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Artigos em O Legionário
ANO DE 1932
31 de janeiro -
Huysmans - I. Foi ele um dos mais estranhos e admiráveis escritores do
século XIX. Seu mérito foi o de ter sabido confeccionar as mais espantosas
tramas literárias que se possam imaginar, abstraindo totalmente de complicações
amorosas. Literato naturalista, residente em Paris, encontrou-se, a certa altura
de sua vida, mergulhado em tremenda crise intelectual. Suficientemente lúcido
para abominar seu século, mas destituído de qualquer amparo sentimental em
alguma amizade sólida ou afeição de família profunda, Huysmans, ao mesmo tempo
que se isolava cada vez mais do convívio de todos, fazia dentro de si um vácuo
tremendo. O choque com a impiedade mais profunda e o caminho rumo à conversão.
21 de fevereiro -
Huysmans - II. Sua obra "En route": aproximado graças a um sacerdote
francês inteligente e virtuoso, Huysmans começa a freqüentar as cerimônias
religiosas católicas, as quais despertaram nele impressões indeléveis que nos
legou em páginas magistrais. Suas descrições da tristeza tenebrosa do De
Profundis, das imprecações ardentes do Miserere, da alegria exultante do
Magnificat, são páginas literárias que glorificam o idioma em que foram
escritas. Aliás, constitui a obra de Huysmans uma aplicação interessantíssima do
naturalismo a assuntos religiosos, aspecto este que a enche de originalidade.
21 de abril -
O primado da santidade. No 25º aniversário do paroquiato de Monsenhor
Pedrosa em Santa Cecília. Gregos e troianos, crentes e descrentes são unânimes
em lhe celebrar a virtude invulgar. E mesmo pessoas há que tenho visto sustentar
a inexistência de qualquer convicção católica em seu íntimo, ao passo que
tributam a Monsenhor, por uma contradição inexplicável, a mais sincera
veneração, reconhecendo nele a própria encarnação da virtude. Entre tantos
comentários que as presentes festividades sugerem, relativamente a Monsenhor,
quis salientar este aspecto curiosíssimo da sua atuação de Vigário.
08 de maio -
O valor de uma renúncia. É no fundo das celas dos conventos, ou no
recesso dos corações dos crentes, que o destino do País está a se resolver. A
renúncia suprema que Monsenhor Pedrosa acaba de fazer valerá muito mais, por si
só, para a salvação do Brasil, do que todos os discursos inócuos, do que todos
os ódios incendiados, do que a explosão de todos os interesses pessoais que a
Revolução exacerbou. E, mais uma vez, Monsenhor faz, na sombra de sua santa
humildade, muito mais bem do que todos os irrequietos do mundo, no espalhafato
de sua vaidade.
04 de setembro -
A Igreja e o progresso. Os historiadores anticatólicos empreenderam a
ingrata tarefa de alterar a verdade histórica, para submetê-la aos interesses de
seus ódios religiosos. Assim é que, freqüentemente, penas autorizadas não têm
hesitado em sustentar que a Igreja é uma adversária sistemática de todo o
progresso humano. No entanto, a História em geral, e a da Idade Média em
particular, desmentem categoricamente tal asserção. A Idade Média foi um período
fecundo de trabalho intelectual e material incessante, que preparou todos os
frutos que a Renascença pagã veio colher.
02 de outubro -
Patriotismo. É freqüente verem-se pontos de vista radicalmente
inconciliáveis defendidos por uma mesma pessoa, com igual calor. São deste naipe
os conservadores socialistas, os comunistas que desejariam a abolição da
propriedade e a manutenção da família, os liberais socialistas, os reacionários
liberais, etc. Todos os sentimentos, mesmo os mais nobres, são postos em cheque
por doutrinas exóticas, sempre aceitas com fervor. E enquanto subsistir esse
caos no mundo do pensamento, será absolutamente impossível instituir uma ordem
durável no domínio da política e da economia. - Eduque-se nos princípios
religiosos e católicos este grande povo, e ver-se-á dentro em pouco um Brasil
novo florescer, em que, eliminados os defeitos e reconduzidas as qualidades boas
a seus verdadeiros limites, a História saudará o aparecimento de uma grande
nação.