Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Minha

 

Vida Pública

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Parte XII

Livros e Campanhas de grande repercussão na década de 1990

 

Capítulo II

Campanha pela libertação da Lituânia:o colapso do império comunista no Leste europeu (1990/1991)

 

A TFP diante do Teatro Municipal em São Paulo no encerramento da campanha

pela libertação da Lituânia

 

1.   Glasnost e perestroika: vem a furo o fracasso do comunismo

A espetacular queda do muro de Berlim em 9 de novembro de 1989 e da Cortina de Ferro, com as comoções políticas que as precederam e se lhe seguiram nos países do Leste europeu [17], de tal maneira mudaram o jogo político no mundo que em toda a minha vida não vi um acontecimento político-chave, que desse numa mudança tão brusca à maneira de uma explosão, como se deu este.

Reduzido ao nível do chão o muro de Berlim, como a Cortina de Ferro em geral, era impossível evitar que os entendimentos se fizessem rápidos, freqüentes, assíduos e fraternos entre um lado e outro da Alemanha. Tinha que sair um pensamento comum, uma atitude comum, uma tendência de ação comum.

E, assim, ponto por ponto, o edifício da prevenção anticomunista montada na Europa, iria se desfazendo.

Havia mais. Eu não cria que a Europa Ocidental desistisse do plano da federação pan-européia. E temia que ficasse aberta a situação para fazer a famosa Europa dos Urais até o Atlântico, em que entrassem juntos a Rússia e todos aqueles povos esmagados, martirizados, trucidados que ela levava consigo, cada um com um voto num Conselho Federal da Europa.

Com isso, seria constituído um super-governo, no qual todas as nações da Europa ficariam tão chumbadas e amarradas umas nas outras que, ou saía uma guerra, ou uma convergência* [18].

* Convergência esta entendida, evidentemente, como a fusão de todas as nações européias - ou mundiais - num amálgama dos respectivos regimes político-sociais. Em outros termos, convergência tendente a conduzir à adoção de um só regime semicomunista e semicapitalista, em que o pólo forte seria o comunismo e o pólo débil o capitalismo. Ou seja, esta convergência seria, em seus planos, uma etapa última para a conquista comunista do mundo.

*   *   *

Não obstante, era fato que a promessa gorbacheviana de instauração da perestroika na Rússia havia produzido, dentro e fora daquele país, talvez um dos maiores terremotos geopolíticos da História [19].

Naturalmente, encarei com muita simpatia a queda do prestígio internacional do comunismo que daí resultou.

A queda da Cortina de Ferro abriu completamente o Oriente a todo o mundo que quisesse visitá-lo. E as visitas revelaram uma situação tão infra-humana, que justificava inteiramente as palavras do então Cardeal Ratzinger a respeito dos países comunistas: “Não se pode desconhecer esta vergonha do nosso tempo: pretendendo proporcionar-lhes liberdade, mantêm-se nações inteiras em condições de escravidão indignas do homem” (cfr. Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação, Congregação para a Doutrina da Fé, 6 de agosto de 1984, n° XI, 10).

Ato de entrega dos microfilmes do abaixo-assinado de apoio à independência da Lituana foram levados a Vilnius por uma Comissão inter-TFPs, constituída de onze membros e presidida pelo diretor do Bureau-TFP de Paris, Dr. Caio Vidigal Xavier da Silveira. O ato de entrega ao Presidente Landsbergis foi efetuado em seu gabinete, localizado no Palácio do Parlamento

A comissão inter-TFPs, que esteve por lá para levar uma mensagem ao Presidente Vytautas Landsbergis, hipotecando todo o apoio dos cinco milhões de signatários à causa da independência da Lituânia (adiante iremos tratar desse assunto), voltou trazendo notícias e informações simplesmente espantosas a esse respeito.

O fato é que, com a glasnost (transparência), o mundo pôde ver um tal fracasso do regime comunista do ponto de vista de atender à necessidade dos pobres, que se deveria definir esse regime como aquele que, não apenas não atende a essa necessidade, mas reduz à extrema pobreza todos os que sob ele vivem [20].

Com a perestroika (reestruturação), as nações mantidas sob o guante de ferro do comunismo soviético, e que não vislumbravam a menor esperança de libertação, subitamente sacudiram esse jugo e tomaram o próprio destino em mãos. A Alemanha, dilacerada de alto a baixo se unificou.

Como não ver com ânimo esperançoso tão alentadoras transformações? [21]

2. Gorbachev, um embusteiro genial

Confesso que Gorbachev — que tantos admiravam e choraram quando veio a cair — sempre me pareceu um embusteiro, aliás genial.

Para obter dinheiro do Ocidente, ele criou a miragem de uma Rússia semi-exorcizada do perigo comunista. E com isto desmobilizou e desarmou os muitos que nele acreditaram. Ele foi, portanto, tragicamente nocivo [22].

Gorbachev representava, para mim, a ambigüidade suspeita de todas as más surpresas.

Um repórter certa vez chegou a me perguntar: “Então, o Gorbachev não é confiável?”. Respondi: — Nada, nem um pouco. Ele é desconfiável.

Vamos falar português claro: ele dependia das esmolas generosas e imprudentes que o capitalismo do Ocidente lhe estava dando, para a Rússia não se dissolver no caos e no magma completo da pobreza.

"Ora, foi isso o que ele fez com o Presidente Reagan e depois com Bush (pai). Depois continuou fazendo o mesmo com Helmut Kohl..."

Então fez essas promessas de liberalização para ganhar dinheiro. Um homem que faz uma promessa no ato de ganhar dinheiro, deve ser tido como discutível na sua promessa.

Ora, foi isso o que ele fez com o Presidente Reagan e depois com Bush (pai). Depois continuou fazendo o mesmo com Helmut Kohl, primeiro-ministro da Alemanha Ocidental.

Eu me perguntava o que o Gorbachev fez no sentido de restabelecer a propriedade privada na Rússia. Nada! O que ele fez no sentido de estabelecer a liberdade de comércio. Nada! Ninguém contava o que ele fez. Eu só sabia que ele pedia dinheiro, recebia e embolsava. Fora disso não se sabia mais nada [23].

Ele pedia dinheiro para fazer a reabertura do comércio, da propriedade privada, da liberdade de mercado. Recebia quantias fabulosas para isso e não executava nada.

Como é que se podia confiar nele? [24].

Entretanto, ele foi sendo transformado na coluna do mundo! Foi só tocar em Gorbachev durante a crise com Ieltsin em 1991, que as chancelarias das maiores potências e a mídia universal estremeceram. A sensação geral era de que, se ele fosse definitivamente derrubado, o mundo despencaria na guerra nuclear [25].

3. Nossa posição é de expectativa e vigilância

Então, qual era a posição da TFP diante dessas mudanças do Leste? A TFP apoiava ou não apoiava?

As mudanças do Leste, ela apoiaria, uma vez que fossem encaminhadas para o restabelecimento de uma ordem na qual a propriedade privada fosse reconhecida e a liberdade de mercado também.

Se não fossem reconhecidos esses dois fatores ou esses dois pilares de toda a ordem humana, a TFP não apoiaria.

Nossa suspeita a respeito de Gorbachev era de que, como comunista (ele se afirmara comunista mesmo depois da aproximação com os Estados Unidos), tinha a intenção de realizar o artigo 1° da Constituição soviética. Este artigo afirma que a finalidade do capitalismo de estado comunista é preparar a autogestão.

Para onde ele caminhava era para a preparação do comunismo autogestionário, a meu ver mais censurável do que o próprio capitalismo de estado [26]. Comunismo autogestionário este que todos os teóricos e líderes máximos do comunismo, desde Marx e Engels até Gorbachev, sempre apresentaram como a versão extrema e cabal do comunismo, a quintessência dele [27].

*   *   *

Neste contexto, estourou o caso da Lituânia.

A Lituânia é uma nação pequena. Mas, posta diante da alternativa red or dead (ficar vermelho ou morto), preferiu enfrentar a perseguição e a morte, do que aceitar o prolongamento do ignóbil e insuportável cativeiro de cerca de 50 anos [28].

Contra essa nação foi feita uma gravíssima transgressão de um direito.

Qual transgressão?

A ocupação soviética da Lituânia, em 1940 (Foto: Wikipédia)

O Pacto Ribbentrop-Molotov, assinado pouco antes da Segunda Guerra Mundial, foi um tratado cínico feito entre o governo russo comunista de então e o governo nazista alemão. Mediante esse tratado, em troca de vantagens várias para a Alemanha, esta consentiu que a Rússia invadisse os três países bálticos — a Lituânia, a Estônia e a Letônia — e transformasse aquela região praticamente em províncias russas. E assim entraram debaixo do jugo soviético.

Tendo em consideração a política liberalizante de Gorbachev, e na esperança de que os países do Ocidente viessem em seu apoio, a Lituânia, seguida da Letônia e da Estônia, começou a pedir a sua própria independência e, no dia 11 de março de 1990, chegou mesmo a proclamá-la.

Como era uma nação que tinha sua língua, sua história, sua cultura, era natural que quisesse um espaço ao ar livre para respirar. Era um direito natural.

Mas passou pelo grande desapontamento de ver Gorbachev, que parecia o aliado de todos os oprimidos, oprimir a Lituânia, e que o Ocidente todo, com medo de desagradar a Gorbachev, cruzava os braços*.

* Em junho de 1990, Gorbachev, em represália pela declaração unilateral de independência, promoveu um bloqueio econômico contra o sofrido país: interditou seus portos e acessos terrestres e cortou-lhe os suprimentos de petróleo e de gás. Exigiu, como condição para levantar o bloqueio, que o Parlamento lituano “congelasse” a declaração de independência por dois anos.

Depois de tensas negociações, em julho 1990 o Parlamento lituano foi obrigado a aceitar o “congelamento” da independência do país por 100 dias, para que uma comissão bipartite russo-lituana discutisse os termos de uma eventual independência definitiva. Mas, já de antemão, Moscou “sugeria” que a Lituânia permanecesse federada dentro da URSS.

Nesse ínterim, em novembro 1990, um ato de brutalidade de Gorbachev e de espantoso abandono da Lituânia por parte de altos dignitários europeus. A pedido de Gorbachev, lituanos foram expulsos da reunião de Segurança Européia, realizada em Paris. E isto quando há já três horas participavam da sessão como observadores!

Isto produziu na Lituânia grande desânimo, desestimulando-os de reagir, por julgarem que ninguém no Ocidente jamais os iria apoiar (cfr. Catolicismo n° 601, janeiro de 2001).

Gorbachev fez então o que quis. O Presidente dos Estados Unidos e as grandes potências da Terra não disseram nada a favor da Lituânia. E a Lituânia ficou isolada [29].

Nosso governo, por exemplo, chegou a afirmar, na Noruega, a “nocividade” da independência das repúblicas bálticas, na medida em que atrapalhassem Gorbachev, tido como indispensável para a paz mundial [30].

4. Pró Lituânia livre, o maior abaixo-assinado da História

Na questão da Lituânia, a posição de Gorbachev era contraditória. E uma contradição na conduta de um homem dessa responsabilidade gerava uma suspeita [31] e tinha que ser desmascarada.

Nessas condições, a TFP brasileira procurou a colônia lituana e lhe comunicou que iria lançar uma campanha pela libertação daquele país, e que pretendia estender essa campanha por todo o nosso território-continente, como de fato foi feito.

Mais ainda: pela normal influência que exerço sobre as 20 TFPs coirmãs e autônomas, propus a todas que estendessem essa campanha a seus respectivos países, nos cinco continentes. O que foi atendido com suma diligência e contentamento [32].

Fizemos uma campanha colossal, de caráter internacional, abrangendo 26 nações, para uma mensagem ao Presidente Vytautas Landsbergis, hipotecando todo o apoio à causa da independência da Lituânia [33].

Isto despertou um movimento também colossal de simpatia * [34].

* Em 130 dias de campanha, iniciada a 31 de maio de 1990, as TFPs e Bureaux-TFP reuniram em 26 países 5.218.520 assinaturas, que o Guiness Book of Records de 1993, anuário inglês mundialmente conceituado, afirmou ter sido o maior abaixo-assinado até então realizado no mundo.

Os microfilmes deste abaixo-assinado foram levados a Vilnius por uma Comissão inter-TFPs, constituída de onze membros e presidida pelo diretor do Bureau-TFP de Paris, o meu dileto amigo Dr. Caio Vidigal Xavier da Silveira [ver foto acima].

O ato de entrega ao Presidente Landsbergis foi efetuado no dia 4 de dezembro de 1990 em seu gabinete, localizado no Palácio do Parlamento [35].

*   *   *

No dia 6 de dezembro, já em Moscou, a delegação se fez fotografar em plena Praça Vermelha, desfraldando um estandarte da entidade, com todos os seus integrantes portando a capa vermelha característica das TFPs.

"No dia 6 de dezembro, já em Moscou, a delegação se fez fotografar em plena Praça Vermelha, desfraldando um estandarte da entidade, com todos os seus integrantes portando a capa vermelha característica das TFPs"

E no dia 11 do mesmo mês a comitiva entregou, nos próprios escritórios do Kremlin, uma carta coletiva dos presidentes de todas as TFPs a Mikhail Gorbachev, solicitando-lhe formalmente que, diante dessa categórica manifestação do mundo livre, removesse todos os obstáculos que impediam a Lituânia de alcançar sua plena independência* [36].

* No próprio dia da entrega da carta veio a reação de Vladimir Kriutchov, chefe da KGB, a temível polícia política soviética. Ele declarou na televisão de Moscou que não toleraria “qualquer ingerência nos nossos assuntos internos da URSS [...] desses organismos e grupúsculos que, no estrangeiro, [...] moveram durante décadas, e continuam a mover, uma guerra secreta contra o Estado soviético”. Soava como uma ameaça. A declaração foi reproduzida pelo Figaro, de Paris, de 13/12/90.

A comissão, voltando ao Brasil, manifestou-se muito contente com a acolhida que recebeu da parte do governo lituano e do Cardeal Arcebispo de Kaunas, Monsenhor Vincentas Sladkevicius. Tudo isso foi comunicado aos lituanos residentes no Brasil do modo mais cordial e afável [37].

5. Repressão à Lituânia: cai a máscara de Gorbachev

Foi aí que se deu a brutal repressão de Gorbachev contra a declaração de independência da Lituânia *.

* Essa repressão deu-se um mês depois da entrega do abaixo-assinado da TFP, precisamente na noite de 13 de janeiro de 1991, atitude essa que fez cair afinal a máscara sorridente de Gorbachev, deixando entrever sua carranca dura e implacável.

Frustrando as vãs esperanças que sua política da perestroika fizera nascer no Ocidente, Gorbachev violou a soberania dessa nação que acabava apenas de renascer. E, sob o pretexto de que os filhos dela se recusavam a servir no exército da União Soviética, mandou esmagar as reações na Lituânia.

Foto de 13 de janeiro de 1991 mostra o instante em que um manifestante lituano corre em frente a um tanque do Exército Vermelho, durante o assalto à Rádio e Televisão Lituana em Vilnus, que matou 13 pessoas e feriu outras 100 (Stringer/AFP/Getty Images).

Tanques comunistas se atiraram então contra um povo inteiramente indefeso, alentado tão-só por suas armas espirituais que eram a Fé católica e a determinação inquebrantável de assegurar sua independência.

Assim, entoando hinos de Fé e de patriotismo, as multidões lituanas desarmadas se ergueram como barreiras vivas ante os tanques soviéticos, e não recuaram quando — com assombro para os agressores a mando do Kremlin, como para o mundo inteiro — verificaram que as primeiras vítimas se deixavam trucidar barbaramente debaixo das esteiras dos tanques, porém não desertavam do campo da honra.

O que fez o governo de Moscou?

Compreendendo que o prosseguimento do ataque genocida levantaria contra Gorbachev a justa indignação de todos os povos livres, o Kremlin “desautorou” o ataque, atribuindo a responsabilidade pela agressão ao comandante das forças comunistas sediadas na Lituânia. E mandou retirar desse país parte dos pára-quedistas que pouco antes enviara contra esse povo.

" [...] as multidões lituanas desarmadas se ergueram como barreiras vivas ante os tanques soviéticos, e não recuaram quando — com assombro para os agressores a mando do Kremlin, como para o mundo inteiro — verificaram que as primeiras vítimas se deixavam trucidar barbaramente debaixo das esteiras dos tanques, porém não desertavam do campo da honra".

Mal haviam sido divulgadas as medidas desautorando as recentes brutalidades soviéticas em Vilnius — com evidente vantagem publicitária para o Sr. Gorbachev no Ocidente — sobreveio a promoção ao generalato de um dos “culpados”, o ministro do interior coronel Boris Pugo, apontado em comunicado da KGB como um dos mais destacados instigadores da ação feroz.

Ficava assim patenteada a inconsistência da referida censura. À violência se somava a duplicidade* [38].

* A reação internacional face à brutalidade soviética — o emprego de tanques e metralhadoras contra jovens desarmados — atingiu um paroxismo de indignação. E Gorbachev viu-se afinal obrigado a ceder diante das pressões das potências ocidentais, aceitando como fato consumado a independência da Lituânia. Os soldados russos, porém, permaneceram ainda em solo lituano. Só abandonaram o país três anos mais tarde (cfr. Catolicismo n° 601, janeiro de 2001).

*   *   *

No dia 14 de janeiro de 1991, organizamos uma passeata no centro de São Paulo que se estendeu em filas ininterruptas, com manifestações de protesto pelo cruel ataque promovido pelos russos contra populares indefesos e cheios de espírito de Fé e patriotismo.

No dia 15 de março de 1992, credenciado por todas as TFPs, escrevi uma carta a João Paulo II e a todos os Chefes de Estado do mundo livre pedindo o reatamento das relações diplomáticas com a Lituânia [39].

*   *   *

"No dia 14 de janeiro de 1991, organizamos uma passeata no centro de São Paulo que se estendeu em filas ininterruptas, com manifestações de protesto pelo cruel ataque promovido pelos russos contra populares indefesos e cheios de espírito de Fé e patriotismo" [Na foto a passeata passando pelo Viaduto Santa Efigênia, da capital paulista]

Poucos dias após o Brasil ter reconhecido a independência gloriosamente conquistada pela nação lituana, enviei uma carta (5 de setembro de 1991) em que, na qualidade de Presidente da TFP brasileira, e no meu próprio, felicitava o Presidente Vytautas Landsbergis pela vitória inteira e definitiva da nação lituana sobre o sinistro moloch soviético.

Alegrou-me muito o fato de que quinze TFPs, bem como cinco Bureaux-TFP de outros tantos países, prestaram a sua entusiasmada colaboração em favor da independência da Lituânia, chamada “Terra de Maria”.

Convém ressaltar que tal colaboração se levantou num momento em que a causa dessa valorosa nação encontrava-se abandonada por todas as chancelarias do Ocidente. E era vista com frieza pelo imenso e poderoso conjunto dos meios de publicidade que constituem a mídia do mundo livre [40].*

* Tudo o que aconteceu no Mar Báltico, pela declaração das próprias autoridades do governo lituano à Comissão que o foi visitar, se deveu em grande parte ao alento que tiveram graças a nossa campanha, naquele momento difícil. Estavam desalentados e tomaram alento com essa nossa presença.

Por sua vez, a independência lituana teve uma importância crucial no desfazimento do bloco soviético. O editorial do The New York Times do dia 29/8/91 assim se expressa a respeito:

“Na realidade, os países bálticos foram os catalizadores do levante soviético. A Lituânia foi a primeira república soviética a proclamar a sua independência, em março de 1991, dando coragem às demais”

 


NOTAS

[17] Atualidade da Mensagem de Fátima, 75 anos depois, Diário Las Américas, Miami, 14/5/92.

[18] RR 11/11/89.

[23] — Alguém poderia objetar que a Cortina de Ferro afinal se rasgou e a Rússia não é mais comunista, não há mais erros da Rússia. Essa objeção é um pouco simplificada, para não dizer simplória, mas digamos que ela tenha algo de realidade. Continuam comunistas entretanto Cuba, China, Vietnã, Coréia do Norte, Laos. Mas isso também não é o mais significativo. Houve não uma morte, mas uma metamorfose do comunismo, e os erros da Rússia desaguaram no Ocidente. E é aqui principalmente que eles estão frutificando, por meio do igualitarismo, da imoralidade, do ateísmo prático, de um espírito ecológico exacerbado, das veleidades de autogestão etc. Já na terceira parte de seu livro Revolução e Contra-Revolução (edição 1976), Dr. Plinio aponta os erros do comunismo que se metamorfoseavam à medida que se expandiam, e que estão nos levando para uma espécie de comunismo tribal:

“A derrocada das tradições indumentárias do Ocidente, corroídas cada vez mais pelo nudismo, tende obviamente para o aparecimento ou consolidação de hábitos nos quais se tolerará, quando muito, a cintura de penas de ave de certas tribos [...].

“O desaparecimento rápido das fórmulas de cortesia só pode ter como ponto final a simplicidade absoluta (para empregar só esse qualificativo) do trato tribal.

“A crescente ojeriza a tudo quanto é raciocinado, estruturado e metodizado só pode conduzir, em seus últimos paroxismos, à perpétua e fantasiosa vagabundagem da vida das selvas, alternada, também ela, com o desempenho instintivo e quase mecânico de algumas atividades absolutamente indispensáveis à vida.

“A aversão ao esforço intelectual, notadamente à abstração, à teorização, ao pensamento doutrinário, só pode induzir, em última análise, a uma hipertrofia dos sentidos e da imaginação, a essa ‘civilização da imagem’ para a qual Paulo VI julgou dever advertir a humanidade.

“São sintomáticos também os idílicos elogios, sempre mais freqüentes, a um tipo de ‘revolução cultural’ geradora de uma futura sociedade pós-industrial, ainda incompletamente esboçada, e da qual o comunismo chinês seria - conforme por vezes é apresentado - um primeiro espécimen.”

E em posfácio, acrescentado em 1992, diz Dr. Plinio que a nova revolução, que se segue à queda do império soviético, “se bem que inclua também o aspecto político, é uma Revolução que a si mesma se qualifica de ‘cultural’, ou seja, que abarca grosso modo todos os aspectos do existir humano” (cfr. Revolução e Contra-Revolução, 4ª edição em português, Artpress, 1998).

[25] Declarações sobre a volta de Gorbachev ao poder, 21/8/91.

[28] Entrevista à Rádio São Miguel de Uruguaiana, 21/6/90.

[29] Entrevista à TV Manchete (gravação), 18/6/90.

[32] Despachinho 7/3/91 e Balanço de uma campanha histórica, Catolicismo n° 482, fevereiro de 1991.

[34] Despachinho 7/3/91.

[37] Despacho, 7/3/91.

[39] Despacho, 7/3/91.

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