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Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

 

A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo

no pensamento de

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

 

 

© 2008 - Todos os direitos desta edição pertencem ao

INSTITUTO PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Dezembro de 2008

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Textos ilustrativos

 

 

Parte II — Capítulo 6

 

A procura do absoluto, a «quarta via» de Santo Tomás e a teoria da «participatio»

 

1. A «quarta via» se funda em que  o bem, a verdade, a nobreza e outros atributos se encontram em graus diversos nas coisas

Santo Tomás de Aquino: A quarta via se funda nos graus que se encontram nas coisas. — Assim, nelas se encontram em proporção maior e menor o bem, a verdade, a nobreza e outros atributos semelhantes. Ora, o mais e o menos se dizem de diversos atributos, enquanto se aproximam de um máximo; assim, o mais cálido é o que mais se aproxima do maximamente cálido. Existe, portanto, algo verdadeiríssimo, ótimo e nobilíssimo e, por conseguinte, maximamente ser; pois as coisas maximamente verdadeiras são maximamente seres, como diz o Filósofo. Ora, o que é maximamente tal, em um gênero, é causa de tudo que esse gênero compreende; assim o fogo, maximamente cálido, é causa de todos os cálidos, como no mesmo lugar se diz. Logo, há um ser, causa do ser, e da bondade, e de qualquer perfeição em tudo quanto existe, e chama-se Deus.*

* Suma Teológica I, q. 2, a.3.

 

2. A «philosophia perennis» de Plinio Corrêa de Oliveira

Roberto de Mattei: O Prof. Plinio convidou seus discípulos a aprofundar a noção de analogia entis e a teoria da participação, bem como o valor gnoseológico e metafísico do símbolo. A visão de Plinio Corrêa de Oliveira é, como a medieval, «uma grandiosa e nobre concepção do mundo, um grande sistema de símbolos, uma catedral de idéias, a mais rica expressão rítmica e polifônica de todo o pensável» (Johann Huizinga, Autumno de Medioevo, Rizzoli, Milão, 1995, p. 283). Para o homem medieval nada existe sem significado, «nihil vacuum neque sine signo apud Deum» (Santo Irineu, Adversus haereses, livros V, 1, IV, c. 2) e tudo que existe foi feito de modo a despertar o pensamento e a lembrança de Deus. «Em cada criatura existe o esplendor da causa exemplar divina […]. Assim, cada ser é uma via que conduz ao exemplar, é sinal da sabedoria de Deus» (São Boaventura, Hexameron, col. 12, nº 14-15).

São Boaventura propõe-nos um itinerário da alma até Deus «através dos sinais» do mundo sensível que, sob aspectos sempre diversos e desiguais, nos dirigem um único apelo divino. A verdade das coisas consiste em representar a Verdade suprema, a causa exemplar. É esta semelhança entre a criatura e o Criador que nos permite elevar-nos a partir das coisas até Deus. «O intelecto humano foi criado para ascender gradualmente — como degraus de uma escada — até o sumo Princípio que é Deus» (São Boaventura, Breviloquium, p. 2, c. 2).

Entre as «provas» clássicas da existência de Deus, Plinio Corrêa de Oliveira apreciou sobretudo a «quarta via», entendendo-a, porém, como um método de formação e um processo psicológico que plasma a alma humana, mais do que um abstrato silogismo filosófico.

A «quarta via», que conduz a Deus, ser perfeitíssimo, através das perfeições das quais participam todas as criaturas, em medidas e graus diversos, é aquela na qual maior é o aspecto platônico. Ela mostra-nos Deus não só como causa eficiente e causa final, mas também como causa exemplar da criação, e contempla a ordem da criação como universo de harmonia e de beleza, reflexo da Beleza incriada divina. […]

A filosofia moderna, a partir de Kant, reduziu a beleza a um elemento puramente subjetivo. O belo, entretanto, segundo a philosophia perennis, é uma propriedade transcendental do ser. Isto é, uma perfeição que convém a todas as coisas, sem exceção, pelo fato de existirem. Enquanto propriedade do ser, o pulchrum está ligado aos atributos transcendentais: ao verdadeiro, porque agrada aquilo que é conhecido pelo intelecto; e ao bem, porque o objeto do belo satisfaz o apetite sensível. O belo é o esplendor da verdade e do bem ou, dito de outro modo, uma síntese da verdade e do bem. […]

A glória de Deus, fim último do homem e da História, é a contemplação da Sua beleza, e é isto que constitui a felicidade do homem. Com efeito, se o homem, conhecendo a Verdade, se move em direção ao fim, que é o bem divino, fá-lo com um élan ainda maior quando entrevê Deus através das coisas criadas. Plinio Corrêa de Oliveira foi um ardente paladino do belo como arma por excelência da Contra-Revolução no século XX.

Se é verdade que o pulchrum é um outro nome do verum e do bonum, a sua substituição pelo horridum não é senão um aspecto, mais insidioso porque menos advertido, daquele  processo de destruição de todas as qualidades do ser que caracteriza a Revolução. Neste perverso amor pelo horroroso manifesta-se o ódio das forças revolucionárias pela beleza humana, imagem da divina. A Revolução quer destruir todas as formas de pulchrum na vida do homem, para tornar mais difícil, senão impossível, chegar a Deus por meio das criaturas.*

* De O cruzado do século XX: Plinio Corrêa de Oliveira, Livraria Civilização-Editora, Porto, 1997, pp. 185-188.

 

3. Luz intelectual cheia de amor

Plinio Corrêa de Oliveira: Diz a doutrina católica que Nosso Senhor é o motor imóvel. Ele nunca se move, mas dele procede o movimento que impulsiona todas as coisas. 

Dante fala do «amor que move o sol e as outras estrelas» — «Luz intelectual cheia de amor, amor cheio de todo bem», diz ele.* Deus é esse amor, fonte de todo movimento, fonte de toda vida. Ele, imóvel, e movendo tudo.

* «Luce intellettual, piena d’amore; amor di vero ben, pien di letizia; letizia che trascende ogni dolzore» (Divina Comédia, Paraíso, 33,145; 30,40).

Por vezes as coisas terrenas retratam a grandeza de Deus, movendo-se, e outras vezes não se movendo. Há seres que são extraordinariamente grandiosos movendo-se, e outros que o são em sua imobilidade. 

Nós que vivemos em um século que não adora apenas o movimento, mas sua caricatura, que é a agitação, faremos muito bem se cultivarmos em nós o gosto destas grandes manifestações de majestade, sobretudo quando se trata da majestade sacral e hierática da Igreja Católica.*

* Reunião de 25 de maio de 1976.