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Artigos em O Legionário
ANO DE 1933
15 de janeiro -
Liga Eleitoral Católica - A postos! Acaba ela de surgir em São Paulo e
constitui a expressão mais eloqüente do desejo dos católicos de que o Brasil não
seja mais um país em que se adore Deus apenas no segredo do íntimo dos corações
ou no recesso dos lares, mas em todos os campos da atividade humana. - O
eleitorado brasileiro - e tanto vale dizer os católicos brasileiros - tem em
suas mãos os destinos espirituais do Brasil, e talvez os do mundo. Dormir
enquanto uma tal batalha se prepara, viver sua vida de todos os dias indiferente
a tudo quanto não seja a banalidade das ocupações de sempre, construir
egoisticamente sua felicidade individual, enquanto se esboroa a felicidade do
Brasil e corre risco a prosperidade da Igreja, eis aí atitudes próprias
certamente de um Pilatos, nunca porém de um católico brasileiro, e de um
congregado mariano.
29 de janeiro -
Definindo situações - A Liga Eleitoral Católica e os Partidos. - Deve
ficar bem patente ainda este ponto: a Liga Eleitoral Católica não é um partido
político. Ela congrega todos os católicos, deste ou daquele partido para,
unidos, poderem constituir uma força capaz de preservar o patrimônio moral do
Catolicismo brasileiro da ameaça que sobre ele pesa pela ação dos seus inimigos.
Mas, em outra qualquer questão, conservam os membros plena liberdade para seguir
os seus partidos.
12 de fevereiro -
Um grande exemplo. A saudosa presidente da Liga das Senhoras Católicas,
Da. Elisa Monteiro de Barros Cavalcanti. - A fidalguia de seu sangue a colocara
em lugar de destaque na sociedade; servindo à Igreja, ela soube fazer irradiar
sobre as instituições de que fazia parte o prestígio de seu nome, de sorte a
encher de respeitabilidade, até aos olhos dos mundanos, a causa do Senhor. A
delicadeza de seus sentimentos e de seu trato lhe valeram inúmeras amizades; ela
soube servir-se dessas qualidades para aproximar da Igreja a quantos dela se
acercassem. A clareza de sua inteligência e o vigor de sua vontade lhe deram
excepcionais qualidades de organizadora; ela utilizou-se desses predicados para
transformar em fortalezas inexpugnáveis as associações católicas confiadas à sua
direção.
26 de março -
Ideal Mariano. A Igreja não quer de modo algum que limitemos nossos
horizontes espirituais a uma vida piedosa banal, amesquinhada pela errônea
ilusão de que seria falta de humildade aspirar-se à santidade que brilhou no
gênio de São Tomás, na combatividade de Santo Inácio, no recolhimento de Santa
Teresa e na caridade de São Francisco. E desmascara esta falsa humildade,
apontando nela ou um pretexto especioso da covardia espiritual, ou uma concepção
orgulhosa da virtude, considerada mais como fruto do esforço humano do que da
misericórdia de Deus. E, ao mesmo tempo, Ela se serve do exemplo de seus grandes
santos para “levantar ao alto” nossos corações, indicando-nos que a única
preocupação real desta vida é a aquisição daquela perfeição espiritual que será
o único patrimônio que conservaremos, a despeito das crises financeiras, das
comoções sociais e da fragilidade das coisas humanas, para, finalmente,
transpormos com ele os próprios umbrais da eternidade. - Vida interior intensa,
constante, ilimitadamente ambiciosa, no sentido espiritual da palavra, eis a
grande lição que a festa de São José nos deixa.
23 de abril -
Piedade
- I. Observando o grande número de obstáculos que a mocidade encontra
para conseguir uma compreensão verdadeira da piedade, tentarei remover certas
dificuldades e esclarecer certas noções que a rotina ou a ignorância religiosa
apagaram completamente: o mau exemplo dado por alguns católicos; a ignorância
completa do valor e do papel da graça no progresso de uma alma na sua vida
espiritual; o completo desconhecimento do valor e da necessidade da adoração, da
reparação, do louvor e da ação de graças tributadas pela criatura ao seu eterno
Criador.
02 de julho -
Piedade
- II. Ou a alma se serve da piedade como meio de aperfeiçoamento
espiritual, e nesse caso o progresso espiritual deverá ser tão real quanto for
intensa e séria a piedade, ou esta será apenas uma pieguice sentimental,
detestável aos olhos de Deus e dos homens, ridícula aos olhos destes e quase
sacrílega aos olhos daquele. Outro dilema também se impõe: ou a alma pede as
graças necessárias para seu aperfeiçoamento espiritual ou ela se verá reduzida
às suas próprias forças, e portanto derrotada pela primeira tentação que a
assaltar. Sem progresso espiritual, não há verdadeira piedade. Sem piedade, não
há verdadeiro progresso espiritual.
16 de julho -
Dr. Estêvão de Souza Rezende (primeiro presidente da Liga Eleitoral Católica).
A elegância sóbria, impecável com que se trajava, a distinção natural do seu
porte e a transparência cristalina do seu olhar, indicavam nele uma admirável
fusão da nobreza da alma com a do sangue, que atraía o respeito e a simpatia de
quantos dele se aproximassem. Lutou como um fidalgo, viveu como um santo. Sua
ação, sempre criteriosa e prudente, nem um minuto sequer refletiu vaidade de
quem se quer exibir. Em todos os círculos em que vivia, em todas as rodas que
freqüentava, sua austeridade impecável e a coerência inflexível com que
ostentava sua Fé faziam dele um sermão vivo.
06 de agosto -
É
necessário. É necessário que a restauração moral tenha como ponto de
partida a restauração religiosa, e que os brasileiros, em lugar de reformarem
sua Pátria somente a golpes de decretos ou de baionetas, se preocupem em
retemperar seus caracteres e suas energias na prática séria da Religião
Católica. A mocidade mariana, pois, precisa entrar decididamente na arena das
lutas em que se jogam os destinos da Nação. É necessário que a cortina de fumaça
que a imprensa paulista procura estender sobre o êxito da Liga Eleitoral
Católica seja dissipada pelo elemento mariano, através de uma nova imprensa que
procura formar.
20 de agosto -
Os primeiros frutos. A belíssima demonstração de civismo dos católicos,
no pleito de 3 de maio, já está produzindo seus primeiros frutos, com o
crescente prestígio que a Liga Eleitoral Católica vai assumindo nas altas
esferas da vida pública do Estado.
03 de setembro -
Previsões. Dizia Mirabeau que uma assembléia legislativa que
interpretasse fielmente o pensamento do eleitorado deveria ser uma miniatura da
nação, em que se representassem todas as suas correntes de opinião, na proporção
exata do número de seus adeptos. A próxima Constituinte, fruto de um pleito
livre, em que todos os grupos eleitorais puderam manifestar sem constrangimento
as suas preferências, parece aproximar-se do ideal do famoso demagogo francês. -
As eventuais táticas que adotarão as diferentes correntes no Brasil.
17 de setembro -
Credo
caduco. O Catolicismo mostrará, se o Estado não lhe fechar as portas,
que ele não é caduco porque não é velho, pois para as coisas eternas o tempo não
existe, e a sua perene mocidade zomba dos homens e dos séculos. E é do "Credo
caduco" (como assim se referiu o General Rabello sobre o Catolicismo), que é
antigo sem ser velho, que podemos esperar a seiva moral que há de dar nova
mocidade ao nosso pobre Brasil que, na situação em que está, parece ser velho...
sem ser antigo.
01 de outubro -
O leão
mudo. As eleições de 3 de maio p.p. valeram por um verdadeiro
plebiscito, em que o Brasil reafirmou seu desejo de ser católico. Como o leão
que dorme, o Catolicismo brasileiro estava imerso em profundo sono, do qual
abusavam seus adversários, impondo à consciência religiosa do País toda a sorte
de medidas vexatórias e humilhantes. Os últimos abalos acordaram o leão que,
tendo saltado na arena a 3 de maio, já pode resumir seus primeiros triunfos na
famosa frase de Júlio César: "Vim, vi e venci". No entanto, depois desta
manifestação de vitalidade e de energia, a opinião católica parece ter voltado
novamente à passividade. - A necessidade do conhecimento da doutrina católica e
de possuir o senso católico: sem ambos é impossível que navegue com segurança,
neste mar das tormentas em que andamos, a nau dos interesses espirituais do
Brasil. - Os católicos espanhóis só acordaram quando viram suas igrejas ardendo
em chamas, violados os tabernáculos e profanadas as imagens. Tendo dormido sobre
o perigo, foram cruelmente chamados à realidade pelos seus adversários.
15 de outubro -
A missão da América Latina. Estamos na tarde de uma civilização. O homem
ocidental já não encontra encantos na liberdade de que abusou, na igualdade com
que sonhou e na fraternidade que não realizou. - Neste mar revolto do século XX,
em que naufragam homens, idéias e fortunas, só a Igreja continua e será “o
caminho, a verdade e a vida” que a humanidade há de aceitar para levantar um vôo
salvador sobre o próprio abismo que ameaça tragá-la. Para atuar, porém, Ela
também se serve de fatores humanos. - Contra os focos de corrupção de amanhã ou
de hoje, a América Latina se deve erguer, com o firme propósito de continuar a
ser católica.
29 de outubro -
Roma, Nova York e Moscou - Ninguém ignora que, de todas as religiões
perseguidas pelo regime soviético, a mais visada foi a católica. O que o Santo
Padre exige é que o governo soviético, para ser admitido no concerto das nações
civilizadas, restaure dentro das fronteiras russas a liberdade religiosa, que é
a característica de todos os povos que pretendem ter foros de civilizados. - Não
tem ouro, não tem canhões, não tem exército, o Santo Padre. Mas ele não cede.
Ele, que é a potência espiritual, levanta barreiras com o simples prestígio de
sua palavra. Instrui, trabalha, ora, encoraja e reprime. E, lentamente, a
contra-ofensiva católica em todo o mundo se vai desenhando.
12 de novembro -
Como
sempre. Tudo indica que estamos chegando aos últimos dias da ditadura, e
que já está próximo o momento em que o Brasil se governará por autoridades
legalmente investidas, e com poderes delimitados pela nova Constituição. -
Durante três anos de ditadura, o Governo Provisório foi, sem dúvida, a cortiça
que flutuou ao sabor de todas as ondas ou correntes em matéria religiosa. Mas o
mar revolto e inconstante, que guiava a cortiça, não terá sido talvez a opinião
católica brasileira, sempre tão tímida em suas exigências, tão pouco consciente
da força de seus direitos e do valor de sua influência?
26 de novembro -
Alerta!
É necessário que os católicos de São Paulo, como os de todo o Brasil, estejam
alerta para repelir, com toda a energia, a tendência que se esboça de dotar o
Brasil de uma Constituição votada de afogadilho, versando apenas sobre os pontos
fundamentais de nossa organização política e deixando de parte, como matéria de
legislação ordinária, uma ou muitas de nossas reivindicações católicas.
10 de dezembro -
Uma página de diário. Descrição do ambiente da Constituinte: um enorme e
suave aquário de água morna, banhado por uma luz brandamente pálida, em que
evoluíam, com a discrição silenciosa com que só os peixes sabem evoluir, os
tubarões ou as sardinhas da política nacional. Só quem conhece o Palácio
Tiradentes pode apreciar a justeza da comparação. Tudo nele é rico, discreto e
acolchoado, desde a poltrona em que pontifica o Sr. Antônio Carlos, até a
cadeira de engraxate instalada na barbearia. - Os deputados de tribuna e os de
corredor, os líderes dos grandes torneios oratórios, os do cochicho e da
confabulação.
24 de dezembro -
As emendas católicas. É bom que, mais uma vez, fique bem documentado que
nem a coligação de todos os erros, nem a conspiração de todos os ódios, nem a
urdidura de todos os sofismas conseguirá destruir a inabalável fidelidade do
Brasil à verdadeira Igreja de Jesus Cristo.