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Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

 

A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo

no pensamento de

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

 

 

© 2008 - Todos os direitos desta edição pertencem ao

INSTITUTO PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Dezembro de 2008

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Textos ilustrativos

 

 

Parte II — Capítulo 11

 

Resolvendo objeções: essa maneira de ver não está fora da realidade?

 

1. Encontrando a verdade da fé em um canto gregoriano

Paul Claudel: Nasci em 6 de agosto de 1868. Minha conversão ocorreu em 25 de dezembro de 1886. Eu tinha portanto, dezoito anos. Mas o desenvolvimento de meu caráter, nesse momento, já estava muito avançado. Fui educado, ou melhor, instruído, primeiramente por um professor livre, em colégios (leigos) de província, e por fim no Liceu Louis-le-Grand.

Desde meu ingresso nesse estabelecimento, tinha perdido a fé, que me parecia irreconciliável com a pluralidade dos mundos. A leitura de um livro de Renan forneceu novos pretextos a esta mudança de convicções que, aliás, tudo o que havia em torno de mim facilitava ou encorajava.

Todos os pretensos grandes homens deste século em ocaso se tinham distinguido por sua hostilidade à Igreja. Renan reinava.

Aos dezoito anos, portanto, eu acreditava no que cria a maioria das pessoas cultivadas desse tempo. Este mundo seria um encadeamento rígido de efeitos e causas, que a ciência depois de amanhã iria desvendar perfeitamente.

Aliás, eu vivia na imoralidade e, pouco a pouco, eu cai num estado de desespero. Este era o infeliz menino que, no dia 25 de dezembro de 1886, foi a Notre-Dame de Paris para acompanhar os ofícios natalinos. Eu começava, então, a escrever, e me parecia que, nas cerimonias católicas, consideradas com um diletantismo superior, eu encontraria um excitante apropriado e matéria para alguns exercícios decadentes. Foi nessas disposições que, acotovelado e empurrado pela multidão, eu assistia, sem muito prazer, à missa solene.

Depois, não tendo nada de melhor para fazer, voltei à recitação das Vésperas. Os meninos da matriz em seus trajes brancos e os alunos do pequeno seminário de Saint-Nicolas-du-Chardonnet que os assistiam, estavam cantando o que mais tarde soube ser o Magnificat. Eu estava de pé dentro da multidão, perto da segunda coluna, à entrada do coro, à direita do lado da sacristia. E então ocorreu o acontecimento que domina toda minha vida.

Em um instante, meu coração foi tocado e eu acreditei. Acreditei, com tal força de adesão, com tal elevação de todo meu ser, com uma convicção tão possante, com tal certeza que não deixava espaço para nenhuma espécie de dúvida que, depois, nenhum livro, nenhum raciocínio, nenhum acaso de uma vida agitada puderam abalar minha fé, nem, a bem dizer, tocar nela. Tive de repente o sentimento dilacerante da inocência, da eterna infância de Deus. Uma revelação inefável.

Tentando — como o fiz freqüentemente — reconstituir os minutos que se seguiram a esse instante extraordinário, encontro os elementos seguintes que, entretanto, formavam um só raio, uma só arma de que a Providência divina se servia para atingir, e por fim abrir, o coração de uma pobre criança desesperada: « Como são felizes as pessoas que crêem! Mas, e se fosse verdadeiro? É verdadeiro! Deus existe, Ele está lá. É como eu sou, é um ser tão pessoal como eu! Ele me ama, Ele me chama.» As lágrimas e soluções tinham vindo e o canto tão tenro do Adeste Fideles aumentava ainda minha emoção.*

* Ecclesia, Lectures chrétiennes, Paris, nº 1, abril de 1949, pp. 53-58.