legionario_1931.htm

Artigos em O Legionário

ANO DE 1931

11 de janeiro - Os padres e o casamento. Em vão o jato lodoso dos sofismas se tem arremessado contra a Igreja, em vão têm investido contra sua estrutura o furor cego de todos os ódios criminosos, de todos os caprichos insensatos. Sempre altiva, sempre invencível, Ela vai assistindo à morte de todos os adversários que pretendiam matá-la! Como ocultar, então, ao olhar humano, esta luz que aponta aos homens os males em que se debatem, com a mesma nitidez com que o farol aponta ao nauta o escolho em que poderá naufragar?

25 de janeiro - Às armas. Uma das manifestações mais deploráveis do crasso materialismo que por toda parte vemos reinar, é que não só a virtude se acha completamente abolida em muitos corações, mas também truncada, mutilada, caricaturada em muitos outros que, no entanto, se reputam muito bons. A caridade se acha como que deteriorada por uma certa infiltração de materialismo: compreende-se, pratica-se e louva-se a caridade feita em benefício do corpo. Foge-se, censura-se, condena-se a caridade feita em benefício do espírito. É uma espécie de filantropia materialista, que vê no corpo o fim último do homem, e no espírito apenas um acessório destinado a registrar benevolamente as delícias de que o corpo deve gozar. - O Episcopado e em geral o Clero não são uma falange de pastores do corpo, mas sim de pastores de almas.

08 de fevereiro - Nossas reivindicações políticas. Pilatos passou à História, indelevelmente marcado pelo ferro em brasa da censura dos Evangelistas, como o tipo característico do homem que não é cruel por medo da crueldade, não é assassino por indolência, e não é feroz por inércia. Escravo da preguiça e do medo, cede a todas as infâmias, submete-se a todas as baixezas, pela força de inércia que é como que a base de sua mentalidade. - Ser cristão não é só ser um crente, é ser também um soldado. É saber descer à arena da luta de opiniões, ostentando com firmeza nossos princípios. É não ter medo de adquirir inimizades, se for necessário. É não ter medo de atrair sobre si antipatias. É, em suma, sacrificar-se.

08 de março - A verdadeira caridade. Ela não é o sentimento que tem sua origem nas afeições naturais, transitórias e caprichosas dos homens uns pelos outros, mas sim o amor que, saído do mais profundo do coração humano, se eleva a Deus, e de lá, em veio límpido e cristalino, desce, como do alto de uma montanha, sobre todas as criaturas. - Almas, almas e sempre almas, eis o que deseja Jesus. Se cura corpos, é sempre com o escopo principal de salvar almas. E, pelo contrário, muitas vezes dá a certas pessoas pesadas moléstias físicas para atraí-las, por meio do sofrimento, à penitência.

08 de março - Deus e a Constituição - I. Dado que o Estado é forçado, pela natureza das coisas, a tomar uma atitude qualquer (seja ela de crença, descrença ou dúvida) em face do problema religioso, é evidente que a única solução admissível é plasmar as instituições do país segundo a opinião religiosa da maioria de seus habitantes. Claro está que, em caso algum, se justifica a opressão "manu militari" ou outra qualquer atitude violenta em relação às minorias dissidentes, que merecem toda a brandura que a caridade lhes outorga, desde que elas não ultrapassem os próprios limites traçados pela lei e pelo Direito Natural.

29 de março - Deus e a Constituição - II. Como demonstrei em meu último artigo, aos olhos da razão não se pode justificar o agnosticismo oficial, em um país de imensa maioria católica. Vejamos agora, nós que consideramos o agnosticismo uma das mais notáveis inovações que nos vieram do Exterior, a diferença que há entre o laicismo no mundo civilizado e o que entre nós, desde 1889, se tem praticado.

19 de abril - Os padres e o casamento - II. Venho cumprir uma promessa feita aos leitores do “Legionário”, relativa ao problema do celibato dos sacerdotes católicos.

10 de maio - O triunfo de Cristo-Rei nas escolas. Que país pode ser honesto na administração pública, quando não existe patriotismo corajoso na guerra, quando não existe idealismo exemplar na família, quando filhos e pais nada mais são do que indivíduos que se disputam as partes mais aproveitáveis do patrimônio comum? Mudem-se os quadros. Suponha-se um país em que, desde o chefe da nação até o mais modesto contínuo, desde o pai até os filhos, desde o patrão até os operários, predomine a prática rigorosa dos princípios católicos. E imediatamente surgirão, a nossos olhos, estadistas abnegados e diligentes, funcionários probos e esforçados, pais moralizados e respeitáveis, generais valentes e disciplinados, filhos obedientes e amorosos, mães dedicadas e respeitadas. - O característico dos grandes homens é de suscitar, simultaneamente, amizades ardentes e ódios implacáveis. Porque todo homem de bem, além da amizade fervorosa dos bons, tem de lutar contra o ódio rancoroso dos maus.

12 de julho - Fides Intrepida - II. Nós, católicos, gememos hoje ao peso da opressão de nossos adversários, que nos lançam à face a exclamação de Breno: “Ai dos vencidos!”. Mas a Igreja, que é imortal porque não é humana, lhes devolve a frase, invertendo-lhe o sentido: “Ai dos vencedores!”. Julgamos que a fase de dores cada vez mais acentuadas por que o Catolicismo virá a passar são como que o túnel que, embora nos mergulhe por algum tempo nas mais densas trevas, no negrume da mais absoluta dor, abreviará nosso caminho à vitória final, cortando montanhas e transpondo obstáculos que, sem esse túnel de dores, levaríamos muitos decênios - séculos, talvez - a percorrer. E cada vez, portanto, que sentirmos mais cerrado o ataque, mais terríveis as provações, tenhamos a convicção tranqüilizadora de que estamos progredindo no túnel, e nos aproximamos cada vez mais do momento feliz em que nos acharemos novamente na claridade radiosa de uma civilização plenamente cristã.

13 de setembro - Os livros que devem ser lidos. Entre os muitos preconceitos errôneos que dominam a mentalidade das massas populares hodiernas, figura em lugar de destaque a convicção muito generalizada de que é impossível a coexistência, no espírito de um homem, de uma virilidade real com uma religiosidade sincera. - Imitando os egiptólogos... - O vigor da vontade auxiliada pela graça. - Há coragem e coragem. - O exemplo de Gabriel Mossier (oficial de cavalaria francesa do Corpo de Dragões): do menino, ficara a Fé. Do oficial, o heroísmo. Herói e crente, Mossier se transformou quase insensivelmente em trapista. Religiosidade e coragem, Fé e virilidade são coisas inseparáveis.

27 de setembro - Catolicismo e civilização. Nossa época deve ser sobretudo uma época de reparações, em que procuremos ligar novamente as coisas às suas raízes verdadeiras. E a maior das reparações, a mais urgente - a única, em última análise - é a reparação para com a Igreja. - Muito se fala de nosso progresso. O século XX, que foi na sua primeira década uma comédia, transformou-se bruscamente em tragédia longa e sangrenta, que está longe de ter chegado a seu fim. Em vez de vergar as barras de metal, como se fossem alfinetes, sente-se a alma do homem hodierno fraca em relação aos alfinetes dos menores sacrifícios morais, como se fossem barras de metal. Nossas aspirações são desencontradas. Como crianças que brincassem em uma sala de visitas, os homens quebram hoje, inconsciente e estupidamente, os últimos bibelots e jóias que nos restam da nossa verdadeira civilização. Chegou o momento de indagarmos a respeito das verdadeiras causas de tal desastre. - Cabe a nós, católicos, o dever de pugnar nas Congregações Marianas pela elevação do nível moral e intelectual da mocidade, exposta hoje a tantos perigos, contra o cientificismo que pretende separar a razão da Fé.

11 de outubro - O apostolado. Não nos diz o Cristianismo que todos os nossos esforços são inúteis, mas sim que do mesmo modo por que uma pequena chama pode atear um imenso incêndio, uma pequena dose de amor de Deus pode atear no mundo um grande, imenso abrasamento de amor pelo bem. E, como se não bastassem estas afirmações, vem o recurso da graça e da oração, que faz de nós até participantes da onipotência divina! De párias que éramos no paganismo, o Cristianismo nos eleva a príncipes e a gigantes! Que magnífica vida, que estupendo destino. - O paganismo é a caça ao prazer, no fundo do qual só há sacrifício. O Cristianismo é a caça do sacrifício, no fundo do qual há prazer, mas com a admiração cheia de gratidão e unção religiosa de quem contempla um firmamento fulgurante, inundado de raios de sol que cortam o azul do espaço, e despejam sobre o mundo oceanos de luz e de paz. - A inauguração de nossos trabalhos não deve ser a Cápua lasciva em que os cartagineses se preparavam para levar a Roma seu último golpe, mas a vigília austera do cavaleiro medieval, que passava a noite inteira na capela a orar, a pedir ao Senhor que lhe desse as forças necessárias para enfrentar os perigos que sua missão lhe traria. Ergamos nossas preces ao Céu, para que nos tornemos fortes perante os inimigos, e olhemos com serenidade o campo em que teremos de lutar.

11 de outubro - Fac-símile do periódico, dedicado de modo especial à inauguração do Cristo Redentor, realizada no dia 12 de outubro.

01 de novembro - As mulheres não têm alma? - Ou como a meia cultura aliada ao sectarismo anti-católico toma um texto e lhe atribui um sentido totalmente diverso, para atacar a Igreja. A questão sobre se as mulheres tinham ou não alma não passava de uma polêmica quanto à propriedade da palavra "homem", para designar juntamente o homem e a mulher.

01 de novembro - Kyrie eleison - A enigmática incoerência de nossa vida política desconcerta a quantos a observam. Ora os azares da política guindam ao poder um católico destemido, ora empossam, em Interventorias ou Ministérios, comunistas quase declarados ou ateus confessos. Não há correntes ideológicas nitidamente formadas. E, nessas conjunturas, constitui para nós um dever indeclinável incitar vivamente aos católicos que se unam em torno dos últimos elementos de estabilidade social e de ordem que ainda há entre nós. O católico que, nas circunstâncias presentes, se entrega ao indiferentismo habitual dos brasileiros, reedita o gesto de Pilatos. Ação, pois, ação constante e denodada. O católico deve ser o porta-voz dos princípios de Deus. E além desse dever, outro se nos impõe como supremo recurso: é de clamar com perseverança ao Céu:KYRIE ELEISON, KYRIE ELEISON.

22 de novembro - A Babel protestante - Comentando a notícia de que pastor protestante alemão aderira ao comunismo, em uma tentativa de conciliação dos dois ideais, Dr. Plinio mostra como o protestantismo, partindo do livre exame chegara ao ateísmo dos filósofos da Revolução Francesa, e teria que cair, em suas últimas conseqüências, no comunismo. Uma clara visão do processo revolucionário que anos depois ele sintetizaria em "Revolução e Contra Revolução".

22 de novembro - Primícias de uma geração - Como não se ter um raio de esperança a filtrar entre as tristezas do momento, diante de um fato tão significativo e confortante: os dois primeiros trabalhos publicados pelos bacharelandos de 1931 da Faculdade de Direito [do Largo de São Francisco - SP] foram, um de um ardoroso católico como Augusto de Souza Queiroz, e outro de um semicatólico, que tem mais Fé potencial do que atual, que é mais um futuro católico do que propriamente um católico.