Capítulo VII

 

 

Obstáculos à Contra-Revolução

 

 

 

 

 

 

 

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1. Escolhos a evitar entre os contra-revolucionários

Os escolhos a evitar entre os contra-revolucionários estão, muitas vezes, em certos maus hábitos de agentes da Contra-Revolução.

Nas reuniões ou nos impressos contra-revolucionários a temática deve ser cuidadosamente selecionada. A Contra-Revolução deve mostrar sempre um aspecto ideológico, mesmo quando trata de questões muito pormenorizadas e contingentes. Revolver, por exemplo, os problemas político-partidários da História recente ou da atualidade pode ser útil. Mas dar excessivo realce a questiúnculas pessoais, fazer da luta com adversários ideológicos locais o principal da ação contra-revolucionária, apresentar a Contra-Revolução como se fosse uma simples nostalgia (não negamos, aliás, é claro, a legitimidade dessa nostalgia) ou um mero dever de fidelidade pessoal, por mais santo e justo que este seja, é apresentar o particular como sendo o geral, a parte como sendo o todo, é mutilar a causa que se quer servir.

2. Os “slogans” da Revolução

Outras vezes estes obstáculos estão em “slogans” revolucionários aceitos, não de raro, como dogmas até nos melhores ambientes.

A. “A Contra-Revolução é estéril por ser anacrônica”

O mais insistente e nocivo desses “slogans” consiste em afirmar que em nossa época a Contra-Revolução não pode medrar porque é contrária ao espírito dos tempos. A História, diz-se, não volta atrás.

A Religião Católica, segundo esse singular princípio, não existiria. Pois não se pode negar que o Evangelho era radicalmente contrário ao meio em que Nosso Senhor Jesus Cristo e os Apóstolos o pregaram. E a Espanha Católica, germano-romana, também não existiria. Pois nada se parece mais com uma ressurreição, e portanto, de algum modo, com uma volta ao passado, do que a plena reconstituição da grandeza cristã da Espanha, ao cabo dos oito séculos que vão de Covadonga até a queda de Granada. A Renascença, tão cara aos revolucionários, foi, ela mesma, sob vários aspectos pelo menos, a volta a um naturalismo cultural e artístico fossilizado havia mais de mil anos.

 

Conquista de Granada aos muçulmanos pelos Reis Católicos Isabel e Fernando (1492)

A História comporta vais e vens, portanto, quer nas vias do bem, quer nas do mal.

Aliás, quando se vê que a Revolução considera algo como coerente com o espírito dos tempos, é preciso circunspeção. Pois não raras vezes se trata de alguma velharia dos tempos pagãos, que ela quer restaurar.

O que têm de novo, por exemplo, o divórcio ou o nudismo, a tirania ou a demagogia, tão generalizados no mundo antigo?

Por que será moderno o divorcista e anacrônico o defensor da indissolubilidade?

O conceito de “moderno” para a Revolução se cifra no seguinte: é tudo quanto dê livre curso ao orgulho e ao igualitarismo, bem como à sede de prazeres e ao liberalismo.

B. “A Contra-Revolução é estéril por ser essencialmente negativista”

Outro “slogan”:  a Contra-Revolução se define por seu próprio nome como algo de negativo, e portanto de estéril. Simples jogo de palavras. Pois o espírito humano, partindo do fato de que a negação da negação importa numa afirmação, exprime de modo negativo muitos de seus conceitos mais positivos:  in-falibilidade, in-dependência, in-nocência, etc. Lutar por qualquer desses três objetivos seria negativismo, só por causa da formação negativa em que eles se apresentam? O Concilio do Vaticano, quando definiu a infalibilidade papal, fez obra negativista? A Imaculada Conceição é prerrogativa negativista da Mãe de Deus?

Se se entende por negativista, de acordo com a linguagem corrente, algo que insiste em negar, em atacar, e em ter os olhos continuamente voltados para o adversário, deve-se dizer que a Contra-Revolução, sem ser apenas negação, tem em sua essência alguma coisa de fundamental e sadiamente negativista. Constitui ela, como dissemos, um movimento dirigido contra outro movimento, e não se compreende que, numa luta, um adversário não tenha os olhos postos sobre o outro e não esteja com ele numa atitude de polêmica, de ataque e contra-ataque.

C. “A argumentação contra-revolucionária é polemica e nociva”

O terceiro “slogan” consiste em censurar as obras intelectuais dos contra-revolucionários, por seu caráter negativista e polêmico, que as levaria a insistir demais na refutação do erro, em lugar de fazer a explanação límpida e despreocupada da verdade. Elas seriam, assim, contraproducentes, pois irritariam e afastariam o adversário. Exceção feita de possíveis demasias, esse cunho aparentemente negativista tem uma profunda razão de ser. Segundo o que foi dito neste trabalho, a doutrina da Revolução esteve contida nas negações de Lutero e dos primeiros revolucionários, mas apenas muito lentamente se foi explicitando no decorrer dos séculos. De maneira que os autores contra-revolucionários sentiram, desde o início, e legitimamente, dentro de todas as formulações revolucionárias, algo que excedia à própria formulação. Há muito mais a mentalidade da Revolução a considerar em cada etapa do processo revolucionário, do que simplesmente a ideologia enunciada nessa etapa. Para fazer trabalho profundo, eficiente, e inteiramente objetivo, é, pois, necessário acompanhar passo a passo o desenrolar da marcha da Revolução, num penoso esforço de explicitação das coisas implícitas no processo revolucionário. Só assim é possível atacar a Revolução como de fato deve ela ser atacada. Tudo isto tem obrigado os contra-revolucionários a ter constantemente os olhos postos na Revolução, pensando, e afirmando as suas teses, em função dos erros dela. Neste duro trabalho intelectual, as doutrinas de verdade e de ordem existentes no depósito sagrado do Magistério da Igreja são, para o contra-revolucionário, o tesouro do qual ele vai tirando coisas novas e velhas46 para refutar a Revolução, à medida que vai vendo mais fundo nos tenebrosos abismos desta.

Assim, pois, em vários de seus mais importantes aspectos é sadiamente negativista e polêmico o trabalho contra-revolucionário. É, aliás, por razões não muito diversas que o Magistério Eclesiástico vai definindo as verdades, o mais das vezes, em função das diversas heresias que vão surgindo ao longo da História. E formulando-as como condenação do erro que lhes é oposto. Assim agindo, a Igreja nunca receou fazer mal às almas.

3. Atitudes erradas em face dos “slogans” da Revolução

A. Abstrair dos “slogans” revolucionários

O esforço contra-revolucionário não deve ser livresco, isto é, não pode contentar-se com uma dialética com a Revolução no plano puramente cientifico e universitário. Reconhecendo a esse plano toda a sua grande e até muito grande importância, o ponto de mira habitual da Contra-Revolução deve ser a Revolução tal qual ela é pensada, sentida e vivida pela opinião pública em seu conjunto. E neste sentido os contra-revolucionários devem atribuir uma importância muito particular à refutação dos “slogans” revolucionários.

B. Eliminar os aspectos polêmicos da ação contra-revolucionária

A idéia de apresentar a Contra-Revolução sob uma luz mais “simpática” e “positiva” fazendo com que ela não ataque a Revolução, é o que pode haver de mais tristemente eficiente para empobrecê-la de conteúdo e de dinamismo47.

Quem agisse segundo essa lamentável tática mostraria a mesma falta de senso de um chefe de Estado que, em face de tropas inimigas que transpõem a fronteira, fizesse cessar toda resistência armada, com o intuito de cativar a simpatia do invasor e, assim, paralisá-lo. Na realidade, ele anularia o ímpeto da reação, sem deter o inimigo. Isto é, entregaria a pátria...

Não quer isto dizer que a linguagem do contra-revolucionário não seja matizada segundo as circunstâncias.

O Divino Mestre, pregando na Judéia, que estava sob a ação próxima dos pérfidos fariseus, usou de uma linguagem candente. Na Galileia, pelo contrário, onde predominava o povo simples e era menor a influência dos fariseus, sua linguagem tinha um tom mais docente e menos polêmico.

Notas:

46) Cfr. Mt. 13,52.

47) Cfr. Parte II - Cap. VIII, 3, B.

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