Plinio Corrêa de Oliveira

 

A tradição é um elemento fundamental para a existência da família

Esta é fundamental para a manutenção do país

 

 

Auditório São Miguel,  31 de agosto de 1984, Santo do Dia

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana”, 1993:

Apêndice IV - Aristocracia no pensamento de um Cardeal, controvertido mas insuspeito, do século XX

A extensa e erudita obra homiliária, Verbum Vitae – La Palabra de Cristo (10 volumes) elaborada sob a orientação de Mons. Angel Herrera Oria, então Bispo de Málaga, apresenta no seu tomo III (pp. 720-724) um esquema orientador para homilias contendo alguns pontos da doutrina da Igreja sobre a aristocracia. (...)

3. O direito público cristão

"Aristocracia e propriedade. Não se atenta suficientemente para o fato de que um dos fundamentos da propriedade privada está no dever de se aperfeiçoar ...."

Leão XIII ensina na Rerum Novarum que os "bens se possuem como próprios e se administram como se fossem comuns. Ou seja, `satisfeito o proprietário no que lhe é necessário, e atendido o decoro e a perfeição', cumpre dar de esmola o que sobra. Fala-se muitas vezes da necessidade e do decoro, e se esquece que a perfeição é um dever".

O esquema passa então a considerações que o ambiente igualitário dos nossos dias vai sepultando lamentavelmente num inteiro olvido.

"Aos que vivem no mundo e têm família cumpre o dever de aperfeiçoá-la, e de elevar nos seus filhos o decoro e a consideração social da família, cristãmente entendidos. 

 

Aqui começa a parte mais interessante e que nos diz mais respeito. Os senhores estão vendo aí o princípio: segundo o conceito geral, um pai de família que provê ao necessário para que a família sobreviva com alimento suficiente, com segurança suficiente, agasalho suficiente, ensino suficiente, esse pai cumpriu os seus deveres, e ele não é obrigado a trabalhar para conseguir que a família suba de status social, basta que a família não morra na indigência, ou não viva na indigência para o pai ter cumprido o seu dever. Mas por esse conceito de perfeição que os senhores viram exposto até aqui, há um pólo de perfeição social, de perfeição moral que todo indivíduo deve procurar atingir.

Na ordem espiritual o indivíduo não pode viver apenas numa mediocridade que não tem o menor desejo de progredir e que considera que não indo para o inferno, mantendo-se em estado de graça, está mais do que bem. Não.

A pessoa deve, enquanto está viva, procurar aumentar, procurar santificar-se. Quer dizer, melhorar as suas condições espirituais cada vez mais.

O que se diz das condições espirituais se diz analogamente das condições morais. E então ele aqui lança a tese de que uma família – mas a família aí se entende qualquer família de qualquer condição social – deve procurar subir.

O pai deve fazer o possível para que a condição social de toda e qualquer família suba. Naturalmente esse dever é mais premente, mais urgente quando se trata de famílias indigentes. O pai tem uma obrigação especial de trabalhar, de se esforçar, etc., quando sua família se encontra na indigência. Mas isso não exclui que mesmo que sua família seja rica e até, se quiserem, opulenta, ainda assim o pai tem obrigação de fazer a família crescer.

Se não sempre crescer em dinheiro, se a família já tem tanto dinheiro que tem mais do que é necessário para o seu status social, não é obrigação crescer em dinheiro, mas é obrigação crescer em virtude sempre. Crescer em educação, em cultura, em belas maneiras e representação social, sempre também.

De maneira que tudo numa sociedade católica, deve estar em contínua ascensão. Essa permanente tendência ascensional é o contrário do que se pode ver, por exemplo, em partes importantíssimas da sociedade russa contemporânea, em que por causa do pé do comunismo sobre as massas, elas perderam em larga medida o desejo de subir, o desejo de se aperfeiçoar, e gostam de viver acocoradas sobre os próprios calcanhares e deixando o tempo passar. É uma coisa que é proibida. É preciso progredir, progredir, progredir. Antes de tudo na vida espiritual, mas depois correlatamente em todos os domínios do indivíduo.

"Contanto que se viva sob o influxo da caridade cristã, os pais devem procurar, que, na medida do possível, em ciência, em arte, em técnica, em cultura, em tudo, os seus filhos sejam melhores do que eles".

 Vejam bem, hein! O pai não deve contentar-se em que o filho melhore um pouco, o pai deve querer que o filho seja melhor do que ele em tudo, inclusive em virtude. 

"Não para educar vaidosos, mas para oferecer à sociedade, em benefício do povo, gerações [sucessivamente] mais perfeitas.

"Os aristocratas devem, sobretudo, ter muito presente, para assimilá-los e aplicá-los, todos os progressos técnicos, sociais, etc., que possam satisfazer as necessidades das classes mais indigentes". 

Quer dizer, o esforço das classes altas em favor das classes indigentes, deve ser um esforço inteligente e não indolente. Então, que eles saibam que pelo progresso das famosas técnicas modernas se conseguiu melhorar de maneira a atender melhor as condições dessas classes, de um modo geral a aristocracia deve estar informada e utilizar.

Vamos dizer, por exemplo, há pouco tempo atrás me ofereceram uma maquinazinha vinda dos Estados Unidos que é feita para fazer espaguete em casa. Mas é uma coisa de uma simplicidade espantosa. Em dez minutos se faz um espaguete de boa qualidade – que eu já experimentei e achei muito bom. [risos]

Isso torna a vida de uma dona de casa pouco rica e que não pode comprar espaguete de primeira qualidade, feitos em lojas especiais, etc., etc., faz com que ela possa, em casa, fazer uma coisa de uma boa qualidade – não maravilhosa, mas uma boa qualidade – e distribuir aos seus. É uma obrigação das classes mais altas estarem ao par disto e porem ao corrente disso os menos altos. E se for possível, se eles puderem, dar até uma máquina dessa de presente a uma família necessitada, é excelente. 

Estes ensinamentos tornam patente que o empenho das aristocracias para que, em sucessivas gerações, cresça continuamente o aprimoramento das moradias, do mobiliário, dos trajes, dos veículos, como também do porte pessoal e das maneiras, é um aspecto essencial dessa caminhada para uma perfeição global, quer para a glória de Deus, quer para o bem comum da sociedade temporal. 

Vejam aqui. Isso são coisas que se deduzem do texto do Cardeal Oria e que os senhores vejam como vai longe. Quer dizer, a tese democrática revolucionária sustenta que tudo quanto a classe mais alta tem de melhor, é como que roubado do povo, de maneira que se justifica uma revolução social para restituir às classes mais baixas aquilo que as classes mais altas têm e que constituem uma diferença de nível entre elas.

Aqui está dito exatamente o contrário. As classes mais altas devem subir, mas daquilo que elas têm e que lhes sobra, atendidas as necessidades de representação, elas devem dar ao povo e com isso o crescimento das classes mais altas interessa ao povo.

Não sei se está claro isso. 

Tal não dispensa o perfeito aristocrata católico, nesta promoção do bem comum, de toda a solicitude que deve ter, no zeloso atendimento dos direitos das classes necessitadas.

Os aristocratas que assim forem constituem "os melhores", que pouco acima foram qualificados de "elementos necessários numa sociedade bem constituída".

4. Aristocracia social

O esquema passa a tratar, então, já não do aristocrata enquanto indivíduo, mas da família aristocrática:

"O aristocrata, ao aperfeiçoar-se e ao aperfeiçoar a sua família cria uma instituição dentro da sociedade, que é a família aristocrática".

O esquema deixa claro que, para ser fonte e propulsora desse impulso para o alto, a própria contextura familiar da aristocracia lhe é de grande vantagem. Pois é no seio das famílias de todas as classes sociais que se constitui a tradição própria a cada família. É no convívio familiar que os pais e os mais velhos encontram as condições psicológicas e as mil ocasiões propícias para comunicar as suas convicções e o fruto das suas experiências aos mais novos. Assim a ação propulsora rumo à "perfeição" pode ser obtida em condições ótimas. Esta acção visa de um modo muito importante, não apenas o bem individual dos membros da família, e o bem da própria família considerada enquanto um todo, mas o próprio bem comum da sociedade.

Com efeito, a sociedade é um ente coletivo mais durável que as famílias. E estas são mais duráveis que os indivíduos que as compõem nas várias gerações. E o que é mais durável só tem a se beneficiar com a força propulsora da aristocracia, na medida em que esta última tenha uma ação propulsora teoricamente tão durável quanto a própria sociedade.

E é à tradição que compete assegurar a durabilidade, os rumos e as características desta força propulsora.

Isso é muito importante para se compreender o nexo entre os três elementos do nosso trilema: Tradição, Família e Propriedade.

Está mostrado aí que esse progresso contínuo de todas as famílias é o elemento fundamental para que uma sociedade viva e de fato prospere. Mas agora o que está dito é outra coisa: que essa propulsão social só tem autenticidade plena e verdadeiro valor, porque deve ter seu ponto de partida nas famílias.

A sociedade é um conjunto de famílias e a sociedade terá ímpeto, terá força de impacto para subir, na medida em que as suas famílias, que são a célula da sociedade, tenham essa força de impacto.

Então é preciso que todas as famílias tenham muito essa noção de subir, de melhorar, de encontrar para si condições de vida que assegurem a alta constante do padrão humano.

Como é que numa família o passado se transmite?

Ele se transmite pela tradição.

Por que é que a família é por excelência a entidade que tem nexo com a tradição?

É porque a família por sua natureza hereditária transmite tudo quanto normalmente essa força que Pio XII chama muito bem de força misteriosa, mas pujante, essa força transmita, através das várias gerações, aquilo que uma geração lega para a outra e para a outra.

De maneira que se pode conceber, por exemplo, numa família, uma sala, vamos dizer, muito bonita, mas que contém – vamos dizer – um objeto feio. Vamos dizer que seja um objeto, por exemplo – não é bonito – um elmo. Aqueles elmos dos cavaleiros medievais com aquela cabeça toda redonda de metal, com aquela narigueira, e aqueles olhos também com uma espécie de proteção ocular monumental, é muito feio. Mas de repente se põe isso numa grande sala de visita.

Como é que se explica uma coisa dessa? Numa sala onde objeto por objeto foi analisado, foi avaliado, foi valorizado na sua verdadeira perspectiva, etc., de repente aparece um objeto feio assim? Porque tem tradição. Foi o avô, não sei, Godofredo tanto, que investiu nas muralhas de tal ou tal outra cidade da antiga Terra Santa e a conquistou arrancando da mão dos árabes, por exemplo.

Então esse elmo com o qual ele morreu foi trazido piedosamente pelos companheiros de arma do Godofredo tanto, e dado de presente à família. A família poderia colocar, em se tratando de algo que pertenceu a um Cruzado e em cujo uso ele morreu, poderia colocar aquilo numa capela. Mas se compreende que tenha preferido colocar na sua própria sala de visita para honrar mais e para fazer mais bem, fazer mais propaganda do bem entre os visitantes. Põe ali.

Está posto ali para perpetuar uma tradição, lembrar que há cinco gerações, ou há oito, ou há dez gerações aquele homem, antepassado remotíssimo daquela família, morreu, por exemplo, perto de Damasco ou em qualquer outro lugar, ele morreu por amor à tradição. E que foi por meio da tradição católica, por meio portanto de algo nascido do coração da Igreja que ele sacrificou a sua vida. Está direito.

A tradição é um elemento fundamental para a existência da família. A existência da família é um elemento fundamental para a manutenção do país.

Nota: Para mais comentários de Dr. Plinio a respeito da nobreza, clique em https://www.pliniocorreadeoliveira.info/Nobreza_Especial.htm


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