Na iminência das votações divorcistas

Catolicismo“, nº 318, junho de 1977

Comunicado da TFP

Sob esse título, foi distribuído à imprensa do País, poucos dias antes da votação das emendas divorcistas pelo Congresso Nacional, o seguinte comunicado:

Tendo em consideração que, nos dias 14 e 15 de junho, o Congresso Nacional decidirá, em reunião conjunta da Câmara e do Senado, sobre emendas à constituição visando estabelecer o divórcio em nosso País, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP):

  1. Dirige-se ao público, e de modo especial à imensa maioria católica do Brasil, a fim de salientar a gravidade dramática da decisão que será então tomada. A família é a base da sociedade. A indissolubilidade do vínculo conjugal é por sua vez base da família. Os destinos do País no que têm de mais básico, julgar-se-ão portanto naquelas sessões do Congresso Nacional.
  2. Uma eventual aprovação do divórcio acarretaria trauma profundo na consciência religiosa do País. O referido trauma, sempre danoso, sê-lo-ia especialmente no quadro de agitação e confusão que o País – como o mundo inteiro – atravessa.

Este grave motivo, de ordem circunstancial, por certo terá firmado ainda mais os Senhores Senadores e Deputados antidivorcistas no propósito de se empenharem a fundo em obter a rejeição do divórcio.

Mais ainda, segundo informa a imprensa, os próprios Senhores Senadores e Deputados divorcistas, atendendo às patrióticas razões cinscunstanciais já indicadas, teriam formado o propósito de não se empenharem na presente ocasião, pela implantação do divórcio.

Tudo isso faz honra a uns e a outros.

III. O que é a atualidade política hoje, será história amanhã. E os historiadores mais célebres concordam em que o papel dos fatos imprevistos e dos casos fortuitos – independentes tantas vezes da vontade dos que participam dos grandes prélios da vida pública – altera com freqüência o curso previsível dos acontecimentos.

E, paradoxo, alteram-no por vezes com especial facilidade, exatamente porque era previsto. Em outros termos, todos confiavam em que os fatos corressem de certo modo. Várias das providências necessárias para tal são assim omitidas ou realizadas a meias, precisamente porque tidas como supérfluas. Isto permite ao Imprevisto que salte para dentro da liça e mude o desfecho da luta.

  1. A TFP levanta suas preces a Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, para que o divórcio ainda desta vez seja rejeitado. E ela participa com toda população, da confiante perspectiva de que assim o seja.

Isso não impede de manter alerta a vigilância contra o Imprevisto.

Ela dirige, assim, um cordial e atencioso apelo a todos os Senhores Senadores e Deputados antidivorcistas para uma plena mobilização de suas influências e de sua ação, nos magnos dias em que se efetuarão as votações sobre o divórcio. E, por sua vez, a entidade apela respeitosamente para os Senhores Senadores e Deputados divorcistas, no sentido de que poupem à opinião católica de nosso querido País o impacto da aprovação do divórcio, tão particularmente traumatizante nos dias que correm.

E pede a todas as forças vivas do Brasil, empenhadas na manutenção da indissolubilidade do vínculo conjugal instituída pelo próprio Cristo Jesus (“O que Deus uniu, o homem não separe”, Mt. 19, 6) para que façam subir aos representantes do Legislativo Federal, da Nação que conta com a maior população católica da terra, o clamor geral contra a medida que, aluindo de imediato a família, exporá a fatais riscos a Pátria brasileira.

 Plinio Corrêa de Oliveira

Presidente do Conselho Nacional

(*) Em três artigos para a “Folha de S. Paulo”, Plinio Corrêa de Oliveira analisou a marcha do imprevisto, e mostrou a responsabilidade da CNBB na catástrofe, em razão da imprevidência e moleza com que conduziu a luta em prol da estabilidade da família: Mas a CNBB não quis…, de 16-5-1977; Foguetório, e não bombardas, de 25-6-1977; e 34-75-77, de 27-7-1977.

Alguns anos depois, o Sr. Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro, D. Eugênio Sales, declarou: “Se a Igreja no Brasil tivesse lutado como o cardeal Motta, o divórcio não teria sido aprovado” (“O Globo”, 21-9-82). Afirmação coincidente com as observações do Prof. Plinio, acerca da insuficiência da quase totalidade das declarações episcopais contrárias ao divórcio, no momento em que a matéria era debatida no Congresso: cfr. Para a corda de aço, escravos, “Folha de S. Paulo”, 24-10-1982.

Para outros aprofundamentos, vide: “Um homem, uma obra, uma gesta – Homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira” (1989), Capítulo II: 1964 – 1970 e Capítulo III, 1970 – 1979.

 

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