Plinio Corrêa de Oliveira

 

Exímio nas boas maneiras e no sacrifício; mártir como um santo; distinto e fino como um Anjo:

o verdadeiro nobre

 

 

 

 

Santo do Dia, 28 de abril de 1993

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

 

Ilustração: Batalha de Rocroy. O Príncipe de Condé, vitorioso, mostra-se clemente com o heróico exército vencido

 

"Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana", a última obra de Plinio Corrêa de Oliveira, comentada pelo Autor a pedido de sócios e cooperadores da TFP brasileira e de membros de' outras entidades co-irmãs e autônomas.

Parte I, Capítulo VII, ítem 7 – O perfil do nobre medieval, letra “a” (pág. 132):

a) Na guerra como na paz, o exemplo da perfeição

Dois princípios essenciais definiam a fisionomia do nobre:

1. Para ser o homem modelar posto no píncaro do feudo como a luz no lampadário, tinha ele de ser, por definição, um herói cristão disposto a todos os holocaustos a favor do bem do seu rei e do seu povo, e o braço temporal armado em defesa da Fé e da Cristandade, na guerra frequente contra pagãos e hereges.

2. Mas, "pari passu", ele, como toda a sua família, tinha de dar em tudo o mais um bom exemplo -- ou melhor, um exemplo ótimo -- aos seus subordinados e aos seus pares. Na virtude, como na cultura, no trato social exímio, no fino bom gosto, na decoração do lar, nos festejos, o seu exemplo deveria impulsionar todo o corpo social a fim de que cada qual analogamente melhorasse em tudo.

Os Srs. estão vendo aqui a obrigação, portanto, do nobre de tocar tudo para a perfeição. Antes de tudo a sua vida espiritual; antes de tudo as suas relações com Deus; antes de tudo, portanto, suas relações com a Igreja e com a Cristandade. E, portanto, caminhar para aquilo que a seu modo é um martírio, ir para a luta contra os hereges, contra os ateus, contra os muçulmanos, ir para a luta e expor a sua vida, mas dizer: "Não vos toca avançar, vós avançais sobre terra que pertencem a Cristo. Para fora e já!" E avançar, avançar e expulsá-los.

Alguns fazendo o voto sublime que São Bernardo sugeriu a uma ordem de cavalaria fundada por ele, os Templários. Sugeriu que eles fizessem o voto de, sob pena de pecado mortal, jamais recuar durante a guerra.

Quer dizer, um homem quando faz isso ele se dá inteiro, fica ele mesmo um holocausto ambulante. Porque a todo o momento ele sabe que os adversários podem atacar, e a todo o momento ele sabe que se ele entrar - no combate como não pode deixar de entrar - se ele entrar no combate e se ele não avançar continuamente, o Inferno o espera. Porque se ele recua, ele peca, se peca e morre sem contrição lá vai ele para o Inferno.

Portanto, ele tem diante de si habitualmente, na vida de todos os dias, a ideia da necessidade de manter o estado de graça, a ideia de necessidade de estar em virtude e em união com Deus constantemente, e estar disposto a deixar tudo. E a abandonar tudo e caminhar para o holocausto a qualquer momento. Este homem é, por assim dizer, a personificação de uma perfeição.

Mas um homem não pode ser perfeito num ponto e depois não o ser em outros. Se ele é perfeito, ele tem que ser perfeito em tudo.

Então [também] nos vários domínios da vida humana que eu acabei de enumerar sumariamente aí: festejos, enfim, nas relações com outros nobres, nas relações com os plebeus, ele tem que dar a uns e a outros o contínuo exemplo de uma personalidade perfeita. E, portanto, também o que ele faz é perfeito: seu lar é decorado de um modo perfeito, seus trajes são de um bom gosto perfeito, suas maneiras são de uma adequação, de uma propriedade perfeita. A perfeição é o estado normal dele.

Este é um nobre. 

b) O cavaleiro cristão -- a dama cristã

Esses dois princípios tinham um alcance prático admirável, como em seguida se verá. Durante a Idade Média, foram eles aplicados com autenticidade de convicções e sentimentos religiosos. E assim se traçou na cultura europeia -- e depois na de todo o Ocidente -- a fisionomia de alma do cavaleiro cristão, da dama cristã. Cavaleiro ou cavalheiro e dama, dois conceitos que -- ao longo dos séculos e sem embargo das sucessivas diluições de conteúdo infligidas pela progressiva laicização no Antigo Regime -- designaram sempre a excelência do padrão humano. E continuam a designá-la, mesmo nos nossos dias, nos quais ambos os qualificativos têm-se tornado lamentavelmente obsoletos.

Quer dizer, quando se quer dizer de uma senhora algo que há de mais elogioso, diz-se "é uma verdadeira dama". Quando se quer dizer de um homem algo que há de mais elogioso, diz-se "é um verdadeiro cavaleiro".

Se se quer levar esses dois elogios ao píncaro, dir-se-á "é uma dama cristã, é uma dama católica perfeita”. Do cavaleiro dir-se-á "é um cavaleiro católico perfeito".

A dama e o cavaleiro, sobretudo o católico, exprimem a perfeição de que o homem é capaz.

c) Holocausto, boas maneiras, etiqueta e protocolo -- simplificações e mutilações impostas pelo mundo burguês

Eu pus de propósito juntas essas palavras que no conceito humano moderno corrente parecem antitéticas, parecem opostas.

Holocausto, boas maneiras...

O homem de boas maneiras dá a impressão de que é um homem festivo, que está alegre, vestido com trajes agradáveis e que festeja as pessoas com quem está.  Ora, holocausto é o contrário, é a imolação, é o sacrifício, é a renúncia.

Eu sustento, ao contrário do que se pensa, que o nobre ao mesmo tempo deve ser exímio nas boas maneiras e exímio no holocausto. Mártir como um santo, e distinto, fino, nobre como um anjo.

Etiqueta e protocolo...

Etiqueta e protocolo também parecem frivolidade para esses espíritos intoxicados de plebeísmo. Não é bem isto, é a suprema perfeição no modo de agir em determinadas circunstâncias. 

Holocausto. A palavra merece ser sublinhada, pois o holocausto tinha, na vida do nobre, uma importância central. De algum modo, ele fazia-se sentir até na vida social, sob a forma de uma ascese que a marcava a fundo. Com efeito, as boas maneiras, a etiqueta e o protocolo modelavam-se segundo padrões que exigiam da parte do nobre uma contínua repressão do que há de vulgar, de desabrido e até de vexatório em tantos impulsos do homem.  

Aqui vem a ideia de que todos os homens são concebidos no pecado original, e que, portanto, têm em si tendências, têm em si movimentos internos que são deselegantes, desgraciosos, censuráveis debaixo de ponto de vista moral, que deixam ver juntamente o que há de decaído do ponto de vista físico e o que há de propenso a decair no ponto de vista moral.

O holocausto, como os Srs. verão, é a contínua luta contra isto, a contínua imolação disto, que faz com que um nobre tenha a obrigação de dominar os seus impulsos, mesmo os menores e inclusive os maiores, de maneira a chegar ao contrário, chegar exatamente àquela elevação que se exprime com a palavra “nobreza”. 

* A vida social era, sob alguns aspectos, um sacrifício contínuo que se ia tornando mais exigente à medida que a civilização progredia e se requintava 

A vida social era, sob alguns aspectos, um sacrifício contínuo que se ia tornando mais exigente à medida que a civilização progredia e se requintava.

A afirmação pode quiçá despertar o sorriso céptico de não poucos leitores. Para que estes ponderem bem o que nela há de real, bastará que considerem as mitigações, as simplificações e as mutilações que o mundo burguês, nascido da Revolução Francesa, vem impondo gradualmente às etiquetas e cerimoniais sobreviventes nos nossos dias. Invariavelmente todas essas alterações têm sido feitas para proporcionar despreocupação, comodidade, conforto burguês aos magnatas do arrivismo, decididos a conservar, quanto possível, no seio da sua opulência recém-nascida, a vulgaridade das suas anteriores condições de vida. E assim a erosão de todo o bom gosto, de todas as etiquetas e belas maneiras tem-se feito por obediência a um desejo de laissez-faire, de "descontracção"; e pelo domínio do capricho inopinado e extravagante do hippismo, o qual encontrou o seu apogeu na rebelião descabelada da Sorbonne, em 1968, e nos movimentos jovens tipo punk, dark, etc. que se lhe têm seguido.

Os Srs. conhecem com certeza uma música: o minueto de Boccherini. É uma música que serve para uma dança, essa dança é tão leve, é tão compassada, é tão distinta, que a gente pode imaginar o ambiente da galeria dos espelhos em Versailles.

Isto melhor se diz em francês, porque há certas coisas feitas por certos povos que ou se designam pela língua desses povos ou se designam mal. A galeria dos espelhos é “la Galerie des Glaces”, em Versailles.

Nós podemos imaginar num extremo desta “galerie” um trono para o rei, outro para a rainha sobre um estrado, e na outra ponta ao som do minueto do Boccherini os casais de nobres que se avançam, tocando-se apenas com a ponta dos dedos, ele com a mão assim e ela com a mão assim. Apenas se tocando, avançando e em certos momentos da música, etc., executando certos rodeios, certas reverências e tal, até chegarem -  momento supremo da complicação, diriam uns, do savoir faire, diriam outros, e eu estaria entre esses – até o momento supremo da reverência diante do rei e da rainha.

Quem ouve esse som compreende toda a alegria de alma que a participação nesta dança poderia dar. Mas todo o sacrifício de corpo que isso traz: que posição ereta, que domínio de todas as suas atitudes, de maneira a fazer de si aquilo que se poderia chamar, paradoxalmente, uma escultura viva.

A escultura não tem vida, a vida não é uma escultura, mas o homem que dança perfeitamente, a dama que dança perfeitamente o minueto do Boccherini é como uma escultura que esculturalmente se pudesse por a mover, mas que conservasse inteiramente as atitudes perfeitas com que o escultor a teria imaginado.

* O cerimonial de apresentação ao rei e à rainha dos jovens nobres admitidos à corte

Mas isso não é nada. Os srs. se imaginem na seguinte situação, não propriamente da dança de Boccherini, mas de outra situação. A apresentação ao rei e à rainha dos jovens nobres admitidos à corte naquele ano e que dali em diante ficariam com direito de frequentar a corte.

Eles avançavam, mas avançavam de uma maneira diferente: na ponta, numa extremidade ficava o trono, o rei e da rainha, não sei bem mas creio que era próximo do trono, um “huissier”, um alabardeiro, que ia proclamando o nome do nobre ou da nobre que entrava. Todo o salão olhando para eles, todas as pessoas do salão, todo ele cheio de pessoas da corte, vestidas com o máximo aprumo, o máximo rigor e os espelhos reluzindo, os lustres de cristal reluzindo também, a música tocando, o rei e a rainha olhando. O apresentado, sobretudo, a apresentada que avança sozinha no meio daquele espaço deixado vazio. Tem que avançar com elegância, com desembaraço, mas não com desembaraço insolente, mas um desembaraço cheio de respeito e de recato porque era diante do rei que eles iam fazer a reverência.

Fazer a reverência, dificílimo para uma jovem com saia balão, fazer a reverência inteira, receber da parte da rainha e depois da parte do rei alguma palavra amável, alguma referência a um ancestral, alguma coisa assim, e depois vinha o terrível: recuar, sair sem dar as costas ao rei, nem à rainha, mas andando de costas, e fazendo as reverências no mesmo lugar onde elas tinham sido feitas na ida. De maneira que andar de costas com esse ajustamento todo, era dificílimo, mas quando a pessoa chegava até o fim e obtinha o consenso geral, estava diplomada por um dos mais duros exames de auto-domínio que uma pessoa possa fazer.

Eu pergunto: isso não é ascese? Evidente que isso é ascese se feito associado ao fim sobrenatural de, por essa forma, dar esplendor ao trono, dar esplendor ao Estado, dar esplendor à Civilização Cristã e por essa forma dar glória a Deus e à Nossa Senhora.

Bem, os srs. comparem com as maneiras descabeladas de hoje, rock e essas coisas... melhor até nem comparar, não pensar nisto, não é? Os srs. compreendem bem tudo quanto significa esse modo de fazer, esse modo de ser. Mas também se os srs. forem tomar, por exemplo, uma revista como “L'Illustration” - de que eu tenho uma coleção dada pelo Grupo da França, esplêndida, porque é uma coleção resumo de toda a vida da “L'Illustration” - a gente vai vendo como essas coisas já no século passado, marcado pela Revolução Francesa, foram decaindo, decaindo, decaindo a ponto de chegar ao fim da Primeira Guerra Mundial em que a hollywoodização, como uma maré suja, tomou conta do mundo, e daí por diante não temos tido senão decadência.

(Pergunta inaudível)

Pois não, eu respondo com gosto a sua pergunta.

* Na nobreza decadente encontrava-se elementos de uma grande beleza moral, lado a lado de elementos de uma deterioração

O sr. deve ter presenciado com certeza muitas vezes, porque isso existe no mundo inteiro, o fenômeno que se passa com determinadas árvores, quando ao longo das estações do ano, em certo momento elas começam a perder a casca. As vezes as cascas dessas árvores são muito bonitas.

Há, por exemplo, uma árvore que aqui no Brasil eu tenho visto chamar com termos diferentes, imagine então entre o Brasil e a Europa que diferenças há. Mas é uma árvore chamada acácia. A parte madeira da árvore é toda ela de um cinza azulado claro muito bonito, as folhazinhas são como de um veludo da mesma cor, e as flores são como pingos de ouro porque são bem douradazinhas, constituídas por umas pontinhas vegetais muito unidas umas às outras que dão uma impressão de uma bolinha de ouro.

Essa acácia eu aprecio muito, mas quase não a vejo mais, porque ela é bonita demais para que o homem contemporâneo goste dela. Ela tinha que, necessariamente, sair de uso. Mas quando chegava certa estação do ano, não me lembro qual era -- devia ser outono -- a acácia começava a perder a casca e a casca era muito bonita, como eu a descrevi há pouco. E por debaixo começava a aparecer uma casca nova que iria ter com a evolução a mesma cor bonita que tinha tido a casca antiga.

Mas esse descascar dava-se numa árvore tão bonita de um modo feio, quer dizer, a casca se desprendia do tronco - a casca velha - em tiras compridas e feias, irregulares que se encaracolavam e acabavam caindo no chão como lixo. Tanta beleza, tanta beleza e uma morte feia.

De si a morte é feia, de si a morte é um castigo mas afinal de contas os vegetais costumam morrer de um modo mais bonito.

Eu me lembrei das cascas das acácias quando o sr. falava há pouco da nobreza do tempo do Boccherini, do tempo dos minuetos etc., etc. A gente via sobre a mesma superfície uma parte da casca velha decadente que ia cair e ia ficar lixo, e uma parte da casca nova que ia tomar toda a sua robustez e restituir à acácia toda a beleza que ela tinha no verão, na primavera etc. e tal.

Assim também nessa nobreza decadente, o sr. encontrava elementos de uma grande beleza moral, lado a lado de elementos de uma deterioração que o sr. acaba de exprimir bem. E esta coexistência fazia com que um observador atento pudesse tomar bem conhecimento dos horrores da Revolução que viria, como também do esplendor da tradição que ficava, e que estava disposta a se renovar à luz de outros sóis e dar origem a outros verões.

Eu não sei se estou sendo claro no que eu digo?

Bem, conversando com o sr. mesmo e com outros membros do Grupo há dias atrás, eu tive ocasião de [me] referir a uma festa assim dada em Versailles. E numa parte da galeria colocados em lugar de honra duas princesas, parentes uma da outra, e que se marcariam por uma grande virtude e um papel saliente em aspectos da vida da Igreja. Eram as princesas Luiza de Condé, de um ramo colateral da Casa da França, e Madame Elizabeth, ainda mais alta que ela porque irmã do rei da França, Luiz XVI.

Bem, as duas, pelo cerimonial, ficavam lado a lado. Eram princesas ainda jovens, cobertas com joias magníficas, de um aspecto muito agradável e vestidas com todo luxo. A Madame Elizabeth morreria como uma mártir da Revolução Francesa na mesma guilhotina que tinha morto Luiz XVI e Maria Antonieta. Ela era solteira e quando o rei, irmão dela, foi preso, ela quis ser presa também. Embora pudesse sair, ela quis ser presa também para prestar assistência e companhia à Família Real na horrível prisão do Templo, Aonde Luiz XVI e Maria Antonieta encontraram, por fim de uma longa estadia, a sentença condenatória à morte. Ela mesma também foi condenada à morte. Ela mesma teve que ouvir do Delfim embriagado, e embriagado a tapas e pontapés pelo infame sapateiro Simon, que tomava conta dele, as mesmas acusações infames que o menino bêbado tinha feito contra sua mãe, a rainha Maria Antonieta. Ela era a tia, não era a mãe. Ser mãe é uma coisa absolutamente única. Um homem pode ter várias tias, ele só tem uma mãe.

Maria Antonieta respondeu de um modo a objurgatória do filho, ela não disse nada contra o filho. Convocou a opinião de todas as mães da França representadas pelas mães ali presentes para que dissessem se acreditavam numa infâmia daquelas. Um estrépito de palmas coroou a interpelação da rainha e os revolucionários -- como sempre “amigos” da liberdade - mandaram expulsar da sala todas aquelas mulheres porque tinham aplaudido a rainha. Quando chegou a vez de Madame Elizabeth apresentaram-lhe o sobrinho e o sobrinho disse a mesma coisa para ela. Ela tomado pelo seu senso de honra, pelo seu amor à virgindade ela respondeu apenas isso: "Oh! le monstre! – oh! o monstro!” Nisso, virou-se de lado e não deu resposta. Estava bem feito. Ela morreu na prisão do Templo e tudo me leva a crer que ela tenha sido uma mártir.

* A princesa Luiza de Condé edificou um convento de adoradoras perpétuas do Santíssimo Sacramento, para repararem os pecados que tinham sido cometidos contra o rei e a rainha

Bem, a princesa Luiza de Condé viveu durante o tempo da Revolução, não foi condenada à morte, ela comprou o local onde tinha existido a torre em que Luiz XVI e Maria Antonieta estavam presos e ali edificou um convento beneditino feminino, de adoradoras perpétuas do Santíssimo Sacramento, para darem perpétua reparação a Deus Nosso Senhor Sacramentado e à Nossa Senhora pelos pecados que tinham sido cometidos pelos revolucionários contra o rei e a rainha e à família real naquele local. Foi uma solução sublimíssima que a graça inspirou a essa princesa que morreu com fama de santidade.

* Bela atitude em defesa da moral tomada pela irmã de Luiz XVI, rainha da Saboia

Mas essa enumeração leva à consideração de uma outra princesa santa, mas santa de altar assim declarada pela Igreja Católica, que é uma irmã de Luiz XVI, casada com o rei da Saboia, ela era rainha da Saboia. Veio a Revolução Francesa, expulsou grande número de nobres, muitos deles se retiraram voluntariamente do território francês e entre eles estava o segundo irmão de Luiz XVI. Ele tinha dois irmãos, o Conde de Provence, futuro Luiz XVIII; e o Conde D'Artois, futuro Carlos X.

Trata-se de Carlos X. Era um jovem frívolo, de uma aparência empolgante, muito bonito, muito bem arranjado etc., etc., e que tendo que sair da França foi para a Saboia onde o cunhado dele era rei, a irmã era rainha e onde ele esperava encontrar condições normais de existência.

Na Saboia ele se entregou à vida dissoluta que infelizmente era a dele, e durante a noite promovia escândalos nas ruas. Eu li uma carta da irmã para ele, dizendo: "Meu irmão, eu já lhe avisei várias vezes que é preciso cessar imediatamente esses escândalos. Se o sr. veio às minhas terras para encontrar aqui asilo e amparo, têm-no tido tanto quanto possa querer. Não pense, porém, que sua vinda aqui lhe dá oportunidade de injuriar a Deus e de perder as almas. Eu lhe aviso que mais uma vez uma coisa se repita, o sr. vai ser levado pela guarda do meu esposo até a fronteira para nunca mais entrar. Assinado: fulana."

Bem, o sr. vê ao lado de muita coisa de decadência, algumas cascas novas que nasciam na acácia real que a Revolução queria derrubar.

Eu creio que este contraste faz ver ao sr., até certo ponto, como a graça correspondida pelos homens pode assegurar a sobrevivência em estado de inteira força, de inteiro viço, de inteira coerência com as suas próprias raízes sobrenaturais, ideológicas e religiosas, aquilo que merece sobreviver. Que a História varra muitas outras coisas, é o papel de limpeza da História. Nós falamos dos bárbaros que invadiram o Império Romano, mas o papel de limpadores que eles fizeram no Império Romano, liquidando todas aquelas ruínas pútridas do Império, foi uma coisa involuntariamente maravilhosa.

A Revolução foi horrenda, foi um pecado contra o qual eu não cesso de lutar. Eu tenho a impressão de que quando eu estiver na minha sepultura e que uma horda revolucionária qualquer passe por perto, que eu estremecerei, que os meus restos se estremecerão... 

f) O bonum e o pulchrum da guerra justa - os cavaleiros sentiam-no até ao fundo da alma

(...) Bem entendido, muito mais do que essas brilhantes aparências, atuava sobre o público, naqueles séculos de Fé ardorosa, o ensinamento da Igreja. Este não deixava dúvidas sobre o fato de que, mais do que simplesmente lícita, a guerra santa podia constituir um dever para todo o povo cristão, incluídos neste, tanto os nobres como os plebeus (*).

(*) Em Documentos XI o leitor poderá encontrar os ensinamentos de Papas, Santos, Doutores e teólogos sobre as condições de liceidade da guerra.

Eu quis colocar aí por causa do ecumenismo e do pacifismo desabotoado desta época que ao mesmo tempo é loucamente belicista e loucamente pacifista. Então, mais adiante vêm esses documentos.

Com isso eu creio que podemos deixar encerrada a reunião de hoje, pedindo ao sr. o favor de pronunciar as orações do encerramento.

(Aparte inaudível)

Vamos acolher a sugestão do Dr. José Fernando, se o sr. estiver de acordo, oferecendo esse “Magníficat “em agradecimento à Nossa Senhora por ter obtido de Deus a grande graça de nascer São Luiz Grignion de Montfort com a vocação especial que ele teve, admirável vocação. Mas também para pedir à Nossa Senhora por meio dessa ação de graças que Ela nos obtenha que faça de cada um de nós um perfeito filho e escravo dEla.

Vamos então rezar...

Nota: Para tomar conhecimento de outras reuniões a respeito do tema, clicar aqui.


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