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Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

 

A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo

no pensamento de

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

 

 

© 2008 - Todos os direitos desta edição pertencem ao

INSTITUTO PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Dezembro de 2008

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Textos ilustrativos

 

Parte II — Capítulo 3

 

Os homens formam à sua imagem os ambientes,

os costumes e as civilizações

 

1. Da realidade se aprende, com a realidade se ensina

Giovanni Cantoni: «Os Exercícios [Espirituais de Santo Inácio] — escreve [o Pe. Giuseppe De Genaro S.J.]* […] — situados na literatura do fazer e estranhos àquela do belo dizer ou da bela forma, se apresentam como um complexo organizado de regras geradoras da linguagem, como uma gramática da interlocução com Deus». […]

* Introduzione agli Esercizi Spirituali, Gli scritti, p. 65.

Portanto, como os Exercícios Espirituais, também Revolução e Contra-Revolução [de Plinio Corrêa de Oliveira] faz parte da «literatura do fazer», é texto que orienta e define relações — ou melhor, orienta a definir relações —, constitui uma «gramática» elementar das relações do homem social, da sociedade, com Deus.

«Tendências», «ambientes», «cultura» e «civilização» na órbita da «vontade». — Os termos-chave para colher, portanto, ao menos um aspecto de novidade — talvez o principal aspecto de novidade — de Revolução e Contra-Revolução, nas diversas literaturas e no gênero literário de que faz parte, são «tendência», «ambiente», «cultura» e «civilização», a serem examinados no interior da doutrina relativa à «vontade». Através deles se pode buscar luz sobre a obra em exame, sobretudo na parte I, capítulo X, A cultura, a arte e os ambientes, na Revolução, mas também em outros escritos, em primeiro lugar naqueles a respeito do tema, como as póstumas Notas sobre o conceito de Cristandade — Caráter espiritual e sacral da sociedade temporal e sua «ministerialidade», editadas pela primeira vez em italiano em 1998, e as Considerações sobre a cultura católica, de 1954. […]

Portanto, sem absolutamente negligenciar, nem muito menos subvalorar outros aspectos da obra de Corrêa de Oliveira, creio que uma das suas expressões mais originais, um de seus maiores contributos tanto ao pensamento como à ação contra-revolucionários consiste na extraordinária capacidade de síntese com a qual expõe, de modo aforismático-catequético, o pensamento de uma escola, precisamente a católica contra-revolucionária. Mas, sobretudo, conforme sua própria confissão, sempre no Auto-retrato filosófico, na perspectiva por ele exposta, «durante vários anos, [através da] seção Ambientes, Costumes, Civilizações, por muitos apontada como a expressão rica e original de uma escola de produção intelectual». […]

«Tal análise — prossegue o mestre brasileiro —, feita à luz dos princípios que explicitei em Revolução e Contra-Revolução, tinha por meta mostrar que a vida de todos os dias, em seus aspectos-ápices ou triviais, é suscetível de ser penetrada pelos mais altos princípios da Filosofia e da Religião. E não só penetrada, mas também utilizada como meio adequado para afirmar ou então negar — de modo implícito, é verdade, mas insinuante e atuante — tais princípios. De tal forma que, freqüentemente, as almas são modeladas muito mais pelos princípios vivos que pervadem e embebem os ambientes, os costumes e as civilizações, do que pelas teorias por vezes estereotipadas e até mumificadas, produzidas à revelia da realidade, em algum isolado gabinete de trabalho ou postas em letargo em alguma biblioteca empoeirada». […]

Quanto à reflexão também sobre as «pequenas realidades», consideradas tais em face da religião, da filosofia e da política — reflexão sintetizada num capítulo de Revolução e Contra-Revolução, e mais amplamente exposta nas póstumas Notas sobre o conceito de Cristandade — ela se revela um itinerário pedagógico nos dois sentidos: da realidade se aprende, com a realidade se ensina.*

* Do ensaio A contribuição de Plinio Corrêa de Oliveira e de Revolução e Contra-Revolução para o desenvolvimento do pensamento e da ação contra-revolucionários, in Per uma civiltà cristiana nel terzo milennio, Sugarco Edizioni, Milano, 2008, pp. 237-238, 241-243.

 

2. O sorriso que fendeu a muralha

Benoît Bemelmans: Vendo algumas revistas católicas espalhadas na estante, apanhei uma que não conhecia. [...] Folheei as poucas páginas, sem grande interesse, quando um título me chamou a atenção: O sorriso que fendeu a muralha.

Que sorriso é esse, e que muralha é essa? Pode um sorriso rachar um paredão? Comecei a leitura do artigo, imaginando que um bom sorriso teria derrubado a muralha má. Mas era exatamente o oposto. [...]

«Por detrás da máscara risonha, a Rússia não mudou. Terá mudado a Espanha?

«Esta se encontra, no momento, sob a pressão da maior tentação de sua história. Um Papa e um pretendente carlista aconselham a abraçar o urso que vem em direção a ela, risonho e de garras encolhidas. O jovem rei concede anistia a alguns maus espanhóis, agentes da Rússia.

«Rezemos pela Espanha, nesta grave encruzilhada, ou melhor, nesta suprema tentação.

«Nossa Senhora do Pilar poderá atender nossas orações e as de tantos espanhóis cautos e cheios de fé vigorosa».

Quem será que escreveu isto? — perguntei-me. Preciso guardar o nome, e se encontrar outras coisas do mesmo autor, vou querer ler. Voltei à pagina anterior, para decifrar o nome sob o título do artigo. Não o conhecia, e naquele momento pensei que fosse espanhol (aos 14 anos, não era nada bom em geografia: pouco antes, eu havia descoberto que o Brasil fica na América do Sul, e não na África). Na verdade, eu tinha encontrado Plinio Corrêa de Oliveira, numa sala de estudos de um colégio católico, nas páginas da pobre revista da então incipiente TFP francesa.

Sobretudo tinha deparado, neste simples artigo, com algumas das características essenciais de seu pensamento e modo de atuar, presentes em muitos de seus escritos, e que iria encontrar continuamente nos contatos com ele ao longo dos vinte anos seguintes.

Notei em primeiro lugar a importância que ele dava à capacidade dos adversários da Igreja, de utilizar-se de uma ação tendencial: um sorriso, um estado de espírito, uma maneira de se apresentar podem ser mais eficazes do que muitos manifestos comunistas.

Em segundo lugar ele denunciava, de maneira sempre respeitosa mas determinada, o papel de alguns elementos da Hierarquia católica espalhando um estado de espírito que favorece a Revolução universal em curso.

Por fim, diante de situações sócio-políticas trágicas, ele recorria confiante a Nossa Senhora, cuja intervenção na História traz a certeza do êxito.

Em resumo, dele aprendi a importância capital das tendências no processo revolucionário, um embate que se dá hoje no seio da própria Igreja, entre os que querem abraçar o mundo revolucionário e os que querem combatê-lo; e o papel da oração e de Nossa Senhora na História, para se chegar à certeza da vitória. Estes são alguns dos pontos essenciais que constituem a originalidade e o valor das explicitações e da ação de Plinio Corrêa de Oliveira.

Da ação, sim, pois outra característica de sua vida foi justamente a de somar a ação contra-revolucionária às explicitações doutrinárias sobre a natureza da Revolução, não ficando apenas na teoria.*

* Ambientes, Costumes, Civilizações — O papel da tendências no embate da Revolução e da Contra-Revolução, in Plinio Corrêa de Oliveira, dez anos depois..., Associação dos Fundadores da TFP, São Paulo, 2005, pp. 223-226.