes, durante dois mil anos da vida da Igreja, em nenhum momento sagraram sacerdotisas. Pelo contrário, só sacerdotes. Ao sacerdócio Deus destinou aqueles que têm o sexo que teve Seu Divino Filho na Terra, quer dizer, o sexo masculino.

Há um movimento terrível, dentro dos círculos progressistas, hoje, para impor que haja sacerdotisas, a fim de estabelecer a igualdade entre o homem e a mulher, desejada em virtude do princípio sumamente revolucionário de que todos devem ser iguais em tudo. É um princípio essencialmente revolucionário, essencialmente contrário à doutrina católica. Ela estabelece que a perfeição não está na igualdade, mas sim na hierarquia bem ordenada e bem posta. Num piano, por exemplo, se se fosse tocar sempre a mesma nota, a mesma música, mas constante de uma nota só, acabaria por não haver música. Esta é feita de uma hierarquia de sons, cuja harmonia está na desigualdade. Assim, nas relações humanas. Elas são musicais. Supõem desigualdades harmônicas, desigualdades afetuosas, desigualdades respeitosas. Mas desigualdades!

Então, na Igreja há essa desigualdade. Os progressistas, que têm no fundo uma mentalidade comunista, querem estabelecer uma desigualdade em tudo. Há um movimento muito acentuado, no sentido de permitir mulheres sacerdotisas.

Eu não sei sobre o que vai versar estas perguntas, mas previamente achava interessante atrair a atenção das senhoras para este ponto: devemos amar as desigualdades. Mesmo quando nós estamos debaixo e outros estão de cima, devemos amá-las!

O primeiro livro que escrevi em minha vida foi "Em defesa da Ação Católica". Era um livro contra a tese progressista de que na Igreja devem mandar os leigos e não os padres. Eu sou leigo e não padre, mas escrevi um livro para defender a autoridade daqueles que devem mandar em mim, porque devo amar que outros sejam mais do que eu. Assim, devemos ser todos nós católicos: devemos amar a autoridade. E, neste amor, realizamos a vontade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

***

A dona de casa deve frequentar pouco o mundo para conhecê-lo bem

 

***

Como educar o(a)s filho(a)s na doutrina católica hoje? - Devoção a Nossa Senhora da Soledade

 

Nós devemos ter bem em linha de conta o seguinte: o mundo de hoje é um mundo que está numa apostasia tremenda. Quer dizer, é um mundo que foi outrora católico, e que já não é mais. A maior parte das pessoas hoje, mesmo quando são católicas ou se imaginam tais – e o número delas é cada vez menor – o mundo de hoje é um mundo que vive de uma mentalidade não católica, e, portanto, de uma mentalidade anticatólica. E todo ambiente de hoje arrasta as pessoas a se afastar da Religião Católica. Por causa disso, a perseverança na doutrina católica é extremamente difícil.

Em consequência, os problemas todos, que acabam sendo postos nestas perguntas, giram em torno de um problema central: é muito difícil o homem resistir ao ambiente em que vive. Quando digo o homem, quero referir-me tanto ao homem quanto à senhora. Qualquer um tende a concordar com o ambiente em que se encontra. É lhe desagradável ser criticado pelo ambiente em que está. É lhe agradável ser bem aceito pelo ambiente em que vive. Portanto, procura seguir a onda geral que se propaga em certa época etc.

Os homens e as senhoras, os moços e as moças, as crianças têm verdadeiro pavor de seguir uma norma que lhes atraia a caçoada e o pouco caso de seu ambiente. Então, o que pode fazer um pai ou uma mãe, que percebe que sua criança vai ser posta nesse ambiente?

Não há remédio, e é preciso dizer: o pai e a mãe têm que rezar muito, mas muito mesmo! Pedir muito, fazer sacrifícios, oferecer e pedir que se rezem missas etc., pelo seu filho e pela sua filha, porque a batalha que têm que travar é uma batalha tremenda. Esta é a realidade.

Esta batalha tremenda exige um esforço tremendo, que pouca gente está disposta a fazer. 

Como conseguir que um filhou e/ou uma filha esteja disposto a isso? É preciso que o pai e a mãe – principalmente a mãe – sejam tais que se tornem como que um espelho da Igreja Católica para os filhos. Quer dizer, sejam tão piedosas, sejam tão séria, sejam tão meigas, sejam tão pacientes, e – ao mesmo tempo – sejam tão fortes, que, em última análise, o pai e a mãe representem, de algum modo Nosso Senhor Jesus Cristo perante a criança.

Eu lembro-me – se as senhores permitem que recorde exemplos de meu tempo – muito bem do seguinte:

Desde pequeno fui educado, como toda a criança do meu tempo, aprendendo a rezar de noite e de dia. Mas, com a limitada compreensão da Religião que tem sempre uma criança de dois ou três anos e até quatro anos. Mas, eu tinha para com minha mãe a maior das admirações, que vinha do fato de eu ter sido menino – ninguém diria isto hoje – muito pequenininho e muito doente. E ter sentido toda a paciência de minha mãe comigo, quando eu estava enfermo.

Eu creio, em outras reuniões, já ter contado aos senhores que eu sofria muito de insônia. Dormia na primeira parte da noite, mas depois acordava. Não havia meio de dormir de novo. Geralmente, em criança quando acordava durante a noite, encontrava o quarto escuro – eu dormia no quarto de meus pais, pois tinha dois ou três anos, com minha cama colada na de mamãe – e só notava uma luz acesa... que deixava tudo numa penumbra. Meus pais ainda moços respirando rítmica e profundamente. Eu notava que estavam dormindo com um sono profundo. Sentia-me assim abandonado e naufragado nessa penumbra e na escuridão.

Desatava então a chamar por mamãe. Ela não ouvia, porque o sono era muito pesado. Então, passava a mão por entre os varais (da minha cama), postos para uma crianção não cair ao chão, e procurava a mão dela. Quando a encontrava, puxava-a, para ver se ela acordava. Ela não acordava...

Ficava indeciso, e, afinal, acabava conseguindo pendurar-me na roupa de cama dela, e subia até à cama dela. Chamava por ela:

– "Mãezinha! Mãezinha!..." Mas, ela não acordava.

Então, desde pequeno, entusiasta dos métodos vigorosos, sentava-me sobre o peito dela, para ver se ela acordava. Às vezes, acordava. Muitas vezes, não. Punha os dedos nos olhos dela e abria-os! Isso, já podia prenunciar o filho truculento que ela iria ter.

Quando, por fim, ela acordava, eu tinha sempre – no começo – medo que ela se zangasse. Ela, pelo contrário, mal me via, dizia:

– "Filhinho, venha cá..." Sentava-se na cama e perguntava-me o que eu queria. Eu pedia-lhe:

– "Mamãe conte-me uma história." Ela segurava-me os braços, contava-me uma história, duas... cinco! Eu, encantado com as história, mas instintivamente encantado pela torrente de afeto e de meiguice, de pena, paciência, com que ela, por assim dizer, me embebia inteiro. Afinal, eu mesmo, sentindo-me tranquilizado com tanto (e tamanho) afeto, compreendia que mesmo na penumbra eu tinha uma salvação. Passava para a minha cama, e dormia tranquilo.

Quando acordava, de manhã, ficava uma recordação. Esta foi até ao momento extremo em que ela fez noventa e dois anos, entregando a alma dela ao Criador. Que bondade! Que paciência! Que querer-me bem! Como isto é extraordinário! Então, querê-la também como eu nunca quis ninguém, de um modo extraordinário, completo etc.

Acompanhado do respeito. De onde vinha o respeito? Ela sofre por mim. Ela toma as coisas a sério, e eu gosto de gente séria, que vai até o fim do caminho, e é como deve ser. Ela é o arquétipo disso. E, por causo disso, também, eu admiro-a com uma admiração superlativa e completa, que lota meu ser inteiro.

Chegado o domingo: Missa com ela na igreja do Sagrado Coração de Jesus.

Eu via-a rezar, pois ficava ao lado dela na igreja. Não entendia bem o que era a Missa, nem nada... Era criança. Mas, eu gostava. Sentia-me bem lá. Ouvia-se o órgão tocar... Eu gostava muito de ouvir órgão. E prestava atenção nela rezando. Eu pensava: como ela é harmônica com tudo isto; como tudo isto vai bem com ela; e ela com tudo isto. Ela está mais contente até, aqui, do que em casa. Aqui, ela está no ambiente dela.

Em certo momento, o meu olhar se fixou nela olhando para o Sagrado Coração de Jesus. Eu compreendi: é por causa d'Ele que ela é boa assim. Ela aprende com Ele como se deve ser boa. Portanto, o modelo não é ela. Para mim, ela é um modelo indireto. Modelo é Ele! Porque foi com Ele que ela aprendeu isto.

Então, adorar a Jesus Cristo que é muito mais do que ela. Incomparavelmente mais do que ela. Assim, compreender a Igreja Católica. A Igreja é toda assim. Daí vem a Religião... Mas, isso acompanhado do fato de ela ser, para mim, o modelo perfeito de todas as coisas que me falavam à alma de menino.

As senhoras terão talvez a impressão de que eu talvez esteja exagerando. Eu não vou discutir isso. Todo o filho tem tendência a exagerar as qualidades de sua mãe. Isso avantaja as senhoras como todas as mães. É uma coisa providencial. A criança nasce com os olhos escancarados, disposta a maravilhar-se com sua mãe. As senhoras procurem maravilhar seus filhos, pela paciência, pela bondade, pela continuidade do afeto. Procurar maravilhá-los é a primeira coisa que devem fazer.

E maravilhar, importa às vezes em castigar. A minha mãe tinha uma escova de prata com os fios muito duros. E quando eu fazia alguma coisa que não devia fazer, ela chamava-me e dizia:

– "Plínio!" – eu já entendia o que era: minha consciência não estava direita – e, assim que eu chegava (imperativamente) dizia: "Estenda a mão!" Pegava a escova e – pam! pam! pam! Não sei porque ela chamava a isso de bolo. "Você vai levar tantos bolos, por causa da coisa que fez!"

Terminados os bolos, ela dizia: "Meu filho", e quando comecei a ficar um pouco maior, "Filhão", mas aí já não batia mais... talvez merecesse... "Meu filho, Você andou mal por causa de..." E explicavam-me direito. Dizia com tanta seriedade e com tanta doçura, que eu ficava encantado. Quando terminava a explicação, perguntava-me: "Você entendeu?" Eu respondia: "Sim, senhora, entendi." – "Então, peça perdão à sua mãe". – "A Senhora perdoa-me, mamãe?" – Ela dizia: "Perdoo-te!" E abraçava-me e beijava-me.

Quando eu ia embora, estava tão maravilhado com ela, que tinha vontade de voltar e pedir outro pito, de novo.

É assim que uma mãe segura o filho. E foi assim que ela me segurou. Ensinando-me depois a Religião, compreendo que mais do que ela valia a Igreja Católica, da qual ela não era senão um elemento. Mas, o Sol da Justiça é nosso Senhor Jesus Cristo. Modelo da mãe é Nossa Senhora. E dando princípios, quer dizer, teses, doutrinas, normas... Contava fatos passados da vida dela, dos pais dela, e com isso tudo fazia coisas agradáveis de ouvir por uma criança, mas que a deixava maravilhada.

Eu não sei outra educação senão essa, porque foi a que tive. As senhoras pedem-me um conselho, eu dou o que tenho. O que recebi foi isso. Recomendo muito às senhoras.

Lembro-me de mil fatinhos que ela me contava para me lembrar quais eram os deveres do homem.

(...)

Contem os casinhos de suas famílias. Lembrem-se de fatos. Habituem as crianças a conhecer o passado da família, a amá-lo. São princípios. Mais do que isso, contem a vida de Nosso Senhor, contem a vida dos santos, contem os exemplos do Evangelho... Os filhos irão se impregnando de uma certa influência.

Quando chegar à idade de ir para a escola, vão para aquilo que é o contrário da família, porque são poucas hoje em dia as que não são o contrário da família. Eles terão forçosamente essa primeira batalha da vida: o mundo todo a convidar para ser o contrário do que devem ser. Aí vai ser preciso as senhores rezarem. Acompanhá-los. Fazer o possível para os seus filhos contarem os bons e maus conselhos que receberam, os mais convites que lhes foram feitos etc., mas sobretudo para pedir por meio de Nossa Senhora as graças para eles se manterem fiéis. Este é o elemento fundamental, essencial: a graça.

De outro lado, eu lhes aconselharia o seguinte. As senhoras todas têm sobrinhos e outros parentes. Então procurem fazer com que os filhos dos correspondentes se dêem com os filhos de outros correspondentes, e as filhas com as filhas, de maneira a terem fora da escola uma mesma influência de criança para criança. Em vez de serem largadas com filhos do mundo, que não se sabe como são. Entendam-se entre si. Visitem-se. Combinem um lugar onde as crianças se possam reunir. Ora na casa de uma, ora na casa de outra. Onde tenham uma pequena diversão: um chazinho um pouco melhor; uma historieta; um livro de figuras.

Dessas diversões que as senhoras sabem encontrar melhor do que um homem, mas que façam com que as crianças das famílias boas gostem de estar juntas. De maneira tal que na luta contra o mal se sintam apoiadas por outras crianças. Não bastem serem apoiadas pelo pai e pela mãe. Precisam ser apoiadas por outras crianças, e, assim, enfrentar o vagalhão juntas.

Este é o segredo: ter crianças de um ambiente homogêneo. Procurem fazer isso, e suas crianças terão enfrentado uma das etapas mais difíceis da vida.

Todos os dias, eu recebo mais ou menos às sete horas (da noite) um grupo de enjolras da Saúde. Vão-me procurar antes de ir para a escola. Já são mocinhos de quinze, dezesseis anos... Todos os dias, vêm para rezar três Ave-Marias comigo e receber um conselho, antes de ir para a escola, antes de serem arrastados para o mal. No dia seguinte, dizem-me como foi na véspera.

Eu aconselho-os: quando caçoarem assim de você, dê tal resposta. E você lá: respondeu como eu mandei?" – "Ah, não..." – "Então, da próxima vez faça de tal jeito e de tal outro..." E vou organizando a batalhinha deles, mas que é uma batalhona... Para eles, é uma batalhona.

As senhoras procurem fazer isso com seus filhos reunidos. Fazer uma cunha no meio do mal. Os maus são extremamente covardes. Quando notam que um bom está isolado, têm todas as ousadias. Devemos tentar por do nosso lado a força da Fé, e intimidar os maus com a sua covardia.

Não sei se isto ficou claro?

É preciso as senhoras compreenderem bem que em nossa época – ainda nessa ordem de idéias – ter uma especial devoção à soledade de Nossa Senhora.

Eu creio que as senhoras todas ouviram falar de Nossa Senhora da Soledade. Soledade é uma palavra antiga do português que quer dizer solidão. Ao pé da Cruz ela estava só! Do lado d'Ela tinha só as santas mulheres, e, a certa altura, S. João que apareceu. Não tinha mais nada.

O mundo inteiro que enchia a montanha do Calvário e outras proximidades estava contra Ela, porque estava contra o seu Filho, caçoando-O, escarnecendo-O, querendo matá-lO etc. Desprezando-A como a mãe de um criminoso medonho, que estava sendo crucificado. Ela se manteve de pé o tempo inteiro, vendo e assistindo todos aqueles escárnios contra Nosso Senhor. Pessoas, Ela via, a quem ele tinha feito bem e curado, apedrejavam-nO e diziam contra Ele blasfêmias. Ela ficou inteiramente só.

Depois, quando Nosso Senhor foi sepultado, Ela foi para o Cenáculo. Ali também se sentiu completamente só. Ela agüentou o tormento da soledade. Uma das dores mais terrível de Nossa Senhora foi a solidão.

Muitas vezes, hoje, para se ser bom há que ficar só, porque ninguém entende, ninguém aprova, ninguém e ninguém quer bem. Devemos pedir a Nossa Senhora da Soledade que nos dê, e aos filhos das senhoras, a coragem, já na jovem idade deles, de se sentirem sós. Quando não vai um companheirinho ou companheirinha do mesmo ambiente que as senhoras à aula, naquele dia aquela vai ficar só, vão debicar, vai se sentir isolada. Não é como as outras. Tenha a coragem de ser só, porque, em nossa época, se uma pessoa não for educada para ser só, em muitas ocasiões da vida, perderá a alma. Isso, eu sou obrigado a dizer com toda a força e com toda a energia.

As próprias senhoras já se devem ter sentido sós em muitas ocasiões. Eu felicito-as pela coragem que tiveram de atravessar essa soledade. Eu felicito-as de toda a alma. O tormento da solidão é uma condição para a salvação. [Palmas]

As senhoras devem ir educando seus filhos e suas filhas para a soledade. Permiti-me que eu diga: especialmente as filhas. Aqui vem uma pergunta sobre modas. A moça não pode seguir as modas de hoje. Por exemplo, pantalona: não pode! De um absolutamente não poder. Não pode! É contra a moral católica, não pode! Não pode, por quê? Porque não se pode ofender a Deus.

Agora, acontece que se tornam sós, porque os grupos de amigas delas – que encontram na rua – estão de pantalonas. Perguntam-lhe:

– "Porque não pões pantalonas?" A resposta que têm para dar, ainda as isola mais. Não devem negar a Nosso Senhor nessa ocasião. O verdadeiro é dizer:

– "Eu sou católica, e a doutrina católica se opõe a isso".

Aí a soledade se agrava, porque as outras vão responder com gargalhadas:

– "Qual nada. Isso não é verdade. Olhe monsenhor Tal permite. O padre Tal... A freira Tal achou que minha pantalona estava muito boa. A moça terá que dizer:

– "Lamento ter que dizer, mas a doutrina católica não muda. Não sei porque isso que era considerado por Mons. Tal e pela freira Tal imoral há dez anos atrás, hoje não o é mais. A doutrina católica não muda, portanto isso é imoral".

As outras ficarão horrorizadas, e não a convidarão depois para festas. Não acham que ela seja engraçada. Não acham que ela seja interessante. É o isolamento. É preciso escorar esse isolamento, até que o número de isolados seja tão grande que os isolados isolem os que são a maioria. [Palmas]

Quando a Religião Católica começou a se propagar em Roma, era o tempo das catacumbas. Era um punhadinho. Alguns séculos depois da prática constante da fé, do martírio e de tudo mais eram tão numerosos os católicos em Roma, que um dos escritores católicos dirigiu uma carta a um imperador, dizendo o seguinte:

"Nós somos em Roma a grande maioria. E, vós, Imperador, estais no vosso trono só porque nós não vos queremos derrubar. Já sois uma tal minoria que até entre o regimento de soldados que toma conta de vosso palácio os católicos são mais numerosos do que os que vos seguem. Só reinais, porque queremos. Os homens a quem martirizais, a esses deveis o vosso império."

Pouco depois, vinha a batalha de Ponte Mílvia, Constantino derrotava os pagãos, e a Igreja começou a expandir-se sobre toda a Terra.

Nós, os isolados, temos que ser cada vez mais numerosos. Devemos procurar os isolados por toda a parte, para formar uma só grei conosco. Isso é o que nós devemos fazer. Feito isso, poderemos dizer: "Nós vencemos!" Foi a vitória gloriosa da gloriosa legião dos isolados. Isso é o que não devemos perder de vista.

É preciso a mãe dizer isso à sua filha. "Mas a minha filha ficará apavorada!" Reze. Nossa Senhora terá pena dela. Ofereça sacrifícios etc.

Como uma senhora, mãe de família, correspondente da TFP, tem que enfrentar os ambientes aí fora, como, por exemplo: escola, médico, vizinhos?

Acabo de dizer.

O que as senhoras devem querer de suas filhas na escola, as senhoras devem dar o exemplo na vida que levam. Portanto, por toda a parte saber que não vão ser bem vistas, saber que não vão ser bem acolhidas. Mas, no Céu, Nosso Senhor Jesus Cristo olha o nosso sacrifício. Nossa Senhora olha para o nosso isolamento. E os Anjos cantam a nossa glória. Devemos portanto ter a coragem de ser isolados. Não tem por onde escapar.

 

 

O que vem a ser o “Grand Retour”?

“Retour”, como as senhoras sabem, em francês, quer dizer volta. Alguém, por exemplo, vai fazer o seu “retour à la maison”, quer dizer, vai voltar para casa. Foi comprar uma coisa e retorna a casa. “Retour” é o voltar. A “grande volta”, “Grand Retour”, é a atitude da alma pela qual, recebendo graças extraordinárias, readquire de algum modo a sua inocência primeva. A inocência de alma que tinha antes da série de imperfeições que marcaram a sua vida.

* O “ensabugamento”

Também na vida daquele que pertence à TFP, ou daquele que é um ou uma correspondente da TFP, acontece que, logo no começo, a pessoa entra para a TFP e se entusiasma muito, ou fica Correspondente da TFP, entusiasmando-se muito. Mas esse primeiro entusiasmo que às vezes dura um ano ou dois, depois com a vida de todos os dias, fica exposto ao risco de decair. E, com essa decadência, acontece que pessoa perde a primeira visão luminosa que tinha da TFP. E fica meio indiferente, meio paralisada, sem entusiasmo – para usar a expressão em curso dentro da TFP – fica “ensabugada”.

As senhoras sabem o que é um sabugo de milho. É uma coisa que não serve para nada. Só serve para ser jogado fora. Às vezes, uma pessoa fica de uma tal indiferença, que é como um sabugo de milho, pois mais vale a pena jogar fora, porque não adianta de nada.

* Definição de “Grand Retour”

O “Grand Retour” é uma graça que Nossa Senhora dá pela qual os que já eram fervorosos crescem em fervor de repente. Os que eram apenas decentes, aceitáveis, se transformam em muito fervorosos. E os que eram “sabugos”, de repente, se enchem de “grãos”... É, portanto, uma verdadeira conversão.

Esta conversão de que maneira se dará?

Sabemos no que ela consiste. Compreendemos que esse estado de desânimo e de falta de entusiasmo resultam em grande parte das péssimas condições do mundo contemporâneo. Se é verdade que as pessoas têm culpa, é verdade que Nossa Senhora tem para com elas uma compaixão especial. Em determinado momento, tomando em consideração o quanto essas pessoas tiveram que enfrentar de risco, Nossa Senhora obtém de Nosso Senhor, por misericórdia, uma mudança na pessoa. Essa mudança seria, em ponto pequeno, algo um tanto ou quanto comparada com um Pentecostes.

Quer dizer, de repente, alguns, na TFP, recebem certas graças, que se contagiam a todos os outros. E todos ficam com a possibilidade de ter toda a perfeição que teriam se tivessem sido fiéis sempre, e mais ainda do que isso. É uma graça de perdão que Nossa Senhora dá por tudo quanto não foi perfeito antigamente. E é ao mesmo tempo uma graça que Nossa Senhora dá para se enfrentar a “Bagarre”, que deve vir depois do “Grande Retour”. Portanto, é uma transformação da pessoa para enfrentar a “Bagarre”.

* Os lapsi do Coliseu e os dos tempos modernos

No tempo das catacumbas – a que eu estou a referir-me muito hoje, pela analogia das situações – dava-se o fato de que uma pessoa (um homem ou uma senhora) era levada para o Circo ou Coliseu e ou deitava um punhado de incenso diante do ídolo, que estava ali dentro, e a pessoa era libertada, significando que renunciava à Igreja Católica; ou a pessoa tinha coragem, jogava o incenso no chão, e, então, era levada para as feras, que a comiam.

Havia muitos que não tinham a coragem de recusar o incenso. Não tinham coragem de enfrentar as feras e jogavam, portanto, o incenso no fogo, renunciando a Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas, ao chegar fora (do coliseu ou do circo) ficavam transidos de dor e vergonha pela ação péssima que tinham praticado. Por causa disso, à noite, quando chegava a hora em que, nas sombras da Roma que dormia, se esgueiravam as figuras das pessoas que queriam ir rezar lá embaixo (nas catacumbas), esses miseráveis apóstatas também para lá se dirigiam cautelosamente. Eram chamados lapsi, os lapsos, os relapsos, os moleirões. Eram obrigados a fazer penitência. Porém, rezavam... E, muitas vezes, no dia seguinte, já eram levados de novo para o circo e ali não queimavam mais o incenso.

* São Marcelo, Papa, um lapsi que se converteu

Houve um Papa, chamado Marcelo, se não me engano, que, ele, queimou incenso diante dos ídolos. Um Papa! Tendo queimado incenso, saiu (do circo), ficou horrorizado e fugiu para uma região vazia, erma, onde ficou fazendo penitência. Depois, voltou a Roma e foi recebido pelos fiéis como Papa ainda. Abjurou o que tinha feito, pediu perdão etc. E, pouco depois, a polícia do imperador pegou-o e levou-o para o Coliseu. Ele morreu com uma constância admirável. Hoje, quando falamos dele, dizemos: São Marcelo, Papa.

Esta é a misericórdia que Nossa Senhora obtém de Nosso Senhor.

Obtém também para os nossos defeitos, para as nossas falhas. Quando nós, às vezes, somos lapsos no nosso caminho, Nossa Senhora tem pena e faz voltarmos. O modo por excelência de voltar será o “Grand Retour”.

* Como será o “Grand Retour”?

Como será? A que hora? Também não sei! Será quando estiverem todos juntos? Eu não posso imaginar quando as quinze TFPs existentes em 15 países, por enquanto – pois tende a ser mais – vão estar juntas... Eu não posso imaginar isto. Eu acho que poderá ser mais bem numa determinada hora, num determinado momento, ver-se no Céu um sinal... e, ao mesmo tempo, todos os da TFP – sócios, cooperadores, correspondentes e esclarecedores – receberão graças, ficando completamente mudados. Este será o “Grand Retour”.

Eu pergunto se essa noção de “Grand Retour” está clara ou não?

Teremos voltado a Nosso Senhor, a Nossa Senhora.

* O que é a “Bagarre”?

Agora, o que é a “Bagarre”?

A “Bagarre” é uma expressão francesa que quer dizer um quebra-quebra, uma bagunça de rua. Isto é a “Bagarre”. E, por uma coisa de linguagem interna da TFP ficou se chamando a grande batalha final entre os bons e os maus – esta batalha – ficou chamando-se “Bagarre”.

* Extensão do termo “Bagarre”

Por extensão, ficou-se chamando também “Bagarre” o período em que a luta entre os bons e os maus será desencadeada e, em certo momento, violenta. Haverá bons em número suficiente para enfrentar os maus.

* Nessa luta, aparecerão Anjos e a Rainha dos Anjos, para eliminar da face da Terra os maus

Nessa luta, haverá também guerra de Anjos contra demônios. Os Anjos do lado dos bons, os demônios do lado dos maus. Provavelmente, os bons estarão quase perdidos, quando o Céu se abre e São Miguel Arcanjo desce com as legiões dos Anjos e atrás dele Nossa Senhora, “Regina Angelorum” [Rainha dos Anjos], far-se-á ver e os maus ficarão completamente esmagados. Isto é o que está previsto em Fátima, com terremotos, incêndios, com morticínios, com toda a forma de violência e de horrores, para castigar os homens maus, os homens que não se arrependerem durante a “Bagarre”. Estes serão eliminados da Terra. Só ficarão os que se converterem sinceramente. E, quando terminar a “Bagarre”, o mundo só terá justos, gente do Reino de Maria.

Então, será tudo diferente e, segundo eu imagino, os Anjos cantarão, e nós os ouviremos na Terra, e organizaremos a grande procissão do triunfo de Nossa Senhora. [Palmas]

* Veremos a Santíssima Virgem e haverá o grande cortejo triunfal de inauguração do Reino de Maria

Ouso imaginar, ouso imaginar... que nessa ocasião a própria Santíssima Virgem – pessoalmente – estará presente e se tornará visível a nós. Não vejo nada de absurdo nisso. Em Roma, venera-se na igreja de Sant’Andrea delle Fratte [também conhecida como igreja “Madonna del Miracolo”, Nossa Senhora do Milagre, n.d.c.] um altar onde, no século passado, Nossa Senhora apareceu a um judeu [Alphonse Ratisbonne] que estava lá esperando um amigo que tinha ido à sacristia encomendar uma Missa, olhando para aquelas imagens, e, de repente, apareceu-lhe num altar, visível para ele, de pé, encostando os pés sagrados d'Ela na própria toalha do altar, e falando com ele. Na mesma hora se converteu. É o famoso padre Ratisbonne, que iniciou um apostolado de conversão dos judeus.

* Será o maior triunfo da História da Igreja depois da Ressurreição e do Pentecostes

Se para converter um judeu e fazê-lo padre, para iniciar um apostolado Nossa Senhora se tornou visível em todo o seu ser, por que não imaginar que para celebrar esse triunfo máximo da História da Igreja – depois da Ressurreição e do Pentecostes será o maior triunfo – Nossa Senhora não esteja presente?

As senhoras podem imaginar o nosso encanto, a nossa alegria, enfim... tudo, ao olhar para trás, nessa enorme procissão, e perceber que os Anjos não estão olhando para nós, para trás de nós... olhando para Ela. A procissão toda pára, muda de rumo e toda a gente se põe de joelho diante dEla.

O que Ela dirá? O que ficará nas nossas almas de graças, de emoção, de santificação? Eu não sei. No momento, em que a tenhamos visto, estará fundado o Reino de Maria.

Esta é a explicação que tinha que dar.

Minhas senhoras, aqui está o que eu tinha que dizer de essencial. Lamento ter que interromper aqui, mas os seus esposos, seus filhos... estão à espera. Portanto, cabe-me aqui me despedir das senhoras. [Palmas]