Capítulo III, 5

 

 

E. Monarquia, república e religião

 

 

 

 

 

 

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A fim de evitar qualquer equívoco, convém acentuar que esta exposição não contém a afirmação de que a república é um regime político necessariamente revolucionário. Leão XIII deixou claro, ao falar das diversas formas de governo, que “cada uma delas é boa, desde que saiba caminhar retamente para seu fim, a saber, o bem comum, para o qual a autoridade social é constituída” (6).

Taxamos de revolucionária, isto sim, a hostilidade professada, por princípio, contra a monarquia e a aristocracia, como sendo formas essencialmente incompatíveis com a dignidade humana e a ordem normal das coisas. É o erro condenado por São Pio X na Carta Apostólica “Notre Charge Apostolique”, de 25 de agosto de 1910. Nela censura o grande e santo Pontífice a tese do “Sillon”, de que “só a democracia inaugurará o reino da perfeita justiça”, e exclama: “Não é isto uma injúria às outras formas de governo, que são rebaixadas, por esse modo, à categoria de governos impotentes, aceitáveis à falta de melhor?” (7) .

 Ora, sem este erro, inviscerado no processo de que falamos, não se explica inteiramente que a monarquia, qualificada pelo Papa Pio VI como sendo em tese a melhor forma de governo - praestantioris monarchici regiminis forma (8) -, tenha sido objeto, nos séculos XIX e XX, de um movimento mundial de hostilidade que deu por terra com os tronos e as dinastias mais veneráveis. A produção em série de repúblicas para o mundo inteiro é, a nosso ver, um fruto típico da Revolução, e um aspecto capital dela.

 

Garcia Moreno: insigne católico e Presidente do Equador (sec. XIX)

Não pode ser taxado de revolucionário quem para sua Pátria, por razões concretas e locais, ressalvados sempre os direitos da autoridade legítima, prefere a democracia à aristocracia ou à monarquia. Mas sim quem, levado pelo espírito igualitário da Revolução, odeia em princípio, e qualifica de injusta ou inumana por essência, a aristocracia ou a monarquia.

Desse ódio antimonárquico e antiaristocrático, nascem as democracias demagógicas, que combatem a tradição, perseguem as elites, degradam o tônus geral da vida, e criam um ambiente de vulgaridade que constitui como que a nota dominante da cultura e da civilização... se é que os conceitos de civilização e de cultura se podem realizar em tais condições.

Como diverge desta democracia revolucionária a democracia descrita por Pio XII: “Segundo o testemunho da História, onde reina uma verdadeira democracia, a vida do povo está como que impregnada de sãs tradições, que é ilícito abater. Representantes dessas tradições são, antes de tudo, as classes dirigentes, ou seja, os grupos de homens e mulheres ou as associações, que dão, como se costuma dizer, o tom na aldeia e na cidade, na região e no país inteiro.

“Daqui, em todos os povos civilizados, a existência e o influxo de instituições eminentemente aristocráticas, no sentido mais elevado da palavra, como são algumas academias de larga e bem merecida fama. Pertence a este número também a nobreza” (9). Como se vê, o espírito da democracia revolucionária é bem diverso daquele que deve animar uma democracia conforme a doutrina da Igreja. 

Notas:

(6) Encíclica “Au Milieu des Solicitudes”, de 16-II-1892, Bonne Presse, Paris, vol. III, p. 116.

(7) A.A.S., vol. II, p. 618.

(8) Alocução ao Consistório, de 17-VI-1793, “Les Enseignements Pontificaux - La paix intérieure des Nations - par les moines de Solesmes”, Desclée & Cie., p. 8.

(9) Alocução ao Patriciado e à Nobreza Romana, de 16-I-1946, Discorsi e Radiomessaggi, vol. VII, p. 340.

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